segunda-feira, 31 de maio de 2010

DILMA, SERRA, MARINA E OS EMIGRANTES

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Rui Martins*

Nem em sonho se pode imaginar Dilma, Serra ou Marina tomando um avião para ir fazer campanha eleitoral nos EUA, Europa e Japão, a fim de obter votos dos emigrantes. Mas por que, se existem no mínimo três milhões de emigrantes brasileiros espalhados pelo mundo?

Por uma razão muito simples – toda essa multidão de emigrantes não vota. Só cerca de 150 mil emigrantes transferiram seus títulos para o Exterior até o mês passado, muitos a isso foram obrigados por ser necessário à renovação do passaporte, mas uma grande parte, digamos a metade, mesmo com título novo, não irá votar e sim justificar a ausência.

Então se entende porque nem Dilma, nem Serra e nem Marina farão campanha eleitoral entre os emigrantes - seria pura perda de tempo. Esse é um dos aspectos pouco conhecidos da questão emigrante – a falta de importância política dos emigrantes, pois qualquer coisa que um político brasileiro faça pelos emigrantes não tem retorno em votos.

Se o ex-senador e governador Lúcio Alcântara, se o ex-deputado Carlito Merss, e os deputados Rita Camata e Leonardo Alcântara ajudaram de maneira decisiva a aprovação da emenda constitucional 272, devolvendo a nacionalidade brasileira nata aos filhos dos emigrantes, foi por pura benevolência. Se o senador Cristovam Buarque propõe a criação de deputados emigrantes, é sem interesse pessoal, pois não ganha nenhum voto com isso.

O resultado entre os outros deputados e senadores e entre os próprios membros do governo é o de total desinteresse pelos emigrantes. E essa atitude é recíproca – como os emigrantes só podem votar para presidente e ainda têm de pagar o transporte da cidade em que vivem para o Consulado mais próximo, a quase totalidade não quer nem saber dessas eleições. Os brasileiros da Matriz que decidam.

O PT, único partido com um departamento internacional, bem que se esforça para mobilizar os emigrantes. Mas lhe falta um argumento principal – não tem o que oferecer aos emigrantes em termos locais e o Brasil está muito longe. É uma questão de realismo – o que um emigrante vivendo na França, California ou Tóquio tem a ver com uma vitória da Dilma, do Serra ou da Marina no Brasil, se só uns cem mil votarão e se o presidente não vai ficar devendo nenhum favor aos emigrantes por sua eleição? Se os emigrantes não podem ser candidatos para representar a emigração em Brasília ?

Em síntese, os brasileiros emigrantes espalhados pelo mundo, mesmo tocando cuíca, requebrando as cadeiras e torcendo pela seleção do Dunga não fazem mais parte do Brasil. Já foram excluídos do processo eleitoral, formam o que o Itamaraty chama elegantemente de brasileiros no mundo, dispersos, divididos e sem voz. Ou formam um Estado de emigrantes sem governo, sem representantes em Brasília que, na melhor das hipóteses, devem se integrar onde vivem, aí fazer sua vida e sua política se isso lhes interessar.

Outro dia, um emigrante brasileiro nos EUA, Samuel Sales Saraiva, enviou uma carta ao presidente Lula dizendo para não gastar dinheiro público com o Conselho de Representantes, que só vai mesmo satisfazer a vaidade de alguns. E ele não está longe da verdade.

Se a nova política brasileira da emigração for só a criação desse Conselho, ela praticamente inexiste, pois esse Conselho não decide nada e só marca mesmo presença. Foi criada uma Subsecretaria das Comunidades Brasileiras no Exterior mas ela tem uma falha principal – é dirigida por diplomatas do Itamaraty e seu quadro reúne apenas funcionários do Itamaraty. É como se a Secretaria de Estado da Mulher fosse dirigida por homens.

Quando, na I Conferência dos emigrantes, no Itamaraty, apresentamos, pela primeira vez, o projeto de um órgão institucional emigrante e levantamos a questão de que a Subscretaria das Comunidades Brasileiras deveria ser dirigida por um emigrante e não por diplomata, alguém me informou, na pausa-café uma questão formal. Nenhum órgão do Itamaraty poderá ter emigrantes porque é questão básica ter curso completo do Instituto Rio Branco.

Diante desse empecilho, impõe-se a separação efetiva do órgão institucional, o que também garantirá uma independência aos emigrantes, mesmo porque as questões emigrantes envolvem também os outros Ministérios. Que Dilma, Serra ou Marina, mesmo sem irem ao encontro dos emigrantes, imaginem, desde já, uma nova política brasileira para a emigração.
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Para Rui Martins, o governo brasileiro deveria criar uma nova política de emigração a exemplo de Portugal, França, Itália e mesmo México e Equador.

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http://www.francophones-de-berne.ch/





http://www.estadodoemigrante.org/

*Ex-correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. Autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criou os Brasileirinhos Apátridas e propõe o Estado dos Emigrantes. Vive na Suíça, colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, é colunista do site Direto da Redação. Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz

Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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