quarta-feira, 31 de março de 2010

MANIFESTO DE DESAGRAVO E APOIO AOS ÚLTIMOS DOS TUCANOS!

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Raul Longo

Não li a entrevista de uma dessas revistas semanais, mas fiquei chocado com o destaque da abertura, reproduzindo o trecho onde Tasso Jereissati simplesmente acusa a militância tucana de leviana.

Gente! Não tenho nada a ver com isso, mas fosse eu tucano virava papagaio e mandava o homem pra’quele lugar!

“O quê??? Eu sou eu e ouricuri é coco!” – afirmaria indignado com o cearense e iria procurar melhor partido para apoiar. Sei lá, qualquer um. Até o PRONA, em memória do Enéas, é melhor do que ser chamado de brocha, mija-pra-trás, covardão, mariquinhas e tudo o que está tácito na acusação do Tasso contra a militância de seu partido, afirmando terem desanimado por um mero atraso do Serra em anunciar a candidatura.

Oras! Isso de lentidão no Serra é assunto crasso. Vejam que só depois da dengue se reinstaurar epidemicamente no litoral de São Paulo neste verão, é que o governador correu atrás dos remédios para a moléstia (se é que já correu) esgotados nos postos de saúde daqueles municípios. A catástrofe de São Luís do Paraitinga já fora anunciada pela prefeita do município, do mesmo PSDB, uns dois anos antes, e só atraiu o interesse do Serra depois de tudo derruído. E agora, segundo informações, começou a pensar em que fazer para resolver os problemas de enchente na capital, para a próxima temporada de chuvas.

Como vai se licenciar para a campanha à presidência, melhor é cada um ir comprando seu barquinho e tirando brevê de arrais na mais próxima capitania de portos.

Já tem até quem explique os resultados da última pesquisa do DataFolha como uma manobra do Instituto(?) para eleger o Serra antecipadamente, na esperança de que se anime e deixe de ser apenas o governador da Ponte, numa referência à Água Espraiada, considerada a única maquete realizada em sua gestão, apesar de tantas outras maquetes inauguradas semanalmente.

Tudo bem, cada qual de acordo com seu biorritmo próprio, mas incriminar os 4% de eleitores nacionais que apóiam a candidatura que restou ao PSDB para a presidência, dizendo que a militância perdeu o pique só porque o Serra atrasou mais uma vez, é demais! É muita ofensa pra pouco tucano!

A gente sabe que na verdade nunca existiu uma real militância tucana. Se o bico da ave faz pensar em aberração da natureza, militância naquele partido é total incongruência, pois desde seu princípio tudo o que houve foi uma espécie de torcida. Uns torcendo para que caísse pro lado de cá, outros torcendo para que caísse do lado de lá do muro. Daí, primeiro morreu o Montoro, depois morreu o Covas. Fernando Henrique adonou-se e se juntou com o então PFL, ex-ARENA, ex-UDN e atual DEM. Quando se foi ver o bichinho não caiu nem pra lá nem pra cá, e só então é que se deu conta de que o partido não era propriamente o tucano em cima do muro, mas, sim, o próprio muro que emparedou o país por longos 8 anos.

Assim se chegou a conclusão de que o que se convencionou como militância tucana, nada mais era do que um grupo remanescente dos militantes do Collor, nos segundos turnos acrescido daqueles que votavam no Maluf ou Enéas, mas jamais votariam em operário cabeça chata.

Então o que temos desde então em termos de militância política no Brasil, são os lulistas e os antilulistas. Antes disso, a última militância que existiu foi a do Collor de Melo, embora nem bem do Collor propriamente, porque em realidade ninguém sabia quem era ou seria Collor. Segundo recentes declarações do próprio ex-presidente, o Roberto Marinho fez tudo tão rápido que nem ele próprio tinha noção de quem fosse. Do que se conclui que, em verdade, a militância era do Caçador de Marajás, criado pelo marketing da Globo.

Mas foi uma militância retada! Cheguei a ouvir um dizer que não deixariam Collor governar, pois a elite o acabaria matando.

Mataram mesmo! Mas não foi a elite e, sim, seus próprios militantes que depois de regurgitarem o produto Marinho estragado, tendo de mudar de prato, se viram na contingência de ir pra algum lado. Só não podiam de repente se destituir de tudo o que tinham condicionado contra o operário cabeça chata, e daí é que acabaram bater palmas pro primeiro tocador de bumbo, prato e corneta, se posando de sinfônica. No começo até que a barafunda instrumental agradou, apesar do desempenho pífio de contenção de inflação a custa de hiperdesvalorização da moeda. Mas já no segundo ato a maquilagem se derreteu ao calor dos holofotes e do Real se foi cair dolorosamente na real. Não houve sequer tempo para um pano rápido que escondesse a volta da inflação, por mais que a Regina Duarte tentasse entreter a plateia numa interpretação de Madona Medrosa em ataque de “paura fanoventa”, culpando Lula pelo desacerto do plano do FHC.

Acabou-se aquele encanto que paralisa os brasileiros quando não conseguem entender patavina do que dizem seus efêmeros ídolos, tão bem explorado por alguns poetas que fizeram moda à sua época e ironizado pelo Ariano Suassuna no “Romance da Pedra do Reino”. Assim mesmo, e ainda que não conseguindo entender sequer o turista argentino, a classe média brasileira se manteve firme na adoração aos que falam todos os idiomas que ela só consegue decifrar a meio, pela legenda na parte debaixo da tela. Embora nem mesmo a dublagem tenha impedido o naufrágio do Tucanic, essa classe média manteve-se firme e, como últimos a abandonar o navio, insistiam em que os sucessos dos novos caminhos empreendidos pelo recém assumido almirante, se devia às ancoras e amarras lançadas pelo anterior, ainda que por elas a embarcação tenha adernado e ido a pique, num repeteco de proporções continentais ao trailer da plataforma petrolífera.

Essa classe média, que compôs os mesmos colloristas, militaristas, malufistas, lacerdistas, janistas e ademaristas do passado, manteve-se como renhidos antilulistas, ainda que nunca tenham sido propriamente cardosistas. Não existiu um cardosismo. O que de mais próximo foi o “carlismo” do ACM na Bahia, mas depois de passada a ameaça do coronel em vida, não se conseguiu levar o neto sequer pro segundo turno à prefeitura da capital do estado. Depois do fracasso do Caçador de Marajás, tudo o que restou, repito, foram os antilulistas e os lulistas. Tanto que foi preciso a mídia inventar uma tal “era FHC”, para estimular aqueles que votaram em FHC por puro antilulismo.

Não deu muito certo, porque mesmo alguns antilulistas começaram a perceber que se a “era FHC” fora aquela em que o país triplicou a dívida externa, o desemprego, a estagnação, etc.; na “era pós-FHC” a história é inversa e muito mais interessante para o país. Talvez por essa razão, aqueles mesmos criadores da “era FHC”, passaram a acusar Lula de se querer como o inventor do Brasil. Mas quem inventou um Brasil antes do Lula foram eles mesmos. E muitos antilulistas notaram mais essa mancada.

Daí criaram o “mensalão”, com grande esforço de produção da mídia. Só que foi esforço demais e ainda que o grosso da militância antilulista reunisse forças em todos aqueles casuísmos e factoides, aderindo alguns discursos éticos à retórica vazia dos preconceitos sociais e regionais; houve uma parte considerável que começou a desconfiar da repetição do enredo da sempre mesma interminável novela a arrumar um Bancoop a cada nova campanha, desde a mansão do Morumbi – tão fantasmagórica que até hoje ninguém a encontrou –; até os bois voadores da fazenda que o Prata Cunha nunca pensou em vender, mas a fértil imaginação dos antilulistas insiste em transferir para o filho do Lula.

Acontece que sem um Garcia Marquês para dar alguma possibilidade de realismo a estas histórias, muitos se enjoaram de tanto fantástico. Acabaram trocando a ficção pelo naturalismo da rotina de aumento de poder de consumo, diminuição da pobreza, melhoria de condições de vida, mais oportunidades e outras “invenções” da era pós-FHC. Mas ainda resiste bravamente o antilulismo romântico. Garbosos e aguerridos que de capa e espada, montados nos Rocinantes da mídia, investem furiosamente contra os moinhos que esfarelam o saudoso medievalismo social de um passado ainda recente.

Mas os esplendores do onirismo romântico dos antilulistas ainda continua cheio de rompantes e xingamentos aos operários cabeça chata. Se o sujeito não pode consegue manter uma adega de raridades ou o médico lhe proibiu o álcool, é só chamar o Lula de bêbado. Se a dona se cansa de ter de bancar a madame, é só mandar o Lula fazer aquilo que gostaria, mas ninguém demonstra interesse. Se não há lipoaspiração que dê jeito, é só trabalhar uma foto da Dona Marisa no photoshop. Se não dá mais para ficar rico na vagabundagem, ao menos podem acusar a Lorian de vagabunda. E tudo isso com o respaldo sutil da mídia a inventar notícias que, enquanto não desmentidas, ao menos resgatam a combalida autoestima antilulista.

Combalida pelo reconhecimento ao estadista global, pela ascensão do Brasil à liderança internacional, pela conquista da confiabilidade de investidores, estrangeiros, pelos sucessivos recordes em exportação, pela superação da crise mundial e tantos outros fatores dos quais os remanescentes da militância antilulista não podem ser responsabilizados, pois fazem o que lhes é possível e não tem sentido o Tasso Jereissati, só porque é o presidente do PSDB, a essa altura do campeonato chamar todo mundo de cagão! De frouxo!

Que é que é isso?Que culpa tem a militância se contrataram o instituto de pesquisa errado? Pesquisassem melhor antes de contratar qualquer um para fazer uma pesquisa que diz e se desdiz ao mesmo tempo. Pra acreditar nesse tipo de ficção, mais do que romântico há de ser surrealista. Assim não há antilulista que consiga articular argumentos para justificar tamanho absurdo! Se não se acertaram com o Garcia Marquês, agora que chamem o Franz Kafka, pois só ele pode entender como é que o candidato ganhou, se o presidente do partido acaba de dizer que os eleitores estão desanimados e não acreditam mais na candidatura?

Tenham lá suas veleidades literárias, mas realidade é realidade e ficção é ficção. É bom pararem de misturar as coisas.

Como é que é isso? Misturam tudo, se contradizem, se desmentem, e ainda põem a culpa na militância! Um partido não pode destituir e desprezar a sua militância, como faz o Tasso Jereissati. Ainda mais, sendo uma militância emprestada!

O que o senhor Tasso Jereissati precisa perceber, é que não está nada fácil ser um militante antilulista nesta era pós-FHC. Tá não, seu Tasso!

E não é apenas por ter de remar contra a maré de 76% do eleitorado que considera o governo Lula ótimo ou bom e os 20% que o consideram satisfatório. Pior do que essa situação aferida aí pela pesquisa mal pesquisada, é a de negar o inegável. O fazer de conta que não se enxerga a realidade de fatos que semanalmente repercutem por toda a vizinhança e no mundo, ainda que a mídia brasileira omita.Omite aqui, mas sai ali e acaba chegando por internet, TV a cabo, satélite, twiter, o escambau! Além da parafernália eletrônica, hoje só é desinformado quem quer se informar errado, porque além das ilações e invenções de Folhas e Estados de São Paulo, Globos e Vejas, tem Le Monde, Pravda, BBC. Tudo em português escorreito.

E, afora tudo isso, como é que se vai convencer o vizinho de que está tudo uma merda se o cara que esteve na merda durante todo o governo tucano, hoje compra casa, carro, viaja, come melhor, troca de móveis, o filho consegue entrar na universidade, se veste melhor e tudo o mais que está aí visível dentro do metrô, na rua, no dia a dia?

Com essa realidade batendo na cara de cada um a cada dia, como é que o tanso Jereissati vem dizer que a festa acabou porque os convidados cansaram de esperar a noiva?

Isso é desculpa que se arrume? Justo quando o DataFolha desenrola o tapete vermelho para a entrada triunfal da donzela! Tapete de papel crepom, é verdade, mas o senador que inventasse outra desculpa! Teria sido melhor e menos chocante dizer que a moça está grávida e arrebentou a bolsa, do que sair tascando bolo na cara dos convidados, antecipando o que ainda poderá vir a ser uma tragédia para o país, em comédia pastelão. Mau gosto e falta de respeito. Só faltam “cantar parabéns a você” em velório!

Ou seja, além de contratarem a pesquisa errada, não combinam direito o enredo e, quando tudo sai do script, culpam os convidados pela falência de um casamento que sequer aconteceu!

Chegou quando aí, Senador?

Não... Eu pergunto porque embora não tenha nada a ver com isso e nem faço parte da família, como militante posso imaginar o vexame, a vergonha desses colegas do time contrário. Isso dói!

A torcida ali, fiel ainda que reduzida, alimentando nova esperança de virar o jogo no segundo tempo. Os coitados de olho na boca do vestiário para ver os jogadores entrando com nova garra, novo ânimo e o que aparece é o capitão do time pra vaiar aqueles últimos torcedores, xingando todo mundo de vendido e vira-casaca!

Brochante!

Repito: se tucano fosse, depois dessa iria votar no Ciro, na Marina, no Cacareco, em qualquer um, mas jamais num tucano. Nem para suplente de vereador! Se alguém mantêm alguma condição dos tucanos concorrerem à qualquer coisa nesse país, são os antilulistas! O dia em que não houver antilulista, o PSDB pode fechar as portas. Aí vêm o dono da casa e como se fosse o último dos tucanos, apaga a luz e diz que tudo deu errado por falta de paciência do eleitorado! Mas que eleitorado é esse? Aumentou 9 pontos de quê? Eleitor que desanima não aumenta coisa alguma, só diminui. De que jeito pode aumentar o índice de pesquisa de quem depende de data lançamento de candidatura, para manter o eleitorado? Dá pra imaginar um lulista pressionando a Dilma: “- Ou anuncia a candidatura até março, ou escolho outro presidente!”? É mole?Tem alguma coisa furada aí. Ou a desculpa do presidente do PSDB ou o papo da pesquisa do DataFolha.

Ou não dá pra ninguém se fiar no Instituto, ou o antilulista não tem como confiar a presidência do Brasil ao candidato de um partido presidido por quem não tem noção do que sai falando em revista de circulação nacional.
E se alguém tem de ser punido por tanta contradição, que seja o Instituto, o presidente do partido ou o candidato. Não a militância!

Claro que o Tasso não deveria nem poderia ter dito que o esvaziamento da militância antilulista, se deve ao fracasso de seu partido enquanto ocupou a executivo federal ou dos estados e municípios que governam. Claro que não deveria nem poderia ter reconhecido nos sucessos do atual governo, a principal razão da permanente ascensão de Dilma Roussef nas pesquisas verdadeiras e bem realizadas. Mas, como presidente do partido dos tucanos, o que Jereissati jamais deveria ter feito é acusar a militância de fraca, débil, fútil.

Convoco aqui a militância lulista a se solidarizar com os rivais antilulistas, unindo-se a eles para ensinar os dirigentes do PSDB a respeitar e aprender a dar valor aos seus militantes.

Lulistas ou antilulistas somos todos militantes e não podemos deixar que destratem dessa forma os companheiros do outro lado, só porque estão do outro lado.

Abaixo o muro! Se ainda não der pra derrubar, como o de Berlim, já que o tucano voou faz tempo vamos todos mijar juntos no Tasso Jereissati e sua turminha de caras de parede, pernósticos e mal agradecidos. É o mínimo do que merecem de todos nós, lulistas ou antilulistas!



*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta, colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz
www.sambaqui.com.br/pousodapoesia
Ponta do Sambaqui, 2886
Floripa/SC

Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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