Rui Martins*
Foi em março de 2007 que publicamos o primeiro artigo contra a extradição para a Itália do antigo militante do PAC, zelador-escritor em Paris, Cesare Battisti.
Coincidentemente, foi também o primeiro texto, no Brasil, em favor de Battisti que, felizmente, durante estes três anos de injusta e ilegal prisão mas caucionada pelo STF, conseguiu reunir um grande grupo de defensores.
Fazia apenas alguns dias da prisão de Battisti, no Rio de Janeiro, a pedido do então candidato à presidência da França, Nicolas Sarkozy, em cumprimento a uma sentença de prisão perpétua pronunciada, muitos anos antes, na Itália. Tinhamos acompanhado a trajetória do Battisti foragido pela imprensa e imaginávamos que, depois da decisão do presidente Mitterrand de lhe conceder asilo, Cesare Battisti poderia viver tranquilo em Paris. Enganei-me, Battisti tinha sido novamente alvo de um processo de extradição pelo presidente francês Jacques Chirac, mas conseguira fugir a tempo. Não pensava que Battisti escolhesse o Brasil para se refugiar clandestinamente, só fiquei sabendo ao ler sua prisão no Rio.
No começo, foi difícil convencer nossos próprios amigos de esquerda, pois a revista Carta Capital, considerada por muitos como de centro-esquerda, publicou uma reportagem caucionando a condenação italiana e argumentando em favor da extradição.
Essa pressão da revista foi se acentuando, com o passar do tempo, e quando o ministro da Justiça, Tarso Genro, hoje não mais no cargo e candidato ao governo do Rio Grande do Sul, decidiu dar o refúgio a Battisti, foi o próprio editor da revista, Mino Carta, quem assumiu a campanha pela extradição do italiano.
Tivemos, a seguir, o episódio de um STF interferindo numa decisão do ministro da Justiça e impedindo a libertação de Cesare Battisti, numa tentativa, que denunciamos, para provocar uma crise institucional.
Enfim, a tardia publicação do acórdão do STF em favor da extradição, mas reconhecendo caber ao presidente a decisão final, embora querendo sujeitar Lula a um acordo bilateral com a Itália, nos leva aos dias ou semanas que antecedem a libertação tão esperada de Battisti.
Sim, porque não podemos imaginar que o presidente Lula entregue Battisti ao atual governo fascisante italiano, do corrupto Berlusconi. Mas ficamos surpresos ao saber que o candidato à presidência José Serra é favorável à extradição de Battisti. Ou seja, fosse ele o presidente, teríamos um novo caso Olga Benário a macular nossa história.
Na campanha em favor de Battisti, que esperamos conhecer pessoalmente numa de nossas próximas viagens ao Brasil, tivemos a oportunidade de conhecer por e-mail e telefone a batalhadora escritora Fred Vargas e dois grandes defensores de Battisti – o ex-preso político no Brasil Celso Lungaretti e o representante da Anistia Internacional, Carlos Lungarzo.
Aprendemos muita coisa com eles, inclusive que Battisti não participou dos assassinatos que lhe atribuem, mas que a grande imprensa brasileira, irresponsável e cúmplice de Berlusconi, insiste em lhe atribuir. Uma exceção é o jornalista Carlos Brickmann, ex-Estadão, agora no Diário do Grande ABC, que adotou uma posição correta em relação a Battisti.
De minha parte, espero ser este meu último pedido em favor de Cesare Battisti, que sua libertação ocorra em breve, senão nos próximos dias. Seja bem-vindo, Battisti, como homem livre, nestas terras brasileiras.
_________________________
Para Rui Martins, o governo brasileiro deveria criar uma nova política de emigração a exemplo de Portugal, França, Itália e mesmo México e Equador.
Leia mais em...
http://www.francophones-de-berne.ch/
http://www.estadodoemigrante.org/
*Ex-correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. Autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criou os Brasileirinhos Apátridas e propõe o Estado dos Emigrantes. Vive na Suíça, colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, é colunista do site Direto da Redação. Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz
Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons
.
PressAA
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário