segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Laerte Braga: "Passa pelo Brasil todo o agressivo e truculento processo de golpismo e intervencionismo norte-americano"


“LULA É O CARA!” – ELE ACREDITOU

Laerte Braga

Os senadores Álvaro Dias e Sérgio Guerra estão em negociações com uma empresa de consultoria em Houston, Texas, para assessorar o PSDB na CPI da PETROBRAS. Tucanos e DEMocratas trabalham com o objetivo de encurralar o governo Lula e assegurar que, eleito José Serra, a empresa estatal de petróleo, logo o petróleo brasileiro, seja entregue a grupos econômicos norte-americanos.

A descoberta de reservas de petróleo na região chamada Pré-sal e a transformação do Brasil num dos grandes potentados no setor, aumentou a cobiça das grandes empresas estrangeiras sobre o “negócio”. E o “negócio” passa por desmoralizar a PETROBRAS e, em seguida, privatizá-la. Foi assim que fizeram com a VALE DO RIO DOCE, hoje só VALE.

O jurista Dalmo de Abreu Dallari, falando sobre cidadania e municípios, num seminário realizado na cidade mineira de Juiz de Fora, explicou seu ponto de vista sobre a desnecessidade de um Senado num país como o nosso.

É simples entender. Dallari explicou que nos Estados Unidos logo após a guerra da independência, travada contra a Inglaterra, vários eram os estados, todos independentes, autônomos e que resolveram constituir uma poder central, a União, preservando as características básicas de suas respectivas independência, de sua autonomia. O Senado é a representação dos estados, e o caráter federativo da União se mantém até hoje, mesmo que diminuído em relação àquela época.

No Brasil, ao contrário, sempre tivemos um poder central acima do poder das províncias (nome dado aos estados antes da proclamação da república). Foi a Constituição de 1891 que mudou a terminologia. Passaram de províncias a estados, sem nenhuma mudança significativa na estrutura de poder. O Senado como representação dos estados, no Brasil, é ficção. Não há o que representar. Somos uma república federativa de fancaria. Na prática todo o poder emana de Brasília.

Muhamad Ali e Lenox Lewis foram os dois maiores campeões mundiais dos pesos pesados nos últimos anos, nas últimas décadas. Ali é inclusive o maior lutador de boxe de todos os tempos. Os dois costumavam dizer que contra adversários mais fortes, perigosos, ágeis, era necessário lutar por fora. Não permitir a luta corpo a corpo, não permitir a maior aproximação desses adversários e buscar golpeá-los em rápidos movimentos dentro do ringue, sempre à distância.

O grande erro de Lula foi não ter percebido que, em sua primeira eleição, o mandato conferido pelo povo brasileiro era um repúdio aos oito anos de FHC e todo o conjunto de desastres que foi o governo do tucano. O petista resolveu lutar por dentro. A idéia de governabilidade surgiu como a melhor forma de desarmar as bombas de efeito retardado deixadas pelo pior presidente de nossa história, Fernando Henrique Cardoso. Na ótica de Lula e do comando de seu partido.

Permitiu a aproximação de adversários fortes, perigosos e capazes de qualquer golpe, baixos principalmente. Aliou-se a figuras notoriamente comprometidas com os interesses das elites empresariais no campo e na cidade e inventou o que Ivan Pinheiro chama apropriadamente de “capitalismo a brasileira”. Políticas sociais compensatórias, enquanto tentava e tenta criar um bloco capitalista alternativo aos Estados Unidos, à Comunidade Européia, ao Japão e à China. Toda aquela pantomima armada por Roberto Jefferson, à época do mensalão, reproduziu o comportamento tucano/DEMocrata, desde o primeiro momento do governo FHC, quando da concorrência do SIVAM (Sistema de Monitoramento da Amazônia).

Lula sabia e sabiam os seus ministros que Jefferson era comprometido muito mais com a extrema-direita brasileira (é oriundo, nasceu na ditadura militar como advogado defensor de criminosos e com estreitas ligações com as polícias do seu estado, o Rio de Janeiro, e os aparelhos de repressão dos governos militares). O governo de Lula acreditou que o problema de Jefferson fosse apenas e tão-somente algumas merrecas em termos de cargos públicos. Não foi capaz de, por um instante sequer, entender que ali estava alguém disposto a “negociar” com quem pagasse mais e, principalmente, que esse dinheiro viesse, como veio, da extrema-direita.

O governo Lula sobrevive com altos índices de popularidade no carisma pessoal do presidente e no fato de dentro dessa lógica de “capitalismo a brasileira” estar sendo menos ruim, logo, melhor, que o governo FHC. E numa proporção sem tamanho. O que não foi e nem é tão difícil assim, levando em conta que Fernando Henrique foi um funcionário norte-americano designado para governar o Brasil, como o foram os ditadores militares.

O que Lula não percebeu foram os novos ventos que começaram a soprar na América Latina e particularmente na América do Sul, com a eleição de governos à esquerda, portanto, adversários de interesses norte-americanos. E muito menos que o caráter de país continente do Brasil mantém até hoje a frase de Nixon sobre nosso País como definição pronta e acabada – “para onde se inclinar o Brasil, se inclinará a América Latina” –.

Nesses quase sete anos de governo Lula duas constatações saltam aos olhos de imediato. O presidente optou pelo equilibrismo da velha política de uma no cravo e outra na ferradura e governa encurralado pela oposição, escorado inclusive no fantástico poder de mídia, toda ela controlada por grupos econômicos e interesses estrangeiros, particularmente norte-americanos.

O espantoso nisso tudo é a popularidade do presidente, não tanto pelo conjunto da obra, mas pela capacidade de ter diminuído, com políticas assistencialistas, a dor e o sofrimento dos excluídos. Mas basta um tucano assumir o governo que essa dor volta. Não houve, pelo contrário, nenhuma ação concreta no sentido de organização e formação, até porque seu partido hoje, o PT, com uma ou outra exceção, é só um PSDB diferenciado.

E ambos, PT e PSDB são partidos paulistas que imaginam que o mundo começa e termina em São Paulo, um país vizinho que fala a mesma língua e é controlado por um conjunto de famílias reais encasteladas no esquema FIESP/DASLU.

De tanto pular de galho em galho, de tanto ficar confiando nos cipós, tal e qual Tarzan, Lula acabou ou está acabando enrolado num cipoal sem tamanho e sem saber o rumo direito, na “estação” José Sarney.

Somos um País de dimensões continentais, mas somos um país latino-americano. Não há como esquivar-se dessa realidade.

E passa pelo Brasil todo o agressivo e truculento processo de golpismo e intervencionismo norte-americano em países como a Colômbia, visando derrubar os governos democráticos de Chávez, de Evo Morales e Rafael Corrêa, ou no conjunto da América Latina, o de Ortega e de El Salvador, sem contar ou falar no governo de Cuba.

As bases militares norte-americanas na Colômbia têm esse objetivo, além, evidente, de facilitar o controle e a conquista definitiva da Amazônia. A presença de agentes de Israel, braço do terrorismo norte-americano no Sul do Brasil, asseguram e garantem a outra ponta.

Quando Barak Obama, branco disfarçado de negro que preside os EUA, ou finge (o controle é exercido pelo mesmo grupo que controlou Bush) chama Lula de “o cara”, está apenas jogando confete e tentando abrir as portas para que seus cavalos de Tróia entrem com a farsa democrática que montaram e montam em vários cantos do mundo, no neocolonialismo chamado globalização.

E tucanos e DEMocratas cumprem aqui a perfeição, com máximo da subserviência possível, todo o esquema traçado em Washington e Wall Street. A despeito de petistas que vendem a mesma idéia do mundo neoliberal. Quem não está com Lula está com a “direita”. Como falam os norte-americanos. Quem não está com a nossa democracia, é terrorista.

A ”motosserra” que um dirigente do PT citou como conseqüência de “equívocos” de parte da esquerda, na verdade é produto dos erros e equívocos de Lula e seu partido.

Partidos, como dito num encontro recente, são meros agentes eleitorais e o PT não difere de nenhum deles. “Em ano de eleição se trabalha a eleição, em ano não eleitoral, se prepara para o ano eleitoral”. Ouvi essa definição precisa e irrefutável de um velho combatente da ditadura militar.

O processo político mais amplo, que visa rechaçar todo o processo capitalista, passa ao largo dessa farsa institucional. Começa num diagnóstico real de uma conjuntura que não é só brasileira, mas é mundial. Está na ação terrorista do estado de Israel na Palestina, nas intervenções no Iraque, no Afeganistão, nas bases na Colômbia, no golpe em Honduras, em todo esse arremedo de “nova América” que Obama busca rotular seu governo. É a mesma América imperialista de Bush.

Lula levou a sério esse trem de “é o cara”. Caiu do cavalo quando chamou Obama para explicar as bases militares na Colômbia e ouviu um sonoro não. Até porque Obama sabe que tem gente aqui, caso dos tucanos e DEMocratas, como das nossas elites econômicas, já que elites são apátridas. E, pior, sabe que nossas forças armadas, em sua maioria, rezam pela cartilha do patriotismo, mas o que se volta para o Pentágono, em Washington.

Nessa história toda Lula foi apenas o bobo. Nem foi capaz de entender que toda a baba de Aécio para pacificar senadores como Jereissati e Artur Virgílio na crise do Senado, era apenas defesa de Jereissati e Virgílio, notórios corruptos, num capítulo de sua disputa com Serra dentro do PSDB. Um enrola-presidente, faz de conta que estou garantindo a democracia, a governabilidade, enquanto planto armadilhas pelo terreno e até outubro de 2010.

Só pensam nisso, em eleições. O resto, as firmas de Houston garantem, ou a GLOBO, ou a FOLHA, ou a VEJA. Ainda mais que o ano que vem começa com a nona edição do bordel BBB e tem copa do mundo. Depois é só vender um sabão em pó tucano, seja Serra ou Aécio.

Lula achou que Obama falou de verdade, para valer. Vai acabar tomando cerveja num jardim próximo ao Salão Oval da Casa Branca, com direito a escolher a marca e serviço pelo “garçom” Obama. É hora dos garçons, sagrada instituição mundial, começarem a pensar em protestos contra essa usurpação.

O real sentido da frase de Obama Lula não captou. “Me Tarzan, you Cheeta”.

Laerte Braga é jornalista, escritor, cineasta e colabora com a nossa AAA-PressAA


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PressAA

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2 comentários:

Anônimo disse...

Concordo com vc,exceto em 1 ponto;O Lula nao se iludiu com o elogio de Obama,ele nao é bobo!
Agora bater de frente com o Obama,tb nao!Infelizmente é preciso tntar manter a diplomacia com essa raça podre,que sao os americanos,mas,o Lula ta esperto!!!

Glória disse...

Raça podre? Não é racismo? Gente, não é por aí... Por que não escrevem sobre o "guarda da esquina"?