quarta-feira, 4 de abril de 2012

COISAS DE CUSCO!

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(Excertos do livro "Viagem ao Umbigo do Mundo", publicado em 2006.)

Urda Alice Klueger*

Vaguei por todo aquele centro de Cusco naquela noite, espiando as vitrines, os simpáticos garçons cusqueños que, de cardápio na mão, ficavam nas calçadas oferendo os pratos finos dos seus restaurantes, como pratos de vicunha, por exemplo – sobre os Andes, se possível, eu só como galinha e porco, para estar certa de não estar comendo nenhum dos seus camelídeos. Acho as lhamas, as alpacas e as vicunhas tão bonitinhas, parecidas com bichinhos de pelúcia, que não quero comê-las – embora também ache tão lindas as vacas e outros animais que como na minha cultura. Diria que é uma questão cultural – embora creia que mais de uma vez já tenha comido aqueles bichinhos lindos e macios, sem saber ao certo o que era, e talvez tenha até gostado. Então dá um certo trabalho comer em Cusco, pois os restaurantes locais se orgulham muito das suas vicunhas e outros pratos à base dos camelídeos.

Fiquei por ali sem pressa, vagando entre os restaurantes e as vitrines cheias de coisas maravilhosas que os Andes produzem, desde objetos e roupas até passeios encantadores, e fiz câmbio, e achei um locutório especialmente simpático, de onde fiquei freguesa em todos os dias em que estivemos lá. Na verdade, os locutórios enxameavam por toda a cidade – penso que só em torno da Praça de Armas havia muitas dezenas – cada cantinho possível escondia um locutório, e eles estavam sempre cheios, tamanho é o afluxo de turistas naquela cidade encantada. Convém contar uma coisa interessante a respeito deles: os computadores, variando de país para país, tem teclados com as letras em lugares diferentes, e a gente demora uns dias para se acostumar com o teclado de cada país. O @, por exemplo é uma tristeza – em cada país ele é obtido de um jeito diferente – digamos que no país Tal seja usando-se o Shift + 8, e no outro seja n + 4, e assim vai. Como tínhamos vindo viajando muito rapidamente, quando eu me acostumava com o @ daquele país, já estávamos a adentrar a outro, e começava um novo aprendizado. Em Cusco, porém, a coisa complicava – devido ao grande fluxo de turistas israelenses sempre por ali, além de o teclado ter as letras e símbolos em lugares diferentes, ainda tinha um pequeno adesivo encobrindo-o, onde estava impresso o sinal correspondente em hebraico, para que os israelenses pudessem entendê-lo. Penso que era a parte mais complicada de Cusco, mas mesmo assim já na primeira noite consegui responder às mensagens que me esperavam, e escrever o diário que mandava para o Brasil.

E fiquei depois a flanar pelo Umbigo do Mundo até me sentir com vontade de voltar ao hotel,o que fiz novamente à pé, apesar dos 3.400 m de altitude. Em Cusco pode-se fazer coisas que nos outros lugares não dá!

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*Urda Alice Klueger: Escritora, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR. Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz.

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoon

PressAA

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