domingo, 25 de outubro de 2009

FHC e os tocadores de trombone


O SENADOR PASTEL

Laerte Braga

À primeira vista pode parecer Eduardo Suplicy e seus cartões, cuecas, suas intermináveis e chatíssimas explicações sobre o movimento de rotação e suas diferenças com o movimento de translação.

Não é não. É Eduardo Azeredo, senador do PSDB de Minas Gerais. O dito está no fio da navalha. O ministro Joaquim Barbosa do STF cobrou do presidente da STF DANATAS INCORPORATION LTD, Gilmar Mendes, a colocação em pauta da denúncia contra Azeredo. O senador é o inventor do “mensalão”. Ele e o ex-deputado atual prefeito da cidade mineira de Juiz de Fora Custódio Matos.

Há meses a papelada rola para lá, rola para cá, mas fica no mesmo lugar.

É fácil explicar. Quando surgiram as denúncias e provas que Azeredo usou um esquema montado por Marcus Valério para colher dinheiro (tucano é fogo, colhe, pois planta em privatizações, concessões, etc) e tentar reeleger-se governador de Minas, o senador tratou de avisar a FHC que, se algo lhe acontecesse de ruim, iria jogar toda a sujeira tucana no ventilador.

FHC, cínico e falso “como nota de três reais”, expressão de Itamar Franco, chamou Gilmar ou mandou emissário, um trem qualquer, e deu a ordem. Nada de ruim pode acontecer a Azeredo, do contrário “estamos todos lascados”.

Gilmar cumpriu à risca, aquele negócio de sobrestar a denúncia contra Azeredo. Como vai resolver a confusão agora, já que o ministro Joaquim Barbosa estranhou a demora, não sei, é outra história. Mas isso soa como resposta às declarações do funcionário da STF DANTAS INCORPORATION LTD sobre as viagens de Lula e Dilma país afora, na inauguração de obras do PAC.

Azeredo foi eleito vice-prefeito de Belo Horizonte em 1988, na chapa de Pimenta da Veiga. Pimenta renunciou um ano e meio após a eleição para disputar o governo do Estado e foi derrotado por Hélio Garcia. Azeredo virou prefeito até o final de 1992. Em 1994 foi eleito governador de Minas por absoluta falta de opção do eleitorado.

Três candidatos disputavam o governo. O atual vice-presidente José Alencar, o ministro das Comunicações Hélio Costa e Azeredo. Por algo menor que um por cento Hélio Costa não levou as eleições no primeiro turno. Perdeu-as para Azeredo.

O hoje senador nunca foi levado a sério no mundo do tucanato. Prefeito por circunstâncias imprevistas, a renúncia de Pimenta da Veiga (ou previstas e fracassadas), virou candidato a governador quando se achava que ninguém conseguiria derrotar Hélio Costa. Uma espécie de vai lá, disputa e pronto. E vice-prefeito de Pimenta da Veiga nas alianças de oligarquias familiares de Minas. Eduardo Azeredo é filho de Renato Azeredo (o pai tinha caráter), um dos principais colaboradores de JK e depois de Tancredo. Pimenta da Veiga é filho de João Pimenta da Veiga, deputado estadual por vários mandatos e cacique do antigo PSD.

Em 1998 quem andou no fio da navalha foi FHC. O presidente tratou de comprar um segundo mandato. Uma espécie de liberou geral no Congresso Nacional. Leilão assim de concessões de rádio, tevê, dinheiro vivo, tudo sob a coordenação de Sérgio Motta (ministro das Comunicações à época) e ACM, então figura maior do conjunto de máfias do Congresso.

Comprados os deputados e senadores e “aprovada” a reeleição, FHC enfrentou o desafio de Itamar Franco. O ex-presidente lançou-se como pré-candidato e foi à convenção do seu partido à época, PMDB. Perdeu na fraude e na compra de votos dos convencionais. Segundo um deles, fato amplamente noticiado pela imprensa na ocasião, naquele dia não havia uma garota de programa disponível, estavam todas atendendo aos convencionais do PMDB. Junto com a tropa de choque tucana para qualquer eventualidade.

A candidatura Itamar colocava em risco a reeleição de FHC.

O ex-presidente decidiu então ser candidato ao governo de Minas e mandou um recado claro a FHC. Qualquer problema e eu boto a boca no trombone. O outro candidato era Azeredo, que disputava a reeleição.

FHC pouco apareceu em Minas e no segundo turno das eleições para o governo daquele estado, perguntado sobre seu candidato, respondeu que “os mineiros é que decidem quem devem governar Minas”. Só que, na mesma entrevista, havia defendido, minutos antes, o voto em candidatos tucanos em outros estados. Quer dizer, rabo preso, sentou em cima e jogou Azeredo às feras.

Itamar foi eleito governador do estado. Naquele ano outra figura mostrou seu verdadeiro caráter, embora não tenha sido, ainda, totalmente desmistificado. O senador Christovam Buarque de Holanda. Candidato à reeleição ao governo de Brasília, foi derrotado no segundo turno por Joaquim Roriz. Buarque apoiou tucanos explicitamente e recebeu o apoio também explícito do ministro da Fazenda de FHC, Pedro Malan.

Sem mandato Azeredo esperou as eleições de 2002 e candidatou-se ao Senado, eram duas vagas em disputa. Uma para ele, outra para Hélio Costa. Sem o trio que dizia para ele onde estava o óculos, onde assinar (sua mulher, Maresguia – vice-governador – e Roberto Brant – renunciou ao mandato de deputado para não ser cassado por corrupção –), cumpre mandato melancólico.

É uma espécie de depósito de projetos e serviços sujos. É dele o projeto que eliminava a perspectiva do voto impresso na urna eletrônica como forma de garantia da integridade do processo, já que as suspeitas de vulnerabilidade eram e são visíveis a olho nu. Apresentou-o atendendo a Nelson Jobim, então presidente do STF, líder tucano no Judiciário (ele próprio se definiu assim, mesmo sendo do PMDB).

É dele a ação para bloquear a aprovação do acordo que permite o ingresso da Venezuela no antigo MERCOSUL. Quer dizer, parece dele, mas é apenas laranja de outros interesses, como no caso do voto impresso.

Ao tomar conhecimento da reclamação do ministro Joaquim Barbosa, o senador já mandou avisar a FHC que ou o ex-presidente segura o trem com Gilmar Mendes, trata de arrumar um jeito de ser arquivada a denúncia, ou então vai colocar a boca no trombone.

Sem votos em Minas, não vai ser candidato à reeleição. Já cumpriu o papel que lhe cabia cumprir, vai para o almoxarifado dos inúteis, deve virar deputado federal.

O que vai acontecer a ele e ao prefeito de Juiz de Fora, Custódio Matos, seu parceiro nas extorsões do mensalão não sei. Sei, por exemplo, que Juiz de Fora está sendo loteada entre aqueles que contribuíram para a campanha e eleição do empregado de Azeredo, com ganhos significativos para os gerentes do “negócio”. Um dos mentores virou inclusive conselheiro do Tribunal de Contas do estado. O ex-deputado Sebastião Helvécio.

Azeredo é uma pálida demonstração da genética tucana. Mas é o tal negócio, se abrir a boca coloca os grandes cromossomos tucanos num buraco sem tamanho, pois o esquema ali é bravo, e chega a ser inimaginável tentar imaginar do que é capaz um tucano para chegar ao poder. E do que é capaz um tucano no poder.

Como Gilmar vai se sair dessa não sei, mas tenho um palpite que sai. O mundo institucional é exatamente uma aliança entre os representantes (auto presumidos) de Deus e os conhecidos do diabo.

Um paraíso fajuto onde só lucram figuras como essas. Um pastel de vento padrão Eduardo Azeredo. Agora que FHC está se mexendo para não correr riscos, isso está. É mais ou menos como se Azeredo tivesse espalhado papéis contando a história para todos os lados e o intocável do esquema FIESP/DASLU, com conexões na Fundação Ford, bota conexões nisso, estivesse, nesse momento, imprensado contra a parede. Mas sai.

VEJA está atrás de “provas” que possam deixar Azeredo em situações constrangedoras

É o jogo sórdido e um pastel de vento como o senador pode colocar por terra todo o esquema pacientemente montado para retomar a chave do cofre em 2010 e passar a escritura do Brasil para Brazil S/A.

O diabo é que as “provas” de VEJA podem respingar em FHC e em posições ridículas e ressuscitar Pimenta da Veiga num baita constrangimento.

Seria o caso, não é, pois pagamos as contas, de dizer eles que são grandes, eles que se entendam.

O jornalista Laerte Braga é colaborador direto desta nossa Agência Assaz Atroz

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PressAA

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Um comentário:

Anônimo disse...

Se for o mesmo Cristovam Buarque que saiu do PT depois de ter sido ministro da educação, não tem o "de Hollanda" no sobrenome!