segunda-feira, 29 de março de 2010

Uma idiota contente


— É despedida, apesar de ser nascimento. Agora que 2010 está na boca eu vou partir para as promessas!

Prometo zerar o meu QI, portanto não me incomodarei se a Preta Gil virar deputada, afinal o pai foi ministro, como também comprarei o CD “Garotinho & Rosinha” caso gravem, afinal políticos podem virar cantores, aliás, o Fábio Júnior deveria escrever um livro: Abelhas Gélidas e lançar na Bienal. Todo mundo lança com ou sem perfume. Quem sabe depois não se candidata a presidente do Brasil e de brinde ainda ocupa a cadeira da ABL na vaga do Sarney quando este falecer? Coisa ruim é que nem o ditado da esperança. A última, mas morre. Morre sim! Senão desmente a esperança.

Prefiro abelhas geladas aos Marimbondos de Fogo, e por falar em bichinhos, ligar-me-ei à salvação dos pombos. Buscarei os antigos e abandonados Centros Educacionais (CIEP) e pedirei ao meu governador Cabral, filho do intelectual Sérgio Cabral que me ajude a abrir a ONG Marquesa de Pombal, já que o local não virou escola de jeito algum, sonho maior do Darcy Ribeiro amigo do Cabral pai, que agora é do movimento Tribalista junto com o nosso presidente. “Eu sou de todo mundo e todo mundo me quer bem”.

Salvar pombos e quem sabe pardais. Viva o pardal que veio com o Pedro Álvares Cabral. Será que o Cabral atual é parente do descobridor? Nepotismo desde 1500?

Pelejarei para que o Romário venha a ser Ministro da Cultura, ele joga muito, quase tanto quanto o Rei Pelé que foi Ministro dos Esportes.

Também penso em sugerir a Milene, ex do Ronaldinho, para a embaixada do Brasil em Bogotá. Ela é ótima em embaixadinha.

Igualmente considero a possibilidade do Chapolin tentar um clima de conciliação com o Obama, afinal ele sempre foi o melhor amigo do Chaves clone do Chávez. Sílvio Santos poderia ser o intermediário da parada.

Dedicar-me-ei a estudar mais a nossa língua e, se não fi-lo até agora, errei pra cacete. Ai! Baixei o nível, falta de hábito, no lugar do cacete leia descabidamente. Usarei palavras difíceis, de sentido vago, garimpadas no Aurélio, porém bonitas como as sobrancelhas da Malu Mader. Serei uma escriba res_peitada. Agora todo mundo que escreve lindo usa esse tracinho na escrita. Peitada separada de res, significa respeito acompanhado de silicone.

Torcerei pelo sucesso das Olimpíadas no Brasil, mas lutarei para dar um basta em treinador estrangeiro na nossa ginástica. Carlinhos de Jesus, por exemplo, pode ser treinador. Ninguém entende mais do que ele de twist-carpado, tango-incorpado...

Vestirei um branco de plebéia para ouvir o RC de azul e chorar rios como o Javari, Purus, Madeira, Tapajós, Xingu (afluentes da esquerda), pelas perdas, ainda que eu saiba que também tive bons ganhos. Essas datas foram feitas para debulhar-se em lágrimas comendo nozes e criar um climão de despedida e saudade.

Não soltarei mais minhas sonoras gargalhadas, serei enigmática e problemática, como manda a cultura atual. Inculto é quem ri com a boca cheia de rabanada.

Mas uma intelectual escreve essas merdas que escrevi agora? Desisto de tentar fazer uma crônica ajuizada de final de ano.

Essa droga ficará como esboço guardado, como tantos cérebros ajuizados já me avisaram:

— Guarda o que escreve, não publica o que lhe vem na cabeça. Isto virou um bloqueio de uns meses pra cá, perdi a espontaneidade de escrever minhas abobrinhas, diante desse mundo tão sério, tão correto, onde são feitas leis para proibir o trema, soltar traficante e assim por diante.

Quero a Orca para presidente. Olê Olê Olê Olá! Orca, Orca!

— A senhora tomou só a cachaça, o caldinho não estava bom?
— Nem provei, ficou esquecido junto com as promessas que acabei de escrever. Sou uma besta que escreve um monte de asneiras, que acabam virando rascunhos. Mas a vida não é um eterno debuxo que só se completa com a morte?
— Está de porre?
— Não, apenas me dispersei pensando no Ferreira Gullar. “Deixe-me com meus erros e minhas loucuras. Não quero ter razão, eu quero é ser feliz”.

Fecha a conta, pois ainda preciso comprar um vestido vermelho "bem cheguei" e cometer bastantes desacertos. Pra começar, publico essa droga.

Lá vem o Gullar palpitar novamente: "O homem, invenção de si mesmo”. Reinvento-me, como sempre fui, em 2010. Uma idiota contente.


Rosa Pena (Rio de Janeiro-RJ). Professora e administradora de empresas. Especialista em recursos audiovisuais e artes cênicas. Trabalhou na Divisão de Multimeios da Educação na Secretaria de Educação e Cultura do Rio de Janeiro, com projetos ligados a cinema, teatro, música e literatura. Compulsiva para ler e escrever, considera a Internet a grande biblioteca contemporânea. Tem livros virtuais publicados e quatro livros editados no papel: Com licença da palavra, antologia do grupo Pax Poesis Encantada (2003), PreTextos, seu primeiro livro solo, onde reúne crônicas e contos de sua autoria (2004), na sequência UI! (2007) e Tarja Branca (2010). Mais em seu site: http://www.rosapena.com/

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Ilustração: AIPC – Atrocious International Piracy Cartoons

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Um comentário:

Cristina Maria disse...

Gostei muito do blog rapaz!