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Traduzido pelo coletivo Política para TodosRecebido por e-mail da Rede Castorphoto
Chongqing: socialismo numa cidade
Robert Dreyfuss, The Nation
Escrevo hoje de Chongqing, vasta cidade na China central, porta de entrada para o oeste do país. Para alguns, Chongqing é a maior cidade do mundo, um município com 32 milhões de habitantes; mas, como já entendi, essa definição está errada, porque esse número é a soma das populações de várias cidades-satélites acrescida de 20 milhões de habitantes da área rural. Há alguns anos, a China excluiu a cidade de Chongqing e seus 32 milhões de habitantes, da província de Szechuan; e converteu-a em município autônomo. Hoje, Chongquing é projeto-piloto do movimento de planejamento urbano mais importante em andamento na China e, provavelmente, em todo o mundo: a urbanização planejada de nada menos de meio bilhão de pessoas, deslocadas de áreas rurais e vilas e realocadas em cidades construídas especialmente para essa realocação. "Chongqinq," diz Wen Tianping, porta-voz da cidade, "é um microcosmo da própria China".
A escala do projeto dá vertigem. Em Chongqing, por tempo não definido, planeja-se deslocar, por ano, 500 mil habitantes de áreas rurais, para áreas urbanas. Significa que Chongqinq tem de planejar, implantar e construir uma cidade do tamanho de Atlanta, Georgia, por ano; com empregos, estradas, infraestrutura, escolas, hospitais e mais e mais. É projeto que está sendo construído na China já há 20 anos, durante os quais 200 milhões de pessoas já foram urbanizadas e, ao longo da próxima geração, outras 200-300 milhões de pessoas seguirão as pegadas dos primeiros milhões.
"Temos planos, cronogramas e metas", diz Qian Lee, diretor dos negócios de promoção geral do projeto. "Não se pode planificar tudo. Mas não fazemos planos para serem abandonados. O que planejamos fazemos. Como dizemos na China, aqui se faz tudo cientificamente".
E o caso é que, na China, o planejamento funciona.
A população em Chongqinq permaneceu onde estava por muitos anos, mas, agora, toda a municipalidade está sendo transformada, de rural, para urbana. No centro da cidade vivem 5-6 milhões de pessoas; nas cidades-satélites, 1 milhão ou mais; e células urbanas nascem como cogumelos ao redor das cidades-satélites, cada uma com 200-500 mil almas. "Planejamos seis centros regionais, cada um com 1 milhão de habitantes", diz Qian Lee. À medida que as pessoas mudam-se das fazendas para as vilas, parte da terra está sendo adaptada para uso industrial; e parte será usada para a produção agrícola industrializada, mais eficiente. "Chongqinq será o que chamamos de "cabeça de dragão" de um motor econômico para toda a região do Alto Rio Yangtze, e modelo para outras áreas rurais-urbanas planejadas e equilibradas."
Como centro no interior do país, Chongqing foi um pouco menos vulnerável à reviravolta econômica que veio depois da crise financeira de 2008. Isso porque, diferente das cidades do sul da Cnina e Xangai, por exemplo, Chongqinq depende menos da exportação de manufaturados para a Europa e EUA. Assim, quando o colapso financeiro espalhou-se pelo mundo e a economia despencou, a queda na demanda por bens fabricados na China não teve impacto tão forte em Chongqing quanto em outras partes da China. Mesmo assim, 12% da economia de Chongqinq está relacionada às exportações; e, quando a crise pesou, o desempprego explodiu em Chongqing – como em toda a China.
A China lançou seu próprio programa de estímulo à economia, cujas dimensões não são muito bem conhecidas. Segundo Stephen Green, do Banco Standard and Chartered, que encontrei em Xangai, o estímulo chinês no plano doméstico torna quase ridículos os números norte-americanos. Oficialmente, diz ele, foram pelo menos 600 bilhões, mas podem ter chegado a 3,5 trilhões, sobretudo se se contam os estímulos oferecidos no plano das províncias, por cidades e províncias como Chongqinq.
"Quando a crise nos atingiu, várias fábricas fecharam", diz Wen Tianping. Chongqing lançou seu plano de estímulo "Inverno Quente", de vastas somas, com programas de crédito para que muitos dos 3,5 milhões de desempregados pudessem começar negócios próprios, com empréstimos e garantias de crédito para pequenos negócios, lançamento de novos parques industriais, subsídios diretos para 1.500 novos tipos de negócios e, claro, usando o ás-na-manga chinês: o fato de que a China ainda é país comunista, com imensa quantidade de empresas estatais que controlam todos os principais setores da economia. As estatais, diz Wen, "receberam ordem para não cortar empregos". Hoje, Chongqinq está plenamente recuperada; não bastasse, a região está crescendo a taxas de 13%.
Nos EUA há quem creia que a China abandonou o socialismo e converteu-se em Estado selvagem à moda ocidental, capitalismo liberado para todos. Nada mais distante da realidade. Sim, há multinacionais dos EUA operando na China, investindo e construindo fábricas, tanto para exportar quando para atender o mercado de 1,3 bilhão de consumidores chineses. (Mais de 100 das 500 empresas norte-americanas listadas na revista Fortune já operam em Chongqinq, inclusive a Hewlett-Packard, cuja fábrica montadora de laptops produzirá 10 milhões de computadores por ano, segundo informação de funcionários em Chongqing.) Nada disso altera o fato que que na China todas as indústrias-chave são estatais: bancos, energia, petróleo, transporte, telecomunicações (inclusive a gigantesca empresa chinesa de telefones celulares que, em breve, alcançará a cifra de 500 milhões de assinantes). O sistema de bancos da China – que inclui quatro ou cinco bancos nacionais gigantes, 17 bancos comerciais médios, e cerca de 140 bancos comerciais municipais – navegou serenamente através do furacão da crise mundial de 2008-2009. Praticamente nenhum deles foi contaminado pelo vírus dos créditos podres e dos seguros especulativos que destruiu a AIG, o banco Lehman e vários outros agentes.
Pelo que vi até aqui, nada faz crer que a China esteja pensando em privatizar suas indústrias-chave. E o sistema de planejamento centralizado continua operando a pleno vapor.
O artigo original, em inglês, pode ser lido em:
http://www.thenation.com/blogs/dreyfuss/498671/chongqing_socialism_in_one_city
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PressAA
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