terça-feira, 4 de agosto de 2009

Nós quem?! Taí uma oportunidade para você provar que apoia o MST

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Estimados companheiros e companheiras,

Estamos nos aproximando de um momento importante de luta da classe trabalhadora, que ocorrerá no mês de agosto – a Mobilização Nacional contra a Crise. Em São Paulo, iniciaremos no dia 5 de agosto com a Marcha Estadual de Campinas a São Paulo, chegando à capital no dia 10 – onde permaneceremos mobilizados até o dia 14.

O êxito da mobilização depende de nossa capacidade de construir unidade entre os organismos da classe trabalhadora, porém, também necessitamos da solidariedade de classe para garantir as condições materiais de realização da Marcha e demais atividades.

No intuito de compartilhar os objetivos de nossa Marcha e também apresentar nossas principais demandas, elaboramos o documento que segue abaixo:


POR QUE MARCHAMOS?

Somos trabalhadores e trabalhadoras rurais organizados no Movimento Sem Terra / Via Campesina, que lutamos pelo direito a um pedaço de terra onde possamos plantar, colher e garantir uma vida digna às nossas famílias.

Oriundos de várias partes do Estado de São Paulo, de diferentes comunidades, assentamentos e acampamentos para dialogar com a sociedade e os poderes constituídos com o objetivo de denunciar a condução das políticas em nosso país, as quais favorecem apenas os ricos que, por meio da apropriação capitalista, aumentam a cada dia mais a exploração e a miséria da classe trabalhadora. É por isso que marchamos:

Marchamos para reafirmar a necessidade da realização da Reforma Agrária como uma política de distribuição de terra, renda e riqueza para milhões de brasileiros que de forma direta ou indireta serão beneficiados. Dizem que São Paulo não tem terra para os SEM TERRA, entretanto, é um dos estados com uma das agroindústrias mais concentradoras a qual convive com os maiores índices de êxodo rural e miséria em suas pequenas e médias cidades do interior, além do terrível cenário atual nas periferias das grandes metrópoles, onde se concentram milhões de pessoas sem alternativa de vida digna. O povo brasileiro precisa recolocar a Reforma Agrária na pauta do país e dizer que somente através dela é que vamos conseguir produzir alimentos de boa qualidade, a baixo custo e empregar milhares de pessoas que foram expulsas do campo pelo Agronegócio.

Marchamos porque somos contra a concentração da propriedade da terra, das florestas, da água e dos minérios, pois, além de causar a destruição da natureza, expulsa os camponeses, os pequenos produtores, os povos indígenas, os ribeirinhos, os quilombolas. Condenamos a política agrícola e ambiental dos sucessivos Governos Tucanos em São Paulo e do Governo Lula, pois só têm beneficiado o agronegócio, seus interesses econômicos e incentivado a destruição ambiental.

Marchamos para reafirmar a necessidade de unificar toda a classe trabalhadora, do campo e da cidade, para juntos consolidar um processo de emancipação pelo qual possamos ter de fato emprego decente, moradia digna, saúde e educação gratuita e de qualidade, alimentos saudáveis para todo povo brasileiro.



Marchamos para denunciar a exploração da classe trabalhadora por seus patrões e fazer com que o nosso apelo seja ouvido e que soluções sejam tomadas: a cada dia aumenta o número de pessoas desempregadas, e agora com a crise dos ricos, sobra para nós, os empobrecidos, pagarmos a conta. Precisamos nos fortalecer enquanto classe trabalhadora para garantir que se cumpram os direitos trabalhistas e previdenciários; a maioria dos empregadores sequer assina a carteira de seus funcionários. É inadmissível e indignante vivermos ainda hoje com a existência de trabalho escravo em nosso país, e assistirmos passivos os aumentos sucessivos de incentivos para aquelas agroindústrias que o promovem.

Marchamos também para repudiar a crescente criminalização da luta social e da pobreza em todo o país. Não é possível admitir que num país dito democrático, cada vez mais seja considerado crime o exercício legítimo de organização política e reivindicação de nossos direitos assegurados formalmente até pela Constituição Federal. Muito menos admitir que pessoas, sobretudo jovens e negros das periferias urbanas, sejam a cada dia mais consideradas “suspeitas” simplesmente por viver na pobreza ou na miséria material, tornando-se vítimas prioritárias das políticas de criminalização, encarceramento e execuções sumárias em massa que se tornaram uma prática comum do Estado brasileiro nos últimos anos.

Marchamos, finalmente, para refletir e debater também sobre a forma com que o meio ambiente está sendo tratado. O nosso país ainda tem o privilégio de possuir riquíssimos biomas: como a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, o Cerrado, o Pantanal etc, porém, infelizmente a cada dia que passa, mais ameaçados estão nossas matas, florestas, rios, animais, clima e seres humanos… devido à busca desenfreada dos capitalistas pelo lucro. É preciso frear a ganância dos poderosos que, para seguir aumentando seus lucros, passam por cima de tudo e de todos. Nos dias de hoje já vivenciamos vários problemas de ordem climática que é resultado desta ganância dos ricos.
O povo não pode pagar a conta. Que os ricos paguem a conta da crise!

CRESCEMOS SOMENTE NA OUSADIA!

Mário Benedetti

Demandas

Nos preparamos para reunir 1.500 marchantes, com uma perspectiva de participação de 150 crianças aproximadamente.
Infra-estrutura geral:

- 25 ônibus (fretamento) $50.000,00
- locação de veículos (caminhões)
- combustível e pedágios ($3.000,00)
- água
- caminhão de som (trio)
- gás de cozinha (20 botijões)
Cuidados infantis
- biscoitos (maisena, água e sal)
- frutas
- legumes e verduras
- leite
- papel higiênico
- sabonete
- shampoo infantil
- pente
- fraldas descartáveis
- lenços umedecidos
- cotonete
- creme dental e escovas
- papel toalha
- material de limpeza
- banheiras, baldes, bacias, jarras
- pratos, talheres e canecas plásticas
- colchonetes
- lençóis, toalhas, cobertores
- Papel sulfite, cartolina, guache, papel kraft, pincel, giz de cera, lápis de cor, tesourinha sem ponta, cola branca, papel crepom, brinquedos educativos, balões de borracha, lousa, giz, fita adesiva larga e fina, barbante, canetinha, apontador, borracha, lápis, cola colorida, livros de estórias infantis
Saúde
- soro fisiológico
- ataduras-
pomadas para assadura
- algodão
- medicamentos (analgésicos, antitérmicos etc)
- termômetro
- inalador
- medidor de pressão
- água oxigenada
- álcool
- esparadrapo
- mertiolate
- preservativos
- luvas descartáveis
Kit do marchante
- cadernetas
- caneta esferográfica
- chapéus de palha ($2.100,00)
- capas de chuva ($1.500,00)

Para mais informações:
Secretaria Estadual – 11 3663 1064
Karina - 11 8012 3091
Marcia – 19 8203 4986

Para entrega de doações:
Alameda Olga, 399 – Barra Funda – São Paulo

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Sensibilidade à flor da tela

Fernando Soares Campos

Depois de longa caminhada, pai e filho juntaram-se a um movimento reivindicatório na grande cidade. O deslocamento da multidão em passeata, do local de concentração até o ginásio onde ocorreria um encontro de trabalhadores rurais, fazia parte da estratégia dos organizadores do movimento e tinha o propósito de chamar a atenção da imprensa; era uma tentativa de informar a população urbana sobre os seus problemas no campo.

Atendendo às exigências legais, os líderes do movimento haviam solicitado apoio das autoridades para acompanhar a multidão desde a concentração até o ginásio municipal. O comando da Polícia determinou que os seus efetivos se pusessem em guarda, acompanhando o cortejo. Entretanto os militares foram orientados para reagir a qualquer manifestação "agressiva" por parte dos participantes do evento.

Quando a passeata atravessava uma das mais movimentadas avenidas da metrópole, os motoristas dos carros parados no sinal ( farol, sinaleira ou semáforo, que já abrira e fechara diversas vezes enquanto os trabalhadores passavam), impacientes, buzinavam com insistência e gritavam protestando contra a perda de seus preciosos minutos de espera.

No meio da multidão pai e filho conversavam:

Filho I: — Pai, já que a gente tá aqui hoje e eu num vou trabalhar na carvoaria, então, depois que terminar as fala, vamo andar um pouco pela cidade?

Pai I: — Depende da hora que terminar, fio.


Filho I: — Pai, o homem que falou lá no acampamento disse uma palavra que eu num entendi.

Pai I: — Qual?

Filho I: — Excrusão. O que quer dizer isso pai?

Pai I: — Pelo que eu entendi, fio, é quando a gente num pode disfrutá de quase nada, enquanto outras pessoas têm direito a tudo. E até mais um pouco.

Filho I: — Ah! então, quer dizer que aquelas pessoas naqueles carro bonito num sofre de excrusão, né?

Pai I: — Acho que é isso mesmo, fio.

Filho I: — Pai, quando eu crescer, eu vou poder comprar um carro daqueles?

Pai I: — Se você continuar na carvoaria, nem vai crescer, fio. Mas, se nóis conseguir um pedaço de terra boa e trabalhar, aí, até pra escola você vai. Então pode até pensar em comprar um carro daqueles.

Subitamente, uns elementos infiltrados no movimento sacaram os pedregulhos que traziam em sacolas e, aos gritos de "abaixo a burguesia!", atiraram contra os carros parados no sinal. Imediatamente o comandante das tropas autorizou a repressão. Foram lançadas as primeiras bombas de gás contra os trabalhadores. Criou-se o tumulto. Correria, pessoas pisoteadas, gritos, protestos, resistência; os líderes ainda tentaram apaziguar os ânimos. Os policiais conseguiram dominar alguns manifestantes e baixaram o cacete. Os lojistas fecharam seus estabelecimentos, mas não evitaram que algumas vitrines fossem destruídas. Tiros, quebra-quebra, prisões.

* * *


À noite, em casa, Pai II e Filho II, que estavam num dos carros parados no sinal, assistem ao telejornal das oito. As cenas, editadas, são de uma verdadeira batalha urbana. A família assiste a tudo em silêncio. De repente o filho grita entusiasmado:


Filho II: — Olha lá, pai! Você viu?!

A cena muda rapidamente.

Pai II: — O quê, filho?!

Filho II: — Você não viu, pai?!

Pai II: — Não sei do que você está falando, filho! Você está se referindo ao espancamento dos baderneiros que foram presos?

Filho II: — Não, pai! Ah! pena que você não viu! Você viu, mãe?!



Mãe: — Claro que vi! Vi aquele moleque chorando porque o baderneiro do pai estava sangrando...

Filho II: — Não, mãe, não é nada disso...

Irmãzinha: — Eu vi.

Pai II: — Vocês viram o quê?!

Filho II: — Pai, o que estava em cima da faixa de pedestre, pai, era o nosso carro! O nosso carro saiu na tevê!
















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PressAA
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Um comentário:

batclei disse...

Além de toda manifestação do MST, o que mais me chamou a atenção desse artigo foi a curiosidade das crianças, tanto a criança rural, quanto as crianças da zona urbana, coisa que os adultos geralmente não vêem. Embora de mundo diferentes, criança será sempre criança, sempre sonhará e despertará curiosidades. A primeira imagina ter um carrão, e as segundas ficaram felizes (ou curiosas) por terem visto o carro do pai, mesmo depredado, na televisão.