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por Fernando Soares Campos
Aos ateus, agnósticos, religiosos e deístas: a renovação permanente do conceito de Deus é preciso
Uma coisa é a gente acreditar em um fato, outra coisa é acreditar que acredita. Ou ainda: uma coisa é acreditar na realidade que somos obrigados a acreditar, outra coisa é acreditar que acredita nessa realidade.
Ainda continuo acreditando que um dos principais motivos para que alguém assuma seu ateísmo é a diversidade de interpretações que as religiões dão para conceitos de céu, inferno e, principalmente, de Deus. Apesar de os ateus em geral garantirem que suas posições ateístas estão baseadas apenas no fato de que não se pode (ou não se consegue) provar a existência de Deus, a meu ver, ateus contestam a existência de Deus não pela aparente impossibilidade de se provar a existência de um criador de todas as coisas visíveis, tangíveis ou imagináveis. A maior parte dos ateus simplesmente se nega, com fundamentada razão, a fazer parte de um “rebanho”, que viria a ser um conjunto de pessoas alienadas, os fanáticos de qualquer ordem.
As provas da existência de Deus, que ateus e deístas exigem, precisariam, naturalmente, estar corroboradas pela Ciência. Somente aos fanáticos de qualquer orientação doutrinária, aqueles que se acomodam a uma ditadura dogmática, creem naquilo que não se deve contestar a sua existência, nem mesmo através de uma proposta de representação imaginária. O problema é que a Ciência nem sempre comprova a existência do que ela própria diz existir (ou ter existido). Daí que muitos homens de ciência também se tornam dogmáticos, ou impõem dogmas. E isso ocorre, provavelmente, por mero orgulho próprio.
Vejamos, por exemplo, o caso da Teoria do Big Bang, que, por sinal, se desdobra em duas matrizes: a do Big Bang quente e a do frio – ambas permeadas de adendos que tentam corrigir ou complementar as idéias iniciais sobre a origem do universo e a evolução deste.
Se a Teoria do Big Bang, naquilo que diz respeito à origem do universo – não, à simples evolução – fosse um fato realmente comprovado, não teria mais um caráter especulativo, não seria mais simples teoria hipotética; mas, sim, um tratado científico incontestável, verdade absoluta que ninguém poderia chamar de absurda. Trata-se, porém, ao focar a origem do universo, de uma teoria probabilística; isso olhada e analisada com muita imaginação, para não dizer “boa vontade”; porque, analisando o conjunto dessa teoria, podemos observar que ela aborda com relativa precisão apenas os aspectos da evolução do universo, mas não encontra resposta plausível para as questões referentes à origem desse universo observável. O capítulo dedicado a explicar a origem do universo é curto e essencialmente metafísico, não é propriamente científico. E não poderia ser de outra forma.
Analisando-se essa parte inicial da Teoria do Big Bang, na qual se pretende explicar a origem do universo, podemos perceber que os “métodos científicos” supostamente utilizados não se enquadram nas determinações de uma “metodologia científica”, mas são simplesmente explicáveis por “terminologias científicas”. Porém, nem mesmo a terminologia empregada pode ser considerada eminentemente científica, pois começam falando de um “ponto” (Matemática, geometria), no “nada” (que não pode ser explicado por ciência ou disciplina alguma), ou no “espaço-atemporal” (um possível absurdo geométrico-metafísico, ou mera representação artística); enchem o “ponto no nada” ou no “espaço-atemporal” de partículas subatômicas que teriam vindo do “nada” e explicam suas reações (sem explicar a ação inicial) e combinações aleatórias; sempre usando apenas uma suposta terminologia científica.
Pelo visto, estando nós na bifurcação entre criacionismo e evolucionismo, para tomar um desses caminhos, precisamos inevitavelmente criar, metafisicamente, o “elemento” que originou o processo evolutivo. E acredite nele quem tiver imaginação. Creio que foi por isso que Einstein falou: “A imaginação é mais importante que o conhecimento”. Claro que um não prescinde do outro. É compreensível que quanto mais conhecimento, mais possibilidades de imaginação lógica, racional.
Acontece que o universo conhecido não é único nem existe em número limitado. Os universos são infinitos... Multiuniverso, ao infinito. Isso é o que imagino (o universo holográfico de que falaremos mais adiante). O problema é que nós, seres humanos, apesar de desejarmos ou acreditarmos na sobrevivência da alma por toda a eternidade, não gostamos muito das ideias de infinito e eternidade... Pensar em infinito e eternidade nos leva, em consequência, a pensar no “nada”. E pensar no “nada” pode nos induzir o pensamento de que nem nós mesmos existimos.
Se a gente pensa em espaço infinito, pensa a partir do nosso Eu-objeto, ou seja, sempre concebendo um começo-sem-fim, de nós para o infinito, de forma unidirecional ou mesmo multidirecional.
Partindo de nós, tendemos a pensar sob uma visão de macroinfinito, sem conseguirmos assimilar, simultaneamente, a posição simétrica do segmento que parte de nós para o microinfinito (o infinitesimal), pois tudo parte de Nós para o universo conhecido, visível e tangível. Colocamo-nos, por assim dizer, como sendo o centro do universo. E – por que não dizer? – na condição de um deus, ou mesmo, de Deus, o que não é de todo errado (na parte conclusiva deste texto, abordaremos essa questão).
Imaginemos, por exemplo, uma estrela (ponto de luz) irradiando em todas as direções. Seus raios percorrendo o espaço, a partir dela para o macroinfinito (macrouniverso). Tentemos imaginar o movimento oposto desses raios, em sentido ao microinfinito (microuniverso, o infinitesimal). Provavelmente, ao imaginar esse movimento retrocedente, a gente para no ponto de luz (a estrela). Eu não estou falando simplesmente de raios simétricos e externos em relação ao ponto de luz, no caso, a estrela. Refiro-me ao sentido interno do ponto de luz, quero dizer que precisamos projetar mentalmente (ou graficamente, talvez numericamente) o sentido do raio indo ao infinito pela via macroinfinita e sua volta ao microinfinito. Ou seja: imaginar que a luz da lâmpada que desligamos “nunca se apagaria”, em nenhum sentido: nem do ponto de iluminação para o macrouniverso, nem desse mesmo ponto para o microuniverso (o infinitesimal). Os raios simétricos levam a luz de sua fonte geradora para o infinito externo, mas aí temos o ponto de partida, o começo, portanto ainda não estamos falando propriamente de infinito (infinito não tem começo nem fim). Estaríamos tratando de um ponto num segmento de reta em direção ao macroinfinito, com suas partes simétricas no mesmo sentido. O que estou querendo é imaginar, por exemplo, a matéria (o universo material) expandindo-se eternamente, ao macroinfinito (macrouniverso), e comprimindo-se eternamente ao microinfinito (microuniverso). Em nenhuma dessas duas hipóteses ela alcançaria o tamanho máximo nem mínimo, ao ponto de se tornar o “tudo” ou o “nada”. Disso podemos deduzir que o “tudo” e o “nada” venham a ser equivalentes; se não, iguais; visto que a representação mental de um ou do outro implica conceituar o infinito.
A meu ver, o maior engano do pensamento metafísico dos cientistas que tentam explicar a origem do universo através da Teoria do Big Bang consiste em falar de um suposto “espaço sem tempo”, “espaço-atemporal” equivalente ao “nada”. Creio que o “espaço sem o tempo” só pode ser concebido matematicamente, em geometria, considerando-o apenas uma especulação puramente artística, que não caberia dentro de si a presença, nem ao menos, de um ser imaginário.
Quando a gente identifica que a Teoria do Big Bang considera o “espaço sem o tempo” antes da explosão do “átomo primordial”, e somente a partir desse fenômeno teria sido iniciado ao espaço-temporal, e ela solicita do leitor-estudante que tente colocar-se do lado de fora do universo para observar, através da imaginação, o momento da “explosão” e expansão do universo, solicita aí uma posição praticamente impossível até de se imaginar. Porque o “espaço sem tempo” e o “nada” têm, basicamente, a mesma “não-essência”, deles não se encontra qualquer parâmetro possível a uma lógica mesmo que imaginária, exceto a possibilidade de uma visão artística, planificada, como concebemos a imediata tridimensionalidade (altura, largura e profundidade) a que estamos acostumados a “tangenciar” com a alma. Porém, esse “tangenciar” é indissociável de uma intuição mais completa, pois implica sentir, o mais profundamente possível, a quadrimensionalidade einsteiniana.
Podemos nos colocar em posição de observador dos aspectos interiores do universo conhecido. A observação exterior desse universo só seria possível através da imaginação caso se considere o espaço e o consequente tempo. (Precisa-se de muita imaginação para colocar-se no “nada”, simplesmente porque não podemos conceber o “nada”.)
Como não temos como conceber, de forma ao menos metafísica, o infinito espacial e a eternidade em separados, não podemos assim estabelecer a origem do universo, a partir de qualquer teoria, fazendo malabarismos mentais para idealizar um “espaço sem tempo”, coisa impossível, pois todo espaço pressupõe o desenvolvimento de suas dimensões e consequente tempo para percorrê-las. Mesmo um segmento de reta (espaço unidimensional) evoca o tempo que se necessita para percorrê-la. Daí, podemos ter uma noção conceitual de infinito: Infinito é o espaço que necessita da Eternidade para ser totalmente percorrido. E Eternidade é o tempo necessário para se percorrer o Infinito. São inseparáveis.
Se é infinito, qualquer ponto-espacial do Infinito é o seu começo e o seu fim ao mesmo tempo. Se é eterno, qualquer ponto-temporal (ou fração de segundo) da Eternidade é o seu começo e fim simultaneamente. Por isso conseguimos falar em perpetuidade como sendo aquilo que tem começo mas não tem fim, simplesmente porque estabelecemos um começo da infinitude, que é ao mesmo tempo começo e fim. (Perpétuo é aquilo que foi eternizado.) Portanto, se dividirmos o infinito-eterno ao meio, teremos dois infinitos-eternos, visto que, se imaginarmos um ponto, uma reta ou um plano e colocarmos qualquer um deles como representação da imaginária fronteira (espaço-cisão) do infinito-eterno, seria ele começo e fim concomitantemente. Basta que recapitulemos a questão dos raios simétricos que vão simultaneamente em direção ao macroinfinito (ou macrouniverso) e ao microinfinito (ou microuniverso), tendo como ponto de partida essa fronteira imaginária.
(Talvez possamos, assim, sentir ou intuir, com maior profundeza, a dimensão espaço-temporal, de acordo com a quadrimensionalidade einsteiniana, mas sem qualquer implicação relativista submetida a conceitos da Mecânica clássica ou probabilística quântica. Apenas captando esta visão e sentimento imediatos de tridimensionalidade (altura, largura e profundidade) indissociada da transcursão do tempo.)
O Universo Holográfico
Dizem que cientistas do mundo inteiro andam pasmados com a idéia de que viveríamos num universo holográfico – o universo seria um infinito holograma –. Isso realmente tem fundamento.
Diante do exemplo da imaginária divisão do infinito-eterno, teorizando que, ao dividir o infinito-eterno, obtemos dois infinitos-eternos, podemos verificar que, se continuarmos dividindo esses infinitos-eternos, em progressão geométrica, obteremos um infinito número de infinitos-eternos. Esta é a característica fundamental do holograma: cada parte contém o todo. O mistério persiste apenas em determinar a fronteira imaginária entre as partes. O que foi feito neste texto: “Portanto, se dividirmos o infinito-eterno ao meio, teremos dois infinitos-eternos, visto que, se imaginarmos um ponto, uma reta ou um plano e colocarmos qualquer um deles como representação da imaginária fronteira (espaço-cisão) do infinito-eterno, seria ele começo e fim concomitantemente. Basta que recapitulemos a questão dos raios simétricos que vão simultaneamente em direção ao macroinfinito (ou macrouniverso) e ao microinfinito (ou microuniverso), tendo como ponto de partida essa fronteira imaginária.” [16º parágrafo]
Agora, ao analisarmos a representação gráfica de um holograma, precisamos pensar nele com o sentimento, intuição, de um espaço quadrimensional (sentimento espacial-temporal). Quero dizer: imaginando o movimento a partir de uma das infinitas partes para outra de forma quadrimensional.
Temos, então, como imaginar a passagem de uma dimensão cósmica para outra.
(Até aqui, minhas explanações e conceitos só se enquadrariam numa visão e sentimento de cunho artístico-geométrico, entretanto os formulei com o propósito que estou de teologar daqui em diante.)
O homem à semelhança de Deus
Deus não é apenas essencialmente bom, ou o Bem, conforme entendemos essas palavras, ou de acordo com os significados que lhes atribuímos a nosso bel-prazer. Deus está acima do Bem e do Mal. Acontece que, entre nós, quando dizemos que alguém está acima do bem e do mal, queremos dizer que esse alguém é a personificação da arbitrariedade, com as inevitáveis associações ao que é violentamente despótico, atendente a interesses de caprichos pessoais. Porém, em se referindo a Deus como um ser acima do Bem e do Mal, quero dizer que Deus é perfeitamente justo, que a Justiça Divina não se limita a conceitos de bem ou mal, bom ou mau, certo ou errado, de acordo com os nossos interesses imediatos. Deus – não personificado – é a essência da própria Justiça Divina, e esta responde por todas as demais qualificações de Deus: onipresença, onisciência e onipotência. A nossa própria consciência é, por natureza, o repositório da Justiça Divina, entretanto ela é apenas uma entre todas as faculdades humanas em fase evolutiva, tanto que a Psicanálise identifica subsistemas, ou departamentos, da nossa consciência. Porém, mesmo embotada por falsos juízos alicerçados em preconceitos – estes, por sua vez, frutos do nosso desejo individual, coisa muito natural –, essa consciência em evolução pode assimilar que aquilo que para a nossa individualidade é bom ou mau, é o bem ou o mal, o certo ou o errado, pode apresentar-se com sentidos invertidos em outros indivíduos, ou seja, em outras consciências. Isso me parece tão evidente que acredito ser desnecessário expressar qualquer tipo de exemplo.
Somos a semelhança de Deus; não, iguais a Ele; apenas semelhantes porque caminhamos para a perfeição. E, graças à perfeição da Justiça Divina, nunca chegaremos lá, jamais seremos iguais a Deus. Ser igual a Deus seria descortinar o infinito (impossível), tendo, por assim dizer, vencido a eternidade (igualmente impossível). Seria o fim, seria a inércia total do processo evolutivo. Ponto final. A morte, no seu mais amplo sentido. Precisamos compreender que o melhor da luta não é a vitória, o melhor de qualquer luta que empreendemos é ela própria, a luta em si. Vida é luta constante, ininterrupta. A vitória representa apenas a dilatação momentânea do prazer, um prêmio fugaz, um orgasmo. Os passos de uma caminhada deveriam ser moderada e continuamente prazerosos. Inclusive os passos aparentemente dados à ré; aparente porque, em todos os sentidos, o movimento nos conduz ao infinito. Se pararmos com intenção de “meditar”, não estaremos propriamente estacionados, o ponto de parada, nesse caso, representa uma caminhada em direção ao microinfinito, ao infinitesimal. Paramos de contemplar o mundo exterior e nos voltamos para dentro de nós mesmos. Mas acho que não devemos, ainda muito jovem, nos enclausurar num mosteiro, numa caverna, ou reclusos no deserto ou no meio da mata, com o propósito de nos tornar ermitões, achando que assim seremos capazes de nos transformar em “sábios” gurus; mesmo que o faça com um computador interligado à internet e mantendo-se em interação ideológica com toda a Humanidade.
Já disseram que o homem inteligente aprende com os próprios erros, e o sábio aprende com os erros dos outros. Acontece que ninguém nasce sapiente, mas apenas inteligente, com a inteligência, a faculdade de conhecer, compreender e aprender. Portanto a verdadeira sapiência só pode vir com a vivência, a experiência própria do indivíduo. Sábio, entendo aí um indivíduo com a postura de mero observador, seria apenas aquele que não repete, ou repete o mínimo de vezes, seus próprios erros e, com a consciência de tê-los cometido, consegue identificar, através de processo analógico, os erros que os outros cometeram em áreas distintas às de suas experiências diretas, pessoais; e assim evitá-los, se necessário e possível for.
Deus personificado e Deus impessoal
O Pai, aquele de quem Jesus falou, é Deus personificado, um ser que já encarnou sob todas as condições em que nós existimos – mesmo que tenha isso ocorrido em outro universo, que não seja este que conhecemos pelas vias dos básicos sentidos humanos –. O Pai e o próprio Jesus têm origem determinada, início, são perpétuos, eternizados. Vivem nos “universos holográficos” de acordo com os seus graus de evolução: a parte do holograma universal em que o Pai se encontra abrange a parte holográfica do Filho, o universo deste envolve os hologramas dos “santos”, dos espíritos relativamente muito evoluídos, até o holograma em que vivemos sob envoltório material denso. O encaixe dos “hologramas universais” é infinito, assim como os deuses personificados também o são; por isso mesmo (por ser infinita), essa personificação de Deus faz de cada parte o Todo, pois o Todo está unificado pelo Deus Impessoal: Causa primária de todas as coisas (realmente infinito e eterno), que emana da fronteira imaginária das infinitas partes holográficas e habita em toda a parte sob o conceito de Espírito Santo.
Quando Jesus disse “Vós sois deuses”, não estava usando figura de linguagem, fazia referência ao grau de evolução de cada um de nós (hologramas autoconscientes).
Transcrevo a seguir trecho do artigo de minha autoria intitulado “Deus crê em Deus que crê em Deus que crê em Deus...”:
“Também o Pai a quem Jesus tantas vezes se referiu não é ‘a causa primária de todas as coisas’, mas, sim, a personificação de Deus, uma entidade em altíssimo grau de evolução, da qual Jesus é assessor direto para as questões referentes à humanidade terrena. ‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém pode ir ao Pai senão por mim.’ João, 14 - 6.
Quando Jesus afirmou ‘Eu e o Pai somos Um’, ele fazia referência à união entre as criaturas através do Espírito Santo (‘inteligência suprema, causa primária de todas as coisas’), o Deus eterno e infinito [a Justiça Divina], aquilo de que jamais desvendaremos o mistério de sua natureza íntima em toda extensão; do contrário, não seria eterno, infinito.”
Onipresença, Onisciência e Onipotência dos deuses em evolução
A chave da onisciência e da onipotência está na consciência da nossa relativa onipresença. Relativa inclusive para o Deus personificado Pai, para Deus-Jesus, para todos os deuses-“santos”, deuses-espíritos relativamente bem evoluídos, etc. Os supra-humanos, vivendo sob roupagem de matéria quintessenciada.
Ser onipresente, na condição de ser humano, não é poder estar de corpo presente em todos os lugares, também não é a simples ação do fenômeno da ubiqüidade (isso também vale para um deus personificado, em qualquer grau evolutivo, até mesmo o Pai). Ser onipresente, para nós aqui na Terra, é respeitar o nosso semelhante (ou igual), é ter consciência de que não somos apenas indivíduos, mas que fazemos parte da Humanidade. Ser onipresente é ter consciência de que aquilo que faço aqui e agora repercute em todo lugar, sem limite preestabelecido, em todo o universo. É, por assim dizer, o “efeito borboleta” que não pode ser facilmente detectado, mas somente intuído. E as nossas ações, quando praticadas sob essa consciência de onipresença, podem nos imbuir de uma sensação de o quanto somos, igualmente de forma relativa, oniscientes, e, daí, aflorar a sensação de onipotência. Basta agora nos impregnar do sentimento de humildade, concluindo que nossa onipresença, tanto quanto a onisciência e onipotência, é relativa ao estado evolutivo de nossa consciência.
Conscientes de onipresença são os africanos, que dizem: “Eu existo porque nós existimos”. E os “civilizados” foram lá ensinar religião a eles. E a nossa filosofia científica também foi lhes dizer: “Penso, logo existo”. Ora, as pedras não pensam, mas elas também existem. Talvez fosse mais racional pensar e dizer: “Penso, logo sei formular conceito de tudo que existe”, mesmo duvidando desses conceitos, ou, de preferência, sempre duvidando mesmo!
Penso, logo sei formular conceito de tudo que existe ou provavelmente deve existir, inclusive sobre a existência de Deus.
Já foi dito que se a Teoria do Big Bang, naquilo que diz respeito à origem do universo – não, à simples evolução – fosse um fato realmente comprovado, não teria mais um caráter especulativo, não seria mais simples teoria hipotética; mas, sim, um tratado científico incontestável, verdade absoluta que ninguém poderia chamar de absurda. Entretanto, com a “verdade absoluta”, estaríamos hoje trabalhando mecanicamente, apenas para observar os efeitos do Big Bang e preparar a “lavoura” contra ou a favor de tais efeitos. Não precisaríamos de cosmólogos estudando a origem (causa) do universo, mas apenas preocupados com a evolução, os efeitos. Seria um trabalho mecânico, tanto quanto trabalhar como operário numa linha de montagem industrial.
Por que o homem de ciência precisa ter fé na Ciência? Porque aquilo que a Ciência ainda não revelou é o que faz ela própria se mover. Não é o que temos cientificamente provado que move a ciência. Os louros das vitórias vão ficando pra trás, e os cheques de Prêmio Nobel muitas vezes são empregados para dar continuidade à luta. Aquilo que a Ciência ainda não conseguiu provar ou alcançar é o que realmente a estimula.
Por que precisamos ter fé na existência de Deus? Porque a verdade absoluta (a certeza: conhecimento perfeito e indiscutível) sobre a sua origem e existência faria de nós “deuses perfeitos”, completos, seria o fim, A fé, portanto, não impõe dogmas; pelo contrário, a fé nos conduz à busca da compreensão do que seja Deus, e isso se traduz apenas em atividade intelectual, não em heresia ou ateísmo. E só temos como assimilar, de forma um pouco mais evidente, aquilo que venha a ser Deus Personificado, que se manifesta na nossa consciência em evolução. E devemos simplesmente referenciá-lo com devido respeito, sem necessidade de adoração fanática, respeito que devemos ter uns com os outros, imbuídos da consciência de que “Eu existo porque nós existimos”, Essa é a mesma reverência que devemos a Deus Impessoal, a Justiça Divina, Inteligência Suprema, Causa primária de todas as coisas (Átomo Primordial), o Infinito e o Eterno (infinito-eterno), pois Este também não exige de nós qualquer postura de adoração, mas tão-somente de compreensão intuitiva de sua existêcia, para que nos sintamos, cada vez mais, à sua semelhança.
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PS: O filme Matrix só me surpreendeu com uma frase. Foi quando um personagem, observando outro em outra dimensão, falou preocupado: “Ele está começando a acreditar” (mais ou menos isso). Quase caí da cadeira!
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Ilustração: AIPC – Atrocious International Piracy of Cartoons
Pressaa
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Um comentário:
Li todo texto com muita atenção, esses assuntos me atraem, a curiosidade pelo mistico, pela fé de acreditar que Deus realmente existe. Seu texto é fantástico, parabens!!!!
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