sábado, 6 de março de 2010

O SER REFLEXO/ESPELHO

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Laerte Braga*

A foto do governador José Collor Arruda Serra entre Aécio Neves e José Alencar na inauguração do centro administrativo do governo de Minas dá a sensação que o governador paulista é apenas um papagaio pirata em meio aos outros dois. Sorrindo um sorriso que não é seu, com uma aparência de humildade que não tem, acaba soando um espantalho atormentado por bicadas de pássaros espertos que percebem que ali está apenas um monte de palha vestido de gente.

Para atrapalhar, na foto mais publicada, dentre várias, Aécio estica a mão em direção a José Alencar (Serra está ao meio) apontando o vice-presidente com o indicador. É como se estivesse dizendo que aqui estamos nós dois, o terceiro, Serra, é só um acidente de percurso.

Na edição de quarta-feira o jornal THE GLOBE, em sua versão em português O GLOBO, traz como manchete de primeira página que o PSDB quis ampliar os benefícios do programa bolsa família, mas o governo foi contra. O jornal e os seus principais articulistas, toda a NET GLOBE (rádios, tevês, jornais do grupo) passaram todo o governo Lula criticando o programa e o que chamam de “uso eleitoral” do bolsa família.

Neste momento, engajados na campanha de José Collor Arruda Serra o bolsa família aparece como tábua para o náufrago desesperado diante das dificuldades que enfrenta por todos os lados.

François Mitterrand, ex-presidente da França, disse a jornalistas que uma campanha eleitoral hoje se assemelha a uma luta de boxe. A televisão domina o cenário com os debates, onde o mais importante é a aparência e não o que vai ou está sendo dito, o rádio, os jornais e revistas complementam o show.

Mitterrand disse isso após um debate em que era candidato a presidente. “Sinto-me como um boxeur”. O que levou o presidente francês a essa constatação foi uma simples pesquisa, imediata ao debate, onde as opiniões eram em sua esmagadora maioria sobre a aparência dos candidatos, o modelo do terno usado, a forma como olhavam para as câmeras, as pegadinhas em cima do adversário. Idéias? Menos de dois por cento (“O ESTADO DO ESPETÁCULO, Roger-Gérard Schawartzenberg, Difel, 1978)

Derrotado por John Kennedy em 1960 depois de um desastrado debate e uma aparição pior ainda na tevê, Richard Nixon volta oito depois e seus marqueteiros têm um candidato diferente. Vitorioso, capaz de estar presente na casa de cada norte-americano no momento de necessidade e invulnerável à kryptonita. Derrota a Huber Horacio Humprey, vice-presidente de Johnson e considerado, à época, um dos mais competentes políticos da história contemporânea dos EUA.

Huber pensa e expressa seus pensamentos. Nixon aprendeu com a derrota de 1960, transformou-se num produto. Num paralelo com a campanha presidencial de 1989 no Brasil, no debate em que Collor afirmou que não tinha um aparelho de som como o de Lula, era pobre, Nixon repete 1952, quando foi eleito vice-presidente ao lado do general Eisenhower. À época afirma que sua mulher Pat sequer tinha “casaco de vison”. Terminou como Collor, renunciando para não sofrer o impedimento.

A vista da secretária de Estado do governo Barack Bush Obama ao Brasil tinha um objetivo claro. O de abrir o debate público sobre o Irã e fazer com que o governo brasileiro engolisse o novo presidente de Honduras, produto de um golpe militar. E objetivos ocultos, evidente, favorecer com isso a um candidato de oposição, no caso José Collor Arruda Serra, assegurar o pré-sal para empresas de seu país, tentar minar a eventual aliança entre PT e PMDB para as eleições presidenciais, criar uma situação política difícil e melindrosa para o presidente Lula, muitos outros, como bombardear o governo da Venezuela, vender aviões caças de fabricação norte-americana para o Brasil, um monte.

Quando Hillary Clinton saiu dos EUA já havia, lógico, toda uma agenda programada para a sua viagem a diversos países latino-americanos e particularmente o Brasil. Entre os eventos dos quais a secretária participaria prevista uma palestra a estudantes de uma universidade em São Paulo. A palestra foi gravada e apresentada pelo canal GLOBONEWS, do grupo THE GLOBE, mediada pelos jornalistas Ana Maria Beltrão e William Waak. Um memorando do Departamento de Estado ao departamento de jornalismo da GLOBO determinava que assim o fosse. É o papel da mídia, no caso da maior rede de comunicação do Brasil, subordinada a interesses estrangeiros.

De um lado uma versão melhorada (pouco, mas melhorada) de Ana Maria Braga, para o toque de humor leve, o ser igual ao espectador, de outro um agente treinado para missões como essa, falo Ana Maria Beltrão e de William Waak.

No dia seguinte ao encontro de Hillary com o presidente Lula só o ESTADO DE SÃO PAULO (que acredita que D. Pedro II ainda governe o Brasil e que a escravidão não foi abolida) tratou do assunto e assim mesmo com uma manchete bem cretina na suposta ingenuidade, diante do fracasso dos objetivos pretendidos por Hillary. Lá estava – “EUA ACREDITAM QUE IRÃ ENGANA O BRASIL”.


Os demais tiveram dificuldades em noticiar o encontro Lula-Hillary com o destaque que pretendiam. Imaginavam poder colocar o presidente do Brasil nas cordas, pronto a ser nocauteado pela secretária de Estado. E nem tanto pelo que aconteceu, mas pela impossibilidade de noticiar o que Lula disse a Hillary sobre sanções e o programa nuclear iraniano:

“O Brasil apóia o programa nuclear iraniano e considera um direito do povo do Irã alcançar desenvolvimento através dessa tecnologia. Se os Estados Unidos podem, por que os outros não podem?”

Façam o que eu falo e não o que eu faço?

A frase precisa ser digerida com mais tempo e aí então vai começar o pipocar da metralhadora made in USA. Foi isso que William Bonner quis dizer quando não noticiou determinado fato no JORNAL NACIONAL e explicou – “contraria os nossos amigos americanos” –, para em seguida rotular o telespectador de Homer Simpson.

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É necessário encontrar um piloto para colocar a culpa como no caso do acidente com o avião da TAM.

Estão tentando imputar ao presidente Chávez ligações com o narcotráfico. Guardaram os documentos da CIA que mostraram que esse vínculo é privilégio do presidente colombiano Álvaro Uribe, aliado incondicional dos EUA.

As sucessivas campanhas eleitorais em países como os Estados Unidos, França, Inglaterra e outros, despertaram a atenção dos partidos políticos no Brasil. A necessidade de transformar cada candidato num produto, num sabão capaz de tirar manchas definitivamente e sem deixar vestígios.

José Roberto Arruda é um exemplo disso. Esteve envolvido na violação do painel de votação eletrônica do Senado Federal, renunciou para não ser cassado e anos depois se elegeu primeiro deputado federal, em seguida governador de Brasília, ia formar a dupla “vote num careca e leve dois” com José Collor Arruda Serra e está posto em recesso na Polícia Federal por conta de propinas.

“O candidato reflexo”, o “homem comum”. Foi o momento que se percebeu que “depois da estrela-ídolo, e da estrela modelo, vem a estrela reflexo”. “A estrela agora é um ser qualquer... o homem comum”. O candidato passa a ser “seu intérprete fiel, um mero reflexo”.

“Em harmonia com o sentimento democrático e igualitário” (o mesmo “O ESTADO DO ESPETACULO” citado acima).

“Essa constante da economia capitalista que é a baixa tendencial do valor de uso desenvolve uma nova forma de privação dentro da sobrevivência ampliada. Esta não se torna liberada da antiga penúria, pois exige a participação da grande maioria dos homens, como trabalhadores assalariados, na busca infinita de seu esforço; todos sabem que devem submeter-se a ela ou morrer. É a realidade dessa chantagem: o uso sob sua forma mais pobre (comer, morar) já não existe a não ser aprisionada na riqueza ilusória da sobrevivência ampliada, que é a base real da aceitação da ilusão geral no consumo das mercadorias modernas. O consumidor real torna-se consumidor de ilusões. A mercadoria é uma ilusão efetivamente real, e o espetáculo é sua manifestação geral” (“A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO”, Guy Debort, Contraponto, 1997).

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Aécio Neves nunca escondeu o que pensa e sente em relação a José Collor Arruda Serra e seu guru, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “Arrogantes, se acham os donos da verdade”. Dias antes da inauguração do centro administrativo do governo de Minas disse a quem quisesse ouvir que Serra havia pedido para vir e não porque fora convidado.

“O homem é um homem porque ele ri, porque ele espera e porque ele vive” (Herbert Gronemeyer, numa de suas canções, citado por Roberto Misik, em “MARX PARA OS APRESSADOS”, Edições Alva, Brasília, 2006).

“Rir, esperar, viver, amar são restos de humanidade que se rebelam contra a comercialização e que precisamente por isso vendem muito bem” (idem Misik).

Vem ai show das eleições. Já ouvi de algumas pessoas que a aparência de Dilma não é agradável, dá a sensação de autoritária. E a algumas delas perguntei se votariam em Lula novamente e todas foram unânimes em dizer que sim. Que seria o ideal. Mostraram repugnância por tucanos até na expressão com que respondem sobre o que pensam desse grupamento de agentes estrangeiros atuando no Brasil.

São contradições deliberadas e planejadas, minuciosamente montadas pela mídia para vender um produto de péssima qualidade, podre e fétida. O governador de São Paulo José Collor Arruda Serra.

Sabão em pó embalado para tirar manchas e vestígios que possam significar qualquer perspectiva de soberania nacional, de justiça social, de liberdade.

O tal “ser reflexo/espelho”, que saiu de Minas, longe do distinto eleitorado, do Homer Simpson, referindo a esse povo como “bando de vagabundos a repetir o que esse cheirador do Aécio mandou que dissessem”.

E são aliados.

Aguarda-se o pronunciamento do jornalista Juca Kfoury, porta-voz do governador Arruda Serra em matéria de pós e que tais.

*Laerte Braga, jornalista, colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz

Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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PressAA

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