segunda-feira, 1 de março de 2010

OS DIREITOS HUMANOS TÊM MÃO DUPLA?

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Laerte Braga

Milhares de muçulmanos foram detidos em todas as partes do mundo e levados para a base norte-americana de Guantánamo, na reação do governo do então presidente Bush ao ataque às torres gêmeas do World Trade Center.

Suspeitos foram detidos sem qualquer observância aos menores princípios do direito e mantidos presos na base sem culpa formada, sem processo regular, sem direito a advogados, qualquer tipo de defesa até que, no final do governo Bush, um juiz assegurou o direito mínimo de defesa. Muitos, diante da absoluta falta de provas foram liberados anos depois com um simples pedido de desculpas.

Como disse o presidente de Cuba Raul Castro ao ser perguntado por um jornalista sobre os direitos humanos em seu país, ao lado do presidente Lula, só não existem direitos humanos ali, na área ocupada pelos norte-americanos, exatamente Guantánamo.

O presidente do Paraguai Fernando Lugo revelou há dias que uma das exigências do governo dos EUA para uma base militar no Paraguai, no governo anterior, foi a de que os militares norte-americanos tivessem imunidades diante da legislação internacional sobre direitos humanos.

As cenas de violência e boçalidade nas prisões do Iraque foram assistidas em todo o mundo e a encenação de julgar militares de baixa patente tentou mostrar um lado sadio numa nação doente, os Estados Unidos, com direito a efeitos especiais.

É recente um filme premiado em várias categorias, A IDENTIDADE BOURNE, sobre um capitão dos EUA que é atraído e apresenta-se como voluntário a um programa das agências de inteligência daquele país, que visava eliminar inimigos em qualquer parte do mundo.

O filme teve duas seqüência nas quais o agente percebe que foi usado de todas as formas possíveis, inclusive perdendo suas próprias referências, a partir do seu nome, da cidade onde nasceu, tudo para executar “missões patrióticas”.

Não é nenhuma obra prima, mas é um bom filme e exemplo da rotina dos serviços de inteligência dos EUA em qualquer lugar, na garantia da “democracia”, na observância dos “direitos humanos”.

Que direitos tiveram os afegãos mortos em bombardeios equivocados? Um bombardeio? Não, vários numa só semana.

O que a ex-secretária de Estado do governo Clinton, Madeleine Albright quis dizer quando respondeu que a morte de 500 mil crianças iraquianas por conta de um bloqueio político e econômico ao Iraque era um “preço que a democracia paga?”

O jornalista Waldo Cruz, da FOLHA DE SÃO PAULO, partícipe da ditadura militar (emprestava seus caminhões para a desova de cadáveres de presos políticos torturados no DOI/CODI de São Paulo), por pouco não levanta vôo num programa de televisão da GLOBO, em canal fechado, ao investir contra Cuba e contra o que chamou de “omissão” do presidente Lula sobre a morte de um prisioneiro que fez greve de fome em protesto contra sua condenação.

Sugiro inclusive que a rede disponibilize cintos de segurança nas cadeiras de vários entrevistados e vacina anti rábica para os casos mais graves, evitando problemas futuros. De repente um Waldo Cruz da vida levanta vôo, bate com a cabeça no teto, além do prejuízo existe ainda o risco de um traumatismo craniano e o vento que vai sair do cérebro contaminar um ou outro convidado que tenha alguma coisa na cabeça.

Quando o governo de Saddam Hussein foi deposto e um governo títere imposto ao povo iraquiano, um acordo foi assinado com os EUA, que excluía os norte-americanos de qualquer responsabilidade perante tribunais internacionais em caso de violações de direitos humanos ou crimes comuns. Seriam julgados mesmo que o crime fosse de furto, por exemplo, pela justiça militar norte-americana. Milhares de estupros de cidadãs iraquianas ficaram encobertos nessa cortina cínica do império que era de Bush e agora é gerido pelo cervejeiro Barack Obama.

Isso se aplica aos militares norte-americanos na Colômbia, no Afeganistão, em Honduras, nas mais de 300 bases espalhadas pelo mundo inteiro, inclusive na Europa.

É recente a ação de agentes do MOSSAD em falsificação de passaportes para entrar em Dubai e assassinar um líder do Hamas. Pressionados, os governos da Grã Bretanha, da Alemanha e outros não tiveram como negar o fato. É prática comum do governo terrorista de Israel.

Dia desses o JORNAL NACIONAL mostrou as imagens de uma cidadã palestina sendo revistada num posto de controle em território palestino ocupado por Israel, e William Bonner, com sua costumeira e prodigiosa capacidade de mentir sem piscar, é um robô, disse que a senhora havia investido com uma faca contra soldados de Israel. Não mostrou que os soldados de Israel, na revista, tinham apalpado os seios da cidadã palestina e apertado suas nádegas.

Como no golpe contra Chávez em 2002 que a tevê privada da Venezuela mostrou chavistas “atirando” contra “civis indefesos” e quando aberta a imagem se percebia que os francos atiradores eram os golpistas, a reação dos homens leais a Chávez era atirar a esmo num lugar onde não havia ninguém. Se a rede de tevê é punida por mentira contumaz, informação deturpada, práticas golpistas, chantagem, corrupção, tudo o que a GLOBO faz aqui, está se “violando a liberdade de expressão”.

O governo dos Estados Unidos não assinou o tratado internacional que constituiu um tribunal para julgar crimes contra os direitos humanos. Mas exige que países que não são signatários do tratado de prescrição de armas nucleares cumpram esse acordo, desde que o país seja o Irã. Israel não. Pode ter pelo menos 60 bombas nucleares para garantir o direito de seus soldados apalparem seios de palestinas.

Em sua campanha eleitoral Obama anunciou que fecharia a prisão de Guantánamo e considerou a base uma vergonha para o seu país. Tomou posse, foi enquadrado pelo poder sionista que governa os EUA e desistiu de fechar a base. Continua com presos sem culpa formada e sem qualquer direito, submetidos a todo o repertório de tortura que qualquer cidadão latino-americano que conhece história, conhece dos tempos das ditaduras militares. Os torturadores daqui eram treinados por agentes dos EUA.

Um documento da ANISTIA INTERNACIONAL, ONG que liga a seta para um lado e vira o carro para outro, condena a falta de direitos humanos em Cuba? Onde? Nas milhões de crianças que dormem pelas ruas espalhadas em todos os cantos do mundo, mas nenhuma é cubana?

No bloqueio político e econômico imposto pelos EUA ao governo e ao povo de Cuba?

Por trás de toda essa farsa montada pela mídia brasileira para culpar o presidente do Brasil por ter ido a Cuba e não ter dito nada sobre a morte de um preso cubano, existe o compromisso absoluto dessa mídia com a mentira. Com os interesses de Washington. De banqueiros, empresários e latifundiários.

Com a candidatura de José Collor Arruda Serra, o ano é eleitoral e querem retomar o poder a todo custo para que o BRASIL vire, definitivamente, BRAZIL.

A violência e a barbárie em escala mundial partem de Washington, passam por Tel Aviv e se espalham por todos os cantos na doença capitalista que o império impõe ao mundo.

Ou vale lembrar a frase de Nixon quando lhe disseram que o governo do ditador Medice violava os direitos humanos com tal brutalidade que era necessário dar um alerta. Nixon respondeu – “e uma pena, mas ele é um bom aliado, vamos deixar isso para lá” –.

O jornalista Waldo Cruz, ou jornalistas globais, já se preocuparam em levantar o número de homicídios praticados por traficantes colombianos travestidos de pára militares, aliados de Uribe contra adversários do governo e do narcotráfico?

Já contaram a história do acordo entre as FARCs e o governo colombiano. A guerrilha deixou a luta armada, disputou eleições, elegeu vereadores, prefeitos, deputados e senadores e foram todos assassinados para evitar quem em pouco tempo os colombianos elegessem um integrante do grupo para a presidência do país e acabasse com os cartéis que governam a Colômbia?

Que a decisão de voltar à luta armada foi conseqüência dessa vilania, dessa infâmia?

A falta de caráter da grande mídia brasileira e seus miquinhos amestrados (dar entrevista na GLOBO é aquele negócio de quinze minutos de fama) não tem limites e nem pudor.

Os assassinos de camponeses em Eldorado do Carajás continuam soltos. A luta para levar às barras dos tribunais e a cadeia os que mandaram e mataram Dorothy Stang é travada dia a dia para evitar que juízes e tribunais corruptos joguem os processos em escaninhos de almoxarifados onde vão para o limbo da prescrição?

O dia que a FOLHA DE SÃO PAULO, que chamou a ditadura militar de ditabranda confessar as barbáries das quais participava durante a ditadura terá moral para falar em direitos humanos. Até lá são criminosos travestidos de empresários.

O dia que os norte-americanos deixarem de usar armas químicas nas guerras que travam para controlar o mundo e abandonarem o poderio nuclear, reconhecerem o Estado Palestino, tal e qual decidiu a ONU em 1948, suspenderem o bloqueio contra Cuba, os assassinatos seletivos autorizados pelo governo contra os que consideram inimigos, nesse dia, se a FOLHA noticiar e a GLOBO também e VEJA mostrar que Bush e Obama são da mesma estirpe terrorista, difere o estilo, aí sim, poderão falar em direitos humanos.

O que fazem é mero jogo de interesses. Para eles direitos humanos têm mão dupla.

Laerte Braga, jornalista, colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz

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Flash-back Assaz Atroz



(Jornal Público-Portugal)

Detidos usaram lençóis e toalhas para se enforcarem

Bush lança operação diplomática após triplo suicídio em Guantánamo
11.06.2006 - 09:18 Por AFP, AP

O Presidente norte-americano, George W. Bush, reagiu com "profunda inquietação" à morte de três reclusos na prisão americana de Guantánamo, em Cuba, informou a Casa Branca. Os três homens morreram na sequência do que foi descrito pelo Exército como um aparente "pacto suicida".

Os dois sauditas e um iemenita foram encontrados mortos ontem de manhã nas suas celas na base naval norte-americana de Guantánamo e ter-se-ão enforcado utilizando lençóis e toalhas, revelou o almirante Harry Harris. "Enforcaram-se com cordões feitos por eles mesmos com lençóis e toalhas", declarou o comandante da base em entrevista telefónica.

O almirante Harris disse que estas baixas foram as primeiras registadas entre centenas de reclusos - por suspeita de terrorismo - desde 2001. Todavia, acrescentou, "os suicídios não foram um acto de desespero, mas sim de guerra".

O Presidente norte-americano foi ontem alertado para o sucedido, às 07h45 locais (14h45 de Lisboa), em Camp David, onde está a passar o fim-de-semana. A informação chegou no âmbito da reunião diária para reportar informação sensível e Bush terá frisado a importância de um esforço diplomático para informar os países e organizações mundiais sobre o sucedido.

Guantánamo tem sido um problema de política externa para o Presidente dos Estados Unidos, no âmbito de uma política antiterrorista dura em que as questões de direitos humanos têm sido motivo de polémica.

Agora, segundo explicou o assessor de imprensa da Casa Branca, Tony Snow, "houve um esforço agressivo não só por parte do Pentágono, mas também da Casa Branca para começar a investigar“ os alegados suicídios. "É senso-comum. Guantánamo é obivamente um tema de alguma preocupação".

Como reflexo dos possíveis problemas diplomáticos que estas mortes podem gerar, a Casa Branca e o seu Conselho de Segurança, mas também o Departamento do Estado e os elos de ligação de Bush com o Congresso norte-americano puseram-se em campo para contactar as Nações Unidas, a União Europeia, a maioria dos países europeus a título individual, as embaixadas de países do Médio Oriente e Próximo Oriente, a Comissão Internacional da Cruz Vermelha e representantes internos no Congresso e no Senado, para apaziguar os ânimos.

"Ele quer assegurar-se de que isto é feito da forma correcta de todos os pontos de vista", disse Tony Snow ontem à noite sobre as intenções de Bush.

O Presidente americano pediu, segundo Snow, que os corpos sejam "tratados de forma humana e com sensibilidade cultural" em respeito das tradições fúnebres muçulmanas.

Em Guantánamo estiveram já detidas 759 pessoas e neste momento estão ali detidas 462. Nos últimos quatro anos e meio houve acima de 40 tentativas de suicídio na base americana em Cuba.

http://www.publico.pt/Mundo/bush-lanca-operacao-diplomatica-apos-triplo-suicidio-em-guantanamo_1260600

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Ilustração - AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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PressAA

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