Khaled Amayreh (dos Territórios Palestinos Ocupados), Al-Ahram, ed. n. 990, Egito
Confrontos esporádicos, mas violentos, entre jovens palestinos armados de estilingues e pedras e soldados israelenses vestidos para combate continuam em todos os territórios ocupados pelo quarto dia consecutivo, depois da abertura de uma grande sinagoga próxima da mesquita do complexo chamado Nobre Santuário [Haram Al-Sharif], que abriga alguns dos sítios mais sagrados do Islã.
Fontes médicas palestinas dizem que houve mais de 100 palestinos feridos na terça e na quarta-feira, em confrontos descritos como os mais violentos em vários anos. Há cerca de 50 feridos por balas revestidas de borracha, sete dos quais com ferimentos de moderados a graves nos olhos. Um manifestante, Rami Othman Abu Gharbiya, segundo relatos de testemunhas, teria perdido um olho. Duas pessoas – um jornalista estrangeiro e um palestino – receberam ferimentos à bala.
Pelo meio dia da terça-feira, os conflitos espalhavam-se por vários quarteirões de Jerusalém Leste e arredores, incluindo Shufat, Wadi Al-Joz, Isawiya, Sur Baher, Abu Dis e Silwan, depois que Israel mobilizou mais de 4.000 policiais paramilitares para “impor a lei e a ordem” na cidade árabe ocupada.
Em várias cidades da Cisjordânia, como em Hebron e Ramallah, também houve confrontos entre jovens locais, armados com estilingues e pedras, e soldados israelenses que responderam com tiros com balas revestidas de borracha, com munição real e granadas de gás lacrimogêneo e outras bombas de efeito moral. Na Faixa de Gaza, milhares de manifestantes ocuparam as ruas em protesto contra as medidas tomadas por Israel em Jerusalém Leste.
Ismail Haniyeh, do Hamás, primeiro-ministro do governo palestino em Gaza, saudou os manifestantes, dizendo que os palestinos têm de mostrar que não se calarão ante “essas provocações de Israel”.
Há duas semanas, Haniyeh conclamou os palestinos a uma terceira Intifada – “levante” – em resposta à “guerra demográfica” que, nas palavras do primeiro-ministro, Israel declarou contra os palestinos em Jerusalém. Líderes do Fatah também conclamaram os palestinos a “dar uma resposta popular palestina” aos esforços de Israel para “expulsar os árabes e islâmicos de Jerusalém”. Hatem Abdel-Qader, ex-ministro do governo do Fatah e cidadão de Jerusalém Leste, acusou as autoridades de Ramallah de colaborar com Israel, ao proibir protestos anti-Israel.
Imediatamente depois, Abdel-Qader denunciou que teria recebido dura reprimenda da Autoridade Palestina, com ordens para que não continuasse a criticar a Autoridade Palestina e sua atuação nos recentes tumultos.
No momento do fechamento dessa edição de Al-Ahram Weekly, chegavam informações sobre confrontos em Hebron, Nablus e Ramallah, onde a tensão continua extremamente elevada, apesar dos esforços da Autoridade Palestina para restaurar a calma, preocupada com evitar “que as coisas escapem ao nosso controle”. Autoridades do governo da Autoridade Palestina acusaram o Hamás – que, para aquelas fontes, seria responsável pela agitação atual. Para a AP, uma intifada violenta, nesse momento, não serviria aos interesses do povo palestino.
Yasser Abed Rabbo disse que os vários grupos palestinos reunir-se-ão essa semana para decidir sobre como responder a “essa inadmissível insolência dos israelenses”. “Apoiamos integralmente protestos sem armas letais e bem organizados, mas temos de evitar que haja novo massacre de palestinos.”
A Autoridade Palestina aprofunda-se cada vez mais da difícil posição de ter de reprimir os protestos – compromisso que assumiu com Israel, de implementar regras rígidas de segurança nos territórios ocupados. E quanto mais reprime, mais a AP aparece aos olhos do governo e população de Ramallah como governo-tampão, a mando de Israel.
Pouco antes, a liderança do Hamás em Damasco orientou os palestinos a declarar “um dia de fúria” para protestar contra os esforços de Israel para judeicizar Jerusalém Leste e apagar da cidade sua identidade árabe-muçulmana. Khaled Meshaal acusou Israel de estar usando “um falso processo de paz” para acobertar “a política de judeicização de Jerusalém”. Meshaal e outros líderes islâmicos criticaram duramente o governo da Autoridade Palestina apoiado pelo Ocidente, por reprimir com violência os protestos dos palestinos. (...)
Já há vários meses, judeus fanáticos apoiados pelo governo de Israel tem pregado a demolição da Mesquita Al-Aqsa, em repetidas manifestações na esplanada do complexo Haram Al-Sharif, contando com, assim, “ganhar espaço” para “a prática de seus ritos religiosos”. As repetidas provocações praticamente todos os dias levam a confrontos entre a polícia israelense e manifestantes palestinos.
O próprio governo de Israel também tem provocado os palestinos com repetidas ameaças de novas demolições de milhares de casas de palestinos em Jerusalém Leste, que Israel ocupou em 1967, para ali construir novos conjuntos habitacionais exclusivos para judeus. Semana passada, o governo de Israel anunciou planos para construir 1.600 novas unidades exclusivas para judeus – o que criou uma (até agora) mini-crise com Washington que exigiu que Israel anunciasse o cancelamento daquele projeto. Parte significativa da comunidade internacional, inclusive a União Europeia e os EUA, tem exigido que Israel suspenda as construções nos territórios árabes ocupados, inclusive em Jerusalém Leste, até agora sem qualquer resultado. (...)
O artigo original, em inglês, pode ser lido em:
https://sites.google.com/site/weeklyahramorgegissue990/region/intifada-engulfs-jerusalem
Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons
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PressAA
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