terça-feira, 17 de agosto de 2010

CURTA PORTUGUÊS GANHA LEOPARDO DE OURO

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Rui Martins - do Festival de Cinema de Locarno, Suíça

Apenas um filme de língua portuguesa foi premiado pelo júri do Festival de Locarno – Uma História de Mútuo Respeito.

Terminou hoje [14/8], depois de dez dias de projeções de filmes de todo o mundo, o Festival Internacional de Cinema de Locarno, com a cerimônia de entrega dos prêmios Leopardos de ouro e de prata.

Os brasileiros Helena Ignez e Ícaro Martins, diretores do filme Luz nas Trevas, que estreou no Festival de Locarno, como uma continuação do Bandido da Luz Vermelha, só ganharam um prêmio de um grupo paralelo de críticos de cinema, o prêmio Boccalino. Nenhum prêmio foi concedido ao filme brasileiro pelo júri oficial.

O mesmo ocorreu com Ricardo Targino, diretor do curta-metragem Ensolarado. Mas o cinema de língua portuguesa ou lusófono teve seu prêmio, o Leopardo de Ouro de curta metragem foi para Uma História de Mútuo Respeito, codirigida pelos jovens portugueses Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt em Brasília e nas Cataratas de Iguaçu. O curta-metragem de 23 minutos fez parte da paralela Leopardos de Amanhã. Ambos já tinham sido premiados no festival IndieLisboa com o Media Recording por esse mesmo filme.

Confirmando ser um festival de filmes de autor, o Leopardo de Ouro para filme de longa-metragem foi para o filme chinês Han Jia, Férias de Inverno, de Li Hongqi, com conversas e debates entre quatro jovens sobre temas como o amor e sua influência sobre os estudos e a importância da formação escolar.

O prêmio especial do júri foi para Morgen, ou Amanhã. Filme romeno de Marian Crisan, que trata da questão da imigração ilegal dentro da União Européia. Nelu, um velho romeno, trabalha como segurança num supermercado e, nas folgas, vai pescar. É na pesca que encontra um imigrante turco ilegal, e o leva para casa. Os dois não se entendem por falarem idiomas diferentes, o romeno e o turco, mas a única coisa que Nelu entende é que Nelu quer ir para a Alemanha. Curiosidade, o diretor Marian Crisan confessou, em Locarno, que seu ator turco é imigrante clandestino na Romênia.

O prêmio de melhor direção foi para o canadense Denis Côté, com o filme Curling, onde o personagem principal é esquizofrênico e mantém sua filha isolada totalmente do mundo, sem ir à escola e sem ter amigos, desenvolvendo comportamentos estranhos diante de certas situações. O ator desse filme Emmanuel Bilodeau ganhou o prêmio de melhor interpretação, enquanto o prêmio de melhor atriz foi para a sérvia Jasna Duricich, do filme Beli Beli Svet, rodado numa cidade mineira da Sérvia, onde a miséria leva seus habitantes a viverem dramas e tragédias como o incesto.

Na Piazza Grande, onde uma média de 6 mil pessoas viu, à noite ao livre, num telão de 300 m2, 16 filmes, foi premiado pelo público o filme israelense de Eran Riklis, O Responsável Pelos Recursos Humanos, contando as complicações para o enterro de uma cristã ortodoxa morta em Jerusalém num atentado kamikase.

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A estréia do novo diretor, Olivier Père, na direção do Festival Internacional de Locarno, foi considerada como bastante positiva pela crítica de cinema e se pode falar numa boa safra. Porém, se os espectadores puderam ter bons filmes, tanto na Piazza Grande com seu telão de 300 m2 como nas paralelas e na retrospectiva com filmes de Ernst Lubitsch, ficou difícil se prever sobre os prováveis ganhadores dos leopardos de ouro e de prata.

Na lista dos prováveis vencedores está o excelente filme italiano Pietro, de Daniele Gaglianoni, tendo no papel principal Pietro Casella, que poderia ganhar facilmente o prêmio de melhor ator não fôsse a presença de Michel Bouquet, num filme concorrente. É a história de um deficiente mental, pouco acima da debilidade, que distribui publicidade nas ruas e com isso consegue manter seu irmão viciado em drogas. Pietro é vítima do seu irmão que o ridiculariza diante dos amigos, para rirem. Filmado em Torino, mostra a desumanidade a que são submetidos os simplórios e como podem, de repente, reagir.

Se Periferic, filme romeno, não for premiado, é quase certo que sua atriz, Ana Ulari, ganhará. O filme trata de uma detenta com liberdade por um dia para ir ao entêrro da mãe, porém, aproveita para recuperar uma soma de dinheiro, deixada com o irmão e o ex-amante. É um dia muito particular para a prisioneira Matilda, que espera fugir com o dinheiro para outro país e recuperar seu filho, que vive num internato. Rejeitada pela família, tenta obter, sem êxito, do ex-amante o dinheiro que lhe deixara ao ser presa, Na discussão, provoca um acidente de carro, o amante morre e ela se apossa do dinheiro, vai buscar o filho, mas descobre ser um delinquente e prostituto. Mesmo assim, parte com ele, rumo à liberdade. Porém, seu filho, aproveitando-se do momento em que ela dorme no trem, rouba todo dinheiro e desaparece, pondo assim fim ao seu sonho de liberdade.

Outro provável é o filme rumeno Morgen, Amanhã, de Marian Crisan, que trata da questão da imigração ilegal dentro da União Européia. Nelu, um velho rumeno, trabalha como segurança num supermercado e, nas folgas vai pescar. É assim que encontra um imigrante turco ilegal, que leva para casa. Os dois não se entendem por falarem idiomas diferentes, o rumeno e o turco, mas a única coisa que Nelu entende é que Nelu quer ir para a Alemanha. Curiosidade, o diretor Marian Crisan confessou, em Locarno, que seu ator turco é imigrante clandestino na Rumênia.

Haverá um prêmio para O Pequeno Quarto (La Petite Chambre) das suíças Stephanie Chuat e Veronique Raymon ? Elas mostram o veterano Michel Bouquet, no papel de um idoso que não quer ir ao asilo, mas que resmunga e rejeita a enfermeira que vem cuidar dos seus remédios. Ela mesma, a enfermeira, tem o problema psíquico de não aceitar ter nascido morto seu filho. A próxima morte do idoso, cujo apartamento o filho esvazia para vender ou alugar, enquanto seu pai estava se tratando de uma queda no hospital, e a morte do recém-nascido são o tema em torno do qual giram as personagens. Após a projeção pública, o filme uma estrondosa salva de palmas, quase standing ovation. O excelente Michel Bouquet será o ator premiado ?

Bas fonds é um filme de gritos de mulheres, que vivem num apartamento sem móveis, sem limpeza. São duas irmãs e a amante da irmã mais velha, mais gritona e mais mandona. A linguagem é de carroceiro, de baixaria, de palavrões, como se duas dessas mulheres tivessem sido acometidas de histeria. Quando o trio adota um cachorro encontrado na rua, o cachorro é o único que parece normal no apartamento. A maldade e o clima de loucura acabam levando duas delas a abatem, sem motivo, um padeiro, numa padaria vazia por ser ainda madrugada. A diretora do filme, Izild Le Besco, se inspirou num caso de real assassinato, mas foge de qualquer interpretação política do seu filme.

E a essa lista deve-se acrescentar Luz Nas Trevas, de Helena Ignez e Ícaro Martins, e o filme sérvio Beli Beli Svet já comentados.

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Rui Martins é ex-correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. Autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criou os Brasileirinhos Apátridas e propõe o Estado dos Emigrantes. Vive na Suíça, colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, é colunista do site Direto da Redação. Colabora com o Correio do Brasil e com esta nossa Agência Assaz Atroz.

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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