Lou Micaldas
Mulheres avançadas, independentes, livres... Livres? Independentes? É difícil encontrar mães independentes, livres. Consultei o Mestre Aurélio:
Independência quer dizer autonomia, dona absoluta de seus atos!
Livre significa não estar sujeita a algum senhor, ter o poder de decidir e de agir por si mesma, de estar desobrigada, isenta de dívida ou encargo.
A independência e a liberdade que as mães deveriam festejar no dia das mães, quando já têm seus filhos criados, é um sonho, é um estado de espírito, muito difíceis de alcançar. Vamos sair dessa de "padecer no paraíso" que isso não faz bem pra ninguém e vamos optar pela festa, pela alegria de ser Mãe!
Cabe a nós mudarmos aquele almoço cansativo em que a Mãe promove a festa e sai exaurida, segurando as tensões, as pretensões, as brigas dos casais, dos netos, as disputas pelas atenções, o leite derramado... Antes, peço licença pra prometer que no "Dia dos Filhos", (deviam inventar esse dia! Tem filho que sofre!) vou escrever um artigo pra vocês! (Também recebo muitas queixas de filhos cujas mães são egoístas, ciumentas, verdadeiras malas pesadas e sem alça...)
Mas voltemos ao "Dia das Mães!". Analisemos algumas queixas de "Mães-sofredoras" a respeito de filhos, que eu gostaria que fossem a minoria: Eles são implacáveis na arte de fazer, falar e de cobrar das mães submissas: "Meus filhos/as são verdadeiros sanguessugas." "Como são tiranos/as!" "Agora sou eu que devo obediência?"
A nossa geração de mulheres foi habituada, desde que nascemos, a obedecer e a seguir determinados padrões e expectativas dos nossos pais, vizinhos e, mais tarde, dos sogros, cunhados, genros e, por fim, dos nossos filhos/as. Este tempo já passou! Já vencemos muitos preconceitos, já transgredimos muitos dogmas e conquistamos novas leis! Somos uma nova geração de mães e avós. A liberdade que conquistamos vamos entregar assim, covardemente, nas mãos dos nossos amados filhos ditadores? Que o Dia das Mães deixe de ser o dia da choradeira, da purgação coletiva. Muitas famílias se reúnem e acabam se torturando. Cultivam consciente ou inconscientemente sentimentos de culpa, ou de autopiedade.
Trocam presentes, mas também ressentimentos. Alguns filhos aproveitam a ocasião pra misturar manifestações de gratidão eterna e ao mesmo tempo profunda carência. Querem mais, muito mais! E dão um jeitinho de pedir um dinheirinho, porque o presente foi caro. Outros mais sutis, apenas reclamam que estão duros...
O que é isso? É chantagem, cobrança! O que eles querem? Mães perfeitas? Santas e cheias de grana? Disponíveis o tempo todo pra servi-los? Somos mães! Não somos empregadas! As mães - o que querem essas mães submissas, sempre prontas a dizer sim? Pretendem pagar os supostos pecados cometidos? Absolvição por tudo que não conseguiram ser, pelo que não puderam dar? Quanto mais vocês se mostram devedoras, mais serão cobradas! Pensando em sanar os erros, continuam cometendo o erro da submissão que tanto dano causa aos filhos. E os filhos tiranos? Reclamam, cobram, mesmo depois de adultos e até casados, descasados, ficantes ou recasados. Eles dominam, reprimem e muitos ainda assumem o controle das pensões que elas têm direito. São as mães que precisam pedir dinheiro pra suas despesas.
E só será concedido depois de passar por um severo julgamento se ela conseguir explicar tim, tim, por tim, tim... onde vai gastar. "Mamãe está velha, não precisa dessas futilidades de cabeleireiros, cremes e sapatos novos," decretam sem entender que os velhos, não se sentem velhos e que perdem a auto-estima quando são tratados assim. O "Dia das Mães" se "comemora", em muitos lares, com sentimentalismo produzido pela mídia, pelo comércio esganado e sedento de lucro. Tornou-se uma tradição cultivar nessa data o masoquismo coletivo, que é o prazer que se abastece no próprio sofrimento. A festa do Dia das Mães só é bonita quando afogada em lágrimas de gratidão, de arrependimento, de saudade? Dói no coração de todos que entram nesta jogada! Vamos mudar esse jogo? Então, vamos combinar o seguinte: Chega de choradeira! Nós não devemos nada aos nossos filhos. Eles também não têm que nos prestar contas! Fomos - mães e filhos - o que conseguimos ser! Demos o que nos foi possível dar em todos os sentidos.
Mães! O passado já se foi. Não se pode trazê-lo de volta: botar os filhos dentro do útero e recomeçar tudo do início, com a sabedoria e a paciência que adquirimos na maturidade. Os erros que cometemos na maneira de educar foram causados por ignorância. Ninguém aprendeu na escola as fórmulas certas pra conduzir um filho. Se você se sente culpada, escolha um outro dia pra abrir o coração. Peça desculpas. É humano errar. É divino saber pedir perdão. Depois dessa conversa franca e amorosa em que se colocaram os pingos nos iiisss, dê um ponto final nesse assunto. Não basta ser perdoada.
Perdoe-se! Também não se pode mudar os avós, nem os irmãos deles e nem o pai. A tal da genética não fomos nós que botamos no mundo (isso já é outra complicação). Já vi muito filho adolescente reclamando de certos defeitos e semelhanças familiares. Tratem de olhar para o presente e para o futuro. O presente é agora. Procure vivê-lo da melhor forma possível. A oportunidade pode não voltar. O futuro é daqui a alguns segundos e cada qual que trate do seu. Filhos! Larguem das saias de suas mães e tratem de ir à luta! Se as mães não são responsáveis pelos seus sucessos, também não são culpadas pelos seus desacertos.
É muito confortável jogar a culpa em cima dos outros. Mas ninguém chega ao sucesso na base do conforto, começando lá do topo. Não transfiram as suas responsabilidades. Assumam o controle de suas vidas! Vão ralar, suar a roupa pra chegar aqui onde nós chegamos e, se possível, mais acima, pelo seu esforço. Vou contar pra vocês o que todas nós, mães, queremos! Queremos que vocês sejam felizes. Que cresçam e apareçam pra dar e receber afeto, pra festejar as suas vitórias! Queremos a nossa liberdade pra curtir a vida! Porque já cumprimos a nossa missão!
Vocês curtem a liberdade? Nós também! "Viver e deixar viver!" Este é o título do livro que minha mãe começou a escrever e me pediu pra continuar. Este foi o ensinamento que ela me deu e acredito ter aprendido. Venho tentando aplicá-lo. Reconheço que tenho tido umas recaídas... Num dia, que não era o das mães, já pedi a compreensão das minhas filhas pelos erros que reconheço ter cometido, pelos que venha cometer e, de lambuja, ainda incluí os que nem sei se foram erros! Já purguei todos eles. Já pedi desculpas e já me anistiei. Pecar por ignorância deixa de ser pecado. Não carrego culpas.
"Dia das Mães"
Que venham, minhas filhas, quando quiserem vir! Elas serão muito bem-vindas a hora que quiserem, no dia que puderem! Pra isso temos nossas agendas e intimidade pra combinarmos nossos encontros! Sinto-me livre, leve e solta. Como é bom me sentir assim! É tudo que desejo a vocês, mães!
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*Lou Micaldas é professora, formada pelo Instituto de Educação, e jornalista, criada e formada no Jornal do Brasil; administra o site Velhos Amigos (http://www.velhosamigos.com.br/) e colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz
Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons
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PressAA
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