domingo, 24 de setembro de 2017

Golpear ou não golpear, eis a questão



Golpear ou não golpear, eis a questão
 
por Fernando Soares Campos
 
Com esta imprensa que temos aí, acontecem coisas assim: repórteres entrevistam alguns generais e os consultam sobre as possibilidades de um iminente golpe de estado, perguntam aos militares de alta patente se existe algum golpe em andamento nos quarteis, como se algum conspirador admitisse as intenções de golpear. Não entro no mérito se existe ou não, no momento, algum general conspirando sistematicamente no Brasil, refiro-me apenas à “ingenuidade” de certos profissionais de imprensa. 
 
Neste momento em que se dissemina notícias sobre as possibilidades de um golpe militar em nosso país, a imprensa deveria investigar, com isenção de interesses pessoais ou de classe, até onde a realidade revela a verdade dos fatos. Eu disse investigar?! Ainda existe aquele velho e eficiente jornalismo investigativo em alguma parte do mundo?

Conspiração contra um governo (qualquer que seja) é uma constante, é uma atitude comum a oposições de qualquer orientação político-ideológica. Todos conspiram, uns mais desleais que outros, mas conspirar é muito comum entre adversários. Às vezes, até mesmo dentro dos próprios grupos politicamente alinhados.

Golpear um governo não depende apenas de "clima" ou "ambiente" político; mas, acima de tudo, de oportunidade. E essa oportunidade a direita-sectária brasileira está criando, com o apoio da mídia golpista, pois quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Lembram-se? Os tempos são outros, os métodos talvez também sejam outros, porém não menos violentos.

Milhares de pessoas já tiveram suas vidas devastadas pelo terror de um golpe de estado porque não acreditavam que estava sendo engendrado golpe militar em seus países, até chamavam de paranoico quem insinuasse tal possibilidade. "Teoria da conspiração". 
 
Duvido que, na manhã de 1º de abril de 1964, os militantes de esquerda e a população brasileira em geral acreditassem que, naquele mesmo dia, os tanques estariam nas ruas.

Eu perguntaria aos companheiros chilenos se eles poderiam nos relatar como se sentiam nas vésperas daquele 11 de setembro de 1973, quando bombardearam o Palácio La Moneda e se livraram do presidente Salvador Allende, que dizem ter-se suicidado. Se a população havia sido notificada sobre o “evento”.
 
E os companheiros argentinos, por acaso, receberam algum boletim informativo com uma nota do tipo "Amanhã cedo vamos golpear"? Como foi o primeiro dia de matança aí na Argentina, hein?! Como estava o clima naquele dia? Muito frio? Chuvoso? Nevasca? Calor? 
 
A imprensa e os políticos sob um golpe militar nos dias de hoje

O AI-5 do general-ditador Costa e Silva, em 1968, impôs o fechamento do Congresso Nacional e censura à imprensa. Estabeleceu de vez a ditadura que começou em 64. Porém, nos dias de hoje, com a imprensa e o Congresso que temos aí, não precisariam cassar mandatos nem impor censura à imprensa. Pra quê?! Eles já aprenderam a autocensurar-se, a obedecer, a mancomunar-se. 
 
Os atos de exceção, hoje, se limitariam a suspender o processo eleitoral através do sufrágio universal e estabelecer a nomeação de governadores e uma cota senadores biônicos. Mas o principal, o seu mais importante artigo seria aquele que determinaria eleição indireta para a Presidência da República. Aliás, este seria o verdadeiro motivo de um golpe militar sobre o golpe legislativo de 2016.
 
Os golpistas já sentiram que é praticamente impossível manter Lula preso com o país sob regime de liberdade de expressão e manifestação popular. Haveria um clima de perturbação permanente, as principais estradas do País seriam fechadas diariamente em diversos trechos. Paralisaríamos os setores produtivos da nação. Portanto, só lhes resta aplicar o golpe fatal, o golpe de misericórdia sobre o que nos resta em nome de um cambaleante Estado democrático de direito.
 
Agora imagine o seguinte cenário: Lula lá no cadeião de Curitiba, milhares de militantes petistas e esquerdistas em geral distribuídos entre presídios, manicômios e cemitérios clandestinos; outro tanto exilado pelo mundo afora. Imaginou?! Então, leia o jornalista Fernando Brito, editor do site Tijolaço, e desimagine, desencasquete. Ele não admite que exista, atualmente, a possibilidade de um golpe militar no Brasil devido à importância que o nosso país representa no cenário mundial. 
 
Vejamos esse trecho de um dos seus artigos em que ele diz que até se nega a "ficar discutindo a possibilidade de um golpe militar como sendo o maior escândalo de nossos tempos" e expõe suas razões:

"A primeira é que são remotíssimas as possibilidades de se instaurar um governo militar num país da importância mundial do Brasil, mesmo que diariamente o governo faça tudo  para apequená-lo. É evidente que qualquer pessoa dotada de algum juízo geopolítico sabe que a conjuntura mundial, hoje, ao contrário dos tempos da “Guerra Fria”, o impede. E, mesmo que haja uma aventura insana, é algo que não se sustenta politicamente.

"Governo militar, hoje,  é coisa para ex-capitães aloprados, jovens imbecilizados e senhores saudosistas. Militar com comando e responsabilidade não acredita nisso, nem vai para aventuras que não sabe onde e como terminam. É coisa para aspirantes e tenentes bolsonaristas ou general em campanha prévia para o Clube Militar, onde vai curtir sua passagem para a reserva e se pode falar sem agir. Há quem fale em outras aventuras eleitorais: seu direito e uma falta de juízo sem tamanho.

"A segunda razão é que a ditadura que me preocupa é a que já vivemos: a judicial.

"Esta, sim, não é um perigo, é uma realidade.

"Pior, é uma ditadura sem comando, porque o que seria seu “Estado Maior”, o STF, tornou-se uma espécie de “escolinha do Professor Raimundo” onde estamos debatendo as questões da “mais alta irrelevância” numa profusão de vaidades. Agora mesmo está julgando a questão do ensino religioso confessional, sem um mínimo de responsabilidade em ver que, neste momento, o tema é gasolina para os incendiários do ódio.

"Se falta comando, porém, tenentes superpoderosos não são escassos neste diktat da toga.

"Além do tenente master Moro esporulam outros que se apresentam como carrascos da corrupção, com especial predileção pela esquerda, ou até, na falta disto, para obterem seu brilhareco, dos gays, das meninas que perdem a virgindade, e tudo o mais que possa atrair a atenção pública, enquanto o governo postiço vai entregando tudo o que resta de patrimônio e esperanças deste país.

"Desculpem, mas eu não entro na gritaria contra a “ditadura militar” – que não desejo, óbvio, e creio, por tudo o que disse ao início, não virá – para fazer disto mais uma marola no tsunami punitivista com o medo do “prendam todos, senão prendemos vocês”.

"É mais água no moinho do autoritarismo não-militar, mas da meganhagem que se tornou o sistema judicial e parajudicial."(Fernando Brito, no artigo "O mais perigoso para a democracia é o Mourão ou o “Morão”? - TIJOLAÇO - 22/09/2017)"

Mas, em verdade, vos digo: se capitularmos diante de frustrados militares golpistas, e o Brasil sofrer mais um golpe de estado arquitetado no Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, e perpetrado pelas facções militares colonizadas e submissas aos ditames imperialistas dos ianques, pois bem (bem mal), desta vez não sairemos do jugo ditatorial nem tão cedo. Talvez, democracia nunca mais! Seria o "1984" de George Orwell definitivamente instalado para a purgação da nossa degenerada existência. Seria o definitivo atestado de que não somos merecedores deste paraíso terrestre chamado Brasil, pois estamos transformando-o num verdadeiro inferno.

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