segunda-feira, 1 de novembro de 2010

AS FRUTAS DA COLÔMBIA

.



Urda Alice Klueger

Temos a mania, aqui no Brasil, de endeusar tu­do o que é europeu e estadunidense, e de considerar a América Latina como o supra-sumo do subdesenvolvimento. Ainda se tem al­gum respeito pelo México (leia-se: Cancun) e por algumas ilhas do Caribe, mas a América do Sul - Deus nos livre, a América do Sul é um lugar horrível, quem pensaria em conhecê-la de verdade, em gastar dinheiro fazendo turismo por ela, quando se pode ir com tanta facilidade à Disney?

Eu sou uma das raras pessoas do Brasil que gasta tempo e dinheiro para conhecer a América do Sul. Via de re­gra, nessas viagens, meus companheiros são europeus e israelen­ses, que vêm às centenas, aos milhares, viajar pelo continente que o brasileiro despreza. Eventualmente, muito eventualmente, se encontra um brasileiro pelas rotas do nosso continente, e quando há algum, é alguém que comunga das nossas idéias, e como é bom encontrar aquele raro brasileiro, então!

Mas comecei este texto querendo falar das fru­tas da Colômbia.

O brasileiro tem da Colômbia, como do resto do continente, uma péssima imagem. Sabe que lá há guerrilha e cocaí­na, e nada mais. Nem lhe passa pela cabeça imaginar a grande fer­tilidade da Colômbia, seu litoral paradisíaco, seu povo alegre e brincalhão. Eu viajei, faz pouco tempo, pela Colômbia, e fiquei pasma com a sua agricultura. Comecei uma longa viagem ao Sul, em lpiales, fronteira com o Equador, em direção a Bogotá, longa rota feita sobre os Andes, de excelentes estradas pavimentadas que en­vergonhariam o Brasil, sem falar dos ônibus, espetaculares ônibus modernos, de forma aerodinâmica, todos dotados de ar condicionado e televisão, veículos que nem as melhores empresas de turismo têm no Brasil. Essa longa viagem de 24 horas em direção a Bogotá deu-me uma visão fantástica sobre a agricultura na Colômbia: os Andes, tão áridos na Bolívia, são extremamente férteis naquela região, e têm todas as encostas das montanhas cobertas de incontáveis e incontáveis campos agrícolas. Grande produtora de grãos e de café, cada quilômetro da Colômbia tem uma tonalidade dife­rente de verde ou amarelo, dependendo do que se cultiva nele. A soberba visão daquelas montanhas quadriculadas pela agricultura tem uma doçura e uma grandeza que não dá para esquecer.

E depois, quando se desce os Andes, e o clima fica quente e propício ao cultivo de frutas tropicais, ah! é mais difícil de esquecer ainda! De Bogotá em direção ao Caribe, é es­tonteante o tamanho das plantações de frutas! Creio que, só para atravessar um bananal já próximo do mar, devemos ter andado de ônibus por quase uma hora. E são bananais cuidados, as bananeiras plantadas em filas certinhas, cada um dos milhares de cachos de banana preso dentro de um saco, decerto para impedir o ataque de insetos. Há que haver ali um povo extremamente laborioso, para produzir tais efeitos, mesmo sob as ordens de uma plantation.

O clima quente do litoral caribenho da Colômbia, aliado aos cuidados que se dão aos pomares, produzem as mais fantásticas frutas que se possa imaginar.

Sempre achei que o Brasil era rico em frutas, mas perto das frutas colombianas, as nossas ficam pálidas e sem graça. Nunca poderei esquecer daquelas bananas, deliciosas, douradas, enormes (que o colombiano costuma comer junto com sopa de galinha), nem daqueles mamões de um tamanho descomunal, de uma doçura ímpar. Compra-se o mamão em fatias, fatias cuja carne tem a espessura de três dedos, e um pedaço daqueles equivale a uma refeição. Essas fatias de mamão vêm muito limpinhas, higienicamente acondicionadas em limpos sacos plásticos, nada tendo a ver com a sujeira que imaginamos dominar o terceiro mundo. E as goiabas, e os abacaxis, e as outras frutas que não conhecemos por aqui! É comum ver-se os vendedores de frutas nas ruas, com suas pirâmides de delícias coloridas, gentilíssimos, a nos querer conquistar com o que, parece, ser o grito de guerra do comércio colombiano:

- À la ordem! À la ordem!

É uma pena que a Colômbia esteja tão longe, e não seja possível ir-se lá de vez em quando. Valeria a pena fazê-lo por muitos motivos, e um deles, com certeza, seria aquela profusão fantástica e deliciosa de frutas.

Urda Alice Klueger é escritora, historiadora ecolabora com esta nossa Agência Assaz Atroz

PressAA

.

Nenhum comentário: