Rui Martins*
O número de jornalistas correspondentes no coração da União Européia está em constante diminuição em consequência de uma informação controlada.
É o jornal suíço Le Temps quem levantou a questão ao revelar uma estranha e constante diminuição de correspondentes internacionais em Bruxelas, sede da União Européia.
Nos últimos anos, o número de jornalistas credenciados na capital belga e européia diminuiu de um terço. De 1200 reduziram-se a 800, justamente quando a UE vai se transformando no grande país continental sonhado pelos pioneiros do Tratado de Roma. Sabendo-se que toda regulamentação européia passa por Bruxelas, qual seria a causa desse aparente desinteresse?
Citando o blog de um dos veteranos correspondentes, do jornal francês Liberation, o jornal suíço revela a provável causa principal – a dificuldade criada para os correspondentes chegarem ao fundo das questões debatidas pela União Européia. Alguns conseguem furar a barreira das filtragens, das declarações anódinas, porém isso exige tempo e a quase totalidade tem de se contentar com o que a UE aceita divulgar. Em outras palavras, os correspondente curiosos são mal vistos e evitados. Ou aceitam os press releases, nem sempre bem preparados, ou ficam sem nada.
Sem conseguir levantar questões importantes, impedidos de levar avante uma investigação jornalística, diante da conversa mole ou mutismo dos entrevistados, os correspondentes acabam repetindo o entregue aos jornais pelas agências de imprensa, também submetidas ao regime, e perdem seu ganha pão. Mesmo porque alguns são frilas, como se diz no jargão jornalístico para os que ganham por reportagem, e não conseguem temas interessantes para oferecer.
Assim, a UE estaria praticando uma espécie de controle da informação ou informação seletiva, sem provocar protestos em consequência da falta de apetite atual dos jornais e agências, reforçando a tendência do jornalismo sedentário, sem busca que se contenta com informações impressas e alguns telefonemas.
Parece haver outros fatores paralelos, mas não principais, como os ligados à obtenção dos documentos de permanência na Bélgica, difíceis para os jornalistas frilas e custos relacionados com seguro-saúde, que a UE também não estaria muito interessada em facilitar, reforçando assim a filtragem da informação.
Mudando de Bruxelas para Genebra, onde funciona a segunda sede da ONU e numerosas organizações a ela ligadas, cabem algumas informações relacionadas também com a mídia. Nos anos 80, exceto o correspondente de O Globo, Janos Lengel, a imprensa brasileira não demonstrava nenhum interesse por Genebra. Os encontros da ONU geralmente não davam (e não dão) em nada e para ela eram mobilizados correspondentes de outras capitais quando havia conferências ou encontros internacionais de importância.
Hoje, o número de correspondentes europeus em Genebra diminuiu, mas foi contrabalançado pelos vindos da Ásia, África e América Latina, permanecendo invariável a média de 200 jornalistas credenciados. Entretanto, embora acreditados pela ONU, com seu crachá eletrônico, a maioria desses recém-chegados se dedica de preferência à cobertura da Organização Mundial do Comércio, onde realmente acontecem coisas. No Palácio das Nações, não se trata de filtragem como em Bruxelas. Exceto as pesquisas econômicosociais da Unctad poucas coisas vão além das discussões, fora o caráter não coercitivo das decisões ali tomadas.
E a falta de desafios acaba por criar maus hábitos. Foi em Genebra, que a OMS lançou sua campanha contra a Gripe A, mas, apesar da evidência do exagero das medidas de prevenção e das desconfianças de interesses dos laboratórios farmacêuticos na venda de remédios e vacinas contra essa gripe menos perigosa que a gripe comum, pouca coisa saiu dali em termos de denúncias por parte dos correspondentes ali credenciados.
*Rui Martins, ex- correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. Autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criou os Brasileirinhos Apátridas e propõe o Estado dos Emigrantes. Vive na Suíça, colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, é colunista do site Direto da Redação. Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz
Para Rui Martins, o governo brasileiro deveria criar uma nova política de emigração a exemplo de Portugal, França, Itália e mesmo México e Equador.
Leia mais em...
http://www.francophones-de-berne.ch/
http://www.estadodoemigrante.org/
Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons
.
PressAA
.
O número de jornalistas correspondentes no coração da União Européia está em constante diminuição em consequência de uma informação controlada.
É o jornal suíço Le Temps quem levantou a questão ao revelar uma estranha e constante diminuição de correspondentes internacionais em Bruxelas, sede da União Européia.
Nos últimos anos, o número de jornalistas credenciados na capital belga e européia diminuiu de um terço. De 1200 reduziram-se a 800, justamente quando a UE vai se transformando no grande país continental sonhado pelos pioneiros do Tratado de Roma. Sabendo-se que toda regulamentação européia passa por Bruxelas, qual seria a causa desse aparente desinteresse?
Citando o blog de um dos veteranos correspondentes, do jornal francês Liberation, o jornal suíço revela a provável causa principal – a dificuldade criada para os correspondentes chegarem ao fundo das questões debatidas pela União Européia. Alguns conseguem furar a barreira das filtragens, das declarações anódinas, porém isso exige tempo e a quase totalidade tem de se contentar com o que a UE aceita divulgar. Em outras palavras, os correspondente curiosos são mal vistos e evitados. Ou aceitam os press releases, nem sempre bem preparados, ou ficam sem nada.
Sem conseguir levantar questões importantes, impedidos de levar avante uma investigação jornalística, diante da conversa mole ou mutismo dos entrevistados, os correspondentes acabam repetindo o entregue aos jornais pelas agências de imprensa, também submetidas ao regime, e perdem seu ganha pão. Mesmo porque alguns são frilas, como se diz no jargão jornalístico para os que ganham por reportagem, e não conseguem temas interessantes para oferecer.
Assim, a UE estaria praticando uma espécie de controle da informação ou informação seletiva, sem provocar protestos em consequência da falta de apetite atual dos jornais e agências, reforçando a tendência do jornalismo sedentário, sem busca que se contenta com informações impressas e alguns telefonemas.
Parece haver outros fatores paralelos, mas não principais, como os ligados à obtenção dos documentos de permanência na Bélgica, difíceis para os jornalistas frilas e custos relacionados com seguro-saúde, que a UE também não estaria muito interessada em facilitar, reforçando assim a filtragem da informação.
Mudando de Bruxelas para Genebra, onde funciona a segunda sede da ONU e numerosas organizações a ela ligadas, cabem algumas informações relacionadas também com a mídia. Nos anos 80, exceto o correspondente de O Globo, Janos Lengel, a imprensa brasileira não demonstrava nenhum interesse por Genebra. Os encontros da ONU geralmente não davam (e não dão) em nada e para ela eram mobilizados correspondentes de outras capitais quando havia conferências ou encontros internacionais de importância.
Hoje, o número de correspondentes europeus em Genebra diminuiu, mas foi contrabalançado pelos vindos da Ásia, África e América Latina, permanecendo invariável a média de 200 jornalistas credenciados. Entretanto, embora acreditados pela ONU, com seu crachá eletrônico, a maioria desses recém-chegados se dedica de preferência à cobertura da Organização Mundial do Comércio, onde realmente acontecem coisas. No Palácio das Nações, não se trata de filtragem como em Bruxelas. Exceto as pesquisas econômicosociais da Unctad poucas coisas vão além das discussões, fora o caráter não coercitivo das decisões ali tomadas.
E a falta de desafios acaba por criar maus hábitos. Foi em Genebra, que a OMS lançou sua campanha contra a Gripe A, mas, apesar da evidência do exagero das medidas de prevenção e das desconfianças de interesses dos laboratórios farmacêuticos na venda de remédios e vacinas contra essa gripe menos perigosa que a gripe comum, pouca coisa saiu dali em termos de denúncias por parte dos correspondentes ali credenciados.
*Rui Martins, ex- correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. Autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criou os Brasileirinhos Apátridas e propõe o Estado dos Emigrantes. Vive na Suíça, colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, é colunista do site Direto da Redação. Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz
Para Rui Martins, o governo brasileiro deveria criar uma nova política de emigração a exemplo de Portugal, França, Itália e mesmo México e Equador.
Leia mais em...
http://www.francophones-de-berne.ch/
http://www.estadodoemigrante.org/
Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons
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