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MELHOR ATRIZ EM BERLIM
É NEGRA E FOI MENINA DE RUA
Rui Martins*

A atriz negra Rachel Mwanza é originária do Congo, RDC, e faz o papel de uma menina soldado, sequestrada por rebeldes e obrigada a lutar com eles depois de um aprendizado no manejo de metralhadora. Seus dois primeiros assassinatos, no filme, foram seus próprios pais. Em pouco tempo, ela é considerada feiticeira e assim sobrevive no grupo até fugir com outro soldado, também sequestrado, que é morto ao ser reencontrado pelos rebeldes. Há um toque esperança, pois a «feiticeira» tem um filho, uma família de acolha e a vida poderá recomeçar em outras bases.
Rachel, conta o realizador Kim Nguyen, do filme Rebelde, teve uma vida tão dificil quase como a contada no filme. Ela cresceu na rua e hoje ela frequenta a escola e diversas pessoas a ajudam. O paralelo entre a história contada no filme e a vida de Rachel é também interessante. Com o dinheiro do filme procuramos também ajudar Rachel; mas não é fácil, visto seu contexto familiar e ainda hoje ela precisa reunir o máximo de força e tenacidade para adquir independência.
É a própria Rachel quem conta: «Quando ainda pequena, minha mãe mudou-se para outra cidade, meu pai foi para outro lugar e eu me vi sozinha. Foi minha avó quem me cuidou e éramos seis, duas meninas e quatro meninos. Mas minha avó ficou depois desempregada e para sobreviver ela vendia pequenas coisas na rua e fazia assim um pequeno comércio para poder viver.
Foi uma época muito difícil para nós, até que chegou o momento em que não podia mais nos sustentar e um dia ela disse a um de meus irmãos que devíamos partir de casa. Os grandes precisam partir e eu guardo só os pequenos, disse minha avó. Vivíamos num lugar precário, minha avó não suportava mais a situação e eu parti. Tive, então, de arranjar o que comer na rua e sobreviver sozinha. Comecei a vender nozes, avelão e frutas secas e com isso tinha um pouquinho dinheiro. Meus pais também faziam pequenos empregos mas vivíamos na rua. Enfim, consegui um alojamento, mas as condições eram também difíceis e hostis.
Em seguida, fui viver na casa de uma amiga, ela tinha mais idade que eu e eu a ajudava nas coisas de casa. Um de meus irmãos se chama Che Guevara. Ele conhecia um branco chamado Macaré, que fazia castings para filmes, e foi assim que fui selecionada para um documentário. Depois de um documentário, ganhei 600 dólares e dei para minha avó para poder ir à escola, mas o dinheiro previsto para as despesas com a escola não foi assim utilizado e minha avó guardou para ela. Então decidi retornar ao centro de acolha onde estivera e foi assim que reapareceu o europeu Macaré, que me falou haver cenas a refazer no documentário. Um dia ao retornar à minha família, meus irmãos me disseram, soubemos que você trabalhou num filme e seria bom que você prossiga nesse caminho. Foi uma espécie de milagre, se assim posso dizer, ter trabalhado no primeiro filme e hoje sei ler, o trabalho neste filme Rebelde foi uma grande para mim e quero agradecer a todos aqueles que me ajudaram a participar desse projeto, são eles hoje minha família ».
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*Rui Martins: jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura, é líder emigrante, ex-membro eleito no primeiro conselho de emigrantes junto ao Itamaraty. Criou os movimentos Brasileirinhos Apátridas e Estado dos Emigrantes, vive em Berna, na Suíça. Escreve para o Expresso, de Lisboa, Correio do Brasil e agência BrPress. É colunista do Direto da Redação. Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz.
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Outras matérias que estiveram hoje sob o crivo dos pauteiros desta nossa Agência Assaz Atroz:
No Tijolaço do Brizola Neto...
Serra tem a unidade do ódio
No Youtube, recebido por e-mail de Miguel Angelo:
Marilena Chauí no Roda Viva - em 1989
Vale "a pena" ver o nervosismo dos entrevistadores e vale "o prazer" de recordar a aula da professora Marilena.
Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons
PressAA
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