JEAN VALJEAN
Lúcia Nobre(*)
Era um rapazinho quando tentou roubar um pão na padaria. Seus sobrinhos estavam com fome e ele não encontrou diferente alternativa. Ficou preso durante dezenove anos. Pagou pelo crime da intenção de levar o pão. Vivia com a irmã que não tinha condições de alimentar os filhos. Resolveu aliviar a fome dos sobrinhos e não deu certo a tentativa.
Quando saiu da prisão procurou um local para jantar e dormir. Mais uma tentativa frustrada, ninguém na cidade o acolheu. Não poderiam acreditar em alguém que havia sido acusado. Ele era uma afronta àquela sociedade. Não encontrando pousada, deitou-se em um banco da praça vencido pelo cansaço. Passou uma senhora e o convidou para acompanhá-la. Ela tinha certeza que alguém o acolheria. Levou-o a casa do patrão que o recebeu com boa vontade. O dono da casa mandou servir o jantar ao homem, tratando-o como um ilustre convidado. Que fosse colocada a melhor toalha e a prataria que só era utilizada em momentos especiais.
O hóspede estava feliz com a cordial acolhida. Além do bom tratamento, tomara uma sopa gostosa e quentinha, coisa rara em sua vida. O anfitrião colocou o homem para dormir no quarto de hóspedes, vizinho ao cômodo que guardava uma prataria valiosa. No outro dia, logo cedo, o homem parte e nem se despede. A prataria permaneceu no mesmo lugar. O hospedeiro mandou procurar o homem e lhe presenteou o conjunto de utensílios de prata. Aconselhou que vendesse. Daria para sua sobrevivência por algum tempo. O homem levou a prataria, agradeceu e partiu. Recomeçaria uma nova vida, longe dali.
Mesmo em outra cidade a polícia perseguiu o homem e o prendeu. Estava levando algo valioso. Na opinião do policial, os objetos preciosos eram frutos de roubo. Uma vez ladrão, sempre ladrão. O homem não desejava terminar seus dias em uma prisão. Fugiu e foi para outra cidade com nome falso e disfarce. Trabalhou e ajudou aos necessitados. Foi eleito prefeito da cidade. Novamente foi descoberto pelo policial que o perseguia. A prisão do prefeito tornou-se um escândalo na cidade. Em menos de duas horas esqueceram o bem que praticara.
O homem evadiu-se da cadeia, procurou uma pessoa de sua confiança e mandou entregar ao bispo os dois castiçais que dele ganhara. Pede que esse pague o seu processo e ajude os pobres. Mais uma vez parte para escapar do policial. Não almejava tal sina. Valjean será sempre perseguido.
Victor Hugo 1802-1885. Já falava a linguagem do tempo presente, ou seja, do nosso tempo. Acontecimentos de sua época repetem-se hoje. Sua obra reflete com profundidade a condição humana e todos os níveis da sociedade, dos nobres aos excluídos. Suas personagens possuem vida própria, são capazes de denunciar miséria, injustiça e necessidade de construir um mundo melhor. E os mensageiros atuais? Fazem sua parte? Plantam a semente do bem na tentativa de construir um mundo melhor? Segundo Freud, o escritor criativo devaneia e transpõe para sua escrita as coisas como ele acha que deveriam ser.
Do livro "Os miseráveis" de Victor Hugo.
Alagoas [de Graciliano Ramos] na Net
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(*)Maria Lúcia Nobre dos Santos, professora da Rede Estadual de Ensino do Estado de Alagoas e Rede Municipal de Ensino de Maceió. Autora do livro “Do índio a Collor”. Sergasa, 1992: resumo dos principais acontecimentos políticos, econômicos e sociais do Brasil. Especialização e Mestrado em Letras. Área de Concentração: Literatura Brasileira/UFAL. Dissertação do Mestrado: “A recriação do sertão no verso e na prosa - A harmonia da arte popular e erudita: uma incursão na tradição cultural brasileira na contística de Guimarães Rosa”, UFAL, 1999. Redação que se transformou no livro: A Arte Rosa do Popular ao Erudito. Edufal, 2000. Articulista, colabora com revistas e jornais impressos e internéticos. Perfil mais amplo de Lúcia Nobre pode ser lido no Portal Maltanet
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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons
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PressAA
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terça-feira, 10 de agosto de 2010
Eles não contavam com programas do tipo Bolsa Família
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