quarta-feira, 5 de maio de 2010

VAI DAÍ QUE O LETREIRO É LUMINOSO E MULTICOLORIDO

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Uma tal Associação de Defesa dos Heterossexuais (ADHT – o “T” deve ser de “e Tarados”) nos escreveu intimando os responsáveis por esta Agência Assaz Atroz a retirar de nossas páginas o artigo “Intolerância Religiosa – Robinho é um Bocó”, de autoria do jornalista Laerte Braga, nosso colaborador, que respondeu às ameaças que a ADHT nos faz de recorrer à Justiça, caso não a atendêssemos até o meio-dia do último dia 3, segunda-feira passada. Para quem se interessar em conhecer o teor da mensagem ameaçadora a nós enviada pelos defensores dos heterossexuais, acesse o artigo de Laerte que gerou a polêmica e leia em comentários: http://assazatroz.blogspot.com/2010/04/intolerancia-religiosa-robinho-e-um.html - Editor-Assaz-Atroz-Chefe

Laerte Braga

Ou deve ser. Todas as cores contidas na aparência do ser que apenas está, principalmente no âmago desse mesmo ser, que não é mais que um luminoso vistoso e multicolorido na dimensão do sucesso não importa se de primeira, segunda ou terceira classe.

Importa o brilho que AVON vende quando bate à sua porta. Tem para classes A, B, C, D e E.

E no mais aleluia. Todo mundo cheirando igual, importante é cheirar, exalar cheiro. As rosas já não roubam mais o perfume que exala de ti. Ele não existe, é de plástico.

“A histeria puritana que castiga com regularidade as comunidades em desintegração. Ela é produzida a cada subida do individualismo econômico ou mental”. A afirmação é de Emmanuel Todd em “O louco e o proletário – Filosofia psiquiátrica da História –”. Nada a ver com esquerda. Max Webber já havia detectado uma relação entre o puritanismo e o capitalismo. Bem diferente na essência do ponto a que Todd pretendeu chegar. Webber diagnosticou a hipocrisia em linguagem filosófica.

Temos uma ADHT – Associação de Defesa dos Heterossexuais contra quaisquer tipos de discriminação –. É ligada a uma central internacional e a brasileira trabalha em comum acordo com a SAFERNET (não sei o que é isso).

Na opinião do pastor M. Vieira, o jogador Robinho ao referir-se a uma instituição umbandista e impedir jogadores do seu clube, o Santos, de lá entrarem para visitar os internos, como “casa de macumba”, estava manifestando sua preocupação – “que é a mesma de toda comunidade evangélica que muitas vezes teve de ajudar pessoas que praticam esta religião, que agora se tornou cultura, segundo o último decreto presidencial, apresenta problemas em vários pontos do Brasil e até hoje continua ocorrendo na África, em muitos países. Com certeza o conhecimento bíblico que Robinho já deve possuir, ele acabou por orientar biblicamente seus companheiros. Ele não obrigou ninguém por isso, não deve ser discriminado pela orientação trazida aos companheiros baseada na Bíblia Sagrada seu livro de regra e prática”.

A bíblia não foi o livro de regra e prática de Robinho quando deu o golpe da contusão no Manchester City forçando sua vinda para o Santos, causando um prejuízo de milhões de euros ao clube europeu. Muito menos quando exigiu seu milionário salário rigorosamente em dia, ou quando tripudiou sobre o técnico Vanderley Luxemburgo ao final do campeonato paulista. No caso do salário o atraso foi de dois ou três dias e todos os outros jogadores entraram em campo para jogar, ele não. Deve ser conhecimento bíblico.

Vai ver tem duas bíblias.

Agora o que a defesa dos heterossexuais tem a ver com isso, não consigo entender. Isso porque segundo o pastor presidente da entidade, ao criticar Robinho em artigo anterior – chamei-o de “bocó – e fiz críticas a Edir Macedo, pilantra mor do “negócio” de seitas (em O PODEROSO CHEFÃO, o primeiro, um dos filhos de Don Corleone afirma que vai para Las Vegas aprender o “negócio” dos jogos).

Pena que os africanos sacrificados por religiões que não a “verdade absoluta do neopentecostalismo” não saiam de seus templos, ou lugares de culto carregando sacos de dinheiro.

Você pode comprar uma bela mansão no céu, ou um casebre, depende da doação.

Para a associação, a tal de defesa dos heterossexuais, Robinho foi exposto a “ira pública com o artigo”.

Fé não se discute, é um direito consagrado na Constituição, é questão de foro íntimo. Fé se respeita e pronto. Ações criminosas, ou preconceituosas partidas de seitas, religiões, de quem quer que seja, contra pessoas, ou religiões, essas sim, são discutíveis.

Do contrário não teríamos como apurar pastores envolvidos em lavagem de dinheiro, padres em crimes de pedofilia e vai por aí afora.

O papel cumprido pelas seitas neopentecostais no País é fácil de ser entendido, provado, comprovado. Henry Praval, em O MERCADO DA ANGÚSTIA, afirma que “a angústia é a eterna mola da ação. Há, porém, falhas no funcionamento do sistema: a eliminação da angústia exclui o indivíduo da comunidade social ou transforma-o em uma espécie de mamífero em desuso”.

Quando do término do campeonato carioca de futebol o goleiro Jeferson do Botafogo, figura simples, excelente goleiro, homem de caráter, estava dando uma entrevista a uma emissora de tevê e por trás chega um cidadão que lhe coloca na testa uma faixa – “Jesus ama você” – A FIFA – FEDERATION INTERNATIONAL FOOTBALLL ASSOCIACION – proibiu esse tipo de manifestação exatamente para não discriminar nenhuma religião e, ao mesmo tempo, evitar a transformação do um esporte num confronto religioso.

Há jogadores que admitem que recebem um pró-labore para isso. Para veicular essa propaganda.


O que me vem à cabeça diante das “ponderações” da sociedade de defesa dos heterossexuais é outra citação de Praval – “seu orgasmo é conosco”, ou “minha função é criar seu orgasmo”. E mais – “afinal os bancos são mais honestos quando dizem seu ‘dinheiro nos interessa’”.

Praval não é alguém que tenha pensado, em 1979, que os verdadeiros profissionais da angústia transformada em instrumento de dominação e alienação sejam os porta-vozes divinos. Aqueles que se salvam de um naufrágio em alto mar, nadam, nadam, enfrentam e vencem monstruosos tubarões brancos, são engolidos pela baleia que engoliu Jonas e chegam a uma praia deserta com a missão de salvar os impuros, desde que o dízimo seja pago em dia e proporcione burras de dinheiro.

Ou tome a forma de “pode mais” no plim plim da GLOBO, ou da RECORDE, tanto faz que seja a BANDEIRANTES, o que as difere é só a aparência, buscam o que Lasalle disse – “o povo não sabe o quanto está doente; nós lhes mostraremos”.

Fé, como disse no início, não se discute, tampouco se contesta, acrescento agora. É questão de foro íntimo. Edir Macedo e sua troupe, ou Bento XVI e sua suástica, isso é outra história. Tem nada a ver com fé, tem a ver com “negócios”.

As igrejas/seitas neopentecostais chegaram à América Latina pelo Chile e pelas mãos da Aliança para o Progresso, programa criado no governo de John Kennedy para diminuir o impacto da revolução cubana sobre os povos latino-americanos. A perspectiva de uma epidemia de revoluções ou governos independentes de Washington, digamos assim.

O programa era basicamente constituído de 10% de alimentos e 90% de propaganda que em 1962 se estendeu, por exemplo, ao IBAD – INSTITUTO BRASILEIRO DE AÇÃO DEMOCRÁTICA -, eufemismo para financiar grupos de direita e acabaram resultando no golpe militar de 1964, posto que a perspectiva de desgarrada do Brasil era concreta. Para os norte-americanos e as elites econômicas do País não interessavam nem o risco de Brizola vir a ser eleito presidente, ou JK voltar. Lacerda era o ideal para as políticas de preservação da América Latina diante dos movimentos populares inspirados na revolução de Fidel.

Os primeiros pastores eram norte-americanos e uma das tarefas foi a de criar e organizar um quadro de pastores brasileiros, como pastores chilenos, bolivianos, etc. O “negócio” era e é extremamente lucrativo. A própria revista VEJA, quando da prisão do casal que dirige a Igreja Renascer nos EUA, trouxe a público o diário da bispa me esqueço o nome. Queria uma cama de tal marca, um vestido de tal etiqueta, vai contando ali o progresso da “fé”, gerado pelos fiéis. Os incautos.

O avanço sobre as religiões afro ocorreu a partir de um determinado momento e na percepção que a população negra do Brasil se voltava para essas religiões, tanto quanto a chamada população excluída de um modo geral.

Era necessário minar essa força, dominar esse segmento da população. Há um vídeo recente em que um bispo do grupo de Macedo orienta seus pastores a como fazer acordos com os traficantes nas favelas, evitando problemas para um lado e outro. Coexistência pacífica e em alguns casos conversão com pagamento de dízimo oriundo da venda de drogas e toda a extensão dessa prática criminosa.

A primeira manifestação visível aconteceu no Rio de Janeiro. Milhares de evangélicos, numa ação conduzida por pastores, ocuparam a praia de Copacabana num dia 31 de dezembro, pela manhã, eliminando espaços para a prática das religiões afro (entre nós Umbanda e Candomblé). Um princípio de tumulto foi controlado com bom senso das autoridades. Umbandistas e adeptos do Candomblé tiveram espaços garantidos para suas orações, ritos, práticas, etc.

A partir daí a ofensiva no Estado do Rio principalmente acabou transformando Anthony Garotinho e depois sua mulher Rosinha Garotinho em governadores (corrupção generalizada), como fez de um sobrinho de Macedo, o bispo Crivela, senador.

E se espraia por todo o País na chamada bancada evangélica. Em muitos casos a ação contra cultos e religiões afro chegam às raias da violência como aconteceu recentemente no mesmo Rio contra um Terreiro de Umbanda.

Há uma cumplicidade tácita da Igreja Católica nesse tipo de fenômeno social. Ao perceber a perda de fiéis diante da mudança de orientação de Roma desde a ascensão de João Paulo II (ligado aos norte-americanos, como o atual papa), resolveram responder com padres/pastores, digamos assim, caso de Marcelo Rossi, Fábio Mello e outros. Chamaram o movimento de Renovação Carismática. O neopentecostalismo chegou a Roma.

Na prática disputa do mercado da fé.

Todo esse contexto, quer queiramos ou não, nos remete a Débort e sua obra maior “A sociedade do espetáculo”. Insere-se aí. O espetáculo travestido de hipocrisia e falso moralismo. Nessa perspectiva se completam GLOBO e RECORDE, por exemplo, como instrumentos do mais importante canal de alienação, A comunicação. Os meios de comunicação, os veículos de comunicação.

“A raiz do espetáculo está no terreno da economia que se tornou abundante e daí vêm os frutos que tendem afinal a dominar o mercado espetacular”. E a pergunta – “como fazer para que os pobres trabalhem quando a ilusão é desenganada e a força se desagrega?”

É simples entender isso, porque Robinho é um bocó e o papel que cumpre a sociedade de defesa dos heterossexuais.

“É sem duvida o nosso tempo... Prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser... Ele considera que a ilusão é sagrada e a verdade é profana. E mais, a seus olhos o sagrado aumenta à medida que a verdade decresce e a ilusão cresce, a tal ponto que, para ele, o cúmulo da ilusão fica sendo o cúmulo do sagrado”. Prefácio da segunda edição de “A ESSÊNCIA DO CRISTIANISMO” de Feuerbach.

Um sistema econômico fundado no isolamento. “Do automóvel à televisão, todos os bens selecionados pelo sistema espetacular são também suas armas para o reforço constante das condições de isolamento das multidões solitárias”.

No mais, Saravá, meu Pai; a bênção, meus Pretos Velhos.

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Laerte Braga é jornalista. Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz

Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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PressAA

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