Gosto muito das citações que o Brizola Neto faz de conversas que teve com seu avó, o saudoso Leonel Brizola, que tanta falta está nos fazendo nos dias de hoje. É o Neto falando do que aprendeu e do que desenvolveu a partir dos avoengos conselhos. O neto evoluindo em sua maneira de enxergar o mundo politicamente (existe outra?) e fazendo isso da maneira mais naturalmente humana que conheço.
Encontrei hoje no Tijolaço do Brizola Neto essa (abaixo) apresentação de vídeos em série por ele intitulada “O dinheiro e a ficção do dinheiro”.
Achei muito interessante o trecho em que Brizola Neto diz: “Meu avô me contava que, nos anos 50, a ideia de inflação era a de emissão de moeda ‘sem o suficiente lastro em ouro’”.
Lembrei-me do meu pai, que também me ensinou isso, e eu nunca havia atualizado esse conceito. Quer dizer, nesse sentido eu vivia, até horas atrás, nos anos 50.
Sobre a emissão de papel-moeda, fiz, em 2005, um comentário na lista da Universidade Nômade (antes de o Giuseppe Cocco me expulsar de lá devido a uma discussão que tive com a Caia Fittipaldi, que hoje é minha muito estimada amiga). Comentei sobre aquele casal de brasileiros evangélicos presos nos EUA, lembro-me que eu disse que os EUA provavelmente não se interessariam em receber de volta sua própria moeda podre, o dólar, fabricado numa indústria qualquer de papel e celulose e enviado para pagar propinas no resto do mundo. Extrapolei no comentário dizendo que os EUA preferem que fiquemos com aquele papel sem “lastro”; e eles, com as matérias básicas que fornecemos ao mundo e com os seus derivados. Lembro-me ainda que alguém me corrigiu sobre uma bobagem que realmente acabei dizendo mais adiante. Mas tudo que eu falava estava relacionado com essa questão: emissão de papel-moeda sem o devido fundo que assegurasse seu real valor, pois eu continuava pensando que a inflação seria gerada apenas pela emissão de dinheiro sem a devida garantia do Tesouro Nacional, que deveria ter ouro suficiente para estabelecer o real valor da moeda.
Não sou economista e nunca me interessei muito pela matéria. Estou sempre dependente das análises de especialistas.
Recomendo que você, leitor, leia a nota do Brizola Neto e assista aos vídeos por ele indicados. Creio que algumas pessoas muito bem informadas e os PhDs em qualquer coisa haverão de dizer que se trata de um filme para o “Jardim da Infância Bob Fields”; para mim, foi curso de pós-graduação.
Aí está a nota do Brizola Neto e, no final desta página, os vídeos por ele postados. Porém, antes de assisti-los, leia também o texto satírico que publiquei no diário espanhol La Insígnia naquele mesmo ano de 2005, intitulado “Renda per capita de Absurdil”. Quem sabe você vai conseguir resgatar algum conceito na área de Economia, o qual tenha sido revogado hoje de manhã no caixa de um banco, hein?!
Brizola Neto: O complicado discurso econômico muitas vezes encobre realidades que, explicadas de maneira simples, em seu contexto histórico são de uma clareza meridiana. Meu avô me contava que, nos anos 50, a ideia de inflação era a de emissão de moeda “sem o suficiente lastro em ouro”. Não é possível que alguém hoje, com conhecimento de economia repita este conceito, mas foi ele e sua maior referência até o fim da 2a. Guerra, quando a Conferência de Breton-Woods, em 1944, quando o padrão-ouro foi substituído pelo dólar como referência de valor nas relações econômicas mundiais.
Neste filme de animação, Paul Grignon explica a natureza do dinheiro, dos juros e do sistema bancário, e coloca questões fundamentais como: “Porque é que os governos optam por pedir dinheiro emprestado – com juros associados – aos bancos privados, quando poderiam simplesmente criar todo o dinheiro que necessitassem, sem quaisquer juros?” O filme me foi sugerido pelo leitor Paulo Bulgarelli, no Brizolaço, e achei tão legal e didático que resolvi partilhar com todos.
Posto aí em cima a parte 1, de cinco vídeos, legendados. A parte dois, a três, a quatro e a cinco e final podem ser acessadas clicando em cada link que aparece ao final do vídeo, na própria tela de exibição, na parte de baixo, onde aparecerá a parte seguinte, depois de você asistir cada capítulo.
Tijolaço
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Renda per capita de Absurdil
Fernando Soares Campos – Brasil, janeiro de 2005
Absurdil é uma republiqueta perdida entre o Atlântico e o Pacífico, lá todos os cidadãos pagavam a mesma taxa de imposto, não importava se o sujeito ganhava uma relíquia (RL$, a moeda corrente de Absurdil) ou mil relíquias, a taxa de imposto era a mesma: 20%.
A distribuição de renda em Absurdil somente podia ser comparada à de um certo país sul-americano, pois, dos seus 1010 habitantes, 1000 ganhavam RL$10,00/ano, cada; enquanto os 10 privilegiados cidadãos faturavam RL$10.000,00 anuais, cada. A renda bruta da população era, portanto, RL$110.000,00 anuais. Em cima disso, os cofres públicos de Absurdil arrecadavam RL$22.000,00 por ano, deixando para a população RL$88.000,00. Assim, a renda per capita líquida dos absurdileiros era de RL$87,12. Este era o quadro macroeconômico de Absurdil, e assim vivia seu povo, numa tranqüila e eterna infelicidade.
Um dia a população rebelou-se e colocou outro presidente no poder. Já nos primeiros momentos, o novo mandatário e seu gabinete ministerial trataram de acelerar o PIB que, há muitos anos, andava em baixa. O presidente correu mundo para vender os produtos absurdileiros no exterior. Conquistou mercados que nunca haviam sido bem explorados pelos governos anteriores. Incentivou a qualificação da mão-de-obra local e promoveu melhores condições de trabalho, além de apoiar o empresariado, combatendo o contrabando, estimulando pesquisas científicas e melhorando a qualidade dos seus produtos,. Esses foram alguns dos fatores que impulsionaram a economia de Absurdil. Foi tudo muito surpreendente, em pouco tempo, o país apresentou resultados estatísticos que assombravam os descontentes: superavit astronômico!, risco Absurdil despencando; era o mundo passando a acreditar e respeitar aquela ex-republiqueta casa-de-mãe-joana.
Chegada a hora, o novo governo, que havia prometido mudanças na área econômica e social do país, tomou as primeiras decisões: a partir daquele momento, os absurdileiro mais pobres passaram a ganhar RL$11,00 por ano, e, igualmente, foram aumentadas as rendas de cada um dos 10 privilegiados para RL$11.000,00 anuais. No entanto, a taxa de IR de Absurdil foi modificada: os menos favorecidos passariam a pagar 15% de IR e os privilegiados 30%. No primeiro ano de governo, a renda bruta da população bateu recorde:RL$121.000,00. Descontados RL$ 1.650,00 da renda total de RL$11.000,00 da camada mais desgraçada, e RL$33.000,00 dos privilegiados que ganhavam juntos RL$110.000,00 por ano, a população em geral ficou com RL$86.350,00, o que representou uma renda per capita de RL$85,49.
Entretanto os miseráveis ficaram menos miseráveis, passando a receber RL$9,35 líquidos por ano, quando recebiam RL$8,00, e os privilegiados continuaram com seus privilégios, só que um pouco menores, bobagem: RL$7.700,00 líquidos anuais, cada, contra os RL$8.000,00 que ganhavam no governo anterior. Mesmo começando a recuperar suas "perdas" com o aumento da produção e das novas oportunidades, os privilegiados chiaram. E chiaram muito!! Queriam o poder de volta. Precisavam convencer a população de que aquilo tudo era ruim para ela. Foi aí que tiveram uma brilhante idéia: pegaram as estatísticas do ano anterior e extraíram aquele item que indicava "queda" na renda per capita, em relação àquele período. Com esse suposto paradoxo econômico, os privilegiados gritaram veementemente para os absurdileiros mais pobres:
- Vocês foram enganados!!! A renda per capita caiu de RL$87,13 para RL$85,49.
Moral da história recente de Absurdil: Os números não mentem; quem mente são os numerólogos quando mexem nos seus numerários.
La Insígnia – diário espanhol
Não perca a série de vídeos indicada pelo Brizola Neto
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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons
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PressAA
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