Fernando Soares Campos
Por que as operações da Polícia Federal emperraram?
Por que delegados da Polícia Federal considerados operantes, competentes, combativos, foram afastados dos cargos e até ameaçados de serem expulsos da corporação?
Não pretendo responder a essas perguntas, pois, ao ler a nota do Castor Filho (responsável pela Rede Castorphoto) e a republicação de artigo de minha autoria (“Quando buchas de canhão são promovidas a generais”), creio que, da leitura desses textos, o leitor pode tirar suas próprias conclusões.
Antes, porém, reproduzo aqui trecho de outro artigo meu, a fim de reavivar alguns episódios desbotados nas paredes da memória de muita gente:
“No período de 12 a 20 de maio de 2006, cerca de 400 pessoas foram assassinadas no Estado de São Paulo, vítimas do mais sangrento ataque atribuído à facção criminosa conhecida como PCC (Primeiro Comando da Capital), cuja liderança mais expressiva é o presidiário Marcos William Herbas Camacho, o Marcola, condenado por assalto a banco. Quer dizer, é apenas um assaltante que assaltava colegas. Depois dessa primeira grande onda de ataques, outras se sucederam. Chegaram a ocorrer 54 rebeliões simultâneas em unidades prisionais do Estado de São Paulo, vários presídios foram depredados. Nas ruas os ataques atingiram principalmente a frota de ônibus da capital paulista, dezenas de coletivos foram queimados, agências bancárias sofreram danos em suas fachadas causados por bombas e tiros de armas de grosso calibre. Policiais foram assassinados em emboscadas. Tudo debitado na conta do PCC. (escrevi isso em agosto de 2006, e foi publicado no diário espanhol La Insígnia,” http://www.lainsignia.org/2006/agosto/ibe_045.htm)
Agora circula internet adentro artigo intitulado “Eles ajudaram a destruir o Rio”, por Sylvio Guedes, editor-chefe do Jornal de Brasília, através do qual o autor nos faz lembrar que “Quando a cocaína começou a se infiltrar de fato no Rio de Janeiro, lá pelo fim da década de 70, entrou pela porta da frente. Pela classe média, pelas festinhas de embalo da Zona Sul, pelas danceterias, pelos barzinhos de Ipanema e Leblon. Invadiu e se instalou nas redações de jornais e nas emissoras de TV, sob o silêncio comprometedor de suas chefias e diretorias.”
Até aí, morreu Neves. A questão é que o autor quer imputar a culpa pela guerra do narcotráfico e suas desastrosas consequências a esse fato: a contribuição dada pelos cheiradores de cocaína fumadores de maconha da classe média, a "ajuda" da classe média (na verdade, o autor tenta passar a idéia de principal culpado pelo “sucesso” das organizações criminosas que abastecem de drogas e armas as bocas do narcotráfico no Rio).
E vai além, ele conclui: “E assim, com tanta gente endinheirada disposta a cheirar ou injetar sua dose diária de cocaína, os pés-de-chinelo das favelas viraram barões das drogas. [Grifo Assaz Atroz]. Há farta literatura mostrando como as conexões dos meliantes rastacueras, que só fumavam um baseado aqui e acolá, se tornaram senhores de um império, tomaram de assalto a mais linda cidade do país e agora cortam cabeças de quem ousa-lhes cruzar o caminho e as exibem em bandejas, certos da impunidade.”
No artigo de Sylvio Guedes, nenhuma frase ou simples palavra apontando os verdadeiros responsáveis pela catástrofe que se abateu sobre os cariocas e se disseminou por toda a Nação, em função do tráfico de entorpecentes e dos armamentos bélicos colocados nas mãos dos rastaqueras e pés-de-chinelo que ele aponta; nada contra os verdadeiros comandantes do crime organizado, nada contra generais, secretários de segurança pública, empresário bandidos, instituições bancárias que lavam o dinheiro do narcotráfico, governos mafiosos, milionários traficantes de armas e drogas (a imprensa só mostra os varejistas, pequenas buchas que são plantadas nas fronteiras, indicadas aos policias rodoviários, que fazem a abordagem, prendem e exibem na TV). O camarada ainda tem o desplante de chamar os buchas das favelas de "barões", "senhores de um império". Putz!
Os pés-de-chinelo não “...cortam cabeças de quem ousa-lhes cruzar o caminho e as exibem em bandejas, certos da impunidade”. Eles cortam cabeças de seus pares do submundo do crime nas comunidades faveladas. E, quando abatem alguma figura um pouco mais afastada desse ambiente, não ficam impunes. Observe as invasões dos morros e favelas cariocas pelas forças policiais. Ali são abatidas dezenas de pessoas, bandidos e trabalhadores. Ocorrem verdadeiros massacres.
Com as ações da Polícia Federal, a gente já estava começando a ver outro tipo de incursão policial. Bem distante dos morros e favelas. Acontecia nos condomínios e escritórios luxuosos. Mas essas ações foram estancadas, emperraram, foram abortadas.
O governo Lula pode executar centenas de obras. Pode realizar centenas de programas sociais. Mas o que me fazia admirar era ele estar conseguindo implementar um programa de combate à corrupção e ao tráfico de drogas. Isso era o que eu mais admirava. Sempre disse isso, que a obra mais difícil de ser implementada pelo governo Lula seria o combate à corrupção. Estava eu realmente deslumbrado com o que via: banqueiros, políticos de alta influência, sonegadores de bilhões de reais, tudo indo pra cadeia. Assisti ao desbaratamento de quadrilhas de funcionários instaladas nas repartições públicas; mandados de busca e apreensão em importantes escritórios de advocacia, algemas nos punhos de gente graúda...
De repente, não mais que de repente, tudo isso parou. Os passageiros de camburão da polícia voltaram a ser os bandidos pés-de-chinelo. Aliás, hoje está ocorrendo coisa bem mais grave, nem a passeio de camburão eles têm direito. São mandados diretamente para o cemitério. Massacre mesmo! E ainda sobra pra quem não tem nada com o peixe.
Por que não revelam o número exato de mortos nessas investidas da polícia nos morros e favelas cariocas? Nas ações da polícia depois da derrubada do helicóptero (quem derrubou? Alguém aí é capaz de responder?), falaram em cerca de 50 mortos (até citaram “algumas” vítimas inocentes). Mas tudo fica apenas no gogó dos repórteres e autoridades. Nada de expor cadáveres e familiares. Cadê a tal imprensa investigativa? Não, nesses casos a imprensa “confia” nos números fornecidos. Mas você pode multiplicar por 5 tudo que disserem a respeito do número de mortos nessas invasões militares às favelas. Uma parte vai para o IML, outra vai adubar as matas, a Floresta da Tijuca. Muitos não têm parentes nem aderentes, são almas penadas no mundo, que não contam com uma só voz que os defenda. Mesmo porque fica difícil defender indivíduos que foram transformados em feras, “monstros”.
Alguém aí já assistiu a um verdadeiro confronto da polícia com os traficantes dos morros do Rio?
Bom, eu já assisti àquele caso em que dois infelizes correm e são abatidos de um helicóptero, abatidos como animais num safári. O resto é apresentado da seguinte forma: os repórteres enquadram o morro e gravam o som do pipocar das armas. Tudo parece confronto; mas nem sempre o é! Em muitos casos é simples massacre. E o telespectador fica impressionado, acreditando que tudo aquilo é confronto. Raros são os verdadeiros confrontos. E só correm quando os infelizes deixados como buchas não têm para onde correr. A maior parte dos que morrem já havia arriado as armas, levantado as mão, ou se ajoelhado, deitado no chão, para serem executados. Isso sem contar os que voltavam do trabalho e foram alvejados simplesmente pela “aparência” ou por um gesto de autodefesa (correr, por exemplo).
Durante 5 anos conversei com cerca de 3.000 adolescentes que trabalhavam para o tráfico de drogas. As histórias que eles me contaram e as confissões que fazeram indicam o medo que eles têm da polícia. Nas entrevistas que dão a alguns repórteres, costumam arrotar valentia. Mas aquilo é só nas entrevistas. Eles confiam mesmo é no poder de corrupção. Eles costumam tranquilizar a população favelada e os consumidores que se arriscam a subir o morro, dizendo: "Tá tudo manero, nóis já fizemo o acerto da semana com os home".
E o aditor encerra seu artigo afirmando:
“Qualquer mentecapto sabe que não pode persistir um sistema jurídico em que é proibida e reprimida a produção e venda da droga, porém seu consumo é digamos assim, tolerado. Que a mídia, os artistas e os intelectuais que tanto se drogaram nas três últimas décadas venham a público assumir: 'Eu ajudei a destruir o Rio de Janeiro.'
Façam um adesivo e preguem no vidro de seus Audis, BMWs e Mercedes.' ",
Sylvio Guedes, Jornal de Brasília.
Pelo que me consta (ou devo estar muito atrasado em relação à ascensão da classe média), são raros os artistas que usam esses tipos de automóveis (minoria), raríssimos são os intelectuais que desfilam neles. Isso aí são carros de chefes de redação, gente conivente com o crime organizado.
Agora vamos aos comentários do Castor:
Prezados amigos
Este artigo do Sylvio Guedes [“Eles ajudaram a destruir o Rio”] é o típico artigo "jornalístico" que, como diz fartamente a Caia, é típico do jornalismo que desgraça o Brasil 2009 e periga continuar a desgraçar ainda por muitos e muitos anos.
Conclamar a "crasse mérdia" e seus representantes a se auto-inflingir pena de colocar adesivo na traseira de seu automóvel é a típica "coisa-de-viado"(não confundir com homossexual).
Será que do alto da sua sapiência o SG não sabe que os traficantes não estão nos morros nem nas favelas? Traficantes estão na ZONA SUL - Ipanema/Leblon/Jarim Botânico/Gávea de preferência. Excluo propositalmente Leme/Copacabana/Botafogo/Flamengo/Laranjeiras, pois são bairros de "crasse mérdia" um pouco mais baixa e pouco dignas dos verdadeiros TRAFICANTES.
Aqueles que REALMENTE ganham com o tráfico são os ATACADISTAS, estes sim, os verdadeiros BARÕES das drogas. Essa gente nem passa perto dos morros ou favelas. Qualquer ameaça de construção de favela nas proximidades de suas residências é logo dissuadida por diligente ação policial. Outras coisa, a POLÍCIA e a JUSTIÇA sabem quem são esses BARÕES. Tão bem como sabem quem são os donos do JOGO-DO-BICHO. Só que NÃO INTERESSA acabar nem com o TRÁFICO, nem com o BICHO. A polícia e a justiça, além da POLÍTICA cariocas (não estou excluindo o resto Brasil, estou apenas me fixando no RJ) vivem deles, principalmente. Não há exceções.
A ÚNICA saída "legal/institucional" e mais a "mão", para o que está acontecendo é CRIMINALIZAR A POBREZA. Esta é a tradicional desculpa para "livrar-a-cara" destas corrompidas instituições. POBRE é sinônimo de bandido.
Os "passadores" de drogas nos morros e favelas são pequenos varejistas. Na maioria dos casos a "governança" dos morros e favelas tem apenas subsidiariamente a ver com tráfico de drogas. Tem muito mais a ver com LUTA PELO PODER. Pura e simplesmente o DOMÍNIO POLÍTICO e ECONÔMICO do morro ou da favela. Muito mais importância que as drogas tem o controle das "biroscas"(comércio varejista nos morros e favelas), da entrada e saída de materiais de construção, além de uma infinidade de "pedágios" que cada morador tem que pagar ou "contribuir para o bem estar da comunidade". Este é o verdadeiro objetivo do DONO DO MORRO ou FAVELA.
Aí ficam os "jornalistas" tipo Sérgio Guedes escrevendo viadagens e "se achando o máximo"... Aconselhando a "crasse mérdia" a botar plastiquinho auto-flagelante nos seus "bólidos" meia-boca...
Abraço
Castor
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E aqui está a reprodução de artigo de minha autoria, escrito e publicado há quase três anos e que hoje pode ser encontrado em diversos sites e blogs, basta colocar o título em pesquisa do Google:
Quando buchas de canhão são promovidas a generais
Fernando Soares Campos
Marcola, PCC e "grupo de chefões de Bangu" são apenas a mão grande e suja das SSP’s, PM’s, políticos safados, imprensa sem-vergonha e outros cretinos. Servem ainda para alimentar a inconsciência da classe média idiotizada, que, à falta dos antigos bandidos românticos, teorizam sobre a rebeldia dos injustiçados, ao mesmo tempo em que faz o seu papel de vítima.
Saulo de Castro (SP) e Álvaro Lins (RJ) são muito mais perigosos que qualquer Beira-Mar ou Marcola.
"Essa barbaridade que aconteceu no Rio de Janeiro, não pode ser tratada como crime comum. Isso é terrorismo e tem que ser tratado com política forte e mão forte do Estado brasileiro. Aí já extrapolou o banditismo convencional que nós já conhecíamos, quando um grupo de chefes de dentro da cadeia consegue dar ordem para fazer uma barbaridade daquelas, matando inocentes. Foi uma prática terrorista das mais violentas que eu tenho visto neste país, e tem que ser combatida ." — presidente Lula, em discurso de improviso, em 1° de janeiro de 2007, dia da posse do seu segundo mandato.
Creio que, quando o presidente Lula falou de "terrorismo", ele não visou apenas os sujeitos que entram nos ônibus e os incendeiam, matando inocentes vítimas dessa guerra covarde, na qual os cabos são apresentados como generais. Qualquer pessoa com um mínimo de inteligência sabe que, aqui no nosso país, as chamadas "organizações criminosas" (ou "crime organizado") que a população consegue enxergar não passam de bodes expiatórios de uma elite criminosa que está muito além dos "grupos de chefes encarcerados".
Nenhum desses grupos ou indivíduos isoladamente eleitos pela mídia como "poderosos chefões", como se representassem o extremo, o máximo, a cúpula, entre os detentores do poder criminoso... pois bem, nenhum deles teria como agir se não contasse com a anuência do poder maior, aquele que não aparece; aliás, às vezes alguns de seus representantes aparecem "protestando" contra a violência, em muitos casos angariando votos, reclamando demagogicamente contra o degradante estado de violência que eles mesmos criaram e até "se comprometendo" em combatê-la. A população está pagando caro pela cretinice do crime politicamente organizado nos gabinetes, comandado por sujeitos insatisfeitos com as ações do NOVO Departamento de Polícia Federal, da nova estrutura de combate à sonegação de impostos, ao contrabando, ao tráfico de drogas, às práticas de corrupção nas instituições públicas.
Recentemente, com a Operação Tingüí, deflagrada no dia 15 de dezembro passado, a Polícia Federal desbaratou um esquema de policias do Estado do Rio de Janeiro envolvidos com o crime organizado. Mais de 70 policiais foram presos de uma só vez, o que, segundo o comandante-geral da Polícia Militar, foi a maior prisão de policiais na história da PMRJ. Concomitantemente, deflagrou-se a Operação Gladiador, resultado de investigações que duraram sete meses e acabaram por desmantelar um esquema de quadrilhas de caça-níqueis que agiam em diversos estados. Neste caso, escutas telefônicas revelaram que Álvaro Lins, eleito deputado estadual (RJ) e ex-chefe de polícia dos governos Garotinho/Rosinha, está envolvido até a medula com a máfia dos bingos eletrônicos. Os grampos mostraram o ex-chefe de polícia agradecendo a um dos cabeças do bando: "Estou ligando para agradecer aí a ajuda, a torcida, todo o trabalho de vocês. Continuamos juntos, vamos em frente que tem muito trabalho ainda". Álvaro Lins foi eleito com mais de 100 mil votos. Resta saber se, de ex-chefe de polícia, ele passa a representante do crime organizado na Assembléia Legislativa.
O que vem ocorrendo no Estado do Rio de Janeiro é terrorismo sim! Mas não parte dos idiotas que são usados para fazer o trabalho sujo. Muito menos se origina dentro das penitenciárias, como estão tentando fazer a população acreditar.
Não foram os que estão nas penitenciárias que ordenaram a chacina da Candelária, de Vigário Geral, da Baixada e tantas outras. Também não se pode afirmar que os executantes são os principais ou únicos responsáveis, não se pode dizer que agiram por conta própria. Nenhum desses grupos tem autonomia para realizar tamanhas barbaridades. Claro que eles se acham os donos da cocada preta, mas não é qualquer chefete do tráfico de drogas que sabe de onde partem as ordens; os verdadeiros cretinos se protegem, e os buchas são queimados; a população entra com o sangue derramado.
O presidente Lula disse: " Aí já extrapolou o banditismo convencional que nós já conhecíamos, quando um grupo de chefes de dentro da cadeia consegue dar ordem para fazer uma barbaridade daquelas, matando inocentes".
Como eles "conseguem"?!
Esse "grupo de grupo de chefes dentro da cadeia" está para o Rio, assim como PCC e Marcola estão para São Paulo.
Em depoimento à CPI do Tráfico de Armas, Marcos William Herbas Camacho, o Marcola, líder do PCC, a facção paulista a serviço do verdadeiro crime politicamente organizado, declarou:
"Fui criado por determinadas pessoas, agindo de má-fé para ter um bode expiatório. E cada vez que as coisas dessem errado e eles não soubessem como controlar e a quem punir, tinha lá o Marcola".
E ainda completou:
"É muito fácil ter um cara igual a mim. Se eu fosse político, eu ia arrumar um Marcola também. Se eu fosse um governador, ter um Marcola, não é bom, não? A segurança pública tá um caos, a culpa é do Marcola!". (*)
A quem as autoridades responsáveis pela segurança pública e a imprensa serviçal querem tratar como "burro": a população em geral, ou "um grupo de chefes de dentro da cadeia"?
A imprensa e as autoridades sabem que os chefes do tráfico não são burros, portanto sabem muito bem que eles não dariam ordem para aterrorizar a população da maneira como supostamente esses grupos estariam fazendo. Nunca deram, nem no Rio nem em São Paulo. As ordens dos chefes de grupo sempre foram em relação a intrigas internas, ou às rebeliões nos presídios (estas sempre negociadas com os politiqueiros pendurados nas secretarias de segurança, às vezes até ordenadas por estes).
Lembremo-nos de um dos mais famosos chefes do tráfico de drogas nas favelas mandando executar, de dentro de um presídio, através de telefone celular, quem descumpriu o regulamento da boca. Ordens que foram cumpridas, e os estampidos das armas que efetivaram as execuções foram transmitidos em rede nacional de televisão. Aquilo foi usado para impressionar a população e até hoje serve para dar uma aparência de que todo o terrorismo que ocorre nas ruas possa vir de dentro das cadeias e seja debitado na conta dos chefes do varejo do tráfico de drogas. Os cabeças do crime politicamente organizado, engravatados nos gabinetes, mandam toda barbaridade pra cima dos chefes presos. Aliás, é exatamente por isso que os chefes do varejo do tráfico estão na cadeia: para servirem de bucha ao maldito sistema de (in)segurança pública, o terrorismo.
Então só resta entender que imprensa e autoridades consideram a população burra. Não, isso também eles sabem que não é. Mas sabem que é apenas mal informada. Pra eles é o suficiente.
A inveja, o despeito, o ódio, sentimentos que muitos canalhas nutrem contra o presidente Lula, são algumas das armas dos seus inimigos. Inveja do seu carisma, de ver que sua autenticidade política não depende de formação acadêmica e até desmistifica o conceito de que somente os letrados poderiam exercer o poder institucional; despeito por acreditarem que um ex-retirante da seca nordestina, indivíduo de origem paupérrima, ex-operário ainda com características de homem do povo, tenha lhes "usurpado" um lugar que a eles pertence por pretensioso direito "hereditariamente natural". Isso já seria suficiente para explicar o ódio que essa gente vem nutrindo pelo presidente Lula, porém existem outras razões mais objetivas para explicar esse rancor.
Para desqualificar a competência do governo Lula, a oposição pode interpretar todos os números, planilhas, indicadores econômicos, sociais e o que bem mais entender, usando linguagem técnica, científica, chula, coloquial, ou como bem lhe convier. Superávit vira déficit, política social vira populismo, investimentos viram gastos... mas eles se calam e enfiam o rabo entre pernas quando o assunto é Departamento de Polícia Federal e sua atual operacionalidade.
No governo FHC do PSDB, no qual o PFL não passava de esquadrão lambe-botas, o verdadeiro crime organizado não tinha o que temer. As máfias enclausuradas nas mansões à beira-mar e nos jardins paulistanos, ou turistando mundo afora, se mantiveram intocáveis. FHC quase fechou as portas dos principais setores da PF, que, em seu governo da impunidade, mal servia para expedir passaporte. A média de prisões efetuadas pela Polícia Federal no governo FHC foi de apenas 27 por ano. Num país com as dimensões do Brasil, acho que isso representa um índice abaixo do que pode ter ocorrido, por exemplo, no Haiti.
Antes do governo Lula, a gente conhecia a guerra do tráfico como uma guerra de facções pelo domínio das bocas, principalmente nos morros cariocas. Traficantes de varejo de drogas nunca gostaram de se meter com a população, exceto em casos isolados e que ocorriam sem que nem mesmo as populações não faveladas viessem a tomar conhecimento. Agora está se tornando banal o ataque de "traficantes" contra as pessoas em geral. Observe que os policiais vitimados são, geralmente, elementos exemplares da corporação, sempre em postos que não se relacionam diretamente com o combate ao crime organizado. Os presos nunca são apresentados à imprensa, fala-se apenas em suspeitos, indivíduos que tinham passagem pelas delegacias, certamente pequenos varejistas de drogas, ladrões de carro, assaltantes de ônibus, coisas assim. Nenhum nome de expressão no submundo do crime (no Jornal Hoje de hoje, 4/1, exibiram as fotos de alguns "suspeitos", todos pés-de-chinelo).
Enquanto isso, as operações da Polícia Federal continuam incomodando os verdadeiros chefões, tanto que, quando passou a pegar a raia graúda, esta vem tentado passar a bola para os peixinhos de aquário e piabas de cacimba.
Para quem quiser conhecer a verdadeira origem do ódio das elites criminosas ao presidente Lula, deixo alguns links do site do Departamento de Polícia Federal. A leitura das sinopses de centenas de operações e milhares de detenções realizadas contra o crime organizado no Brasil durante o primeiro mandato do presidente Lula pode ser gratificante. Garanto que isso dará uma idéia mais precisa do motivo pelo qual a oposição tem pressa em tomar de volta o poder institucional. Pelo visto, se não lograrem êxito, urgentemente, arriscam-se a perder cada vez mais o poder criminal.
Departamento de Polícia Federal
Operações realizadas 2006
http://www.dpf.gov.br/DCS/Resumo_OP_2006.htm
Operações realizadas em 2005
http://www.dpf.gov.br/DCS/Resumo_OP_2005.htm
Operações realizadas em 2003 e 2004
http://www.dpf.gov.br/DCS/Resumo_OP_2003-2004.htm
Revista digital NovaE
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=504
Recentemente, em discurso para a platéia do 12º Congresso do PCdoB, o presidente Lula afirmou que chegar ao governo não é o mesmo que chegar ao poder, “Há instituições poderosíssimas”, conclui o presidente da República.
Acredito que ele e muita gente já deve ter chegado a essa conclusão.
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PressAA
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Por que as operações da Polícia Federal emperraram?
Por que delegados da Polícia Federal considerados operantes, competentes, combativos, foram afastados dos cargos e até ameaçados de serem expulsos da corporação?
Não pretendo responder a essas perguntas, pois, ao ler a nota do Castor Filho (responsável pela Rede Castorphoto) e a republicação de artigo de minha autoria (“Quando buchas de canhão são promovidas a generais”), creio que, da leitura desses textos, o leitor pode tirar suas próprias conclusões.
Antes, porém, reproduzo aqui trecho de outro artigo meu, a fim de reavivar alguns episódios desbotados nas paredes da memória de muita gente:
“No período de 12 a 20 de maio de 2006, cerca de 400 pessoas foram assassinadas no Estado de São Paulo, vítimas do mais sangrento ataque atribuído à facção criminosa conhecida como PCC (Primeiro Comando da Capital), cuja liderança mais expressiva é o presidiário Marcos William Herbas Camacho, o Marcola, condenado por assalto a banco. Quer dizer, é apenas um assaltante que assaltava colegas. Depois dessa primeira grande onda de ataques, outras se sucederam. Chegaram a ocorrer 54 rebeliões simultâneas em unidades prisionais do Estado de São Paulo, vários presídios foram depredados. Nas ruas os ataques atingiram principalmente a frota de ônibus da capital paulista, dezenas de coletivos foram queimados, agências bancárias sofreram danos em suas fachadas causados por bombas e tiros de armas de grosso calibre. Policiais foram assassinados em emboscadas. Tudo debitado na conta do PCC. (escrevi isso em agosto de 2006, e foi publicado no diário espanhol La Insígnia,” http://www.lainsignia.org/2006/agosto/ibe_045.htm)
Agora circula internet adentro artigo intitulado “Eles ajudaram a destruir o Rio”, por Sylvio Guedes, editor-chefe do Jornal de Brasília, através do qual o autor nos faz lembrar que “Quando a cocaína começou a se infiltrar de fato no Rio de Janeiro, lá pelo fim da década de 70, entrou pela porta da frente. Pela classe média, pelas festinhas de embalo da Zona Sul, pelas danceterias, pelos barzinhos de Ipanema e Leblon. Invadiu e se instalou nas redações de jornais e nas emissoras de TV, sob o silêncio comprometedor de suas chefias e diretorias.”
Até aí, morreu Neves. A questão é que o autor quer imputar a culpa pela guerra do narcotráfico e suas desastrosas consequências a esse fato: a contribuição dada pelos cheiradores de cocaína fumadores de maconha da classe média, a "ajuda" da classe média (na verdade, o autor tenta passar a idéia de principal culpado pelo “sucesso” das organizações criminosas que abastecem de drogas e armas as bocas do narcotráfico no Rio).
E vai além, ele conclui: “E assim, com tanta gente endinheirada disposta a cheirar ou injetar sua dose diária de cocaína, os pés-de-chinelo das favelas viraram barões das drogas. [Grifo Assaz Atroz]. Há farta literatura mostrando como as conexões dos meliantes rastacueras, que só fumavam um baseado aqui e acolá, se tornaram senhores de um império, tomaram de assalto a mais linda cidade do país e agora cortam cabeças de quem ousa-lhes cruzar o caminho e as exibem em bandejas, certos da impunidade.”
No artigo de Sylvio Guedes, nenhuma frase ou simples palavra apontando os verdadeiros responsáveis pela catástrofe que se abateu sobre os cariocas e se disseminou por toda a Nação, em função do tráfico de entorpecentes e dos armamentos bélicos colocados nas mãos dos rastaqueras e pés-de-chinelo que ele aponta; nada contra os verdadeiros comandantes do crime organizado, nada contra generais, secretários de segurança pública, empresário bandidos, instituições bancárias que lavam o dinheiro do narcotráfico, governos mafiosos, milionários traficantes de armas e drogas (a imprensa só mostra os varejistas, pequenas buchas que são plantadas nas fronteiras, indicadas aos policias rodoviários, que fazem a abordagem, prendem e exibem na TV). O camarada ainda tem o desplante de chamar os buchas das favelas de "barões", "senhores de um império". Putz!
Os pés-de-chinelo não “...cortam cabeças de quem ousa-lhes cruzar o caminho e as exibem em bandejas, certos da impunidade”. Eles cortam cabeças de seus pares do submundo do crime nas comunidades faveladas. E, quando abatem alguma figura um pouco mais afastada desse ambiente, não ficam impunes. Observe as invasões dos morros e favelas cariocas pelas forças policiais. Ali são abatidas dezenas de pessoas, bandidos e trabalhadores. Ocorrem verdadeiros massacres.
Com as ações da Polícia Federal, a gente já estava começando a ver outro tipo de incursão policial. Bem distante dos morros e favelas. Acontecia nos condomínios e escritórios luxuosos. Mas essas ações foram estancadas, emperraram, foram abortadas.
O governo Lula pode executar centenas de obras. Pode realizar centenas de programas sociais. Mas o que me fazia admirar era ele estar conseguindo implementar um programa de combate à corrupção e ao tráfico de drogas. Isso era o que eu mais admirava. Sempre disse isso, que a obra mais difícil de ser implementada pelo governo Lula seria o combate à corrupção. Estava eu realmente deslumbrado com o que via: banqueiros, políticos de alta influência, sonegadores de bilhões de reais, tudo indo pra cadeia. Assisti ao desbaratamento de quadrilhas de funcionários instaladas nas repartições públicas; mandados de busca e apreensão em importantes escritórios de advocacia, algemas nos punhos de gente graúda...
De repente, não mais que de repente, tudo isso parou. Os passageiros de camburão da polícia voltaram a ser os bandidos pés-de-chinelo. Aliás, hoje está ocorrendo coisa bem mais grave, nem a passeio de camburão eles têm direito. São mandados diretamente para o cemitério. Massacre mesmo! E ainda sobra pra quem não tem nada com o peixe.
Por que não revelam o número exato de mortos nessas investidas da polícia nos morros e favelas cariocas? Nas ações da polícia depois da derrubada do helicóptero (quem derrubou? Alguém aí é capaz de responder?), falaram em cerca de 50 mortos (até citaram “algumas” vítimas inocentes). Mas tudo fica apenas no gogó dos repórteres e autoridades. Nada de expor cadáveres e familiares. Cadê a tal imprensa investigativa? Não, nesses casos a imprensa “confia” nos números fornecidos. Mas você pode multiplicar por 5 tudo que disserem a respeito do número de mortos nessas invasões militares às favelas. Uma parte vai para o IML, outra vai adubar as matas, a Floresta da Tijuca. Muitos não têm parentes nem aderentes, são almas penadas no mundo, que não contam com uma só voz que os defenda. Mesmo porque fica difícil defender indivíduos que foram transformados em feras, “monstros”.
Alguém aí já assistiu a um verdadeiro confronto da polícia com os traficantes dos morros do Rio?
Bom, eu já assisti àquele caso em que dois infelizes correm e são abatidos de um helicóptero, abatidos como animais num safári. O resto é apresentado da seguinte forma: os repórteres enquadram o morro e gravam o som do pipocar das armas. Tudo parece confronto; mas nem sempre o é! Em muitos casos é simples massacre. E o telespectador fica impressionado, acreditando que tudo aquilo é confronto. Raros são os verdadeiros confrontos. E só correm quando os infelizes deixados como buchas não têm para onde correr. A maior parte dos que morrem já havia arriado as armas, levantado as mão, ou se ajoelhado, deitado no chão, para serem executados. Isso sem contar os que voltavam do trabalho e foram alvejados simplesmente pela “aparência” ou por um gesto de autodefesa (correr, por exemplo).
Durante 5 anos conversei com cerca de 3.000 adolescentes que trabalhavam para o tráfico de drogas. As histórias que eles me contaram e as confissões que fazeram indicam o medo que eles têm da polícia. Nas entrevistas que dão a alguns repórteres, costumam arrotar valentia. Mas aquilo é só nas entrevistas. Eles confiam mesmo é no poder de corrupção. Eles costumam tranquilizar a população favelada e os consumidores que se arriscam a subir o morro, dizendo: "Tá tudo manero, nóis já fizemo o acerto da semana com os home".
E o aditor encerra seu artigo afirmando:
“Qualquer mentecapto sabe que não pode persistir um sistema jurídico em que é proibida e reprimida a produção e venda da droga, porém seu consumo é digamos assim, tolerado. Que a mídia, os artistas e os intelectuais que tanto se drogaram nas três últimas décadas venham a público assumir: 'Eu ajudei a destruir o Rio de Janeiro.'
Façam um adesivo e preguem no vidro de seus Audis, BMWs e Mercedes.' ",
Sylvio Guedes, Jornal de Brasília.
Pelo que me consta (ou devo estar muito atrasado em relação à ascensão da classe média), são raros os artistas que usam esses tipos de automóveis (minoria), raríssimos são os intelectuais que desfilam neles. Isso aí são carros de chefes de redação, gente conivente com o crime organizado.
Agora vamos aos comentários do Castor:
Prezados amigos
Este artigo do Sylvio Guedes [“Eles ajudaram a destruir o Rio”] é o típico artigo "jornalístico" que, como diz fartamente a Caia, é típico do jornalismo que desgraça o Brasil 2009 e periga continuar a desgraçar ainda por muitos e muitos anos.
Conclamar a "crasse mérdia" e seus representantes a se auto-inflingir pena de colocar adesivo na traseira de seu automóvel é a típica "coisa-de-viado"(não confundir com homossexual).
Será que do alto da sua sapiência o SG não sabe que os traficantes não estão nos morros nem nas favelas? Traficantes estão na ZONA SUL - Ipanema/Leblon/Jarim Botânico/Gávea de preferência. Excluo propositalmente Leme/Copacabana/Botafogo/Flamengo/Laranjeiras, pois são bairros de "crasse mérdia" um pouco mais baixa e pouco dignas dos verdadeiros TRAFICANTES.
Aqueles que REALMENTE ganham com o tráfico são os ATACADISTAS, estes sim, os verdadeiros BARÕES das drogas. Essa gente nem passa perto dos morros ou favelas. Qualquer ameaça de construção de favela nas proximidades de suas residências é logo dissuadida por diligente ação policial. Outras coisa, a POLÍCIA e a JUSTIÇA sabem quem são esses BARÕES. Tão bem como sabem quem são os donos do JOGO-DO-BICHO. Só que NÃO INTERESSA acabar nem com o TRÁFICO, nem com o BICHO. A polícia e a justiça, além da POLÍTICA cariocas (não estou excluindo o resto Brasil, estou apenas me fixando no RJ) vivem deles, principalmente. Não há exceções.
A ÚNICA saída "legal/institucional" e mais a "mão", para o que está acontecendo é CRIMINALIZAR A POBREZA. Esta é a tradicional desculpa para "livrar-a-cara" destas corrompidas instituições. POBRE é sinônimo de bandido.
Os "passadores" de drogas nos morros e favelas são pequenos varejistas. Na maioria dos casos a "governança" dos morros e favelas tem apenas subsidiariamente a ver com tráfico de drogas. Tem muito mais a ver com LUTA PELO PODER. Pura e simplesmente o DOMÍNIO POLÍTICO e ECONÔMICO do morro ou da favela. Muito mais importância que as drogas tem o controle das "biroscas"(comércio varejista nos morros e favelas), da entrada e saída de materiais de construção, além de uma infinidade de "pedágios" que cada morador tem que pagar ou "contribuir para o bem estar da comunidade". Este é o verdadeiro objetivo do DONO DO MORRO ou FAVELA.
Aí ficam os "jornalistas" tipo Sérgio Guedes escrevendo viadagens e "se achando o máximo"... Aconselhando a "crasse mérdia" a botar plastiquinho auto-flagelante nos seus "bólidos" meia-boca...
Abraço
Castor
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E aqui está a reprodução de artigo de minha autoria, escrito e publicado há quase três anos e que hoje pode ser encontrado em diversos sites e blogs, basta colocar o título em pesquisa do Google:
Quando buchas de canhão são promovidas a generais
Fernando Soares Campos
Marcola, PCC e "grupo de chefões de Bangu" são apenas a mão grande e suja das SSP’s, PM’s, políticos safados, imprensa sem-vergonha e outros cretinos. Servem ainda para alimentar a inconsciência da classe média idiotizada, que, à falta dos antigos bandidos românticos, teorizam sobre a rebeldia dos injustiçados, ao mesmo tempo em que faz o seu papel de vítima.
Saulo de Castro (SP) e Álvaro Lins (RJ) são muito mais perigosos que qualquer Beira-Mar ou Marcola.
"Essa barbaridade que aconteceu no Rio de Janeiro, não pode ser tratada como crime comum. Isso é terrorismo e tem que ser tratado com política forte e mão forte do Estado brasileiro. Aí já extrapolou o banditismo convencional que nós já conhecíamos, quando um grupo de chefes de dentro da cadeia consegue dar ordem para fazer uma barbaridade daquelas, matando inocentes. Foi uma prática terrorista das mais violentas que eu tenho visto neste país, e tem que ser combatida ." — presidente Lula, em discurso de improviso, em 1° de janeiro de 2007, dia da posse do seu segundo mandato.
Creio que, quando o presidente Lula falou de "terrorismo", ele não visou apenas os sujeitos que entram nos ônibus e os incendeiam, matando inocentes vítimas dessa guerra covarde, na qual os cabos são apresentados como generais. Qualquer pessoa com um mínimo de inteligência sabe que, aqui no nosso país, as chamadas "organizações criminosas" (ou "crime organizado") que a população consegue enxergar não passam de bodes expiatórios de uma elite criminosa que está muito além dos "grupos de chefes encarcerados".
Nenhum desses grupos ou indivíduos isoladamente eleitos pela mídia como "poderosos chefões", como se representassem o extremo, o máximo, a cúpula, entre os detentores do poder criminoso... pois bem, nenhum deles teria como agir se não contasse com a anuência do poder maior, aquele que não aparece; aliás, às vezes alguns de seus representantes aparecem "protestando" contra a violência, em muitos casos angariando votos, reclamando demagogicamente contra o degradante estado de violência que eles mesmos criaram e até "se comprometendo" em combatê-la. A população está pagando caro pela cretinice do crime politicamente organizado nos gabinetes, comandado por sujeitos insatisfeitos com as ações do NOVO Departamento de Polícia Federal, da nova estrutura de combate à sonegação de impostos, ao contrabando, ao tráfico de drogas, às práticas de corrupção nas instituições públicas.
Recentemente, com a Operação Tingüí, deflagrada no dia 15 de dezembro passado, a Polícia Federal desbaratou um esquema de policias do Estado do Rio de Janeiro envolvidos com o crime organizado. Mais de 70 policiais foram presos de uma só vez, o que, segundo o comandante-geral da Polícia Militar, foi a maior prisão de policiais na história da PMRJ. Concomitantemente, deflagrou-se a Operação Gladiador, resultado de investigações que duraram sete meses e acabaram por desmantelar um esquema de quadrilhas de caça-níqueis que agiam em diversos estados. Neste caso, escutas telefônicas revelaram que Álvaro Lins, eleito deputado estadual (RJ) e ex-chefe de polícia dos governos Garotinho/Rosinha, está envolvido até a medula com a máfia dos bingos eletrônicos. Os grampos mostraram o ex-chefe de polícia agradecendo a um dos cabeças do bando: "Estou ligando para agradecer aí a ajuda, a torcida, todo o trabalho de vocês. Continuamos juntos, vamos em frente que tem muito trabalho ainda". Álvaro Lins foi eleito com mais de 100 mil votos. Resta saber se, de ex-chefe de polícia, ele passa a representante do crime organizado na Assembléia Legislativa.
O que vem ocorrendo no Estado do Rio de Janeiro é terrorismo sim! Mas não parte dos idiotas que são usados para fazer o trabalho sujo. Muito menos se origina dentro das penitenciárias, como estão tentando fazer a população acreditar.
Não foram os que estão nas penitenciárias que ordenaram a chacina da Candelária, de Vigário Geral, da Baixada e tantas outras. Também não se pode afirmar que os executantes são os principais ou únicos responsáveis, não se pode dizer que agiram por conta própria. Nenhum desses grupos tem autonomia para realizar tamanhas barbaridades. Claro que eles se acham os donos da cocada preta, mas não é qualquer chefete do tráfico de drogas que sabe de onde partem as ordens; os verdadeiros cretinos se protegem, e os buchas são queimados; a população entra com o sangue derramado.
O presidente Lula disse: " Aí já extrapolou o banditismo convencional que nós já conhecíamos, quando um grupo de chefes de dentro da cadeia consegue dar ordem para fazer uma barbaridade daquelas, matando inocentes".
Como eles "conseguem"?!
Esse "grupo de grupo de chefes dentro da cadeia" está para o Rio, assim como PCC e Marcola estão para São Paulo.
Em depoimento à CPI do Tráfico de Armas, Marcos William Herbas Camacho, o Marcola, líder do PCC, a facção paulista a serviço do verdadeiro crime politicamente organizado, declarou:
"Fui criado por determinadas pessoas, agindo de má-fé para ter um bode expiatório. E cada vez que as coisas dessem errado e eles não soubessem como controlar e a quem punir, tinha lá o Marcola".
E ainda completou:
"É muito fácil ter um cara igual a mim. Se eu fosse político, eu ia arrumar um Marcola também. Se eu fosse um governador, ter um Marcola, não é bom, não? A segurança pública tá um caos, a culpa é do Marcola!". (*)
A quem as autoridades responsáveis pela segurança pública e a imprensa serviçal querem tratar como "burro": a população em geral, ou "um grupo de chefes de dentro da cadeia"?
A imprensa e as autoridades sabem que os chefes do tráfico não são burros, portanto sabem muito bem que eles não dariam ordem para aterrorizar a população da maneira como supostamente esses grupos estariam fazendo. Nunca deram, nem no Rio nem em São Paulo. As ordens dos chefes de grupo sempre foram em relação a intrigas internas, ou às rebeliões nos presídios (estas sempre negociadas com os politiqueiros pendurados nas secretarias de segurança, às vezes até ordenadas por estes).
Lembremo-nos de um dos mais famosos chefes do tráfico de drogas nas favelas mandando executar, de dentro de um presídio, através de telefone celular, quem descumpriu o regulamento da boca. Ordens que foram cumpridas, e os estampidos das armas que efetivaram as execuções foram transmitidos em rede nacional de televisão. Aquilo foi usado para impressionar a população e até hoje serve para dar uma aparência de que todo o terrorismo que ocorre nas ruas possa vir de dentro das cadeias e seja debitado na conta dos chefes do varejo do tráfico de drogas. Os cabeças do crime politicamente organizado, engravatados nos gabinetes, mandam toda barbaridade pra cima dos chefes presos. Aliás, é exatamente por isso que os chefes do varejo do tráfico estão na cadeia: para servirem de bucha ao maldito sistema de (in)segurança pública, o terrorismo.
Então só resta entender que imprensa e autoridades consideram a população burra. Não, isso também eles sabem que não é. Mas sabem que é apenas mal informada. Pra eles é o suficiente.
A inveja, o despeito, o ódio, sentimentos que muitos canalhas nutrem contra o presidente Lula, são algumas das armas dos seus inimigos. Inveja do seu carisma, de ver que sua autenticidade política não depende de formação acadêmica e até desmistifica o conceito de que somente os letrados poderiam exercer o poder institucional; despeito por acreditarem que um ex-retirante da seca nordestina, indivíduo de origem paupérrima, ex-operário ainda com características de homem do povo, tenha lhes "usurpado" um lugar que a eles pertence por pretensioso direito "hereditariamente natural". Isso já seria suficiente para explicar o ódio que essa gente vem nutrindo pelo presidente Lula, porém existem outras razões mais objetivas para explicar esse rancor.
Para desqualificar a competência do governo Lula, a oposição pode interpretar todos os números, planilhas, indicadores econômicos, sociais e o que bem mais entender, usando linguagem técnica, científica, chula, coloquial, ou como bem lhe convier. Superávit vira déficit, política social vira populismo, investimentos viram gastos... mas eles se calam e enfiam o rabo entre pernas quando o assunto é Departamento de Polícia Federal e sua atual operacionalidade.
No governo FHC do PSDB, no qual o PFL não passava de esquadrão lambe-botas, o verdadeiro crime organizado não tinha o que temer. As máfias enclausuradas nas mansões à beira-mar e nos jardins paulistanos, ou turistando mundo afora, se mantiveram intocáveis. FHC quase fechou as portas dos principais setores da PF, que, em seu governo da impunidade, mal servia para expedir passaporte. A média de prisões efetuadas pela Polícia Federal no governo FHC foi de apenas 27 por ano. Num país com as dimensões do Brasil, acho que isso representa um índice abaixo do que pode ter ocorrido, por exemplo, no Haiti.
Antes do governo Lula, a gente conhecia a guerra do tráfico como uma guerra de facções pelo domínio das bocas, principalmente nos morros cariocas. Traficantes de varejo de drogas nunca gostaram de se meter com a população, exceto em casos isolados e que ocorriam sem que nem mesmo as populações não faveladas viessem a tomar conhecimento. Agora está se tornando banal o ataque de "traficantes" contra as pessoas em geral. Observe que os policiais vitimados são, geralmente, elementos exemplares da corporação, sempre em postos que não se relacionam diretamente com o combate ao crime organizado. Os presos nunca são apresentados à imprensa, fala-se apenas em suspeitos, indivíduos que tinham passagem pelas delegacias, certamente pequenos varejistas de drogas, ladrões de carro, assaltantes de ônibus, coisas assim. Nenhum nome de expressão no submundo do crime (no Jornal Hoje de hoje, 4/1, exibiram as fotos de alguns "suspeitos", todos pés-de-chinelo).
Enquanto isso, as operações da Polícia Federal continuam incomodando os verdadeiros chefões, tanto que, quando passou a pegar a raia graúda, esta vem tentado passar a bola para os peixinhos de aquário e piabas de cacimba.
Para quem quiser conhecer a verdadeira origem do ódio das elites criminosas ao presidente Lula, deixo alguns links do site do Departamento de Polícia Federal. A leitura das sinopses de centenas de operações e milhares de detenções realizadas contra o crime organizado no Brasil durante o primeiro mandato do presidente Lula pode ser gratificante. Garanto que isso dará uma idéia mais precisa do motivo pelo qual a oposição tem pressa em tomar de volta o poder institucional. Pelo visto, se não lograrem êxito, urgentemente, arriscam-se a perder cada vez mais o poder criminal.
Departamento de Polícia Federal
Operações realizadas 2006
http://www.dpf.gov.br/DCS/Resumo_OP_2006.htm
Operações realizadas em 2005
http://www.dpf.gov.br/DCS/Resumo_OP_2005.htm
Operações realizadas em 2003 e 2004
http://www.dpf.gov.br/DCS/Resumo_OP_2003-2004.htm
Revista digital NovaE
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=504
Recentemente, em discurso para a platéia do 12º Congresso do PCdoB, o presidente Lula afirmou que chegar ao governo não é o mesmo que chegar ao poder, “Há instituições poderosíssimas”, conclui o presidente da República.
Acredito que ele e muita gente já deve ter chegado a essa conclusão.
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PressAA
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Um comentário:
O Fernando S. Campos é um escritor rato, um intelectual que possui o pendor e a coragem para exercer um jornalismo-denúncia imparcial e pungente. Não há leitor que ignore sua eloquência, bem como os fatos apresentados por ele em seus artigos mais que convincentes.
Seu engajamento às questões sociais e políticas produzem uma constante reflexão sobre as informações que nos chegam com o crivo institucional.
A verdade precisa de um aliado e encontra nele seu melhor interlocutor.
Sobre a questão da disseminação do vício e das drogas é sabido a contribuição que todos damos a esse mercado avassalador.
Ceifados pela dependência química e pela violência que advém do comércio das drogas, os adictos não conseguem agir na consciência de que produzem um grande mal a si e a outros. Sobre o contexto que os envolvem são os mais sabidos, no entanto, do mesmo modo, cúmplices, vítimas e condenados.
A sociedade precisa estar atenta às informações que lhe chegam pela mídia e entender que a difusão dos conteúdos nelas emitidos omitem uma realidade tão cruel quanto é possível imaginar.
Fernando mostra para nós que há piores criminosos na confabulação desses males sob a égide do poder público, o que é a meu ver, lamentável e, para mim, de modo especial desolador.
Qual será a esperança de uma sociedade que não pode contar com a instituição que zela pela sua própria segurança?
Reaja Brasil!
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