quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Enfim, o Vaticano tira do index o preservativo. Mas não para os fiéis.

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Ainda no ano passado, o cardeal Ratzinger, transformado no mais reacionário dos Papas modernos, tinha afirmado, numa viagem aos Camarões e Angola, que « o preservativo agravava o problema da Aids ». E insistido para seus fiéis africanos praticarem a abstenção, enquanto seus concorrentes muçulmanos permitem aos fiéis terem até cinco esposas.

Como diria Galileu, « mas a Terra continua girando », e diante do óbvio, das críticas e da perda da credibilidade da Igreja, principalmente diante da juventude, Bento XVI sai do obscurantismo e justifica, numa entrevista, num livro com lançamento nesta semana, o uso do preservativo, dando mesmo como exemplo o caso da prostituição masculina.

É uma revolução no Vaticano. Mas não significa para os católicos devotos o fim do método contraceptivo Ogino Knaus, pois o Papa só fala em casos que reduzam o risco de contaminação. Casais fiéis, que comungam regularmente, imagina-se não viverem o risco de contaminação e os exegetas das santas decisões vaticanianas logo reafirmarão a proibição do uso da camisinha como anticoncepcional.

Para as prostitutas é a grande chance para exigir que seus clientes católicos usem camisinha, mesmo se alegarem não ser correto se chupar bala com o papel.

As organizações anti-Aids saúdam a decisão do Papa, pois a Igreja vinha sendo um sério empecinho para programas de distribuição das camisinhas em festas populares, que geralmente terminam em copulações mesmo discretas. Carnaval e Copa do Mundo com camisinhas serão torneios bem mais seguros, nas intimidades dos foliões, jogadores e seus torcedores.

Imagina-se que os próprios padres pedófilos passarão a usar preservativos nas suas atividades extra-religiosas e que diminuirá o número de afilhados de padres mais ardorosos nas regiões interioranas.

Enfim, pelo que se depreende dessa extraordinária renovação espiritual do Vaticano, o Papa Bento XVI aceitou permitir o uso da camisinha, pelo menos aos prostitutos, diante da evidência de que a castidade, assim como a virgindade, dão câncer.

Hans Kung, em Tuebingen, deve ter sorrido e comentado, « custou mas, enfim, Ratzinger aceitou modernizar a Igreja ». Estava na hora, porque havia associações de defesa dos direitos humanos querendo processar o Vaticano como cúmplice nos casos de infeções com Aids, evitáveis pelo uso do preservativo.
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*Ex-correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. Autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criou os Brasileirinhos Apátridas e propõe o Estado dos Emigrantes. Vive na Suíça, colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, é colunista do site Direto da Redação. Colabora com o Correio do Brasil e com esta nossa Agência Assaz Atroz.

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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domingo, 14 de novembro de 2010

O CAFOFO DA RUA DA INSTALAÇÃO

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Mulheres da alta sociedade amazonense – mães, esposas e filhas, inclusive menores de idade – posaram completamente nuas ou seminuas para o jovem ‘fotógrafo’ americano Walter Hunnewell, num estúdio improvisado situado em prédio antigo da Rua da Instalação, no centro da cidade de Manaus. Uma dessas sessões foi presenciada por seu colega, William James, garotão de porte atlético, de 23 anos, que confessou:

- “Aparentemente refinadas, de qualquer modo não libertinas, as mulheres consentiram que se tomassem com elas as maiores liberdades e duas delas, sem muito problema, foram induzidas a se despir e posar nuas”.

No momento em que terminava a sessão, o estúdio recebeu a visita de um conhecido deputado - não foi o Lupércio - que viu as roupas das meninas ainda espalhadas pelo chão. Também um engenheiro militar, o major João da Silva Coutinho, tomou conhecimento da existência de mais de 100 fotos com mulheres despidas de frente, de costa e de perfil, mas preferiu se calar. A Polícia registrou o fato, conforme ofício n˚ 787 expedido em 24 de outubro. O escândalo foi abafado. A imprensa não deu um pio.

Depois de todo esse tempo, o Diário do Amazonas rompe o silêncio aqui nessa coluna para não ser acusado de cumplicidade e omissão. É o primeiro jornal amazonense a tocar no assunto. Não gosto de fofoca não, mas - como diz o outro - não sou baú nem cofre para guardar segredo. Por isso, me sinto na obrigação de passar adiante essa história apimentada. Vi as fotos e me pergunto como é que senhoras de boa família aceitaram exibir suas intimidades para um desconhecido que nem sequer é fotógrafo?

Fotógrafo de araque

Walter Hunneweel não é fotógrafo nem aqui nem na China. Antes de vir ao Brasil, nunca havia tirado uma foto. Não passa de um playboyzinho, filho de um milionário, que por causa disso foi aceito como voluntário em uma expedição científica chefiada pelo seu professor na Universidade de Harvard, Louis Agassiz, um suíço naturalizado americano, especializado em ictiologia, cujo objetivo declarado era coletar, nos rios e igarapés de Manaus, pacu, bodó, piranha e outras espécies novas.

Mas quem caiu na rede foi outro tipo de peixe. Em vez de pescar, “o Sr. Agassiz passa metade do dia trabalhando com seu amigo Sr. Hunnewell, tirando fotografias de habitantes locais” – registra o diário da expedição. Professor e discípulo armaram seu cacuri num velho prédio da Rua da Instalação, onde antes funcionava uma repartição pública. “O salão fotográfico era um ambiente carregado de aura erótica e, de modo significativo, destituído de qualquer conteúdo científico” – diz o pesquisador John Monteiro, nascido em Minnesota e atualmente professor da UNICAMP.

Na viagem de barco a Manaus, a máquina fotográfica quebrou e foi consertada em Santarém por um lambe-lambe mocorongo. “Hunneweel possuía um conhecimento técnico deficiente e um equipamento precário” e, em consequência, “as imagens são de baixa qualidade e de gosto duvidoso” e se situam “numa região incomoda entre a fotografia científica e erótica”, conforme avaliação de John Monteiro e de sua colega da USP, Maria Helena Machado, que analisaram as fotos.

Que Deus perdoe minha maledicência - trata-se apenas de uma coincidência - mas o fotógrafo de araque nasceu em Boston, a pátria da padrofilia, cujo arcebispo, Bernard Law, foi afastado e responde a mais de 450 processos judiciais, sob a acusação de ter encoberto abusos sexuais cometidos por padres católicos contra crianças. Qual foi o papo que esse gringo de Boston engrenou pra convencer nossas mulheres, inclusive menores de idade, a ficarem peladas? A Ciência. Tudo em nome da ciência.

Papo cabeça

A expedição percorreu o Brasil durante os anos 1865 e 1866, com o objetivo maior de provar que a teoria da evolução de Darwin era furada. Agassiz defendia o criacionismo e condenava ferozmente a mestiçagem a quem atribuía a responsabilidade pela “degeneração da raça humana”. Queria produzir documentos visuais sobre as origens étnicas e as variedades dos tipos mestiços. Para isso, fotografou no Rio e em Manaus tipos étnicos nus com o objetivo – segundo ele – de fazer comparações somáticas.

Havia ingenuidade nas mulheres que posaram nuas? Elas ficaram impressionadas com o prestígio dos ‘pesquisadores’ que pertenciam à Universidade de Harvard? O estudante William James, que fez parte da expedição, dá interessante depoimento em seu diário íntimo:

“Eu fui, então, para o estabelecimento fotográfico e lá fui cautelosamente admitido por Hunneweel com suas mãos negras (manchadas no processo químico). Ao entrar na sala, encontrei o prof. (Agassiz) ocupado em persuadir 3 moças, às quais ele se referia como sendo índias puras, mas as quais eu percebi, como mais tarde se confirmou, terem sangue branco. Elas estavam muito bem vestidas em musselina branca, tinham joias e flores nos cabelos e exalavam um excelente perfume de priprioca”.

John Monteiro escreve que essa “operação estava sendo conduzida em segredo, o que destoava das afirmações do professor Agassiz a respeito da compilação de uma valiosa série de imagens científicas que serviriam de base para um estudo sério”. Foi no final da sessão que chegou o deputado Tavares Bastos, estudioso da região e autor do livro “O Vale do Amazonas”. Sujeito decente, o parlamentar se escandalizou com o que viu: “Ele me perguntou ironicamente se eu estava vinculado ao Bureau D’Anthropologie” – comenta William James.

John Monteiro acha – e nós concordamos – que é difícil acreditar que o fato não tenha causado algum tipo de mal-estar na sociedade manauara. Ele cita um ofício da Polícia de 24/10/1865, dando conta da chegada da expedição em Manaus. Um escândalo, logo abafado, pode ter brotado, o que talvez tenha contribuído para o desligamento de W. James da expedição. Escreve John Monteiro:

- “A imprensa local manteve o silêncio em torno das atividades do ‘sábio Agassiz’, enquanto os outros participantes da expedição - inclusive o major João Martins da Silva Coutinho - não deixaram nada escrito sobre o estúdio fotográfico”.

Dessa forma, foram apagadas as aventuras fotográficas desse desacreditado cientista, defensor de teorias racistas e pioneiro do apartheid. As fotos, conservadas em chapas de vidro, ficaram um século e meio perdidas num armário sem uso no sótão do Museu Peabody de Arqueologia e Etnologia da Universidade de Harvard. Muitas delas continuam inéditas. Outras foram publicadas agora em 2010, durante a 29ª. Bienal de São Paulo, num livro organizado por Maria Helena Machado e Sasha Huber, uma suíça de origem haitiana engajada na luta antiracista. Trata-se, agora, de uma luta pela memória.

Lugar de memória

Desacreditado como cientista por causa de suas equivocadas teorias, nem por isso Agassiz deixou de ser cultuado. Monumentos, montanhas, ruas, avenidas e praças em várias cidades do mundo levam hoje o seu nome. No Alpes suíços tem um pico chamado Agassiz; no Rio de Janeiro, na Floresta da Tijuca, tem a Pedra de Agassiz e as Furnas de Agassiz, além de uma praça Agassiz e uma rua Agassiz no subúrbio carioca. Em Belo Horizonte, no bairro Floresta, existe uma rua com esse nome. E por ai vai.

O historiador suíço Hans Fassler, autor de um livro sobre o envolvimento do seu país com a escravidão, achou intolerável a homenagem e criou a campanha “Desconstruindo Agassiz”, que briga para renomear o pico Agassiz com o nome de uma de suas vítimas, um escravo afroamericano chamado Renty. Hans e Sasha conheceram Helena Machado e John Monteiro num seminário internacional organizado na UNIRIO em agosto de 2009. Daí nasceu a idéia do livro que além dos quatro autores recebeu a contribuição dos pesquisadores Flávio Gomes, Suzana Milevska e Petri Saarikko.

Maria Helena percorreu os arquivos e museus da universidade, localizou e analisou o conjunto da documentação relativa à expedição de Agassiz que permite discutir uma série de questões estratégicas para a compreensão do Brasil na segunda metade do século XIX, tais como os interesses norte-americanos na Amazônia, a livre navegação pelo rio Amazonas, os projetos dos Estados Unidos de enviar a população afro-americana para povoar a região, a proibição do tráfico internacional de escravos e o debate sobre raça e ciência.

P.S. – Quem quiser saber mais, leia o livro de Maria Helena Machado e Sasha Huber (orgs) “Rastros e raças de Louis Agassiz: fotografia, corpo e ciência, ontem e hoje” São Paulo. Capacete. 2010. (Edição bilingue da 29ª. Bienal de São Paulo).
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José Ribamar Bessa Freire é professor universitário (Uerj), reside no Rio há mais de 20 anos, assina coluna no Diário do Amazonas, de Manaus, sua terra natal, e mantém o blog Taqui Pra Ti

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domingo, 7 de novembro de 2010

Em memória de Ivam de Barros Bella

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Rui Martins

Rua Major Quedinho, esquina com a Martins Fontes, de frente para a Avenida São Luís – ali ficava a redação do Estadão, onde comecei no jornalismo e passei por um curso intensivo de politização. O jornal era e ainda é de direita, mas meus amigos, na maioria, eram de esquerda e vivíamos o começo da ditadura militar.]

A redação era uma imensa sala que ocupava quase todo o andar, mesas de ferro com cobertura de borracha verde escuro e sobre elas as enormes máquinas de escrever. Uns dez metros, logo depois da entrada, a mesa do redator-chefe. Quando fiz o estágio de um mês que mudaria minha vida, era Cláudio Abramo, ao assumir como repórter tinha havido uma mudança, era Nilo Scalzo.

À direita do redator-chefe, o noticiário local com o magérrimo Cleonte de Oliveira, dedos amarelados de tanto fumar, bigode bem tratado, com quem aprendi o bê-a-bá da profissão. Um pouco adiante de Nilo, à esquerda, o editor-político Flávio Galvão; à direita Eduardo Martins, voz alta e sonora que ainda me chega aos ouvidos, apesar da metralhadora das teclas compondo nas laudas as notícias que seriam o jornal do dia seguinte. Rubem Biáfora, Sábato Magaldi, críticos de cinema e de teatro; o franzino Vladimir Herzog, com seu sorriso irônico. Lá no fundo, o editor das notícias internacionais, Lenildo Tabosa com seus jovens pupilos, que cometiam erros e tinham fama de extrema-direita.

Ao meu lado, sentava às 19h00, o plantonista da Câmara, rosto fino e magro, que parece estar aqui agora comigo, mas cujo nome não me vem. Num canto à esquerda, um tanto solitário e secreto, Delacir Mazzini. Grandes papos, quando matérias feitas e copidescadas esperávamos o fechamento do jornal. Sua distração era a de memorizar vocabulário de inglês, que ia escrevendo e traduzindo.

De vez em quando, se abria a porta do aquário e surgia o Mesquitão, o Filho, figura imponente, no velho estilo de paulistanos de uma época já extinta. Tinha acabado de fixar a linha política do jornal, cuja redação ficava a cargo do português Miguel Urbano Rodrigues, famoso por ter participado de um dos primeiros sequestros, senão o primeiro no mundo, o do navio Santa Maria. Exilado português, comunista, erudito, que eu transformaria no meu professor e guru.

Comunistas e esquerdistas católicos não faltavam naquela redação. Entre eles, um outro amigo, Ivam de Barros Bella. Redator encarregado de resumir o noticiário nacional das agências e correspondentes. Ficamos logo amigos e, numa visita que lhe fizemos, eu e minha primeira esposa, descobri Georges Brassens num elepê que reencontraria logo no começo de meu exílio em Paris.

Mas naquela época, ninguém pensava que a ditadura de Castelo Branco fosse nos atingir. Ivam tinha o olhar matreiro, quase maldoso, conjugado com um sorriso quase risada e um rosto que enrubescia. Iríamos viver juntos uma bela aventura.

O governo do ditador Castelo Branco decidira criar a censura para a imprensa, da qual o próprio Estadão logo depois seria vítima. Seria possível se fazer alguma coisa? Aparentemente não, mas em vez de cruzarmos os braços, combinamos o seguinte – haveria uma assembléia-geral do Sindicato dos Jornalistas, presidido naquela época por Adriano Campagnole. Poderíamos reagir, telefonando para alguns colegas de outros jornais comparecerem e assim termos maioria para um protesto contra a censura.

Dito e feito, Campagnole não conseguiu dominar a assembléia e criamos ali a Comissão pela Liberdade da Imprensa, com Ivam como presidente e requisitamos a sede do Sindicato seus telefones e mimeógrafo para a convocação de uma mobilização da população pela liberdade de imprensa. Seria o Encontro com a Liberdade, realizado em janeiro de 67, no Teatro Paramount abarrotado, na avenida Brigadeiro Luiz Antonio. A última manifestação pública permitida pela ditadura, da qual participaram os líderes da oposição à ditadura ainda não presos e não exilados, desde comunistas aos católicos da AP do Brasil Urgente.

Entusiasmados com essa mobilização, nos reunimos Ivam, Narciso Khalili, David de Moraes, Audálio Dantas e outros na Chapa Verde para tomar a direção do Sindicato dos Jornalistas. Foi uma campanha ousada, em plena ditadura que ia começando a apertar. Perdemos feio, por 200 votos, e isso iria nos custar nossos empregos.

Com o exílio nunca mais revi Ivam de Barros Bella, mas sempre perguntava por ele aos companheiros que passavam pela França. Outro dia, publiquei alguma coisa e citei seu nome e, nesta semana recebi um e-mail de sua filha.

Ivam teve duas filhas, eu não sabia. E ela me contou de seu pai, do combatente que foi contra a ditadura, das dificuldades que passou por isso, dos empregos que perdeu. E me escaneou essa foto do Encontro com a Liberdade, na qual estou no meio da mesa, secretariando o encontro presidido por Mario Martins.

Foi assim meu reencontro com Ivam de Barros Bella e é com emoção que lhes escrevo. Mariana, sua filha, me contatou porque leu meu artigo e queria me contar que seu pai, o meu amigo da Major Quedinho, morrera há pouco. (Publicado também no Direto da Redação).

Rui Martins jornalista e escritor, correspondente em Genebra, líder emigrante. Autor de Dinheiro Sujo da Corrupção, Geração Editorial. Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz

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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

AS FRUTAS DA COLÔMBIA

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Urda Alice Klueger

Temos a mania, aqui no Brasil, de endeusar tu­do o que é europeu e estadunidense, e de considerar a América Latina como o supra-sumo do subdesenvolvimento. Ainda se tem al­gum respeito pelo México (leia-se: Cancun) e por algumas ilhas do Caribe, mas a América do Sul - Deus nos livre, a América do Sul é um lugar horrível, quem pensaria em conhecê-la de verdade, em gastar dinheiro fazendo turismo por ela, quando se pode ir com tanta facilidade à Disney?

Eu sou uma das raras pessoas do Brasil que gasta tempo e dinheiro para conhecer a América do Sul. Via de re­gra, nessas viagens, meus companheiros são europeus e israelen­ses, que vêm às centenas, aos milhares, viajar pelo continente que o brasileiro despreza. Eventualmente, muito eventualmente, se encontra um brasileiro pelas rotas do nosso continente, e quando há algum, é alguém que comunga das nossas idéias, e como é bom encontrar aquele raro brasileiro, então!

Mas comecei este texto querendo falar das fru­tas da Colômbia.

O brasileiro tem da Colômbia, como do resto do continente, uma péssima imagem. Sabe que lá há guerrilha e cocaí­na, e nada mais. Nem lhe passa pela cabeça imaginar a grande fer­tilidade da Colômbia, seu litoral paradisíaco, seu povo alegre e brincalhão. Eu viajei, faz pouco tempo, pela Colômbia, e fiquei pasma com a sua agricultura. Comecei uma longa viagem ao Sul, em lpiales, fronteira com o Equador, em direção a Bogotá, longa rota feita sobre os Andes, de excelentes estradas pavimentadas que en­vergonhariam o Brasil, sem falar dos ônibus, espetaculares ônibus modernos, de forma aerodinâmica, todos dotados de ar condicionado e televisão, veículos que nem as melhores empresas de turismo têm no Brasil. Essa longa viagem de 24 horas em direção a Bogotá deu-me uma visão fantástica sobre a agricultura na Colômbia: os Andes, tão áridos na Bolívia, são extremamente férteis naquela região, e têm todas as encostas das montanhas cobertas de incontáveis e incontáveis campos agrícolas. Grande produtora de grãos e de café, cada quilômetro da Colômbia tem uma tonalidade dife­rente de verde ou amarelo, dependendo do que se cultiva nele. A soberba visão daquelas montanhas quadriculadas pela agricultura tem uma doçura e uma grandeza que não dá para esquecer.

E depois, quando se desce os Andes, e o clima fica quente e propício ao cultivo de frutas tropicais, ah! é mais difícil de esquecer ainda! De Bogotá em direção ao Caribe, é es­tonteante o tamanho das plantações de frutas! Creio que, só para atravessar um bananal já próximo do mar, devemos ter andado de ônibus por quase uma hora. E são bananais cuidados, as bananeiras plantadas em filas certinhas, cada um dos milhares de cachos de banana preso dentro de um saco, decerto para impedir o ataque de insetos. Há que haver ali um povo extremamente laborioso, para produzir tais efeitos, mesmo sob as ordens de uma plantation.

O clima quente do litoral caribenho da Colômbia, aliado aos cuidados que se dão aos pomares, produzem as mais fantásticas frutas que se possa imaginar.

Sempre achei que o Brasil era rico em frutas, mas perto das frutas colombianas, as nossas ficam pálidas e sem graça. Nunca poderei esquecer daquelas bananas, deliciosas, douradas, enormes (que o colombiano costuma comer junto com sopa de galinha), nem daqueles mamões de um tamanho descomunal, de uma doçura ímpar. Compra-se o mamão em fatias, fatias cuja carne tem a espessura de três dedos, e um pedaço daqueles equivale a uma refeição. Essas fatias de mamão vêm muito limpinhas, higienicamente acondicionadas em limpos sacos plásticos, nada tendo a ver com a sujeira que imaginamos dominar o terceiro mundo. E as goiabas, e os abacaxis, e as outras frutas que não conhecemos por aqui! É comum ver-se os vendedores de frutas nas ruas, com suas pirâmides de delícias coloridas, gentilíssimos, a nos querer conquistar com o que, parece, ser o grito de guerra do comércio colombiano:

- À la ordem! À la ordem!

É uma pena que a Colômbia esteja tão longe, e não seja possível ir-se lá de vez em quando. Valeria a pena fazê-lo por muitos motivos, e um deles, com certeza, seria aquela profusão fantástica e deliciosa de frutas.

Urda Alice Klueger é escritora, historiadora ecolabora com esta nossa Agência Assaz Atroz

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Dos porões do Dops para a Presidência

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Rui Martins

Dilma Rousseff foi resistente contra a ditadura militar e foi uma das jovens presas no Dops.

Extraordinária revanche que, ao mesmo tempo, reforça o conceito de ser preciso lutar, mesmo quando se é minoria e parece ser perdida a causa. Qual dos carrascos e dos militares do Golpe de 64 poderia imaginar, naqueles passados fim dos anos 60, que uma das jovens recolhidas a uma das celas do Dops seria eleita, mais de 40 anos depois, presidenta do Brasil ?

Diante de situações como essa, se fortalece a convição da necessidade de se lutar mesmo quando tudo parece ser contra nós e quando se é uma reduzida minoria. Graças ao meu amigo e colega Alípio Freire, imponente e carismática figura, visitei, durante minha viagem a São Paulo, dois lugares que me religaram à época da luta contra a ditadura militar – os arquivos onde estão guardados os documentos relacionados com os perseguidos, presos, torturados e mesmo assassinados no Dops, depois chamado de Deops, mas sempre um instrumento cruel da repressão. E a seguir, na praça General Osório, junto à antiga Estação da Luz, os lugares onde funcionavam parte dos mecanismos da repressão, hoje transformados no Memorial da Resistência.

Cubículos onde se acumulavam os jovens resistentes à ditadura, onde eram torturados, recebiam verdadeiras lavagens de porcos como refeições e apodreciam sem direito à luz solar, coisa permitida reduzidas vezes e apenas por restritos minutos. Coincidentemente, ali estavam no começo de outubro, data de minha visita, numerosos cinegrafistas dos diversos canais da televisão brasileira.

E por que ? Para mandarem ao ar, logo após confirmada a vitória de Dilma Rousseff, documentos filmados da cela onde esteve presa, quando militante contra a ditadura militar brasileira. A vitória não saiu, como se esperava, no primeiro turno, e tudo vai ser levado à televisão brasileira neste domingo do segundo turno.

Não faltarão, sem dúvida, as informações truncadas, pelas quais ouvi um jovem me dizer, ter sido Dilma assaltante de bancos, mas tinha recebido informação incompleta, pois não lhe tinham explicado ser essa a maneira, na época, de se atacar o sistema militar e obter fundos para manter a resistência aos ditadores.

Estranho país esse meu Brasil, onde por guerrinhas políticas se procura denegrir a imagem de seus heróis do passado. Os covardes de ontem, que compuseram, colaboraram ou se aproveitaram da ditadura tentam agora minimizar o valor de todos quantos expuseram suas vidas em luta pela liberdade e pela democracia dos dias de hoje.

Dilma Rousseff não é apenas a primeira mulher brasileira eleita presidenta (e isso já é estraordinário num país tido como de machistas), é mais que isso, é uma das lutadoras naqueles escuros anos de chumbo. Anos em que, militares teleguiados pelos EUA destruíram a cultura construída nas nossas universidades, a pretexto de evitar o marxismo, mas na verdade para manter a desigualdade social e a semi-escravidão de grande parte da população, da qual só agora vamos saindo.

Dilma foi uma resistente, vinda das hostes de um outro herói, Leonel Brizola. Sua eleição é o coroamento do longo caminho das batalhas sociais em favor do povo e da liberdade, que são por uma melhor repartição do pão e por uma melhor remuneração do trabalho da maioria da população.

Depois de quase quinhentos anos de um Brasil governado sempre pelas mesmas famílias, pelas mesmas oligarquias, houve a ascenção de um filho do povo. A Casa Grande perdeu para os habitantes da Senzala e um Brasil mais justo vai surgindo, mesmo diante de numerosas tentativas para se devolver o poder aos seus antigos detentores. Oito anos, tantas vezes conturbados pelas dificuldades de se governar com um Parlamento viciado na corrupção, é um tempo curto demais para se contrapor aos quase 500 da elite branca e rica brasileira, disposta tantas vezes a vender e a ceder nossas riquezas em troca de vantagens pessoais.

Dilma Rousseff, a corajosa mulher dos anos 60, que viveu três anos nas escuras celas do Dops, por afrontar os militares – nisso sobrepujando tantos homens, dispostos por covardia a se submeter aos fardados – é hoje a garantia de um novo governo em favor do povo e não em favor dos ricos e suas oligarquias.

O Brasil é exemplo de democracia na América Latina, mostra um enorme avanço tecnológico ao ser capaz de apurar rapidamente as eleições que, nos EUA, demoram um mês em meio a trapaças de toda espécie.

A derrota de Serra sela o fim de um época. Por um bom tempo, poderemos ter a certeza da manutenção dos verdadeiros representantes do povo no poder, mesmo sob a pressão do cartel da imprensa da direita, que confunde liberdade de expressão com manipulação e engôdo do povo com seus telejornais supérfluos, suas telenovelas modificadoras da nossa cultura e com sua máquina de informação implantada por todo o país sem contrapartida, numa verdadeira ditadura latente e invisível mas eficaz.

Dilma, a resistente de ontem é a nossa presidenta de hoje, numa extraordinária revanche aos golpistas, torturadores e assassinos do passado, ainda saudosos dos anos em que enterraram aqueles anos ricos em cultura e manifestação popular. Os tempos mudaram, graças aos resistentes, o Brasil se transformou, graças aos anos Lula numa potência mundial, que Dilma, representante das mulheres brasileiras, tantas vezes oprimidas e obrigadas a ficar na cozinha, vai continuar.

PS. Graças aos arquivos do tempo da ditadura, pude também me reencontrar, naqueles idos de 1967-68, ao lado de Mario Martins, no Teatro Paramout, secretariando o Encontro com a Liberdade, ao lado dos resistentes da época. A história de um país não se faz num dia, ela é o resultado de anos de lutas e, no caso do Brasil, a satisfação dos dias de hoje é saber que a Casa Grande está sendo transformada em Casa do Povo.

PS-2. A partir de amanhã e até o dia 9, os emigrantes poderão eleger seus representantes num Conselho junto ao Itamaraty, apenas figurativo, mas que poderá ser um trampolim a uma Secretaria de Estado dos Emigrantes. Na América do Norte, são candidatos apoiados pelos Estado do Emigrante, Josivaldo Rodrigues e Veronique Ballot; na América do Sul, Fernanda Balli; na Ásia/África Alberto Ésper e, na Europa, Rui Martins. Para votar ir ao site www.brasileirosnomundo.mre.gov.br , onde estão todas as informações.
Rui Martins, correspondente em Genebra, líder emigrante, jornalista e escritor.
Para votar em Rui Martins na Europa, o link direto é
http://www.brasileirosnomundo.mre.gov.br/pt-br/eleicoes_crbe_-_vote_aqui!.xml
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Para Rui Martins, o governo brasileiro deveria criar uma nova política de emigração a exemplo de Portugal, França, Itália e mesmo México e Equador.

Leia mais em...


http://www.francophones-de-berne.ch/




http://www.estadodoemigrante.org/

*Ex-correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. Autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criou os Brasileirinhos Apátridas e propõe o Estado dos Emigrantes. Vive na Suíça, colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, é colunista do site Direto da Redação. Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz

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sábado, 30 de outubro de 2010

VOVÓ DILMA OU VOVÔ SERRA?




- "Gabi, solta um peidinho pro vovô ouvir, solta!"

De quem é essa frase? Quem fez esse pedido despudorado na presença de várias testemunhas? Foi José Serra, avô coruja da Gabi, do Kiko e do Tonho, quando brincava com os netos na sua mansão na Rua Antônio de Gouveia Giudice, no bairro nobre de Alto Pinheiros, em São Paulo? Ou Dilma Rousseff, implorando para que o único neto, Gabriel, recém-nascido, bombardeasse o avô, seu ex-marido Carlos Araújo, na visita que os dois fizeram à maternidade Moinhos de Vento, em Porto Alegre?

Você conhecerá o (a) autor (a) da frase nessa edição. Se você ficar conosco saberá ainda os resultados da pesquisa – única no Brasil - sobre a intenção de votos dos netos feita pelo Data/Taquiprati que, em vez de consultar eleitores, ouviu 2925 crianças. A pergunta foi: se você votasse hoje, qual dos dois avós escolheria para presidir o Brasil? O resultado foi surpreendente, com uma margem de erro muito menor do que a dos institutos tradicionais.

O peido da vaca

Quem não tem netos pode achar estranho um avô querer ouvir o peidinho de uma criança. No entanto, nada mais natural para aqueles que, depois do exercício da maternidade ou da paternidade, se encontram agora em plena curtição da avocidade. Esses acham o pedido plausível, pois sabem que avós são seres que estão se lixando para o que pode ser considerado ridículo. Existe até mesmo uma espécie de maçonaria dos avós, uma rede secreta através da qual trocam esse tipo de experiência, com exemplos incríveis mostrando que qualquer coisa que venha dos netos é bonita.

Foi uma dessas confrarias de avós que celebrou a frase. Afinal, quem é o seu autor? O Papa Bento XVI, com certeza, não é. Ele não criou filhos, não tem netos e, com todo respeito, tudo o que fala sobre crianças é pura abobrinha, não é fruto da experiência própria, não tem valor ético, é politicagem do Vaticano. Se o papa fosse avô, certamente puniria a pedofilia no clero, em vez de ficar jogando para a plateia, como cabo eleitoral.

Mas Dilma e Serra são avós. Ambos se manifestaram contra o aborto, não iriam querer que o neto abortasse um peidinho. Um deles, portanto, pode muito bem ser o autor da frase. Pode mesmo? Vamos ver. O assunto, de importância transcendental, merece uma análise tanto do ponto de vista programático quanto lexical.

Um exame minucioso dos programas de governo de Dilma e Serra comprova o desprezo deles pela questão ambiental defendida por Marina Silva no primeiro turno. Ora, o Brasil é o quarto emissor de gases tóxicos do mundo, devido às queimadas e à emissão de gás metano, produzido pelos gases do gado. Peidos de bois e vacas geram 80% do hidreto de metila disperso na atmosfera. O gás humano, expelido por uma criança a uma velocidade de 0,080m/s, pode contribuir para a poluição ambiental.

Serra e Dilma não estão preocupados com isso. O modelo que defendem é o do crescimento econômico a qualquer custo, com geração de renda e emprego. Ambos são capazes de engarrafar os gases produzidos pelos netos, misturando-os com propano e butano, para uso na cozinha. A única diferença, a favor de Dilma, é que ela mantém os recursos naturais como patrimônio do povo brasileiro, já Serra privatiza tudo, o pré-sal e até o pré-peido. Programaticamente falando não existe, portanto, qualquer impedimento para que o autor da frase seja um dos dois.

Balança a roseira

A prova dos nove, decisiva, fica então transferida para o campo lexical. Na qualidade de avô, Serra seria bem capaz de fazer esse pedido ao neto, mas jamais usaria a palavra “peido”, muito vulgar para um tucano emplumado. Se o autor da frase fosse ele, diria:

- “Expele um flato ruidoso pro nono ouvir, expele”.

A máxima concessão lexical seria trocar “expelir” por ‘liberar’. Por isso, Serra está descartado como autor da frase. E a Dilma? Bom, ela é pop, não fala tucanês, jamais falaria ‘flato’, mas também é demasiado recatada e formal para empregar a palavra “peidinho”. Prefere termos como ‘pum’, ‘traque’, ‘triscada’ ou ‘vento’. Talvez, se estivesse inspirada, diria poeticamente: “Balança a roseira pra vovó, balança”. Portanto, do ponto de vista lexical, fica comprovado que nenhum dos dois candidatos pode ser o autor da frase.

O autor, na realidade, não é candidato a nada, só a avô anônimo. Trata-se do meu melhor amigo, cuja neta, Ana Pereira, nasceu há duas semanas na Vila Feliz, no Rio Grande do Norte. A frase não se refere a ‘Gabi’, que entrou aqui como Pilatos no Credo, por intriga da oposição. O que ele disse repetidas vezes para sua neta - os vizinhos testemunharam - foi: - “Aninha, solta um peidinho pro vovô ouvir, solta”.

Não estou tentando justificar, mas a frase do avô de Ana só adquire significado dentro do contexto em que foi dita. Aninha tem um primo, de nome Marcelo, que por educação ou por consciência ecológica, não balança a roseira, nem expele flatos, o que lhe traz cólicas dolorosas. A avó do menino, preocupada, telefonou ao meu amigo para trocar experiências. Foi ai que ele falou do treinamento intensivo feito com Ana.

O treino começou com o avô cantando frevo e chacoalhando a neta. Hoje, quando ele implora para ela se pronunciar, Aninha fica vermelhinha, estica os dois bracinhos, move as perninhas como se estivesse pedalando uma bicicleta, franze o cenho e manda ver. O método se revelou tão eficiente que Aninha está indo a Manaus, onde vai ministrar um workshop aos primos com objetivo de ensinar como é que se balança a seringueira.

O avô, babão, declara que já esteve várias vezes perto da morte, mas nunca ficou tão perto da vida quanto no convívio com a neta. Ele lembra a frase de Gore Vidal: “Nunca tenha filhos, só netos. Os netos são a sobremesa da vida”.

Seguindo sugestões do avô de Ana, o Data/Taquiprati fez uma pesquisa de intenção de votos com 2925 netos, numa amostragem probabilística, dentro da linha de Cochran, Bolfarine e Bussab. A margem de erro é de 2%, e o nível de confiança de 97%. Diante da pergunta - qual dos dois avós você escolheria para presidir o Brasil? – 58% dos netos optaram por Dilma, muitos lamentando não poder escolher Marina.

A democracia avançou no Brasil. Os eleitores não são obrigados a optar para presidente da República pelo lixo: Collor, Barbalho, Roriz, Calheiros et caterva. Os dois candidatos, Dilma e Serra, independente das alianças que fizeram e das limitações pessoais e políticas de cada um, são nomes dignos e capazes de presidir o país. Afinal, ambos são avós.

Se for correta a pesquisa Data/Taquiprati entre os netos, dirigida por dois estatísticos de renome – Geraldinho Pai-da-Greta e Pão Molhado – o Brasil será dirigido pela primeira vez por uma avó. Vamos juntar os cacos e cobrar dela as promessas de campanha.
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José Ribamar Bessa Freire é professor universitário (Uerj), reside no Rio há mais de 20 anos, assina coluna no Diário do Amazonas, de Manaus, sua terra natal, e mantém o blog Taqui Pra Ti

Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz

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Pode chover canivete, o povo vai estar sempre presente


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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

As bolas de papel da democracia desejada


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O Jornal Nacional de 21/10 não foi só uma tentativa patética de recriar o tiro que matou o Major Vaz. Os 7 minutos gastos na “fabricação” da fita adesiva que teria atingido o candidato tucano revelam desorientação no tempo e no espaço. A Rua Tonelero não fica em Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro.
Gilson Caroni Filho

Quando as redações da grande imprensa, em campanha aberta pela candidatura Serra, erigem o preconceito como norma de juízo, a mentira não é apenas abominável: é suicida. A opinião pública brasileira dispõe, hoje em dia, dos elementos necessários para julgar os acontecimentos políticos, sociais, econômicos e culturais sem se deixar levar pelo filtro ideológico de conhecidas técnicas de edição. Há muito tempo, a sociedade aprendeu a aquilatar a qualidade ética da informação oferecida, os desvios de apuração e o descompromisso do noticiário com a verdade factual.

O Jornal Nacional de quinta-feira, 21/10, não foi apenas uma tentativa patética de recriar o tiro que matou o Major Vaz. Os sete minutos gastos na “fabricação” da fita adesiva que teria atingido o candidato tucano revelam desorientação no tempo e no espaço. A Rua Tonelero não fica em Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro. Além disso, passados 56 anos, não há lugar para atores políticos com indefinição ideológica evidente. Serra não é Lacerda; falta-lhe talento. O PSDB não é a UDN; tem lastro histórico mais precário. Mas em ambos, no candidato e em seu partido, convivem a vergonha de serem ostensivamente autoritários e o medo de serem inteiramente democráticos. A face dupla do moralismo udenista, transposto para 2010, realça o desbotamento de um Dorian Gray mal-acabado.

A campanha oposicionista padece de velhos vícios e truncamentos de origem. Parece acreditar que o povo, em toda a parte, é uma entidade incapaz e como tal deve ser tratado, sob pena de hecatombe social iminente. Deve-se também ameaçar a esquerda com a hipótese sempre latente de um golpe de Estado. E lembrar aos setores populares, principalmente à nova classe média, que se eles não tiverem juízo virão aí os bichos papões e, com eles, os massacres dos Kulaks, as igrejas fechadas, os asilos psiquiátricos, a supressão da liberdade, em suma, o socialismo sem rosto humano.

Essa agenda está superada, mas seu simples ressurgimento deve nos remeter a pontos importantes. Se atualmente é difícil calar organizações que expressam as demandas dos seus membros e representados, como é o caso do MST, do movimento estudantil e do mundo do trabalho, muitos obstáculos ainda têm que ser ultrapassados.

Exigir liberdades democráticas não é uma gesticulação romântica, desde que se dêem consequências às suas implicações. É preciso apostar na organização crescente das forças sociais com o objetivo de consolidar uma saída definitivamente nacional e popular para temas que vão da questão agrária ao controle social dos meios de comunicação.

A análise histórica mostra que, quando não avançamos na democracia concreta, damos aos seus adversários tempo para que se reorganizem, utilizando as oficinas de consenso para caluniar, difamar, fazer o que for necessário, para deter o ímpeto vital que lhes ameaça.

Nos dias de hoje, é preciso senso crítico sempre atilado, não se deixar envolver pela vaga e traiçoeira tese do aperfeiçoamento democrático a qualquer preço, pois as forças retrógadas costumam cobrar bem caro por nossas distrações ou equívocos. Por tudo isso, a eleição de Dilma Rousseff é um passo decisivo para erradicarmos de vez o cartorialismo econômico, a indiferença moral e a incompetência administrativa que marcaram vários governos até 2003.

Na Rua Tonelero, o futuro vislumbrado é o de um país que realizará suas potencialidades. O que importa saber é que atores são capazes de assegurar uma democracia com ênfase social, assentada também nos direitos individuais e na liberdade econômica. Nesse cenário, as bolinhas de papel passeiam na calçada. O vento-e não mais o cálculo político-dita o rumo de cada uma delas.
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Gilson Caroni Filho, sociólogo, mestre em ciências políticas, professor titular de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), é colunista da Carta Maior, colabora com o Jornal do Brasil e com esta nossa Agência Assaz Atroz.

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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Vem aí o golpe final

Pesquisas internas do PT – avisa-me um colega muito bem informado - mostram que a diferença entre Dilma e Serra segue a se alargar: nesse fim-de-semana, em votos válidos, o resultado é Dilma 57% x Serra 43%.

Desde o debate na “Band” – quando partiu para o confronto, e mudou a pauta do segundo turno – a tendência tem sido essa. O que aparece nas pesquisas Ibope, DataFolha e Vox Populi da última semana - que apontam vantagem entre 10 s 12 pontos para Dilma. Só o Sensus trouxe um levantamento diferente, com vantagem de 5 pontos.

A última capa da “Veja” – que muitos viam como ameaça para Dilma – foi apenas mais um factóide, sem importância, que não para em pé. Além disso, nas bancas de todo o país, estará exposta ao lado da “Istoé” e da “CartaCapital” – que trazem capas desfavoráveis a Serra. Nese terreno, o jogo está empatado. O progama de TV de Dilma segue melhor.

Então, qual seria a aposta de Serra para virar o jogo? Como sempre, a aposta está nas sombras.

Escrevi há alguns dias um texto sobre as “Cinco Ondas” da campanha negativa contra Dilma. O texto está aqui. O desdobramento final dessa campanha de medo e boatos (ou seja, a ”Quinta Onda”) seria ”mostrar” ao eleitor que a “Dilma terrorista” e o “PT contra as liberdades” não são apenas boatos. A Quinta Onda, pra dar resultado, precisa gerar fatos. Não pode viver só de boatos.

Serra parece ter chegado à Quinta Onda, com o factóide da bolinha de papel em Campo Grande. Caiu no ridículo, é verdade. Mas a mensagem que interessa a ele segue no ar (especialmente na Globo): “os petistas agridem, são violentos”.

Por isso, o grande risco dessa reta final é a criação de um factóide de maior gravidade: temo muito pelo que possa acontecer no Rio nesse domingo, com passeatas do PT e PSDB marcadas para o mesmo dia (felizmente, o PT mandou cancelar qualquer atividade na zona sul, onde os tucanos vão marchar).

Serra precisa de tumulto, de militantes tucanos feridos. Ou até de uma agressão mais grave contra ele mesmo. Imaginem só, entrar na última semana de eleição com essa pauta: “PT violento”, “a turma da Dilma é terrorista”. Imaginem Serra com um curativo na cabeça no debate da Globo!

A emissora dirigida por Ali Kamel já mostrou que não terá limites na tarefa de reverberar a onda serrista – seja ela qual for.

Serra quer criar tumulto. Serra precisa do tumulto. Só o tumulto salva Serra.

sábado, 23 de outubro de 2010

PEDRO E O GLOBO




“A política é a melhor alternativa que a humanidade encontrou para substituir o maior prazer que um ser humano pode ter: bater até à morte para depois comer o fígado do outro, abocanhando-o com a carne ainda quente e o sangue ainda fresco. Quem não está disposto a reconhecer isso, não consegue superar a própria vontade de devorar o outro. Por isso, se num debate político te chamo de criminoso e te xingo, fica contente, isso ainda é melhor do que você ser servido à minha mesa”.

Quem diz isso é meu amigo Henrique Sobreira, professor da UERJ, crítico, irônico, debochado, passional, lúcido, gozador e, sobretudo, fazedor de frases. Para relativizar a oposição entre civilização e barbárie, Henrique lembra que os maiores atos de violência humana sempre foram cometidos por pessoas que se autoproclamaram civilizadas e consideram que “o outro” era alguém que devia ser “educado”. Isso pode ser comprovado nos últimos cinco séculos: de Isabel - a Católica e Dom Manoel - o Venturoso, até os Georges Bushinho e Bushão. Os índios e os mulçumanos que o digam.

No Brasil, pelo menos nas campanhas eleitorais, a política substituiu a antropofagia. Salvo o bispo de sugestivo nome Sardinha, ninguém foi jantado e devorado pelo adversário, ainda que pequenas violências realizadas dentro de certos limites e hipócrita ou sinceramente condenáveis, tenham sido cometidas ao longo da história, como mostram exemplos mais recentes.

Cantando “espada de ouro quem tem é o marechal”, eleitores do marechal Lott cuspiram na cara de Jânio Quadros; o general Figueiredo chamou os estudantes de Florianópolis pra porrada; jogaram ovo e apedrejaram o Mário Covas; atiraram uma galinha preta na Marta Suplicy; esbofetearam o Collor em Niterói; lançaram uma torta na cara do Berzoini, então presidente do PT. Um velhinho deu umas bordoadas no Zé Dirceu. Vaiaram o presidente Lula na abertura do PAN. Esses gestos de violência não deixaram sequelas físicas ou morais.

Dois Serra

Um dia, caminhando pelo calçadão de Icaraí, em Niterói, encontrei um amigo, também professor da Uerj, Ronaldo Coutinho, um doce radical, que se arrastava, todo esparadrapado, exibindo hematomas pelo corpo. Dias antes, ele havia dado um soco no Collor e os seguranças moeram-lhe o corpo de porrada. Apesar de dolorido, estava feliz, feliz da vida: “estou quebrado, mas acertei o pústula” – dizia, rindo, como um menino travesso. Confesso que fiquei na fronteira da política e do canibalismo, quando invejei a façanha do Coutinho. Ele fez o que eu e a metade do povo brasileiro queríamos fazer. Estou orgulhoso de ser seu amigo.

E isso porque a bofetada no Collor foi mais simbólica do que física, se situou entre a sapatada no Bushinho e a estatueta de metal lançada contra o Berlusconi na Itália. Agora acertaram José Serra com uma bolinha de papel, que assumiu várias formas: “fita adesiva”, “artefato”, “tampa de garrafão de água mineral”, “objeto contundente”, “projétil”, até chegar a uma “bobina de papel crepe que arremessada com força pode provocar danos graves na pessoa atingida” segundo o bobinólogo Merval Pereira, articulista do jornal O GLOBO. E é aqui que o fiofó da cotia assovia, ou como poderia dizer Orozimbo Nonato: Hic culum cotiae sibilare.

A cotia assovia quando digo que admiro o José Serra. Sinceramente. Sem ironia. Juro. Faço um juramento amazônico: quero ver minha mãe mortinha no inferno, quero que Santa Luzia me cegue se estou mentindo. Mas o Serra que eu admiro é o de carne e osso, que nasceu pobre, filho de um feirante, ex-presidente da UNE, que amargou o exílio, lutou pela redemocratização do país, foi deputado, senador, prefeito, governador, ministro da saúde – bom ministro. Aquele que no início da campanha reconhecia os acertos do governo Lula. Nesse até que dava pra votar. Mas ele não é candidato.

O candidato é o outro Serra, aquele conivente com a mídia conservadora - que o inventou - comprometido com interesses dos setores mais atrasados e obscurantistas do país, arrogante, gigolô do sagrado e da religião, dono da verdade. Aquele cuja mulher declara que a adversária é a favor de matar criancinhas, que quando questionado sobre isso posa de vítima e baixa o nível do debate, que usa o tema do aborto no palanque eleitoral, que se deixa liderar pelo seu vice Indio da Costa – um paspalhão – em política externa e de segurança. E ai Serra perdeu: na emblemática escolha do vice.

A credibilidade

Nesse outro Serra, metamorfoseado em Opus Dei, que espetaculariza sua fé na Virgem de Aparecida, eu não voto, embora o respeite, porque ele é o candidato de mais de 40 milhões de brasileiros, alguns deles amigos muito próximos, com quem mantenho fortes laços afetivos, mesmo se nesse momento um de nós vai pra lá e o outro vem pra cá. No Serra que não voto é no Serra da Rede Globo, que arma, desinforma, sataniza, que zomba da minha inteligência, que acha que o cidadão é um otário, que esqueceu os gritos do povo nos comícios das Diretas Já: “O povo não é bobo, abaixo a TV Globo”.

Nessa semana, os telejornais da Rede Record e do SBT mostraram que Serra foi atingido por uma bolinha de papel atirada por um grupo de mata-mosquito que ele demitiu quando ministro da Saúde. O Jornal Nacional dedicou sete longos e caríssimos minutos para “provar” que a bolinha de papel era só parte da história, tinha havido outra agressão. Apresentou imagens nebulosas, interpretadas por um perito de reputação duvidosa, que diz que está vendo aquilo que não estou vendo, embora olhemos as mesmas imagens. O atentado, então, justificaria que Serra procurasse o médico, ex-secretário de saúde do Cesar Maia, para fazer uma tomografia computadorizada.

Francamente. Por serdes vós quem sois! Não exagereis para não serdes exagerado. Imaginem vocês se depois da cuspida que levou na cara, o histriônico Jânio Quadros exigisse um exame de abreugrafia, desconfiado de que o eleitor de Lott era certamente um tuberculoso que numa guerra química queria contaminá-lo. Serra é o primeiro paciente no planeta que faz tomografia por causa de um arremesso de uma fita crepe. Num país gozador como o Brasil, ele passou a ser objeto de piada, quando merecia contar com nossa solidariedade, se o fato não fosse manipulado e hiperdimensionado.

O episódio de violência, mais que nada simbólica, tem que ser condenado de qualquer forma, com veemência, com a mesma veemência com a qual devemos rejeitar sua exploração política, da forma mais torpe e manipuladora de factoides. Apesar disso, é preciso discordar também da intervenção do Lula que, como presidente da República, representa todos os brasileiros e não podia bater boca com um candidato. Não cabia a ele esse papel.

Numa época em que não havia escrita, no século VI antes de Cristo, na Grécia, um ex-escravo, chamado Esopo, que tinha o dom de narrar, contava entre outras a história de Pedro e o Lobo. Pedro, pastor de ovelhas, todo dia enganava a população gritando: “Olha o lobo!”. No dia em que o lobo apareceu, efetivamente, ninguém acreditou nos seus gritos. Quem acredita num mentiroso contumaz? Lembrei-me dessa história vendo o Jornal Nacional e a primeira página de O Globo, nessa sexta-feira. Assim, quando no domingo, 24 de outubro, o Globo escrever que é domingo, 24 de outubro, duvide, procure outras fontes antes de vestir sua roupa dominical.

P.S. – Às vezes, autoritário. Às vezes, ranzinza e ligeiramente rabugento. Sempre, amigo dos índios Guarani. Armando Barros, professor da UFF, parceiro em tantos projetos, nos deixou nesse sábado, com muita saudade. Seus alunos, seus colegas e os guarani choram a perda.

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José Ribamar Bessa Freire é professor universitário (Uerj), reside no Rio há mais de 20 anos, assina coluna no Diário do Amazonas, de Manaus, sua terra natal, e mantém o blog Taqui Pra Ti

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Brasil - Batalha de ideias

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Ana Helena Tavares


Quem tem medo do Lula - José Serra, como ex-ministro da saúde, deveria saber que o ser humano não é feito de papel, tem sentimentos.

Também não é (só) feito de fel, salvo em alguns momentos. Mas ele não sabe de nada disso.

Caçoa, zomba da inteligência alheia, ridiculariza a si próprio. Não mais se pode ver ao espelho com o perigo de este se voltar contra si.

Na tarde de ontem, 20 de Outubro de 2010, resolveu caminhar pelo calçadão de Campo Grande, reduto popular do Rio de Janeiro. Acenava pro vento, mas, mesmo este, não tem andado a seu favor.

Iniciou-se uma confusão, embate natural entre militantes de causas tão distintas, quando, de repente, Serra é atingido na cabeça por algo. Continua acenando pro vento durante 20 minutos, quando após um telefonema, leva as mãos à cabeça. Foi a senha para fotógrafos bem treinados transformarem confusão em tragédia, showmício em shownalismo.

O telejornal noturno da emissora auto-intitulada líder de audiência levou para o povo, que tanto ama, a seguinte informação: “Serra foi agredido por petistas”. O jornal “O Globo” do dia seguinte, que hoje representa verdadeiro monopólio no Rio de Janeiro, enfatizou. Sem elementos para afirmar de onde partiu o tal objeto, colocar a culpa na militância petista só pode ser entendido como calúnia, injúria, infâmia, difamação e outros nomes piores. Tudo passível de processo, caso o partido estivesse interessado. Mas o diabo, às vezes, se esquece da concorrência ou, talvez, a menospreze, o que é mais provável.

Pouco depois de o JN mentir descaradamente, o jornal do SBT levou ao ar vídeo elucidativo. O “objeto pesado”, antes tido como um rolo de fita crepe, não passaria de uma mísera bolinha de papel que, ainda por cima, foi claramente atirada com pouca força. Vamos combinar que se isso é “agressão” guerra de travesseiro também é. Era o caso de o isento conglomerado midiático global levar ao ar um plantão: erramos! Era o caso de o diretor de redação do jornal impresso, a sair horas depois, ir à gráfica e gritar: parem as máquinas, erramos! Mas nada disso foi feito. Porque não foi erro, foi pouca-vergonha mesmo.

Pouca vergonha de tumultuar um processo eleitoral já tão tumultuado e com um teatro de quinta. Teatro que, além de Serra e seus jornalistas amestrados, contou com atores de renome como o Dr. Jacob Kligerman, cirurgião de cabeça e pescoço, que atendeu o “ferido” em uma clínica em Botafogo. O citado médico é diretor do Inca e amigo do candidato. Quem disse que Serra não tem amigos? Além disso, Dr. Kligerman foi secretário municipal de Saúde do Rio, durante a gestão do ex-prefeito César Maia. Tudo em casa.

É digno de nota que o jornal carioca O Dia cumpriu hoje um bom jornalismo ao dar manchete para o incidente de ontem simplesmente como uma “confusão”.

Mas, vejam vocês que, para o bem ou para o mal, este episódio foi amplamente noticiado. Enquanto isso, 5 dias antes, em 15 de Outubro, o jornal O Estado do Acre, terra de Chico Mendes, berço do PT, dava um grito sem eco, denunciava sozinho que um militante petista foi morto por um opositor por motivo absolutamente torpe: o petista teve a infelicidade de fazer uma brincadeirinha, colando nas costas do outro um adesivo pró-Dilma. Foi o suficiente pro sujeito ir até sua casa, pegar uma espingarda, voltar ao bar onde estavam e assassinar friamente o petista, com uma única bala disparada à queima-roupa. Selvageria pura.

O assassino está até hoje foragido. Imaginem se fosse o contrário e ele fosse do PT? Mereceria de certo um plantão da Rede Globo, com um indignado casal de apresentadores, e uma capa especial da Veja, sob o título: “Chico Mendes chora.”
Este arbítrio máfio-midiático, a que o brasileiro que não tem internet está submetido, é o que emperra a democracia. É verdadeiramente o que se pode chamar de barbárie. O resto é bolinha de jornal.

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*Ana Helena Tavares é jornalista por paixão, escritora e poeta eternamente aprendiz. Editora-chefe do blog "Quem tem medo do Lula?". Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz.

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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A santíssima trindade dos homens de bem

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Na disputa política, o “iluminismo tucano" tem levado o candidato do PSDB a ficar muito parecido com tudo que ele, em seu passado como homem de esquerda, rejeitava como lixo. É assim que a oposição fabrica um ”homem de bem".

Gilson Caroni Filho


A canalhice eleitoral também pode ser cruel e humilhante, quando adiciona à degradação do corpo político a desordem das idéias. Às vezes, para sorte dos náufragos, o processo é lento, de se medir em anos. Outras vezes, tem a perversão da rapidez e produz em suas vítimas súbita metamorfose. Esta velhice, a mais sofrida para quem dela padece e a mais chocante para quem a vê, abateu-se sobre a candidatura Serra.

A versão global-carismática da desmodernização brasileira parece não conhecer limites. Na disputa política, o “iluminismo tucano" tem levado o candidato do PSDB a ficar muito parecido com tudo que ele, em seu passado como homem de esquerda, rejeitava como lixo. Os dois fenômenos, o da fé mercantilizada e o da política dessecularizada, tornaram-se imbricados, um aprendendo a usar os recursos do outro para alavancar os seus projetos que guardam inequívoca afinidade eletiva. É assim que a oposição fabrica um ”homem de bem".

Se acrescentarmos ao quadro dantesco a Justiça Eleitoral usada como instrumento de poder, veremos o quanto está ameaçada a legitimidade da representação popular, sem a qual não existe democracia. Estaríamos assistindo à implantação no país de uma justiça de gabinete, considerada pelo pensamento jurídico mundial a forma mais infame de prepotência principesca? Este é o projeto demotucano? Oremos todos.

A temperatura da campanha, agitada com os debates entre os candidatos e a demonização do Programa Nacional dos Direitos Humanos (PNDH), nos obriga a retroceder no tempo para lembrar ao eleitor de classe média a tessitura do retrocesso em andamento. É interessante retornar a 2001, para aquilatarmos alguns dados e falas esquecidas.

Há nove anos, Márcio Pochmann, fazia uma precisa radiografia do desemprego e da precarização do trabalho, que assolava a economia brasileira(*). O autor apresentava quais os principais elementos que asseguravam a (triste) presença do Brasil no pódio, como um dos campeões do desemprego em escala mundial. Em suas palavras: “Em 1999, por exemplo, o Brasil ocupou o terceiro lugar no mundo em desemprego aberto, representando 5,61% do total do desemprego mundial, apesar de contribuir com 3,12% na PEA global. Em contrapartida, no ano de 1986, a colocação do Brasil no ranking mundial foi a décima terceira, com participação de 2,75% e representação de 1,68% do desempenho mundial".

O economista alertava que o perfil ocupacional do trabalhador brasileiro o deixava exposto aos efeitos deletérios da globalização, decorrentes da liberalização comercial e da desregulamentação do mercado de trabalho, sem constrangimento por parte das políticas macroeconômicas e sociais nacionais. Para quem acredita que Lula nada mais fez senão dar continuidade ao governo FHC, é legítimo indagar sobre as bases em que está assentada esta crença.

O descontentamento com a crise energética influía negativamente na avaliação do governo FHC, de acordo com pesquisa do Instituto Vox Populi, feita em junho de 2001. O percentual de ruim e péssimo saltava de 34 para 42%. A taxa de ótimo/bom refluía de 22% para 17%. Os entrevistados apontavam como piores áreas do governo: a saúde (29%), a energia elétrica (23%) e a segurança (17%). Ou seja, a gestão do “melhor ministro da Saúde que o país já teve", como alardeia a propaganda tucana, era a que apresentava a pior avaliação. Os tempos eram duros para o “homem de bem" dos púlpitos do Opus Dei.

Em 2002, aliados e estrategistas dos principais candidatos à Presidência acreditavam que o fechamento de um acordo com o FMI aliviaria o clima da campanha eleitoral por trazer mais estabilidade à economia e afastar a "argentinização" do Brasil.

O candidato do PSDB, José Serra, pretendia faturar o momento, apresentando-se como o único capaz de repetir o feito de fechar, se necessário, um novo acordo. Seu raciocínio era contestado por outro ”homem de bem". O presidente do PPS, senador Roberto Freire, conhecido como “líder do governo na oposição", reagia com ironia aos prognósticos do tucano.

“Isso é uma besteira, algo risível. Esse acordo está sendo fechado para corrigir os equívocos da equipe econômica, totalmente subordinada ao FMI.
Porque reduziram o estrago, agora querem virar os salvadores da pátria".

Freire, como se sabe, viria a apoiar Alckmin em 2006 e está na coligação tucana em 2010. Sua trajetória, como político de esquerda, é conhecida. Desde os tempos do velho PCB, o oportunismo açoita-o em direção da direita, em nome de evitar a vitória da direita pior. Sempre aderiu ao blablablá de combater o "inimigo de dentro"- o que, na linguagem cristalina da política, significa descolar uns empreguinhos no governo. E, quem sabe, um dinheirinho para a campanha. Esta sempre foi sua interpretação sobre o conceito gramsciano de "guerra de posição"

O DEM completa a tríade da santidade oposicionista. Nunca foi capaz de matricular-se num curso intensivo sobre como fazer campanhas eleitorais sem recursos do Orçamento da União, que fosse só na base do palanque, aqui entendido como discurso de identificação com a sociedade. Para tal, precisaria arrumar um projeto de país, coisa que jamais passou pela cabeça do seu ex-presidente, Jorge Bornhausen, conhecido pelo apelido de “Alemão", por conta do temperamento gélido e da ascendência genética.

Serra, Freire, Borhausen. Eis a santíssima trindade. Por ela, as redações rezam em editoriais e colunas: “dai-me sempre guarida, tende de mim piedade" O Estado laico não pode dizer amém.

(* ) Pochman, Márcio. O Emprego na Globalização. SP, Boitempo, 2001

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Gilson Caroni Filho, sociólogo, mestre em ciências políticas, professor titular de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), é colunista da Carta Maior, colabora com o Jornal do Brasil e com esta nossa Agência Assaz Atroz.

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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Quem é o Serra dos debates?

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Gilson Caroni Filho


Quando entrou nos estúdios da Rede Bandeirantes para o segundo confronto com Dilma Rousseff, Serra parecia confiante. Afinal, pesquisas recentes indicavam que sua candidatura registrava uma curva ascendente. Amparado pelo confortável clima de terror criado por demotucanos, com auxílio inestimável do oportunismo de grupos religiosos partidários da teologia da prosperidade, "IN NOMINE DEI”, o massacre da adversária era tratado como favas contadas. Mas, como costuma acontecer na luta política, o açodamento voraz aumenta a voltagem de fracassos inesperados.

A adversária se mostrava surpreendentemente bem mais preparada do que no encontro anterior, disparando alguns petardos para os quais o PSDB - e a mídia corporativa que lhe apóia - não encontraria proteção adequada nem mesmo no dia seguinte. Do assessor que fugiu com R$ 4 milhões da campanha a uma possível privatização do pré-sal em um caso de vitória tucana, Serra manteve a fisionomia tensa, perdendo-se nas respostas, sem conseguir esboçar contra-ataques com os detalhes que a televisão exige. O desempenho do personagem preocupou assessores e a base social que lhe dá sustentação.

Quando perguntado sobre fatos provados, respondia com evasivas. Nem mesmo a mulher, Mônica Serra, foi capaz de defender. Foge como o diabo da cruz quando são feitas comparações entre os governos FHC e Lula. Quem tirou 14 milhões da miséria, levou 32 milhões para a classe média, criando 13 milhões de empregos? Que governo fez o Brasil crescer como nunca, libertando o país dos ditames do FMI? Quem proporcionou acesso de um enorme contingente popular às universidades, mudando a fisionomia e as expectativas educacionais de uma formação social marcada pela exclusão? Sob o manto das redações que o protegem, Serra é poupado de contraditórios incômodos. Quando exposto ao confronto, sobram o sorriso nervoso e as mãos trêmulas no ar.

Ficou claro, no debate de ontem, que Serra promete coisas sem base e silencia sobre como vai cumpri-las. Chegou o momento de mostrar, às claras, quem é o ex-governador que paga os piores salários do Brasil para os professores e policiais de São Paulo, recusando qualquer possibilidade de diálogo com representantes das duas categorias. Serra envereda pela ficção quando diz que criou os genéricos e o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). E mente quando diz que tirou do papel o Seguro-Desemprego.

Nos próximos encontros, Dilma deve mostrar ao país o perigo de ter religiosos fundamentalistas dando palpite na administração pública. Precisa alertar que nas regiões metropolitanas, em comunidades carentes, além da crônica falta do Estado, os poderes conferidos a seitas e outros espertalhões, aliados a uma polícia medíocre e corrupta, acabam facilitando a vida de milicianos e traficantes. O que faz soar, no mínimo, ridícula a proposta tucana de criação de um Ministério da Segurança.

É importante indicar ao eleitor que um eventual governo Serra representará um mergulho nas trevas, com direito a TFPs, Opus Dei, Carismáticos e outras denominações legislando o nascimento de um poder assentado em bases teocráticas. Sobre isso deveria refletir uma parcela da classe média. Aquela mais apegada ao consumo que à cidadania, sócia despreocupada do rentismo e do poder nos tempos neoliberais.


Acostumada, desde a ditadura militar, à apropriação dos recursos que o mercado ou o Estado lhe ofereciam para a melhoria de seu poder aquisitivo e seu bem-estar material, ainda conserva vícios de origem, reagindo negativamente ao aumento da participação e da inclusão política de novos setores. Instalada em um desencanto abrangente, como estamento arraigado, abriga forças que não ameaçam apenas o processo democrático. O perigo vai bem além. Por tudo que vimos nessa campanha, a candidatura de Serra é incompatível com os valores mais caros à modernidade.

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Gilson Caroni Filho, sociólogo, mestre em ciências políticas, professor titular de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), é colunista da Carta Maior, colabora com o Jornal do Brasil e com esta nossa Agência Assaz Atroz.

Ilustração: AIPC – Atrocious International Piracy of Cartoons

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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

BRASIL Dom Tomás Balduíno: ‘Trata-se de derrotar a direitona que é contra os pobres, negros, índios e camponeses’

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Adital -

Faltando duas semanas para a realização do segundo turno, religiosos/as católicos/as e evangélicos/as lançaram uma carta declarando o voto na candidata do PT Dilma Rousseff.

A IHU On-Line entrevistou, por telefone, Dom Tomás Balduíno, bispo emérito de Goiás e presidente honorário da Comissão Pastoral da Terra (CPT nacional), que também assinou o documento. Na entrevista, ele fala sobre a necessidade de escrever o documento em apoio à Dilma. "A questão não é o amor à Dilma, mas o ódio ao projeto de Serra. A opção por Dilma é simbólica, o significado da opção por Dilma é o mesmo de Lula, é a possibilidade da caminhada dos Sem Terra, dos negros, dos índios sem repressão", explica.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Quando se sentiu necessidade de escrever esse documento de apoio à Dilma?

Dom Tomás Balduíno - Foi no momento do beco sem saída. Só temos duas alternativas: ou Serra ou Dilma. Agora, é salvar o que se pode salvar. A questão não é o amor à Dilma, mas o ódio ao projeto de Serra. O significado da opção por Dilma é a possibilidade da caminhada dos Sem Terra, dos negros, dos índios sem repressão. A prioridade não é a concentração, não é a privatização. Trata-se de derrotar a "direitona" que é contra os pobres, negros, índios e camponeses. Em oito anos, o governo Lula teve muitos defeitos e equívocos, mas ele não implementou a repressão. Todo mundo me fala da carta, alguns acham bom, outros ruim, mas isso significa que ela está seguindo o seu caminho e chegou em boa hora, ainda em tempo de se refletir.

IHU On-Line - No primeiro turno, alguns bispos aconselharam a sociedade a não votar na candidata do PT. Assim como há um movimento dos evangélicos apoiando Serra em função da discussão sobre o aborto e a união civil homossexual. Como o senhor vê esses posicionamentos?


Dom Tomás Balduíno - Alguns bispos tiveram esse posicionamento no primeiro turno porque havia mais opções, eu mesmo votei em Plínio.

IHU On-Line - Como o senhor percebe esse debate que está sendo feito acerca do aborto?

Dom Tomás Balduíno - Isso é um gancho favorável à oposição. Mas tanto um lado quanto o outro tem problemas com relação à compreensão do aborto. Nós, da Igreja, questionamos esse pessoal que só fala em proteger a vida intra-uterina. Está certo, mas o pessoal é tão fanático que esquece que a vida vai além disso, que Jesus valoriza a vida do marginalizado, do oprimido, do pobre, do escravo.

IHU On-Line - Como o senhor vê a dimensão que a religião está tomando nesse debate para o segundo turno?

Dom Tomás Balduíno - Acho que a Cúpula da CNBB está tendo uma posição respeitosa com a cidadania. Cada um é livre. Então, a Igreja não vai se apropriar do seu prestígio e força histórica para pôr um candidato ou vetar outro. Isso aconteceu no passado e foi um desastre. Do ponto de vista da direção da CNBB, tudo bem, foi corretíssimo. A nota da CNBB foi serena e bem vinda porque respeita o nosso direito de votar em quem se acha melhor.

IHU On-Line - Como a Igreja Católica sairá dessa eleição?

Dom Tomás Balduíno - Não há uma crise na Igreja Católica. O centro de decisão tomou uma posição racional, não passional, mas respeitosa. Isso vai balizar o andamento da carruagem depois da eleição. Haveria crise se essa esfera não fosse atingida. Para nós é uma referência muito importante em termos de compreensão do conjunto do respeito pelas diversas opções.

IHU On-Line - Quem fez mais pelo povo indígena brasileiro?

Dom Tomás Balduíno - FHC foi contra esse povo. A direita, quando entra no poder, faz concentração, porque ela é classista e faz política de exclusão e mercantilização. Minha posição pode ser dura e intempestiva, mas continuo pensando que no dia em que a bancada ruralista dominar o Congresso, nós estaremos, literalmente, perdidos.

IHU On-Line - Os povos indígenas estão apoiando quem?

Dom Tomás Balduíno - Eles estão com eles. Os povos indígenas têm sido muito mal tratados, mas atualmente não tanto como em outros governos. Antes de Lula, os povos indígenas sofreram muito. Na questão de Raposa Serra do Sol, por exemplo, devemos tirar o chapéu. Mas também tivemos retrocessos, como, por exemplo, por parte do Supremo Tribunal Federal que colocou restrições aos direitos dos povos indígenas. Os índios estão num patamar de consciência e organização que é importante, eles assumiram a posição de sujeitos da sua própria história. A causa indígena está salva por isso, não por governo A ou B, mas porque eles tomaram uma posição mesmo com todo o sofrimento pelo qual passam. O próximo governo terá pela frente povos organizados.
* Instituto Humanitas Unisinos

Ao publicar em meio impresso, favor citar a fonte e enviar cópia para: Caixa Postal 131 - CEP 60.001-970 - Fortaleza - Ceará - Brasil

sábado, 16 de outubro de 2010

PARE E PENSE! NESSA GUERRA “SANTA” QUAL O SEU PAPEL? MARIONETE?

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Laerte Braga

Em 1985, num debate mediado pelo jornalista Boris Casoy, os candidatos a prefeito de São Paulo, Fernando Henrique Cardoso e Jânio Quadros, foram surpreendidos com perguntas um tanto inusitadas do mediador.

Casoy (que apóia José FHC Serra e acha que garis são a mais “baixa categoria da escala social) perguntou a FHC se ele acreditava em Deus. O então senador respondeu que não, mas respeitava aqueles que acreditavam. Com todas as letras o ex-presidente se declarou, naquele debate, ateu.

É de fato um direito legítimo de FHC e de qualquer um.

Fé é um direito de consciência de cada um. Há que ser respeitado e a Constituição o garante. Não se impõe e não se vende.

José FHC Serra é ateu. Em tempo algum escondeu isso de ninguém. Ou seja, até ser candidato a presidente da República em 2002 e virar católico, evangélico, espírita, tudo, de carteirinha.

Em 2010 seu partido com apoio de setores da Igreja Católica Romana e grupos evangélicos proclama através de uma propaganda distribuída em seus comitês que “Jesus é verdade e justiça” e transforma as eleições numa cruzada, numa guerra santa.

Quando Cristo expulsou os “vendilhões do templo” não estava expulsando trabalhadores, ou fiéis que ali estavam para vivenciar sua fé. Expulsou mercadores, homens de negócio, líderes religiosos que faziam da fé um comércio, um negócio.

Jesus Cristo não foi condenado a ser crucificado pelo governador romano da Judéia, Pôncio Pilatos. Pilatos entregou-o aos judeus depois de lavar as mãos e dizer que a Roma ele não ofendia, contra Roma não cometera crime algum.

O “crime” de Cristo foi o de se opor ao poder dos líderes religiosos da Judéia e mostrar as vísceras desses líderes, mercadores da fé, da religião, da convicção da existência de Deus e de sua palavra. Revelada pelo próprio Cristo.

O PADRE AUGUSTO

Um típico vendilhão do templo. Faz da fé um instrumento de negócio, faz da religião mercadoria e usa sua condição de sacerdote para iludir e enganar fiéis. Imagina que católicos de sua paróquia sejam como que marionetes nesse jogo sórdido a que se presta e do qual é um dos protagonistas, pouco se importando com a Igreja em si, com a fé, mas com os interesses que representa.

Teria sido expulso do templo por Cristo como vendilhão.

Padre José Augusto, ou padre Augusto como é conhecido, é integrante da comunidade Canção Nova e é responsável pela formação de outros padres. Mora em São Paulo (base eleitoral do candidato José FHC Serra).

No dia cinco de outubro dirigindo-se a fiéis de uma igreja em São Paulo disse que se “O PT ganhar vai piorar”. Estava vendendo a sua mercadoria escorado na condição de sacerdote.

Imaginou e imagina que como tal, padre, pode conduzir e guiar as pessoas segundo a sua vontade, supõe-se acima do bem e do mal, guia e condutor.

E que as pessoas sejam marionetes.

É incapaz de dirigir-se aos fiéis de forma sensata e honesta – isso mesma honesta, sua atitude foi desonesta – recomendando-lhe um atento exame dos candidatos, uma correta verificação do programa de cada um e ao final, uma prece para que cada um possa escolher o melhor a seu juízo e o Brasil encontre um caminho de harmonia, de verdade, de justiça.

Não. Tem que vender seu peixe, usa a religião para esse fim, é pago – pago sim – para isso. Não importa que em sua comunidade existam vozes discordantes, importa que lhe foi atribuída, na condição de vendilhão do templo, a tarefa de mentir do púlpito, de ludibriar do púlpito. Isso é o de menos para esse tipo de gente.

A canalhice é intrínseca a ele.

A venda do templo feita por padre Augusto está em

http://www.youtube.com/watch?v=vgWdrcWNSbY&feature=player_embedded#!

A MULTIPLICAÇÃO DOS MILHÕES

O jornalista Paulo Henrique Amorim reproduziu em seu site CONVERSA AFIADA, os comentários de um especialista no setor imobiliário em São Paulo, a propósito do apartamento onde mora o engenheiro Paulo Vieira de Sousa, acusado de sumir com quatro milhões de reais da campanha de José FHC Serra, o ateu, amigo do padre Augusto.

Paulo Vieira de Sousa mora em São Paulo, à rua Doutor Eduardo Sousa Aranha, 255, Nova Conceição, área nobre da capital paulista.

A maioria dos apartamentos é duplex, dispõe de piscina, sauna, adega, churrasqueira, biblioteca e acabamento de alto luxo, além de 10 vagas na garagem e segurança ostensiva 24 horas por dia. No prédio moram banqueiros, empresários, as chamadas socialites e atrizes.

Segundo Paulo Vieira de Sousa, funcionário público do governo de São Paulo, o apartamento foi comprado com um dinheiro que lhe emprestou o senador eleito Aloísio Nunes, por 300 mil reais.

O custo apartamentos naquela área residencial chega a dez milhões de reais. Sim. DEZ MILHÕES DE REAIS.

Multiplicação dos 300 mil emprestados por Aloísio Nunes, naturalmente milagre feito pelo padre Augusto. Em muitas oportunidades o engenheiro sai do prédio num Jaguar de sua propriedade, blindado ou chega de helicóptero.

Paulo Vieira de Sousa é aquele que aparece na foto ao lado de José FHC Serra quando da inauguração do RODOANEL e que José FHC Serra disse que não conhecia até o momento que o engenheiro ameaçou abrir o bico. Aí, José FHC Serra não só o conhecia, os fatos são indesmentíveis, como chamou-o de “competente”.

Cristo, o padre Augusto deve saber disso, imagino, afinal pelo menos para disfarçar se diz sacerdote, multiplicou os pães e peixes para mitigar a fome da multidão que acorrera à montanha para ouvir exatamente um dos seus mais extraordinários sermões, o da Montanha.

O Jaguar do engenheiro que José FHC Serra não conhecia custa quatro vezes o salário do dito cujo.

Paulo Henrique Amorim revela, ainda, que a filha de Paulo emprestou 300 mil ao chefe do Gabinete Civil do então governador José FHC Serra.

Que conste dos autos que Paulo Henrique Amorim não é de VEJA, ou da FOLHA DE SÃO PAULO, deixou a GLOBO por não aceitar ser bandido, logo, é jornalista de caráter, sem medo e acima de qualquer suspeita.

Já o padre Augusto... O engenheiro que José FHC Serra não conhecia... O candidato cristão católico, evangélico, espírita, líder da cruzada pela moral e bons costumes, José FHC Serra, ah! Esse.. Bem, é especialista em multiplicar corrupção e vender países como o Brasil.

Tutti buona genti.

Essa notícia não vai ser vista no JORNAL NACIONAL (está comprado), nem em VEJA (idem), tampouco em FOLHA DE SÃO PAULO (ibidem).



E OS FIÉIS?

Há dias ouvi uma líder Umbandista explicar o seguinte. Que recebe de braços abertos as pessoas que acorrem ao templo que dirige. Oferece-lhes a oração e passes sem perguntar nome, cor, profissão, sexo, preferência sexual, sem induzi-los a nada. Apenas pratica a caridade espiritual na forma concebida pelos umbandistas.

Sei que a líder a que me refiro tem seus candidatos. Em momento algum ouvi qualquer menção a esses candidatos. Pelo contrário. Uma proibição expressa de campanha política no âmbito do templo que dirige.

Segundo costuma afirmar, sempre, reiteradas vezes, cabe a cada um abraçar sua fé e buscar, no respeito à fé do outro, do próximo, praticar o amor, a solidariedade, o respeito, viver a vida segundo suas convicções a partir de sua consciência.

“Não posso obrigar ninguém e nem devo a pensar como eu penso, a viver como eu vivo. As portas do templo estão abertas a todos e aqui dentro se pratica a caridade, o amor, o respeito e a solidariedade, sem perguntar a quem”.

“Busco compreender cada um e confortar-lhe. Entender o problema de cada um e dar uma palavra de fé e amor. Mas não posso pegar as pessoas pelas mãos e levá-las onde desejam. Cabe a cada um buscar o seu caminho a partir do conhecimento”.

“Do conhecimento”.

“Conhecei a verdade e a verdade vos libertará”

Padre Augusto não tem a menor idéia do que seja isso. Respeito à individualidade. É como o engenheiro Paulo Vieira de Sousa. Multiplica mentiras. É como José FHC Serra, não conhece pela manhã e conhece à tarde.

O que são os fiéis na concepção de padre Augusto? Ou do ateu José FHC Serra? Ou do engenheiro que com 300 mil comprou um apartamento de milhões?

Valem-se da mentira. Valem-se da canalhice típica de vendilhões do templo para usar a fé, a convicção religiosa, a boa fé e iludir, ilaquear, ludibriar, tudo para que possam atingir seus objetivos bandidos.

Não tem respeito pelo próximo. Imaginam a sociedade de marionetes. Escoram-se nas contumazes mentiras da mídia privada (comprada, venal) como GLOBO, FOLHA DE SÃO PAULO, VEJA, RBS, etc.

Se Mônica Serra, mulher do candidato José FHC Serra e que se afirma teria feito um aborto com consentimento do marido tivesse respeito mínimo por si própria, por sua condição de mulher, pelas mulheres, jamais se referiria ao bolsa família como “bolsa esmola”.

Não deve ter lido, nunca, é atéia, o Sermão da Montanha, ou escutado contar do milagre da multiplicação dos pães e dos peixes. Multiplica milhões nas concorrências, ou ausência de concorrências, dos negócios do marido.

Ser católico, ser evangélico, ser espírita, umbandista, o que seja, é um direito legítimo de cada um, inclusive de não ser nada, ou ser ateu.

Esconder-se sob o manto de uma crença para tentar vencer uma eleição é canalhice. Usar a religião, qualquer que seja, para eleger-se a qualquer preço, é vender o templo.

Quando estava já num processo final de vida, em sua última entrevista, Jean Paul Sartre recebeu uma jornalista que lhe perguntou se ainda continuava ateu. O filósofo respondeu assim – “continuo, mas com a esperança esperante que Deus exista, do contrário a vida não tem sentido”.

Fiel não é rebanho, gado tangido que se possa iludir, como o fez padre Augusto. Deveria ter tido a decência e a dignidade de despir-se do seu hábito e não usar o púlpito da sua igreja para pedir votos.

Fiel é alguém que busca na fé, na prática religiosa, o caminho para que possa viver a vida em acordo com seus princípios, os princípios da fé que abraça e não ser usado de forma vergonhosa por um sacerdote vergonhoso, a serviço de um político ateu que se finge de religioso, além de ser corrupto.

O ser ateu é o de menos, demais é o fingir, a hipocrisia. A conivência de um padre abjeto.

Quem aos porcos se mistura, farelo come...

Fico a pensar se Cristo aparecesse diante desse tipo sórdido de fariseus, gente como padre Augusto, José FHC Serra, ou o engenheiro Paulo (o que ameaçou abrir o bico se o candidato o abandonasse) e se mostrasse como revelam os vários evangelhos do Novo Testamento.

Iriam chamá-lo de louco, dar-lhe uma esmola e se insistisse muito, iriam chamar a polícia e naturalmente se dizerem vítimas de um maluco, ou um terrorista.

São canalhas lato senso e pensam que podem enganar por todo o tempo as pessoas.

Quem sabe, na próxima prédica, padre Augusto não leva lá o senador eleito Itamar Franco, o trêfego, ex-quase prefeito de Aracaju passando por Niterói, para falar sobre os genéricos que José FHC Serra criou e o Plano Real de FHC?

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Laerte Braga é jornalista e colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz

Ilustração: AIPC - Atyrocious International Piracy of Cartoons

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