quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

"Reparação" - o vídeo que vem a ser a "preparação" de (in)consciências para o golpe que se anuncia

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Trechos da "Carta aberta a Paulo Vannuchi, Ministro, Cidadão Brasileiro, Companheiro e Amigo", escrita pelo jornalista Alipio Freire.

Caro Paulo,

Acabo de tomar conhecimento da notícia (abaixo) sobre a ameaça de pedido de demissão do ministro da Defesa Nelson Jobim, e dos seus patronos, os comandantes das Três Armas, e da negociação encaminhada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A indignidade e o golpismo desses setores representados pelo ministro Jobim e os três comandantes não nos surpreende. Não nos surpreende sequer a escolha dos momentos de maior desmobilização (como as festas de final de ano) para que façam suas chantagens e gerem crises: entre outras medidas, o Ato Institucional Número 5 também foi anunciado na noite de uma sexta-feira, às vésperas das festas de final de ano de 1968 (13 de dezembro).

[...]

Entre outros, os interesses eleitoreiros da crise inaugurada neste 22 de dezembro de 2009 são tão óbvios, que nem merecem que os analisemos – sobretudo depois das sucessivas investidas neste sentido, ao longo deste ano (2009). Sobre o que eles prometem para o próximo ano, basta acessarmos “Reparação”, no link http://www.youtube.com/watch?v=8d61_1u1s2o
três minutos do trailer oficial do documentário longa-metragem que a direita lançará em 2010. Verdadeiro primor: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, lado a lado com outros coristas da dimensão do jornalista Demétrio Magnoli e do acadêmico Marco Antônio Villa – sim, amigo Vannuchi, uma verdadeira quadrilha naturalista (talvez não tão naturalista…).


O OUTRO LADO – Carta Aberta ao Ministro Paulo Vannuchi – Por Alípio Freire.
http://najornada.wordpress.com/2009/12/30/o-outro-lado-carta-aberta-ao-ministro-paulo-vannuchi-por-alipio-freire/

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Fernando Soares Campos - Editor-Assaz-Atroz-Chefe

O golpe militarizado contra o governo Lula está pronto para ser deflagrado, porém o silêncio dos conglomerados de empresas que formam o oligopólio dos meios de comunicação no nosso país faz com que a ingenuidade da classe média letrada acredite que "não há clima para golpe no Brasil".

Depois de longas e tenebrosas décadas de ditadura militar promovida pelas elites econômico-financeiras e vendilhões da pátria, os países e empresas imperialistas, liderados pelos EUA, decidiram vender democracia. E o povo ainda hoje acredita que a conquistou através de lutas pacíficas com a sociedade civil organizada.


Terror, terrorista e terrorismo serão as palavras de ordem da mídia golpista em todo o mundo em 2010.

No Uruguai, um "ex-terrorista" ganhou as eleições.

No Brasil, uma "ex-terrorista" pode ganhar as eleições, e o atual presidente apoia essa candidata e todos os "ex-terroristas" que atuaram no país lá pelos anos 1960/70. Ainda por cima, quer punir os "bravos" militares que combateram o terrorismo.

A Venezuela está nas mãos de um "terrorista", apoiado pelo índio-cocalero-presidente da Bolívia.
Metade da Colômbia está sob o domínio de "terroristas".

Todos esses "terroristas" estão metendo a mão nas riquezas que os imperialistas e colonialistas compraram das mãos sujas dos vendilhões, com garantia de posse ad infinitum.

Os golpistas autóctones se assanharam, estão arrepiados, falam em "revanchismo" dos "terroristas" de antanho. Os canalhas posam de "democratas".
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Trecho de artigo que escrevi e publiquei em 2007

Clima é pra lavoura; golpe exige oportunidade!

Existe clima para golpe militar?

Com esta imprensa que temos aí, não duvido que, a qualquer momento, entrevistem alguns generais e os consultem sobre as possibilidades de um iminente golpe de Estado. Eu já vi coisas assim: repórteres perguntando a generais se existia algum golpe em andamento. Como se algum conspirador admitisse as intenções de golpear. Não estou com isso dizendo que algum general conspira, atualmente, no Brasil, refiro-me à “ingenuidade” de certos profissionais de imprensa.

Conspiração contra um governo (qualquer que seja) é uma constante, é uma atitude comum a oposições de qualquer orientação político-ideológica. Uns mais desleais que outros, mas conspirar é muito comum entre adversários.

Golpear um governo não depende apenas de "clima" ou "ambiente"; mas, acima de tudo, de oportunidade. E essa oportunidade a oposição brasileira está criando, com o apoio da mídia golpista, pois quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Lembram-se? Os tempos são outros, os métodos talvez também sejam outros, porém não menos violentos.

Milhares de pessoas já morreram porque não acreditavam em golpe militar iminente. Duvido que, na manhã de 1º de abril de 64, os militantes de esquerda e a população brasileira em geral acreditassem que, naquele mesmo dia, os tanques estariam nas ruas.

Eu perguntaria aos companheiros chilenos se eles poderiam nos relatar como se sentiam no dia em que bombardearam o Palácio La Moneda e eliminaram o presidente Salvador Allende. Se a população havia sido notificada sobre o “evento”. Se os companheiros argentinos, por acaso, receberam algum boletim informativo com uma nota do tipo "Amanhã cedo vamos golpear". Como foi o primeiro dia de matança aí na Argentina, hein? Como estava o clima naquele dia? Muito frio? Chuvoso? Nevasca? Calor?

Para não ficarmos em dúvida de que conspirar é uma constante, vejamos alguns trechos do que escreveu o capitão-de-mar-e-guerra Cláudio Buchholz Ferreira, no Manifesto dos Companheiros das Forças Armadas, em outubro de 2005:

“Em um momento da vida nacional em que o povo mais precisa das Forças Armadas para o restabelecimento da ordem e da garantia das Instituições, fiquem certos de que elas não se acovardarão ante o processo de desvalorização dos seus integrantes e da premeditada ação de anulação de sua capacidade de reação e de cumprimento do seu dever, nem em face de tentativas de implantação de regimes totalitários, contrários às nossas mais sagradas tradições.” (...) Não temos permissão para nos acomodar. Por juramento, somos obrigados a tomar uma atitude. Chega de chantagens emocionais "quartelada", "golpe", "patrulhamento". (...) Fazemos votos para que aqueles que, em dissonância com a história, ainda pretendem implantar no Brasil um estado totalitário, desistam da idéia, porque não é isso que os brasileiros querem e se eles não querem nós não vamos deixar que isso aconteça. O que todos querem é muito simples: imprensa livre, repetindo, IMPRENSA LIVRE...”

Fala-se em imprensa livre como se liberdade de imprensa conferisse o direito à mentira, ao engodo, às meias-verdades, às acusações precipitadas, sem que o acusado tenha direito a defesa.

O AI-5 do general Costa e Silva, em 68, impôs o fechamento do Congresso Nacional e censura à imprensa. Estabeleceu de vez a ditadura que começou em 64. Porém, nos dias de hoje, com a imprensa e o Congresso que temos aí, nem precisa cassar mandatos, nem precisa impor censura à imprensa. Pra quê?! Eles já aprenderam a autocensurar-se, a obedecer, a mancomunar-se. Nada de atos de exceção, hoje basta o que já temos aí, impérios jornalísticos a serviço do poder econômico, engasgado com um presidente de origem paupérrima, de pouca instrução formal, mas competente, ensinando como se governa competentemente. Isso, para as oligarquias que dominaram este país durante séculos, é inaceitável. Não adianta multiplicarem seus lucros, o importante para elas será a retomada do poder institucional. Imaginem quantas madames estão torcendo o nariz para a primeira dama, quanta cobrança elas fazem aos maridos, instigando-lhes o ódio e a cobiça. Quanta inveja! Imagine de quanta covardia serão capazes, para novamente se apossarem do trono.

E olha que o capitão aí estava “indignado” apenas com o caso do “mensalão”. Imagino como deve estar se sentindo hoje com o “apagão aéreo”.

Não há clima de golpe?!

Ora, o que precisa de bom clima é dia de praia e lavoura; para golpear eles precisam de oportunidade. E oportunidade se constrói. Mesmo que de forma desleal, como estão fazendo.



http://www.novaeconomia.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=665
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No vídeo "Reparação", elementos como Fernando Henrique Cardoso (hoje se sabe que este foi colaborador do regime militar, pago por órgão ligados à CIA) tentam fazer a população acreditar que "todos são iguais", agentes da repressão e membros da resistência.

O enfoque que eles dão para justificar essa aberração está relacionado com os atentados à bomba e assaltos a banco que resultaram na morte de seguranças. Mas bem sabemos que boa parte dos atentados atribuídos aos guerrilheiros foi, na verdade, planejado e executado pelos órgãos de repressão, como o caso da bomba do Riocentro e os planos frustrados de explosão do gasômetro da cidade do Rio de Janeiro.

A bomba na OAB, que resultou na morte de dona Lida Monteiro, foi enviada por elemento da repressão. No final dos anos 1970, bastaram ligeiros acenos de abertura política para que os verdadeiros terroristas, os agentes da repressão, executassem atentados à bomba contra redações de jornais e bancas de revista que vendiam publicações consideradas "subversivas".

Os sujeitos querem que a população acredite que os militares teriam o direito de agredir, golpear, invadir as instituições públicas, prender, torturar e matar; enquanto todos deveriam obedecer, acatar e até agradecer. Eles nunca vão aceitar que o terror partiu deles; e alguns brasileiros tiveram a dignidade de reagir e enfrentar o terrorismo do Estado.

O vídeo "Reparação" também tem como objetivo fazer a população associar Dilma Rousseff à resistência armada e às ações que tiveram como consequência a morte e mutilação de pessoas não envolvidas no combate à ditadura.

Depois de Honduras: Brasil, Venezuela, Bolívia, Uruguai, Paraguai e quem mais se meter a besta!

Quem escapar contará a história (se um dia for anistiado).

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PressAA

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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Terror, terrorista, terrorismo não saem da moda. Muito pelo contrário!

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Fernando Soares Campos - Editor-Assaz-Atroz-Chefe

Recebemos mensagem especial de Komila Nakova, nossa correspondente russa, atualmente sediada em Foz do Iguaçu. Especial e estranha. Komila pegou a extravagante mania PressAA de intitular textos, por isso não nos surpreendemos com esta enigmática expressão:

“Terror, terrorista, terrorismo não saem da moda. Muito pelo contrário!”

Até aí, para nós, nenhuma novidade, pois sabemos que a nossa correspondente também trabalha, nas horas vagas, para diversas agências de boato do mundo inteiro, por isso acreditamos que se trata de mais uma de suas mensagens codificadas.

Mas o texto complicou. Komila nos informava:

O tal aquecimento global deve sair da pauta das grandes empresas detentoras de poderosos complexos multimidiáticos. Ano novo, vida nova! Em se tratando de questões relacionadas ao meio ambiente, tudo indica que a balela do efeito estufa atribuído ao acúmulo de CO2 na atmosfera vai ser substituída pelo velho e consagrado estilo Greenpeace: salvem as baleias, o urso polar, o mico-leão-dourado e as nossas contas bancárias!

Aí é só enfocar, de vez em quando, lixos tóxicos, transgênicos, energia nuclear, garrafa pet, sacola plástica, reciclagens e sacanagens afins nos telejornais do tipo "de Bonner para Homer". Nesse embalo, as agências de propaganda vão faturar em "criativas" campanhas publicitárias para vender aparelho celular biodegradável.

Muito em breve, os "fiscais da natureza" (ecologistas, ambientalistas, ativistas..) vão se sentir como os "fiscais do Sarney" no final do Plano Cruzado, tudo com cara de trouxa.

Em 2010, o terrorismo informal, esse que usa bombas caseiras na cueca, pode ganhar mais umas duas ou três edições. Talvez o Brasil seja contemplado com um episódio desses na região da Tríplice Fronteira. Mas o grosso do terrorismo internacional vai ser mesmo a definitiva substituição do neocolonialismo da grana virtual pelo velho e eficiente assalto da pirataria imperial invadindo países ou promovendo golpes de estado. Tudo à moda antiga. "Como nos velhos tempos!"

Com a crise financeira, não dá para realizar grandes produções como o 11 de Setembro. Também o caso Jean Charles serviu de experiência, portanto só resta produzir pequenas obras, de preferência sem destruir patrimônios nem causar vítimas.

A nova fase da guerra de “combate ao terrorismo” começou meses atrás, com os preparativos da palhaçada do cara que "tentou" detonar um avião da Northwest Airlines . E só não foi um sucesso total porque tem gente abelhuda querendo saber por que deixaram um sujeito fichado na lista negra do terror embarcar com o "traque molhado".

Embananou. Resolvemos pedir maiores informações e esclarecimentos:

“Komila, querida, peça licença ao seu namorado palestino, dê um tempinho pra gente e nos conte, com detalhes, o que você quis dizer com isso. Câmbio.”

Em seguida enviamos o nosso foca para o posto da Wells & Fargo, à espera do malote da primeira diligência do dia. Ainda pela madrugada, o foca pegou a encomenda e disparou aqui para a redação.

Agora podemos contar ao mundo o que realmente aconteceu no voo 253 da Northwest Airlines.

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Relatório KN para Editor-Assaz-Atroz-Chefe

Muito pelo contrário! Terrorismo, terrorista, terror da moda não sai.

Primeiro apertaram Alhaji Umaru Mutallab, do First Bank of Nigeria. Ameaçaram quebrar a casa de agiotagem do simpático sujeito. Ele se desesperou com as ameaças. Cópias de dossiês chegavam todos os dias sob a forma de “relatório” com carimbo “confidential”.

Finalmente o velho Mutallab recebeu a visita de Steve, consultor da London Bankruptcy Lawyers & Attorneys.

Papo vai, papo vem, contas na mesa, insinuações, vagas referências a propinas, fraudes, roubo e até assassinatos. Lembranças dos amigos italianos mexeram com colônias de bactérias no sistema gastrointestinal do negão, metabolizando gases e provocando-lhe dores abdominais.

O cobrador se desculpava: "Nothing personal, mister Mutallab, it's only business. Sorry!

O banqueiro já pensava em suicídio. Não aguentaria aquela vida que noventa e nove por cento do seu povo levava. Foi aí que o fleugmático advogado londrino lhe informou que tinha uma idéia brilhante:

- Mister Mutallab, o senhor tem um filho na Inglaterra, não é mesmo?

- Sim, mas o que o meu pequeno Farouk tem a ver com isso? Ele não tem dinheiro, quem sustenta seus estudos e a boa vida que leva em Londres sou eu.

- Bom, nós sabemos disso, mister Mutallab. Acontece que, se ele fizer um favorzinho pra gente, o senhor vai poder salvar seu banco e toda a grana que tem acumulada nos paraísos fiscais.



- Favorzinho?!

- Isso mesmo, um favorzinho de nada.

- E o que ele tem que fazer?!

- Bom, vamos começar pelo senhor mesmo fazendo a sua parte.

- Eu?! Do que você está falando?!

- O senhor só precisa recomendar seu filho à CIA.

- Vocês querem que ele se torne agente da CIA?

- Não... quer dizer... de certa forma, sim... Digamos, um trabalho como free-lancer, sem carteira assinada. Entende?

- Acho que sim. Mas que tipo de recomendação devo fazer do meu pequeno Farouk? Posso dizer que ele é um bom rapaz, filho obediente...

- Ótimo! Pra começar, tá de bom tamanho.

- Então, pode anotar...

- Está anotado!

O agente Steve levantou-se, circulou pela sala, olhando para cada detalhe da decoração, como se procurasse alguma coisa. Parou em frente à janela e ficou apreciando o movimento nas ruas de Lagos.


Voltou para a poltrona em frente à mesa do banqueiro.

- Mister Mutallab, vou detalhar o plano, mas precisa me garantir que não vai contar nada a ninguém. Menos ainda àquela agente russa que trabalha para a PressAA! Nós sabemos que o senhor tem uma queda pela loira...

- Juro que serei um túmulo!

Quando Steve terminou de expor as linhas gerais do plano, o velho Mutallab falou:

- Então eu tenho que dizer que o meu pequeno farouk está se relacionando com meu amigo Osama bin Laden?! Mas, mesmo que o meu pequeno Farouk não sofra qualquer ferimento, como você mesmo garante que vai ser tudo de brincadeira, ele vai ser enquadrado como terrorista da Al Qaeda, aí pode pegar prisão perpétua!

- Não se preocupe, mister Mutallab, o seu little Farouk tem bons antecedentes. Nós, da London Bankruptcy Lawyers & Attorneys, já temos pronta a defesa do menino. Não fica mais que um ano na cadeia... Tratamento vip! Nada de Guantânamo. Garanto!

- Tudo bem, confio em vocês. Ainda hoje vou mandar buscar meu pequeno Farouk para conversarmos.

Steve se despediu e foi direto para o aeroporto.

O velho Mutallab ligou para Jamil, em Johanesburgo, este repassou a mensagem para Mousav, em Teerã, que por sua vez telefonou para Ramirez em Acapulco, e finalmente recebi a mensagem através de um muambeiro em Ciudad del Este: “Komila, o babalorixá da grana d’Oeste d’África quer falar com você”.

Peguei carona na garupa da moto de um argentino aventureiro até La Paz. De lá fui para Caracas num avião de carga da Força Aérea Venezuelana. Engajei-me no movimento de intercâmbio cultural de uma ONG francesa e fui parar numa favela carioca. No Rio, retirei as passagens reservadas e voei pela TAAG para Luanda. Daí para Lagos foram só quatro dias de ônibus.

O velho Mutallab me pediu conselhos. Aprovei o plano. Ele me pagou em dólar canadense. Gastei quase tudo em Lisboa.

Bjs

KN


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Valeu, Komila, graças a você, agora o mundo pode conhecer a verdadeira história da cueca explosiva que virou pomba da paz.

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PressAA

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A ERA OBAMA – HONDURAS, VIOLÊNCIA E BARBÁRIE

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Laerte Braga


As eleições presidenciais em Honduras, farsa montada pelo governo golpista de Roberto Michelleti e os Estados Unidos não puseram fim à resistência do povo hondurenho ao golpe de estado de julho deste ano e muito menos à boçalidade das forças que tomaram o poder e depuseram o presidente do país Manuel Zelaya.

Serviram para mostrar a verdadeira característica do governo Obama. Não há mudanças em relação ao período de George Bush quando se trata de impor a ferro e fogo o império norte-americano.

Os acontecimentos dos dois últimos dias em Honduras, não noticiados pela mídia brasileira e a dos países sob controle político dos EUA, são chocantes, sinônimos da estupidez e da boçalidade de militares golpistas e elites daquele país (não diferem nos outros países latino-americanos alinhados com Washington), tanto quanto mostram que Honduras é de fato a síntese da América Latina e da visão de Obama sobre democracia, liberdade, direitos humanos, toda a parafernália mentirosa de uma embalagem negra de sabão em pó e que, no governo, se mostra branca, cruel, perversa e cínica.

Militares e polícia perseguem, prendem, torturam, estupram mulheres, invadem casas para garantir o que aqui a GLOBO chama de “fim da crise”, escondendo que os hondurenhos não aceitam a farsa em curso.

Só nesses últimos dois dias, passado o período do Natal, aquele que o terrorista Barack Obama iluminou com uma árvore em sua cidade, Washington, na hipocrisia do cristianismo travestido de “trinta mil homens para completar o serviço”, só nesses dois últimos dias, mais de dez mortos e centenas de presos.

O governo eleito por um comparecimento mínimo e forçado (funcionários públicos coagidos a votar, militares e trabalhadores de empresas estrangeiras) está se constituindo sob o sangue de cidadãos hondurenhos num país controlado por organizações terroristas dos EUA e a cumplicidade covarde e desumana de seus militares e suas elites.

O que Honduras mostra, o povo hondurenho, para além da capacidade de resistir e lutar à custa de vidas, como mostram noutro canto os palestinos, os afegãos, os iraquianos, povos oprimidos pelo cavalo de Obama (“por onde passa não medra grama”), é que a luta dos trabalhadores transcende a essa grotesca estrutura proporcionada pelo capitalismo e pelo centro de todo esse tipo de ação, num mundo globalizado (“globalitarizado”) sob a égide de tacões nazistas, abençoados pelos cardeais ressurretos dos tempos de Pio XII (quando judeus eram entregues aos nazistas para preservar o Vaticano e a pompa de “sua santidade”).

O que acontece em Honduras, a despeito do tamanho do território daquele país só tem paralelo nas ditaduras de Pinochet, de Vidella, de tiranos como Médici, Costa e Silva, Somoza, Trujillo, Batista, tantos outros, que encheram a história de seus países com o sangue de inocentes.

E nas câmaras de tortura onde pontificavam os tipos “brilhante ulstra”.

A política de Obama é pura violência. É a estupidez em sua forma mais abominável, porque disfarçada de prêmio Nobel da Paz. Deve ter custado milhões de dólares. Esse tipo de gente que decide esse tipo de coisa é fácil de ser comprada.

A reeleição do presidente boliviano Evo Morales na Bolívia, a presença de Chávez na Venezuela, de Corrêa no Equador, de Ortega na Nicarágua, de Lugo no Paraguai, de Castro em Cuba, de tantos que resistem a essa nova Idade Média, a do poder avassalador e predador da tecnologia em sua forma destrutiva quase que absoluta, mas com arsenais absolutos, transforma Honduras e a base militar dos EUA lá existente (escola para militares golpistas em toda a América Latina) em centro do terrorismo capitalista contra toda a América Latina.

Não é uma luta só de hondurenhos e perceber essa dimensão é de suma importância.

É literalmente aquela história de arrancar uma flor do jardim e depois o jardim inteiro.

Crianças, filhos de resistentes, estão sendo assassinados como forma de tentar intimidar os pais. Trabalhadores, camponeses.

A sanha sanguinária desse tipo de gente (por aqui existe aos montes, aglomeram-se no esquema FIESP/DASLU e com cúmplices militares, braços políticos como PSDB e DEM) ultrapassa a noção de sanidade.

Organizações internacionais de direitos humanos estão denunciando em todos os países da Europa e o governo da Espanha tem veiculado essas denúncias, o horror de todos os dias em Honduras.

A posição do governo brasileiro tem sido correta e não sofre, por essa correção, censuras de Washington. Sofre pressões diretas de embaixador, de secretária de Estado e declarações intempestivas e ofensivas do presidente terrorista da Cervejaria Casa Branca. Com a cumplicidade de grupos de militares e das elites econômicas.

Os discursos de Evo Morales e Hugo Chávez em Copenhague transcendem a questão ambiental (Obama ficou lá doze horas para fazer marketing, as tomadas para os noticiários fétidos à semelhança do JORNAL NACIONAL). Estendem-se à imperiosa necessidade de reagir para sobreviver, pois outro não é o objetivo, por exemplo, da CPI do MST entre nós. Encurralar a luta dos trabalhadores e camponeses.

Quando os dois presidentes, únicos a dialogarem com os milhares de cidadãos de todo o mundo, europeus principalmente, que foram à Dinamarca protestar contra os crimes dos donos, denunciaram a impotência de organismos como a ONU, estavam apenas mostrando a dura realidade de um mundo em conflito, de uma nova forma de guerra fria, coberta pelo sangue inocente de hondurenhos, palestinos, afegãos, somalis, trabalhadores de um modo geral.

Não há saída no aceitar esse horror que pode ser sintetizado em Honduras. Nem há saída na democracia como a vendem, pois o mundo tem um centro de atrocidades em Washington e um terrorista diferente de Bush. Sorri e vende a imagem de um novo mundo.

É o mesmo, só que as balas de urânio empobrecido que usam para assassinar resistentes parecem ter sido coloridas, para que as redes mundiais da mídia venal as exiba com o requinte da chamada tevê digital.

É barbárie pura.

Ou lutamos com Honduras, ou breve essas legiões de SS estarão marchando por nossas ruas.

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Laerte Braga, jornalista, colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz

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PressAA

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domingo, 27 de dezembro de 2009

Extra! FHC investiu mais que Lula!

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Fernando Soares Campos

Recebi e-mail com cópia de uma nota postada no Blog do Noblat. Só assim leio alguma coisa do Blog do Noblá-blá-blá, pois não perco meu tempo acessando qualquer coisa.

A nota intitula-se “FHC investiu R$ 22 bilhões a mais que Lula, mostra estudo” (cópia mais adiante).

Acredito sim que FHC tenha "investido" mais que Lula, comparando 7 anos de cada um desses governos.

Desde criança (e não estou brincando) eu dizia que, se conseguíssemos eliminar 50% da corrupção praticada nos órgãos públicos (o que seria um grande avanço), cada cruzeiro (moeda da época) investido renderia 2 vezes mais que cada cruzeiro investido em meio à bandalheira que os corruptos faziam com os nosso escassos recursos.

Se for verdade, se não houver manipulação nos dados, essa coisa de FHC ter investido mais R$ 22 bilhões que Lula, num mesmo período de governo (7 anos), comprova o que eu falava por intuição de menino abestalhado com o grau de corrupção que se verificava no nosso país desde a chegada das caravelas de Cabral.

Outro dia Lula falou que, em determinado momento do seu primeiro mandato, logo no início, ele entendeu que assumir o governo não significava assumir plenos poderes. No 12º Congresso do PCdoB, Lula afirmou que chegar ao governo não é o mesmo que chegar ao poder. “Há instituições poderosíssimas”, concluiu o presidente. (Jânio falava de “forças ocultas”).



Já disseram, e eu concordo, que nunca se viu tantos ratos no Brasil; mas que também nunca se caçou tanto os ratos neste país.

O combate à corrupção no governo Lula viria a ser a promessa de campanha mais difícil de ser cumprida. Para mim, a obra mais importante, a mais necessária, pois, sem ela, todas as demais estariam comprometidas ou mesmo fadadas ao fracasso. O combate à corrupção viria a ser a mais relevante face de distinção entre os governos FHC e Luiz Inácio Lula da Silva.

E Lula empreendeu esse combate de tal forma que alguns parlamentares da oposição chegaram a insinuar que as atividades da Polícia Federal, desde o início do primeiro mandato, teriam um caráter revanchista. Disseram que estávamos vivendo em um Estado Policial. Também tentaram relacionar as operações da Polícia Federal com a campanha da reeleição do presidente. Entretanto o governo Lula estava (está) apenas cumprindo uma promessa de campanha, talvez, paradoxalmente, a única implementada a contento: o combate à corrupção. Por que o paradoxo? Certamente porque esta seria a promessa mais difícil de ser cumprida.

Em 15 de novembro passado, escrevi artigo intitulado “Por que a Polícia Federal praticamente parou? Parou por quê?!” Um equívoco de minha parte, pois quem parou foi a imprensa, parou de destacar a ação da Polícia Federal, e com isso a impressão que se tem é de que as operações emperraram. Essa impressão também se fundamentava no fato de que delegados considerados operantes, competentes, combativos, foram afastados dos cargos e até ameaçados de ser expulsos da corporação.

A questão é que aquelas “instituições poderosíssimas” fizeram seus tentáculos funcionar em outras esferas dos poderes da União.

A Polícia Federal está a pleno vapor:

“Balanço apresentado nesta segunda-feira (21) pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, mostra que as ações da Polícia Federal em 2009 resultaram em 4.534 prisões. Dessas, cerca de 75% foram mandados de prisão preventiva: 3.392. Em 2008, a PF realizou 3.969 prisões, das quais 2,3 mil preventivas o que revela um crescimento de 12,5% no volume de prisões e de 14,6% no número de preventivas.

A ações de combate à corrupção mobilizaram a PF em 43 operações especiais em 2009, resultando em 386 suspeitos detidos, entre os quais 83 servidores públicos de todos os poderes do Estado.

“O combate à corrupção vai aumentar no próximo período em razão de que a PF está preparada para combater esses crimes. Tudo isso pode ser demonstrado na qualidade cada vez maior do inquérito e no número de prisões preventivas que vem crescendo”, avaliou Tarso Genro.

Além das atividades de combate à corrupção, operações da PF envolvendo crimes relacionados ao tráfico de drogas (72), crimes cibernéticos (10), previdenciários (27), ambientais 20) e contrabando (17) totalizaram 281 operações no ano, em dados finalizados em 15 de dezembro.”


Leia completo: http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL1422379-5601,00-ACOES+DA+PF+RESULTARAM+EM+MIL+PRISOES+EM+DIZ+MINISTERIO+DA+JUSTICA.html
Acho que o governo Lula consegui os atingir meus sonhados 50% de redução do grau de corrupção praticada e institucionalizada de tal forma que, em determinado momento da nossa História, roubar os cofres públicos parecia a coisa mais “natural” do mundo.

No governo FHC do PSDB, no qual o PFL, hoje DEM, não passava de esquadrão lambe-botas, o verdadeiro crime organizado não tinha o que temer. As máfias enclausuradas nas mansões à beira-mar e nos jardins paulistanos, ou turistando mundo afora, se mantiveram intocáveis. FHC quase fechou as portas dos principais setores da PF, que, em seu governo da impunidade, mal servia para expedir passaporte. A média de prisões efetuadas pela Polícia Federal no governo FHC foi de apenas 27 POR ANO.

A Polícia Federal trabalhou muito nesses últimos 7 anos, e ainda há muito o que fazer. Por isso, cada real investido no governo Lula tem rendido mais que 2 vezes o que rendia nos investimentos do governo FHC. Uma obra que no governo FHC custaria R$1,00, no governo Lula essa mesma obra, com resultados até mais proveitosos e de superior qualidade, deve custar R$0,50 ou até menos que isso!

Não creio que tenha existido governo mais corrupto que o de FHC em toda a História do Brasil.

Dizem que cada 50 mil reais desviados do erário representam a morte de uma criança. Se isso for verdade, a redução da taxa de mortalidade infantil no governo Lula evidencia o combate à corrupção. Claro que isso é uma conclusão simplista, mas não duvido que tenham pontos de tangência entre si.

“Há poucos anos, o Brasil aparecia como um dos líderes no desonroso ranking dos países com maior taxa de mortalidade infantil da Organização das Nações Unidas. Eram 47,1 mortes para cada mil nascidos vivos. Atualmente são apenas 19,3 para cada mil. Se a mortalidade continuar neste ritmo de queda, o país alcançará ainda em 2011 o quarto objetivo do milênio proposto pela entidade internacional, de 15,7 óbitos para cada mil nascidos vivos, que, supostamente, deveria ser atingido até 2020.”

http://www.dilma2010.blog.br/brasil-comemora-reducao-da-mortalidade-infantil/

Se Dilma for eleita e conseguir mais 50% de redução em cima do que ainda se pratica em termos de corrupção nestes tempos, vamos avançar imensamente, pois aí já teríamos 75% de redução dos índices de corrupção.

O próximo presidente teria a responsabilidade de empreender caça aos ratos com o propósito de reduzir pelo menos mais 50% dos 25% restantes. Bom, bem sabemos que nunca conseguiremos chegar aos 100% de lisura nas administrações públicas, pois ainda existem e sempre existirão as poderosíssimas instituições e os idiotas que acreditarão em ONGs Contas Abertas aos interesses dos que perderam as chaves do cofre da União e fechadas à honestidade dos fatos.

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FHC investiu R$ 22 bilhões a mais que Lula, mostra estudo

Do site do Noblat: [Recebido por e-mail]

De Eduardo Militão:

Um levantamento feito pela ONG Contas Abertas, que acompanha os gastos públicos da União, mostra que o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) gastou mais com investimentos do que a administração de Lula (PT), ao menos nos sete primeiros anos de cada mandato, considerando-se os valores atualizados monetariamente. Uma das estratégias da campanha eleitoral do PT para a presidência em 2010 será comparar as gestões de tucanos e petistas.

Nos sete primeiros anos da era FHC, foram gastos R$ 149,9 bilhões em investimentos. Na gestão Lula, foram R$ 127,1 bilhões. A diferença é de R$ 22,8 bilhões a favor do tucano. Os dados foram atualizados monetariamente pelo IGP-DI, da Fundação Getúlio Vargas.

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Os R$ 22 bilhões de diferença devem ser atribuídos às propinas. O empate nos R$ 127,1 bilhões pode ser entendido que no governo FHC os credores precisavam superfaturar tudo para pagar as propinas, por isso as obras não apareceram de forma que justificassem os investimentos. E ainda entendemos que o governo Lula precisou gastar muito com o pagamento do rombo deixado por FHC, a fim de recuperar a credibilidade no mundo inteiro.

FHC investiu mais que Lula? Se isso for verdade, a meu ver só depõe contra o próprio FHC, pois investiu, mas ninguém sabe, ninguém viu pra onde foi essa grana toda!

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PressAA

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Raul Longo e a crônica da Urda - para calar bocudos e reaças

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Compas:

Já que o Plínio Marcos não está mais aqui para nos fazer companhia, tô enviando essa crônica da Urda pra rede castorphoto.

E pro Urariano e o Fernando tô mandando por serem desses poucos historiadores da gente brasileira que há por aí, tal qual Urda. É lamentável a falta de verdadeiros historiadores nesse país.

Plínio faz muita falta, por isso.

Vocês três: Urda, Urariano e Fernando, cada qual em seu distinto estilo, são imprescindíveis, também por isso. Precisamos de um verdadeiro historiador em cada estado (ao menos) p’ra contar a verdadeira história de nossa gente, pois os historiadores oficiais só o que fazem é contar dos europeus que se perderam aqui no Brasil e até hoje não fazem idéia de que lugar ocupam no mundo, se achando no centro de um planeta que ainda nem imaginam sua real conformação geóide.

Vejam o que me escreveu a Urda, para apresentar essa sua crônica: "ela foi escrita para tapar a boca duns escritores bocudos e direitões lá de Itajaí, que não se conformavam que tinha sido aberta, lá, a Editora Maria do Cais (da prefeitura) (tempo do PT) e estavam armando todo o tipo de escândalo (Maria do Cais era o nome de famosa prostituta local)".

Portanto, companheiros, vejam como essa lide de historiadores da gente nossa, em si, já é um ato de subversão dessa mentira social que nos é imposta há tantos séculos. É um desmascarar necessário, pelo qual sinto necessidade de lhes agradecer a dedicação ao ofício.

O que me provocou a leitura da crônica da Urda, que daria excelente peça de teatro e daí a imediata lembrança do Plínio e do Chico Buarque também, obrigou-me a dividi-la com vocês.

Grande abraço em todos!

Raul Longo (*)
www.sambaqui.com.br/pousodapoesia

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MARIA DO CAIS

Urda Alice Klueger (**)

Na verdade, Maria descendia de toda uma genealogia de Marias, conhecidas como Maria do Cais, porque nenhuma delas soube quem era o pai nem foi registrada no civil – e teve muito padre que também lhes negou o batismo.

Nasciam em pequenos lugares fétidos ali por perto dos navios, não tinham a chance da escola, e um dia substituíam suas mães, outras Marias do Cais que a morte levava prematuramente. Como é muito comum entre as putas, tinham uma grande compreensão humana, uma grande capacidade de aconchego e de carinho, mantinham o equilíbrio da sociedade capitalista que fazia de conta que elas não tinham importância; e sofriam as violências e os desajustes que teriam acontecido nas casas dos seus clientes, casos elas não existissem.

A avó da atual Maria do Cais se fora na década de sessenta, quando por ali aportou um navio de Liverpool e ela estava junto na grande pândega que os marinheiros fizeram no sortido e vistoso bar do alemão João da Silva, para não darmos o nome verdadeiro do alemão e ferirmos suscetibilidades, e, quem sabe, ser processada por algum dos seus descendentes, pois quem acredita que alemão tem botequim de grande pândega na beira do cais?

Aqueles marinheiros de Liverpool, no auge da carraspana de caipirinha com camarão, não se comportavam nada melhor que os velhos piratas da rainha Elizabeth I, e um deles sacou de uma arma e fez pontaria em cada garrafa de uma prateleira de licores finos que o alemão colecionava para os comandantes de navio. A coisa estava ficando complicada, o alemão precisava de auxílio, e não havia polícia que pudesse chamar que desse conta daqueles beberrões mal educados.

Havia que se apelar para Maria, e ele apelou.

Contrariamente aos marinheiros, Maria do Cais tinha uma fascinação emocional por Liverpool, e já ouvira com muita atenção certos jovens que por lá cantavam e encantavam o mundo, principalmente um tal de John Lennon que andava a pregar a paz.

Com sua compreensão humana, com sua capacidade de aconchego e de carinho, ela deixara entrar dentro dela certas mensagens dos jovens cantores de Liverpool, e agora também sentia que tinha que salvar o negócio para o alemão João da Silva. Como aqueles marinheiros eram de Liverpool, via-os com bons olhos, e sugeriu que continuassem a pândega em outro lugar, e salvou o bar do alemão.

Nas vascas da boa cachaça de Luiz Alves, os marinheiros ingleses há muito tinham bebido o juízo, e na curra que se seguiu um fez só de brincadeirinha, mas degolou Maria do Cais com uma navalha. Assustados com o sangue, os ingleses debandaram para o navio, e a polícia fez vista grossa, e o navio partiu sem percalços, pois fora só uma Maria Qualquer, Maria Sem Importância, Maria que salvava bares finos.

Dez a zero para o Capitalismo.

Então, com apenas 13 anos, a filha da Maria degolada substitui-a com todo o seu frescor imaturo.
Tornou-se popular Maria do Cais no seu viço juvenil, mas não sabia ainda muita coisa da vida, e em pouco tempo engravidava.

Ela não fazia a menor idéia de quem era aquela criança que esperava, mas nós sabemos: a criança fora gerada a partir de um confuso espermatozóide perdido entre outros espermatozóides estranhos, colocado dentro dela por outro sujeito chamado João da Silva, porque aquele era rico de verdade, e vou eu aqui arriscar a dar de verdade o seu nome de rico.

Armador da pesca, dono de frota bem equipada, de armazéns no cais, não é que lhe afundara o barco mais novo, aquele que ainda não tinha seguro, lançado ao mar fazia poucos dias no afã de pescar camarão até com radar?

Doze homens haviam morrido com o barco, mas isto não tinha importância: havia sempre gente à vontade querendo embarcar, aqueles pescadores pobres que se criavam ali pela Armação, pelos Navegantes, pelo Porto Belo, pelos Ganchos – gente não era problema.

Problema era o rombo econômico do navio sem seguro; problema era o cheiro de chifre queimado que o acompanhava agora que descobrira que a sua mulher gastava as tardes em que dizia estar no salão de beleza com jovem e loiro argentino, cujo nome, aqui, não interessa.

E o que mais lhe doía: o encontro dos dois era em motéis caros, e a mulher dele pagava as contas, aquela imbecil já ficando com cara de avó!

Tinha vontade de descontar na mulher o cheiro de chifre queimado e o prejuízo do barco afundado, mas ficaria bem feio diante da sociedade ele partir a cara dela.

Havia certos códigos entre a burguesia que deveriam ser respeitados.

E então ele procurou a puta mais bonita do porto, e lhe falaram na nova Maria, tão novinha, estreante ainda naquela vida de compreensão, aconchego e carinho, precisando sobreviver porque a mãe fora degolada, sem ninguém que a protegesse.

E esse João da Silva, a grana sobrando mesmo com o barco afundado, contratou Maria para uma tarde inteira, e levou-a para o motel de luxo onde sabia que sua mulher estava com o argentino loiro. E lá vingou-se de tudo, do barco sem seguro, do cheiro dos chifres, e fez com ela tudo o que sua imaginação permitia, e lhe quebrou a cara como gostaria de fazer com a sua mulher. De sobra, deixou-lhe uma criança na barriga.

E no outro dia, tão inocentes quanto um casal de noivos, ele e a mulher foram a um casamento chique no clube chique da cidade. Estavam salvas as aparências; burguês não faz essas baixarias de bater e/ou berrar.

Dez a zero para o Capitalismo.

E Maria do Cais nunca soube que a menininha que nasceu era filha daquele João da Silva que a deixara quase dez dias sem trabalhar, botando compressa de água e sal nos roxos da cara e do corpo.

Como as muitas outras anteriores a ela, Mariazinha, a menina que nascera num esconso perto do porto, sem batismo, sem registro e sem escola, começou a fazer a vida aos 15 anos, quando sua mãe foi levada pela AIDS, recebida de uns diletantes poetas que não tinham o que fazer, pois os pais ricos lhes permitiam entre outras coisas as boas drogas importadas injetáveis.

Os tais garotos acabaram se safando da doença maldita, com médicos particulares e medicamentos também importados, mas Maria não tinha instrução, não tinha nada a não ser seu coração grande, sua capacidade de aconchego e sua função de manter em equilíbrio uma sociedade capitalista muito conservadora, e não sabia o que fazer quando aquela peste veio e lhe tirou todas as forças. Os poetas diletantes viajaram para um centro de pesquisas na Suíça ,para experimentarem drogas novas; Maria do Cais foi enterrada como indigente.

Dez a zero para o Capitalismo!

A Nova Maria do Cais agora está perto do final da carreira. Carreira de puta é curta, é rápida, é difícil. Mas ela é bem bonita e ainda tem freguesia certa.

Há um velho rico chamado João da Silva, aquele mesmo que a gerou, que não falha, todas as semanas. Ele já passou da idade para certas coisas, já deveria mais é estar curtindo seus milhões de pijama e chinelo, mas tem uma tara muito grande por ela.

Maria do Cais lhe lembra uma tia pela qual foi apaixonado no seu tempo de adolescência, naquele tempo em que ainda não tinha coragem e traçava a tia na palma da mão.

Às vezes, por algum trejeito que ela faça, ele chega a pensar se não a teria gerado, algum dia, sem saber, e sua tara aumenta. E então Maria do Cais tem que se desdobrar por muitas horas fazendo todas as porcarias que o velho quer, porque sua carreira está no fim e ela precisa daquele dinheirinho.

Nem lhe passa pela cabeça o que o velho pensa, quando exige que ela o chame de "papai". Nem imagina que do seu mais recente casamento ele tem uma filha adolescente que também lhe desperta muitas taras, mas aí a coisa é diferente: é filha respeitada, filha de burguês, e a burguesia tem certas regras que devem ser respeitadas.

Dez a zero para o Capitalismo.

Quando, afinal, vão erguer uma estátua na praça principal da cidade, para essa Maria do Cais que consegue manter a sociedade em ordem?

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(*) Raul Longo, jornalista, poeta e escritor
(**) Urda Alice Klueger, escritora e historiadora

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sábado, 26 de dezembro de 2009

DESMITIFICANDO LULA – 3

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Raul Longo

É recorrente um deslize fonético que inverte o sentido do verbo empregado como título desta série sobre as contradições do governo Lula, encontradas pelo meu amigo Príamo. A diferença é sutil na pronúncia, mas gigantesca no significado, pois se isso de DES-MITIFICAR dá um trabalho danado, DES-MISTIFICAR é coisa só pra iniciados e esotéricos, gente de alguma autoridade e correspondência com os universos metafísicos e paralelos.

Eu não me meto nessa seara porque é coisa que me assusta e não tenho conhecimentos para tal. Portanto vou ficando aqui pelas bordas, explicando apenas que segundo o bibliógrafo e arabista português José Pedro Machado (autor do Dicionário Onomástico e Etimológico da Língua Portuguesa) o prefixo DES, tal qual se o usa em ambos os casos, indica negação. Como em “DESconfiança”: falta ou ausência de confiança.

MITIFICAR, segundo o filólogo Antonio Houaiss, tanto pode ser transformar algo ou alguém em MITO, quanto atribuir, de maneira exaustiva, atributos exagerados a algo ou alguém “de modo a mascarar a realidade”.

Como se faz isso? Nada tão assombroso ou que requeira maiores poderes ocultos. Siga as instruções:

1 – Se não há nada que possa depor contra seu vizinho, vá prestando atenção em uma por uma das pessoas que com ele se relacionam, pois, como todo mundo, haverá de ter algum amigo, parente, funcionário ou conhecido que alguma vez já fez coisa errada na vida.

Duvida? Acha que todos os amigos do seu vizinho são santos só porque ele não sai da Igreja? Não se esqueça de que o ex-governador do Rio de Janeiro, Antonio Garotinho, também é de Igreja e tinha um funcionário que se metia com o jogo do bicho. Tá lembrado, ou já se esqueceu do Waldomiro Diniz?

Pois é... Assim se começa a construir um mito. Não é difícil. Por menor que seja a casa do seu vizinho, ele precisa de eletricista, encanador, jardineiro, faxineira, etc. Pesquisando a vida pregressa de cada um que ali entra e sai, você descobrirá alguém que já se meteu em alguma coisa errada. Aí o resto é fácil. Anote o próximo passo:

2 – Alie-se à fofoqueira da vizinhança. Sabe aquela que todo mundo chama de Gazeta do Bairro? Essa mesma! Você vai ter de oferecer alguma vantagem a ela, claro! Suponhamos que seu interesse é o de comprar a casa do vizinho, então você oferece uma comissão, um pedaço do terreno, os lustres, as cortinas... Qualquer negócio! E faça com que ela não se esqueça de dizer pra todo mundo que o infrator é carne e unha com o seu vizinho, por mais remota que, em verdade, seja a relação. Pois, por mais santo seja, o que funciona é o velho ditado do “me diz com quem tu andas, que já te conto quantos vão saber a boa bisca que és”.

E não se preocupe se o verdureiro chutou cachorro uma única vez e quando trabalhava de carteiro em outra cidade. Se o vizinho comprou alface do homem, é assassino de cachorro e pronto!

3 – Até aqui você já conseguiu criar uma desconfiança contra seu vizinho, mas ainda não é o suficiente. Des-confianças não fazem um mito que só se torna verdadeiro mito quando se tem certeza de que ele realmente exista, por mais fantástico que seja.

Então, continue de olho. Você conhece o bairro, sabe como são e funcionam as coisas em sua comunidade. Logo, logo o vizinho cairá na armadilha. Se não ele, um dos filhos, sobrinhos ou cunhados.

Quando qualquer um da família chegar às altas horas, entrando de mansinho pra ninguém perceber, solte aquele cachorrinho chato que você tem suportado especificamente pra esse momento.

Já imaginou, não é? O cachorro vai latir, o notívago tentará dar um passa-fora, e é quando você sai detrás da moita armando o escândalo, acusando o canicídio.

Seja tonitruante, tenor! Chute você mesmo o bichinho, com força pro ganido convencer a vizinhança. Acuse a família toda de um bando de lobisomens trucidadores de chihuahuas. Mas use de perspicácia e, para dar maior credibilidade à tramóia, faça de conta que livra a cara do vizinho insistindo que ele é gente boa e não cria pêlo à meia-noite. Depois deixe que a “Gazeta do Bairro” se incumba de dizer que pai de lobisomem, lobisomem é.

Ou vampiro.

Ela saberá convencer a vizinhança de que ele não tinha como desconhecer a boêmia do filho retardatário, pois sabia de tudo o que se passava em cada quarto e banheiro da casa. Revelará o conteúdo de conversas secretas, falsificará documentos, forjará fichas policiais, jurará por todos os deuses de pés juntos e dedos cruzados! Você nem imagina do que uma “Gazeta” é capaz!

Mas, cuidado! Às vezes ela inventa tanto que acaba criando um bicho com cabeça de leão, corpo de cabra e rabo de serpente, e nem grego acredita em tanta Quimera. De qualquer forma, se existe o ornitorrinco, meu troiano Príamo tem lá suas razões para encontrar no governo Lula uma segunda contradição:

b - Não adotou critérios de contenção para uso dos cartões corporativos, chegando a quantias estratosféricas. Os cartões corporativos foram criados em 2001, com a intenção de manter controle de gastos, mas só vieram a entrar em funcionamento em 2002, no último ano do governo de Fernando Henrique. Antes dos cartões corporativos, assinavam-se notas, descontavam-se cheques, e vá lá se saber em quais valores, quanto mais se nas exatas proporções estratosféricas das quais foi informado meu amigo Príamo.

Isso de valores, Príamo também não específica e, muito provavelmente, ninguém pôde lhe especificar, mas mitologia Moderna é assim mesmo. Aquilo de contar origens e desenvolver alguma explicação para tornar minimamente verossímeis os “causos” de monstros, deuses e heróis; era coisa lá da Antiguidade.

Naqueles tempos, os coitados dos poetas e dramaturgos tinham de arquitetar muito bem uma história para convencer seus ouvintes e leitores, já hoje em dia é muito mais fácil. Se uma “Gazeta” dessas afirma que algo é estratosférico, é o suficiente para faltar oxigênio e tudo levitar na ausência de gravidade. Gravidade em todos os sentidos: tanto no newtoniano quanto como sinônimo de seriedade.

Por exemplo, quando o então Ministro do Esporte Orlando Silva foi convocado por uma CPI proposta pelo deputado Carlos Sampaio do PSDB para explicar o estratosférico gasto de R$ 8,30 em tapiocas, com o cartão corporativo, teve gente que achou ser piada.

Príamo pode ter perdido o fôlego, mas Agripino Maia do DEMO aproveitou o gás da gravidade da denúncia e rapidamente levou para a CPI outra denúncia da “Gazeta” (o Jornal do Brasil), acusando o pagamento de 20 bailarinas com cartão corporativo. E por ninguém menos do que a Ministra Dilma Rousseff!

Um brutal escândalo sexual, pois evidentemente não se tratava de dançarinas de balé clássico. Pelo cachê das 20 moças juntas: R$ 100,00, não poderiam ser personagens do Degas coreografando Debussy. Evidente se tratar de streeps de boate de beira de estrada sem asfalto nem acostamento. Puta de fim de carreira, mesmo!

Felizmente alguém desconfiou da mitomania da “Gazeta” e proverbiais insuficiências intelectuais do senador Democrata (sic). Com sorte se suspendeu a convocação da Ministra Dilma para explicar aos parlamentares da CPI da Tapioca o michê das tais bailarinas, pois ia ficar muito chato a futura presidente da república comparecendo no Congresso com 20 vasinhos de flor de bailarina que comprou pelo cartão corporativo.

Só que aí é que tudo começou a dançar porque acharam de levantar os gastos corporativos dos cartões lá do final do governo FHC, em 2002, e respingou até nos corporativados do governo José Serra, em São Paulo. Pra tentar acertar o passo, mudaram a música inventando a feitura de um dossiê contra FHC e aí não teve jeito: a Ministra teve de explicar tim-tim por tim-tim.

Na verdade não explicou coisa alguma, porque a natureza de todo mito é racionalmente inexplicável e não consegue sobreviver além da especulação. Mas como o Senador Agripino, além de Homero às avessas – mitólogo ou mitômano sem história e cronologia convincente não faz Odisséia –, também não sabe aproveitar as boas oportunidades que se lhe apresentam para ficar calado. Conclusão: acabou lançando a candidatura Dilma em âmbito nacional, com aquela história da mentira ao torturador.

Ou seja, o que de mais edificante sobrou da CPI da Tapioca foi a confirmação da velha máxima de que, por trás de toda grande mulher, há sempre a sombra de um homem pífio a caminho do limbo.

Claro que a “Gazeta” saiu gritando aos quatro ventos que a CPI terminou em pizza, mas na verdade o que deu foi uma bruta indigestão de tapioca e meu amigo Príamo, coitado, tá com azia até hoje. Mas isso é porque além de nunca lhe informarem a quais estratosféricas dimensões remontariam os gastos dos cartões corporativos, tampouco contaram que “Os ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e Jorge Hage (Controladoria Geral da União) anunciaram nesta quinta-feira restrições para o uso dos cartões corporativos. As medidas foram anunciadas após a suspeita de ministros terem usado irregularmente o cartão de crédito corporativo.

Entre as medidas anunciadas está a proibição de saques em dinheiro para pagamento de despesas cobertas pelo cartão... As novas regras prevêem também que ministros poderão autorizar o saque de 30% do limite, o que precisará ser justificado.” Embora tudo isso tenha sido informado pela própria “Gazeta” (Folha Online 31/01/08)

Claro que, se o governo adotou tais critérios de contenção de uso dos cartões corporativos já no início das denúncias, abusos ocorreram de fato. Mas Príamo só precisa saber dos abusos, e não é intenção do véu da mitomídia revelar muito além disso. E, se revela, nunca com o alarde das tapiocas e bailarinas

Menos ainda revelará que esses abusos só foram descobertos porque esse governo adotou o mais eficiente critério de contenção de qualquer abuso, já utilizado no Brasil: o Portal da Transparência.

O dia em que Príamo acionar o http://www.portaltransparencia.gov.br/, a “Gazeta” de seu bairro sofrerá sérios problemas de credibilidade. E coitada dela se, retirado o véu da mitomídia, Príamo se descobrir o Hércules que juntos todos somos.

Mas não posso finalizar sem antes explicar a diferença entre Des-mitificar e Des-mistificar. Em poucas palavras: desmi-tificar é destituir o mito, a mentira contada sobre alguém. Des-mistificar é destituir o mistério, o caráter místico de alguma coisa.

Um exemplo: Santo Expedito, o das causas impossíveis, foi retirado do calendário católico porque se concluiu que nunca existiu. Era um mito e, portanto, foi desmitificado num concílio. E olha que tem até igreja construída em intenção do Dito! Além de devotos, empresas, indústrias, comércios. É nome de diversas cidades espalhadas pelo mundo e até de time de futebol.

Agora, isso de des-mistificar já é muito mais complicado e descamba pro sobrenatural.

Exemplo: em 1994, FHC recebe de Itamar Franco um país com U$ 40 bilhões de reservas econômicas e uma dívida externa de aproximados U$ 145 bilhões. Em 2002, FHC repassa para Lula esse mesmo país com U$ 16,3 bilhões em reservas econômicas e uma dívida de U$ 240 bilhões.

Em 4 anos Lula paga a dívida externa triplicada ao longo de 8 e, hoje, o Brasil acumula reservas que beiram aos U$ 300 bilhões de dólares, aproximadamente 20 vezes mais daquela que se reduziu há quase ¾ do valor inicial.

Enquanto a coisa fica em números, redondos ou aproximados, tudo bem. Se pode, por lógica, concluir eficiências ou insuficiências, capacidades ou gatunagens. Compara-se com informações sobre congelamentos de salários, privatizações e ausência de obras públicas de um; e dos investimentos em programas e obras sociais, de infra-estrutura, educação, segurança... de outro.

Pode-se chegar a alguma conclusão, tirar uma média racional, prática, real, efetiva, concreta.

Vem uma crise internacional, e a realidade, por maior que seja o falatório e histeria das “Gazetas”, fica ainda mais palpável, evidente. Materializada.

Mas, quando entram os tais gastos estratosféricos dos cartões corporativos, aí tudo passa pro místico, e a gente se perde, porque a conversa passa pro terreno metafísico, inatingível à compreensão natural das coisas!

Pra mim, pelo menos, é um absoluto mistério como o governo Lula consegue permitir gastos estratosféricos no cartão corporativo e ao mesmo tempo pagar uma divida externa, sobre a qual fui criado consciente de que meu quaquaraneto já nasceria responsável, e o mundo inteiro concluía definitivamente impagável.

Aí mora um mistério mais inexplicável do que o da Santíssima Trindade. Em nome do Pai, filho e Espírito Santo, cruz credo! Nesse assunto eu não me meto que tenho medo de magias, assombrações e paranormalidades!

Príamo é que explique e canonize Lula pela multiplicação ou transubstanciação de gastos em proventos, porque fazer tudo o que fez e ainda liberar quantias estratosféricas é de superar o Expedido nas causas impossíveis! Sei lá se é questão de fé, não entendo de eucaristias, e isso de milagres nunca foi comigo.

Em assunto de assombração, tô fora!

Raul Longo
pousopoesia@gmail.com
www.sambaqui.com.br/pousodapoesia
Ponta do Sambaqui, 2886
Floripa/SC

Raul Longo, jornalista, poeta e escritor, colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz

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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O NATAL DEPOIS DO NATAL QUE NÃO HOUVE

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Urda Alice Klueger

Faz um ano, agora. Foi o ano em que não houve Natal, a não ser aquele maquiado, para o turista ver. Assustada com tudo o que acontecera, eu estava vivendo em poucos metros quadrados, no depósito de livros de uma editora, sem fogão, sem geladeira, sem chuveiro... SEM JANELA! Sentia-me uma privilegiada, no entanto, pela privacidade que tinha, pelos banhos de balde, pelo ventilador, por ter dinheiro para o restaurante e a padaria, pelo acesso em tempo integral a um computador e à Internet, depois que ela voltou a funcionar. Quando me cansava de trabalhar ao computador, esticava um colchonete de camping dentre as caixas de livros e dormia, sob os cuidados do meu cachorro, que nem adulto ainda não era.

Era bem diferente a situação das pessoas que estavam no abrigo público mais próximo, no entanto. Além de todos os desconfortos da falta de privacidade, havia as lembranças e a grande falta de perspectivas. Suas casas tinham explodido em um segundo, conforme me contou o artista plástico Tadeu Bittencourt que acontecera com a casa dele e conforme eu própria vira explodir as casas dianteiras do lugar onde morava – e as casas escorreram morros abaixo junto com os morros derretidos, e assim como as casas, sumiram também os terrenos, e já não havia para onde voltar.

Naquele angustiante tempo de Natal, eu costumava tirar um tempinho para ir lá no abrigo fazer companhia àquela gente – não havia muito o que fazer, mas eu sentava lá e eles me contavam das suas vidas, e acho que isto era o melhor que eu conseguia fazer. Lembro muito de um senhor já idoso chamado seu Jacinto, que me contava de como trabalhara a vida inteira, de como criara os quatro filhos, de como fizera a casa dos seus sonhos, de como comprara redes espreguiçadeiras para a larga varanda de 54 metros quadrados onde recebia os filhos nos dias de festa, e de como ele e a mulher se deitavam nas redes, na hora do por do sol, e ficavam olhando a paisagem e se certificando da sua felicidade...

Tudo aquilo sumira num segundo, e seu Jacinto era apenas um entre tantos, entre tantos, naquele abrigo e em tantos outros... Sou pródiga em primos, amigos, afilhados – poderia ter passado a noite de Natal em diversos lugares, mas achei que naquele ano, o ano passado, deveria estar com aquela gente naquele momento mágico que marca o meu ano. Foi bom. A cientista social Luzia e um lindo soldado de 18 anos se desdobraram na cozinha e usaram das muitas doações que a generosidade de todo o país mandara para a nossa cidade para fazerem uma ceia condigna, com quatro grandes perus recheados e mesa decorada com folhas das árvores circundantes. Eu fiquei ali ouvindo as histórias daquela gente até a madrugada, e o Natal se foi.

Faz um ano, agora. Choveu dinheiro de todos os lados para resolver a situação de toda aquela gente que estava desabrigada faz um ano. Veio dinheiro de doações (tenho os números das contas bancárias das quais nunca ninguém jamais viu um extratozinho que fosse) e tenho cópias dos documentos de repasses de verbas milionárias que o Governo Federal fez para o governo do Estado de Santa Catarina – sempre há aqueles espíritos de porco que dizem que o governo do Estado não distribuiu o dinheiro, mas então, como é que os demais municípios atingidos pela catástrofe estão fazendo as obras e as casas necessárias? Sei que choveu dinheiro, mas os desabrigados de Blumenau, um ano depois, continuam nos tais abrigos provisórios. Indagorinha estive num deles para fazer uma visitinha ao seu Jacinto e sua mulher, e vi bem como é: a prefeitura alugou grandes galpões (claro, houve também o escândalo dos galpões superfaturados – não é exagero meu, saiu em todos os jornais, inclusive os da situação), e lá se vive, eu diria, mais que precariamente. Vou tentar contar um pouquinho:

O galpão onde fui é alto, com teto de zinco. Imaginem o calor que fica sob aquele zinco nos 40 graus que faz nesta cidade – forno puro! Sob aquele zinco, tabiques de madeira à meia altura dividem famílias em cubículos, onde elas se amontoam, cada um ouvindo tudo o que se passa por detrás de todos os tabiques, enquanto aquele dinheirão todo... cadê o dinheiro da reconstrução?

Seu Jacinto me falou dos três containers que servem de banheiro para aquela gente toda – quantas pessoas? 150? 200? Disseram-me que há abrigo com mais de 450 pessoas...

E então há a cozinha coletiva. As pessoas se organizaram, cada família ficou com duas bocas de fogão, e toda aquela gente cozinha e frita, frita bife, frita batata, frita banana... Todos os odores daquelas frituras todas viajam pelo oco entre os tabiques de madeira e o teto de zinco, e há um onipresente cheiro de fritura impregnando tudo, e tudo cheira a gordura rançosa, e a gente faz de conta que aquilo não está acontecendo, que se está mesmo na casa do seu Jacinto, e era assim que eu estava lá quando caiu uma chuvarada, e o barulho no zinco era tão grande que se tornava impossível continuar a conversar.

É assim que está sendo o Natal de um ano depois do Natal que não houve. Tive a sorte de vir morar numa casinha que tem até cheiro de flor, onde crianças vem brincar na minha varanda e há até estrelinhas luminosas do lado de fora da janela. E os que não tiveram sorte, como vai ser? Estão lá, assando sob o zinco, tomando banho em containers, sem privacidade, impregnados de cheiro de fritura... As pessoas já pouco lembram deles...

Quando se fará justiça nesta minha terra?


Blumenau, 22 de dezembro de 2009.

Urda Alice Klueger
Escritora
Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz

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quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Wikiphedia - A enciclopédia Assaz Atroz - Marina Silva

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Meu nome é Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima. Me diga mesmo: num parece nome de quem nasceu em berço de ouro?! Pois é, mas num foi, não! Eu nasci numa colocação chamada Breu Velho, no seringal Bagaço, lá no Acre. Hoje eu tenho orgulho de dizer que nasci e me criei junto a essa minha gente sofrida. Mas nem sempre foi assim, nem sempre tive esse orgulho todo...


Quando eu tinha 15 anos, vivia triste, acabrunhada. Ainda nem sabia ler. As revistas que chegavam por lá eram algumas fotonovelas, como Capricho, Destino e outras bem antigas, que o homem do barracão comprava os fardos em Rio Branco e usava para embrulhar mercadoria. Antes ele emprestava pra gente. Eu apreciava as fotos e sempre aparecia alguém para ler a novela. Cheguei a pensar em ser freira. Seria melhor viver num convento do que naquele fim de mundo. Foi então que adoeci. Todo mundo pensou que fosse malária, mas num era, não! Era hepatite. Aí me levaram para a capital. Lá em Rio Branco, o bispo se compadeceu de mim e me acolheu na casa das irmãs Servas de Maria. Entrei pro Mobral e aprendi a ler e escrever. Num gosto nem de dizer que fui beneficiada pelo programa de alfabetização da ditadura militar, mas... fazer o quê?! Infelizmente essa é a verdade. Mas eu posso dizer que fui vítima da ditadura, basta ver a vida que eu levava naquele tempo!


Fui levada à atividade política e social pela Igreja Católica, mas descobri que no movimento evangélico-protestante eu teria mais chances de me projetar. Basta ver que os neopentecostais cresceram muito, as bancadas deles nas assembleias legislativas e no Congresso são muito fortes. Bom, mas com a ajuda da Igreja Católica eu aprendi a ler, escrever e acabei me formando. Na minha página da Wikipédia o pessoal resolveu deixar apenas minhas relações com a Igreja Católica, nada de evangélicos, pois isso é coisa de minha vida privada, e ninguém tem nada com isso. Ah, o pessoal também omite o nome do PT quando fala de minhas eleições; deixa apenas a sigla PT quando se refere à eleição que perdi. Mas isso é coisa desses meninos metidos a marqueteiros. Bom, de qualquer forma, isso está sendo esclarecido aqui na Wikiphedia.


Infelizmente não tem como negar, todo mundo sabe que eu cheguei onde cheguei foi montada no PT. Em 1988, fui a vereadora mais votada do município de Rio Branco, conquistando a única vaga da esquerda na Câmara Municipal. PT. Em 1990 me candidatei a deputada estadual, pelo PT, claro, e obtive novamente a maior votação. Em 1994 foi eleita senadora da República, pelo PT do meu Estado, com a maior votação, enfrentando uma tradição de vitória exclusiva de ex-governadores e grandes empresários do Estado. O PT foi tudo na política para mim! Basta dizer que fui Secretária Nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Partido dos Trabalhadores, de 1995 a 1997. Mas a glória veio mesmo foi com a eleição de Lula em 2003. Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República, fui nomeada ministra do Meio Ambiente. Deus do Céu! Vocês nem imaginam com o que eu comecei a sonhar! Imaginam?! Pois é, acertaram! Isso mesmo, se Lula chegou lá, porque eu num chegaria, né?! Olha, eu tinha um trabalho reconhecido no mundo inteiro! Fiz muito, mas muito mesmo, quando fui ministra do Meio Ambiente! Governo nenhum havia feito nem a metade do que eu fiz como ministra do governo Lula. Ah!, eu ia esquecendo: sou ativista em defesa do meio ambiente desde aqueles tempos em que lia Capricho, Sétimo Céu, Contigo... Eu ligava o radinho de pilha do meu primo e ouvia Roberto Carlos cantando: “Seus netos vão te perguntar em poucos anos pelas baleias que cruzavam oceanos...”. Me emociono, me arrepio toda só de lembrar! Muitas emoções!


Enquanto fui ministra do Meio Ambiente do governo Lula, criei muitas áreas protegidas na floresta amazônica. Comigo foram delimitados 24 milhões de hectares verdes, coisa nunca antes ocorrida na história deste país. Meu trabalho foi tão bom, mas tão bom!, que o mundo todo reconheceu. Ganhei prêmios mundo afora. Já em 1996, ainda como Secretária Nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Partido dos Trabalhadores, recebi o Prêmio Goldman do Meio Ambiente pela América Latina e Caribe, nos Estados Unidos. Em 2007, por meio da Medida Provisoria 366, pela força de Lula, conseguimos desmembrar o Ibama e repassar a gestão das unidades de conservação da natureza federais para o Instituto Chico Mendes. Também em 2007, recebi o maior prêmio das Organização das Nações Unidas na área ambiental, o Champions of the Earth (Campeões da Terra), concedido a seis outras personalidades: o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore; o príncipe Hassan Bin Talal, da Jordânia; Jacques Rogge, do Comitê Olímpico Internacional (COI); Cherif Rahmani, da Argélia; Elisea "Bebet" Gillera Gozun, das Filipinas, e Viveka Bohn, da Suécia. Em 1 de abril de 2009 (primeiro de abril, mas num é brincadeira, não!), ganhei o prêmio norueguês Sofia, de 100 mil dólares, por minha luta em defesa da floresta amazônica. Tudo ainda pelo meu trabalho como ministra do governo Lula. A própria fundação que me concedeu o prêmio informou: "Ela reduziu o desmatamento na Amazônia para níveis historicamente baixos, 59%, de 2004 a 2007”. Áreas enormes foram conservadas, enquanto estive à frente do Ministério do Meio Ambiente. Mais de 700 pessoas foram presas por atividades ilegais na floresta, mais de 1.500 empresas foram fechadas, e equipamentos, propriedades e madeira ilegal foram apreendidos. É isso aí, gente! Porque a Polícia Federal e o Ibama no governo Lula não dormem! Também me preocupei com as populações indígenas. E, mesmo tendo saído do governo, tudo que fiz ainda repercute. Em 10 de outubro de 2009, recebi o prêmio Mudanças Climáticas, oferecido pela Fundação Príncipe Albert II de Mônaco. Fui considerada pela Revista Época uma dos 100 brasileiros mais influentes do ano de 2009. Enfim, o PT e o governo Lula foram tudo para mim.


Tenho amigos no PT, sempre fui muito querida no partido e no governo. Eu era, por assim dizer, o xodó do governo Lula e do Partido dos Trabalhadores. Eu já sonhava com a Presidência da República... Afinal, se Lula chegou lá, por que essa não seria a minha vez?

Foi aí que me desgostei! foi quando eu descobri que o verdadeiro xodó não era eu! Quer dizer, eu poderia até continuar sendo a queridinha, a namoradinha do Brasil, como a Regina Duarte foi por muitos anos. Mas ela... Ela... pronto, todo mundo sabe quem é! Ela foi a escolhida. Ela, uma mulher quase tão braba quanto a Heloísa Helena! Ela foi a escolhida. E eu, um doce de criatura, a candura em pessoa, tinha que me contentar com um ministeriozinho! Ah, mas nem morta! Ela, com suas obras faraônicas, com aquela pose de executiva! Ares de administradora! Mandona! Isso, sim! Tá vendo essa foto aí em cima?! Pois foi tirada no momento em que eu disse NÃO a ela! Assim, na lata! Não ao projeto que ia atrapalhar o amor dos bagres no rio Madeira. Isso só pra construir uma usina hidroelétrica. Não! Eu disse assim, na lata: "Ninguém vai atrapalhar o amor dos bagres!" Os bichinhos também são filhos de Deus. E tá lá na Bíblia: "Crescei e multiplicai!"


Mas eu não deixei de graça, não! Eu não podia continuar num governo tão ingrato como esse! Pedi demissão do Ministério do Meio Ambiente. Voltei pro Senado, saí do PT, fui para o PV do Gabeira. Esse, sim, é ex-petista, já foi até ex-verdista, voltou pro PV, é ex-guerrilheiro, ex-candidato a prefeito do Rio, ex-político mais honesto do país, eleito pela ex-revista Veja. Gabeira também foi torturado pela repressão nos tempos da ditadura, enquanto eu era alfabetizada pelo Mobral e queria ser freira; mas Gabeira não quer ser presidente da República, ele sabe que essa é minha vez... Até o Serra me apoia! Serra é meu amigo de longa data! Eu nunca disse isso antes porque ia pegar mal. Mas disse recentemente e continuo dizendo: Serra é meu amigo do peito! Quem quiser pode conferir aí... Tá tudo registrado no vídeo que o Paulo Henrique Amorim divulga: http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=24277. Isso pra todo mundo ver que eu e Serra somos amigos pessoais há muitos anos!

Serra é tão meu amigo... mas tão amigo!, que quando Lula escolheu a outra... Aquela lá, sabe? Pois bem... aí o Serra tomou umas cachaças e ficou tão bêbado, mas tão bêbado!, que não sabia nem o que dizer. Até que, depois da ressaca, ele disse...



Renunciei à minha vocação para o celibato, deixei de ser freira para virar vereadora, deputada, senadora, ministra, celebridade política; me sacrifiquei, precisei viajar mundo afora, cumprir compromissos com chefes de estado, nobreza, imprensa, universidades. Depois de tudo isso, eles ainda têm coragem de vir me beijar. Até esse Judas e esse judeu!






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