quinta-feira, 30 de julho de 2009

Fraseadores: Ivan Lessa cita "Lula"; debatedores do Yahoo! respondem

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"Devemos não somente nos defender, mas também nos afirmar, e nos afirmar não somente enquanto identidades, mas enquanto força criativa", Michael Foucault

"Jamais desista daquilo que você realmente quer fazer. A pessoa que tem grandes sonhos é mais forte do que aquela que possui todos os fatos", H. Jackson Brown


Frases a fraseadores



Por Komila Nakova e Goober














"Basta ler meia página do livro de certos escritores para perceber que eles estão despontando para o anonimato", Stanislaw Sérgio Ponte Preta Porto

















"Eu escrevo livros, por isso sei todo o mal que eles fazem", Léon Tolstoi











"Nas pessoas de capacidade limitada, a modéstia não passa de mera honestidade, mas em quem possui grande talento, é hipocrisia", Arthur Schopenhauer









"Autodidata é um ignorante por conta própria", Mário Quintana









"No Brasil, só se é intelectual, artista, cineasta, arquiteto, ciclista ou mata-mosquito com a aquiescência, com o aval das esquerdas", Nelson Rodrigues










" ' Hein? O quê? Cuméquié?', Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Todos os dias úteis do ano. No sábado e domingo, o futuro presidencial é inaudível ou vem cheio de chiado, feito disco antigo", Ivan Lessa, da BBC, no PÁGINA UM
http://pagina-um.blogspot.com/2008/01/ivan-lessa-frases-e-resolues-de-ano.html





"Por que NÃO são as RESPOSTAS que movem o Mundo, mas sim as PERGUNTAS? Pσєтα dσ αмσя●• em fórum do Yahoo!
O mundo é tão duvidoso assim mesmo?

Por que a cada hora aparece sugestões, enigmas, experiencias...

Por exemplo
- como surgiu a vida?
- de que é feito a vida?
- Como cientistas explicam o aparecimento do homem?

E tantas outras indagações e afirmativas, opiniões, dicussões...

Meu DEUS!

O que vc acha disso?
Realmente são as PERGUNTAS QUE MOVEM O MUNDO E O SER HUMANO?

Melhor resposta - Escolhida pelo autor da pergunta

Marechal: Porque somente existem respostas se houverem perguntas.
O homem só sai do lugar quando há dúvida sobre o que há do outro lado.
Seja Feliz!!!
http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20090719054350AAczRLo

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PressAA
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quarta-feira, 29 de julho de 2009

O próximo pode ser você

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Calendário Histórico

1794: Robespierre é executado na guilhotina



Prezados amigos

Não tivesse existido Robespierre, não existiria POLÍTICA de redenção popular no século XIX. Provavelmente Marx/Engels não teriam a bases práticas em POLÍTICA para sua obra. Robespierre foi o real início de toda a luta de classes no mundo ocidental. Cumpriu seu papel até o último dia de vida. Marcou o início do que se convencionou chamar de História Contemporânea. Mas a burguesia aprendeu TUDO na Revolução Francesa. Até se ALIAR oportunisticamente ao proletariado quando de crises agudas. Robespierre, dada a distancia no tempo, é mais atual que nunca.
Abraços
Castor
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Comentário de ArnaldoC

Foi um homem notavel, sim, meu caro Castor, restaurador fugaz dos principios revolucionarios, embatucados pelos personalismos e carreirismos que surgiam por toda parte, inclusive no seio do Comite de Salvacao (a TV brasileira diria, hoje, "resgate", do ianque "rescue") Publica. Nao foi, entretanto, o "inicio" da luta-de-classes, jah que ninguem a encarnou ou encarna. Aliahs, entre parentesis, nunca poderei esquecer do General Geisel, diante das cameras televisivas, a dizer que "a luta-de-classes nao existe!"...Robespierre representou, isso, sim, o "Incorruptivel" que soh confiaria em seu assessor Saint-Just, verdadeira causa de sua conducao ao cadafalso. O erro do ultimo revolucionario de 1789 foi o de nao ter sabido como preservar-se no poder, como Stalin e outros, em maior ou menor grau repressivo.

Jah o Diretorio foi a balela dos "arranjos", tentativa frustrada de composicoes que logo o levaria aa desmoralizacao, nao tendo outra sahida a nao ser a do apelo bonapartista. Acochambrou a coisa com o regime dos Consulados trinitarios, ateh o unitario do jovem "Chat Botte", heroi das batalhas medio-orientais aos 30 anos de idade, embora fragorosamente derrotado na batalha naval de Abu Kir. Era a disputa pelo Oriente, reabrindo uma questao encerrada 800 anos antes com as vitorias de Saladino sobre os Cruzados europeus, da qual sairah vencedora a Gran-Bretanha, soh restando aa Franca a Indochina, os enclaves indianos, a Nova Caledonia e outras possessoes insulares no Pacifico.

Curioso que, no Ocidente europeu, foram necessarios movimentos revolucionarios, para lograrem-se pactos sociais, enquanto os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade seriam justificativas para o desencadeamento do neo-colonialismo, tal como hoje, EUA e UE aa frente, o democratismo da Democracia age como justificativa pretextual da guerra contra os islamitas, com as feridas da Palestina, do Iraque, Afeganistao e Paquistao, a sangrarem diante da indiferenca global. E querem os bempensantes, ainda aa procura de meios e modos, rasgar outras, no Iran e NE asiatico, onde ora vivo.

De Robespierre ateh agora, a essencias das coisas do mundo mudou quase nada, soh que agora os ocidentalistas deteem o poder propagandistico dos orgaos mediaticos. Num Pahis como o nosso, cujas elites titubeiam, faz quase dois seculos, a incluirem-se em nosso mestico universo sul-americano - unica forma de universalizar-nos -, propoem-se elas a "trazer o Ocidente" aas nossas paragens. Ateh nossas esquerdas porfiam nesse engajamento, no passado recente cometendo o erro de confundirem nossa luta social com metologias do sovietismo ou assemelhados, dando no que deu e dah. Como dizia o Glauber, "nem Lenin, nem Stalin, nem Mao e nem Machado do Assis!".

Robespierre tem, claro seu lugar na Historia. Prefiro cultivar suas fragilidades. Tornam-no mais hu-ma-no, algo em desaparecimento exponencial, nestes tempos de "criatividade e inovacao", vale dizer, de imbecilizacao do individuo consumidor.

Abracos do
Arnaldo C.


1794: Robespierre é executado na guilhotina

Cena da prisão de Robespierre

No dia 28 de julho de 1794, o revolucionário francês Maximilien de Robespierre foi executado na guilhotina. O motivo de sua prisão foram boatos de endurecimento da Lei do Terror. Sua morte marcou o começo da última fase da
Revolução Francesa.

"Os reis, aristocratas e tiranos, independentemente da nação a que pertençam, são escravos que se revoltam contra o soberano da Terra, isto é, a humanidade, e contra o legislador do universo, a natureza", disse uma das figuras mais importantes da Revolução Francesa, Maximilien de Robespierre, a 24 de abril de 1793.

O jovem advogado Maximilien François Marie Isidore de Robespierre (1758-1794) pretendia mudar o destino da França. Desde o início de sua carreira política, destacou-se pela firmeza e pela forma radical de defender suas idéias. Influenciado por Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), defendia um Estado voltado para o bem comum e a vontade geral, estabelecido em bases democráticas. "O indivíduo é nada; a coletividade é tudo", afirmava, lembrando o famoso Contrato Social de Rousseau.

Robespierre foi cofundador e líder do Partido Jacobino na Convenção Nacional (parlamento francês de 1792 a 1795). Seus discursos acertavam o nervo da França revolucionária. "É natural que o bom senso avance lentamente. O governo viciado encontra nos preconceitos, nos costumes e na educação dos povos um poderoso apoio. O despotismo corrompe o espírito humano a ponto de ser adorado e, à primeira vista, torna a liberdade suspeita e terrível", afirmara no discurso Contra a Guerra.

Os ideais da Revolução Francesa – liberdade, igualdade e fraternidade – compunham seu slogan predileto. Robespierre tornou-se famoso como político sério e "incorruptível". Seu objetivo era eliminar privilégios e instituições do Antigo Regime. Propagou idéias revolucionárias para a época, como o sufrágio universal, eleições diretas, educação gratuita e obrigatória e imposto progressivo segundo a renda.


"Os habitantes de todos os países são irmãos; os diferentes povos devem se apoiar mutuamente como cidadãos de um Estado. Quem oprime uma nação declara-se inimigo de todas as nações. Quem guerreia contra um povo para impedir o progresso da liberdade e apagar os direitos humanos deve ser perseguido por todos os povos. Não só como inimigo comum e, sim, como um assassino rebelde e bandido."




Proclamada a república, em 1792, Robespierre mostrou sua nova face. Não hesitou muito para selar o destino do rei, aprisionado por revolucionários. Luís 16 foi julgado, condenado e, a 21 de janeiro de 1793, decapitado na guilhotina. "O terror nada mais é do que a justiça rápida, violenta e inexorável. É, portanto, uma expressão da virtude", justificou Robespierre.

A pretexto de defender a revolução, os jacobinos instalaram um regime de terror na França em 1793-1794. Sob o comando de Robespierre, a Constituição foi suspensa e foram criados o Comitê de Salvação Pública e o Tribunal Revolucionário. Esses órgãos descambaram depois para a conspiração e execução na guilhotina de membros do próprio partido jacobino, como Georges-Jacques Danton (1759-1794), confundindo inimigos e aliados.

A guilhotina funcionava sem parar. Com a ameaça de morte pairando sobre todos, deputados moderados da Convenção Nacional tramaram a prisão de Robespierre e seus colaboradores mais próximos. No dia 28 de julho de 1794, deram aos ilustres prisioneiros o mesmo destino que estes haviam dado ao rei Luís 16: a guilhotina.

Robespierre havia assumido poderes ditatoriais. Calcula-se que o terror jacobino causou dezenas de milhares de vítimas, entre elas o químico Antoine Laurent de Lavoisier (1743-1794). Em apenas 49 dias, Robespierre mandou executar 1.400 pessoas. No final, o terror engoliu os terroristas. Um ano após a morte de Robespierre, a França obteve um novo governo, comandado por cinco "diretores".

O chamado Diretório representou o fim da supremacia e do terror dos jacobinos. Em 1795, a Convenção promulgou uma nova Constituição, que, segundo seu relator, Boissy d'Anglas, centrou-se em "garantir a propriedade do rico, a existência do pobre, o usufruto do industrial e a segurança de todos".

O poder foi organizado sob a forma de uma república colegiada de notáveis, tendo o Diretório como poder executivo. No período do Diretório (1795-1799), a França mergulhou numa nova crise econômica e social, agravada por ameaças externas. Para manter seus privilégios políticos, a burguesia entregou o poder a Napoleão Bonaparte, que o exerceu com o mesmo absolutismo que havia sido derrubado pela Revolução Francesa.

Catrin Möderler/gh






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PressAA
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domingo, 26 de julho de 2009

15 modos de ver um negro até a exaustão


"13 modos de ver um negro"
[1995, Prof. Henry Gates, esse, o amigo de Obama "stupidly" preso ontem. INTERESSANTE.

Vejam que interessante!

É artigo de 1995, assinado pelo prof. Gates, o amigo de Obama, esse, o "stupidly" preso pela polícia ontem. Foi escrito logo depois de OJ Simpson ter sido absolvido da acusação de ter assassinado a ex-esposa.

Obama parece ter reagido, primeiro, como negão (nos termos do artigo abaixo). Depois, a ficha (presidencial) caiu. Achei IMPRESSIONANTE esse artigo, já velho de quase 15 anos.
NENHUM FATO é ou algum dia será exatamente o que os jornalões noticiam. É impressionante.
Leiam aí. 8-)
Khaya Mhaya, correspondente da PressAA, via Rede do Castor




3 diferentes modos de ver um negro


23/10/1995, Henry Louis Gates[1], New Yorker

“Todos os dias, de todos os modos, estamos ficando cada vez mais meta, meta [negros]", costumava dizer o filósofo John Wisdom, tentando uma contrapartida cultural para o famoso mantra de auto-aprimoramento de Émile Coué[2]. Faz portanto todo o sentido que, depois do julgamento de O.J. Simpson, o foco da atenção tenha-se deslocado lenta mas claramente do veredito para a reação ao veredito, e daí para a reação à reação ao veredito, e, finalmente, para a reação à reação à reação ao veredito – o que implica dizer: para a indignação dos negros contra a fúria dos brancos pela felicidade dos negros por OJ Simpson ter sido absolvido. É uma espiral tornada possível pelo circuito de retroalimentação dos racismos. Só acontece nos EUA.

Um historiador norte-americano meu amigo registrou a onda que se espalhava entre todos: "Quem imaginaria", disse ele, "que o julgamento de OJ Simpson seria como o assassinato de Kennedy – e todos lembrariam para sempre onde estavam quando a sentença foi divulgada?” O caso é que sim, todos lembramos, é claro. O sociólogo Professor William Julius Wilson estava na sala de espera atapetada em vermelho de um terminal da United Airlines, único negro numa multidão de viajantes brancos, e sentiu-se tão surpreso e perturbado quanto todos. Wynton Marsalis, em tour com a banda na California, lembra que "todos faziam ar de que nem pensavam no assunto. Até que, pouco antes das 10h, 'Pára tudo. Ligue a televisão. Vai sair a sentença'." Spike Lee estava com a viúva de Jackie Robinson, Rachel, arrumando um caminhão com coisas do marido, separando objetos para uma exposição. Jamaica Kincaid estava sentada em seu carro no estacionamento de sua loja de doces em Vermont, ouvindo o julgamento pela National Public Radio, e só saiu do carro depois de a sentença ser anunciada. Eu estava num seminário de literatura em Harvard das 12h às 14h, e assisti ao anúncio da sentença com os alunos, num televisor na sala do seminário. Ali vi pela primeira vez o tipo de resposta racializada que encheria as telas de televisão ao longo de todos os dias seguintes: os estudantes brancos, indignados; os negros, festejando. “Talvez seja o caso de você lembrar aos alunos que duas pessoas foram brutalmente assassinadas. Que não há o que festejar", sussurrou-me minha assistente, mulher e branca.

As duas semanas entre a sentença de O.J. Simpson e a Marcha "Um Milhão de Negros"[3] liderada por Louis Farrakhan em Washington foram prato cheio para os connoisseurs da paranoia racial nos EUA. Os negros exultavam com a absolvição de Simpson e os brancos horrorizavam-se com a sensação de que a questão racial virava nó mais apertado do que jamais supuseram que chegaria a ser –, de que, depois de todas as pieguices terem sido ditas e reditas, os negros, afinal, são, sim, mesmo, corpos estranhos. (O sentimento de que ninguém expos em palavras: "E eu que pensava que conhecia essa gente.") Havia traços daquela inquietação dos donos de escravos no Sul, depois da sangrenta revolta dos escravos liderada por Nat Turner — quando o cavalheiro fazendeiro supreendeu-se, ele mesmo, imaginando qual dos seus sorridentes e servis escravos teria cortado sua garganta, caso a rebelião se tivesse alastrado como desejou alastrar-se, como fogo em palheiro. Nos dias depois da sentença, jovens profissionais urbanos perceberam uma espécie de nova leve frieza entre elas e suas babás e ascensoristas – a frieza e o distanciamento que nasce de assuntos presentes não falados. Rita Dove, que acaba de completar seu mandato como "Poeta Nacional Laureada" e que acreditava que Simpson fosse culpado, achou "assustador que tantos brancos estivessem tão ofendidos – mais assustador do que qualquer condenação ou absolvição." Claro, é possível que todas as tensões tenham sido exageradas. Marsalis lembra o exemplo dos locutores de esportes: "Você sempre quer que seu lado vença, seja qual for. Fato é que ainda estamos num ponto de nossa história nacional em que olhamos uns os outros como lados opostos."

A questão dos lados é talho profundo. Uma velha história em quadrinhos mostra uma mulher que leva a filha malcomportada a um psiquiatra infantil. "Quando assistimos ao Mágico de Oz", diz a mãe lastimosa, "ela torce pela bruxa má." Muitos brancos experimentaram a estranha sensação de que toda a população torcia pelo time errado. "Esse é exemplo clássico do que chamo de espaços intersticiais", disse o juiz A. Leon Higginbotham, que se aposentou recentemente da Corte Federal de Apelações e que, mês passado, recebeu do presidente a Medalha da Liberdade. "A própria ideia do julgamento por cidadãos-jurados nasce da convicção de que pode acontecer de várias pessoas considerarem as mesmas provas e chegarem a conclusões diametralmente opostas.” Mas a observação pouco consola. Se discordamos sobre questão tão básica, como podemos esperar que algum acordo seja possível em questões mais espinhosas? Para os observadores brancos, o que assusta ainda muito mais que a ideia de que os norte-americanos negros estivessem torcendo pelo vilão, que é má apreensão dos valores, é a ideia de que os negros norte-americanos não o vissem como vilão, o que é má apreensão dos fatos. Como parlamentar, se não há acordo sequer sobre os fatos da realidade? Em termos bem claros: para muitos brancos, qualquer sincera convicção de que OJ Simpson seja inocente parece menos uma cultura de protesto e, mais, uma cultura de psicose.

Algum leitor talvez não saiba que Liz Claiborne disse, há não muito tempo, no programa "Oprah" que não desenhava roupas para mulheres negras – que as negras têm quadris largos demais. Talvez alguém não saiba, tampouco, que o refrigerante "Tropical Fantasy" foi criado pela Ku Klux Klan e inclui um ingrediente especial, para esterilizar homens negros. (Um folheto distribuído no Harlem há poucos anos informava que esses 'fatos' haviam sido confirmados pela televisão, no programa "20/20".) E talvez alguém também não saiba que a Ku Klux Klan mantém acordo para finalidades semelhantes com a rede Church de frango frito – ou será a rede Popeye, de New Orleans?

É possível que os leitores não saibam dessas coisas, mas muitos negros norte-americanos pensam que todos sabem e discutem esses assuntos com a mesma paixão concentrada com que falam da "figura sombria" que teria sido vista numa estrada de Brentwood. Não importa que Liz Claiborne jamais tenha aparecido no programa "Oprah", que a famigerada empresa do Brooklyn que fabrica Tropical Fantasy já tenha exibido até declaração da FDA sobre a qualidade dos ingredientes do seu refrigerante, e que essas redes de frango frito só impliquem risco, de fato, às artérias coronarianas dos negros. A folclorista Patricia A. Turner, que reuniu dezenas dessas histórias, num inestimável estudo, de 1993, sobre os boatos e mitos da cultura afro-norte-americana (I Heard It Through the Grapevine), chama atenção para os padrões que se repetem aqui: essas histórias codificam e reproduzem ansiedades existentes, que surgem sob determinadas condições e desempenham determinada função social; e esse tipo de boato prolifera sempre onde e quando o noticiário "oficial" absolutamente não parece ser fidedigno.
Claro que as fitas Fuhrman[4] podem ter sido forjadas, confirmando o velho ditado que ensina que os paranoicos também podem ter inimigos reais. Se você não entende por que os negros parecem particularmente sensíveis a boatos e a teorias conspiratórias, deve procurar conhecer uma história na qual se ensina que as narrativas oficiais raramente ajudam a conhecer a verdade, a qual, de fato, sobrevive mais facilmente nos boatos. Já ouviu aquela do policial de Los Angeles que odiava casais inter-étnicos, sonhava com fogueiras alimentadas de corpos negros e se vangloriava de plantar provas? E aquela do estudo do governo, 40 anos de pesquisa, que prova que a sífilis não tratada é doença específica de homens negros? E sobre os arquivos do Programa de Contra-Inteligência do FBI[5] contra os negros? ("P'ra você, só há uma saída" um escriba do FBI escreveu em bilhete para Martin Luther King, Jr., em 1964, pregando as vantagens do suicídio. "Melhor você partir para outra, antes de que seu ego imundo, anormal, fraudulento seja varrido da nação.")

As pessoas constroem entendimentos sobre si mesmas e sobre o mundo mediante narrativas – narrativas oferecidas pelos professores, pelos jornalistas, por 'autoridades' e por todos os autores de nosso bom-senso comum. As contra-narrativas, por sua vez, são os meios pelos quais os grupos contestam essa realidade dominante e o traçado de pressupostos que dão suporte a essa realidade dominante. Às vezes, as fantasias infiltram-se por aí, às vezes não. Há a ideia de que grande parte da história dos negros nos EUA é apenas uma contra-narrativa que foi documentada e legitimizada por trabalho acadêmico lento e duramente construído. As "figuras sombrias" da história dos EUA são há muito tempo os nossos ancestrais negros, ao mesmo tempo livres e escravizados. Em todos os casos, a fidelidade às contra-narrativas é sinal de alienação, não da cor da pele: prova disso é a Deputada Helen Chenoweth[6], de Idaho, e seus devotados eleitores. Com toda a verossimilhança das alegorias, o livro "Protocolos dos Sábios do Sião" é vendido por livreiros negros em Nova York — que recebem os livros da empresa Lushena Books, empresa atacadista de distribuição de livros, cujos proprietários são negros nacionalistas –, mas os livros são editados pela editora Angriff Press, que tem sede em Hollywood e cujos proprietários são brancos racistas suprematistas. A paranoia não considera leste e oeste, nem cor de pele.

Em resumo, de nada nos serve considerar as contra-narrativas como mais uma modalidade de patologia ou de desconstituição e desempoderamento. Se as narrativas dos desaparecidos em combate[7], por exemplo, tem raízes fundas entre os operários mais pobres, há muitas outras narrativas – uma das quais conhecida como "Reaganismo" – que ainda ecoa muito fortemente entre as classes privilegiadas. "Assim, muitos irmãos e irmãs brancos continuam vivendo em estado de não ver e não querer ver o quanto o ideário da supremacia branca está profundamente arraigado na cultura e na sociedade dos EUA" –, como diz Cornel West, professor e crítico da sociedade norte-americana. "Agora, afinal, estamos reconhecendo que, num sentido fundamental, vivemos, sim, em mundos diferentes." Quanto a isso, a reação à sentença no caso O.J. Simpson foi altamente educativa. O romancista Ishmael Reed fala de "comentaristas machos, brancos e ricos, que vivem em mundo no qual a polícia nunca mente e não planta provas falsas – e no qual todos têm crédito ilimitado com os traficantes de droga." E acrescenta que "Nicole, como você sabe, também dormia com homens assassinados pela Máfia."
"Acho que Simpson é inocente. Estou convencido" – diz West. "Acho que o crime está associado a alguma subcultura da violência da droga. Parece que ambos, O.J. e Nicole tinham algum envolvimento com o pessoal da droga. Os assassinatos foram casos clássicos da cultura da violência da droga. Talvez tenha a ver com dívidas. E acho que O.J. sabia disso e sempre teve medo das consequências." Para os que seguem essa hipótese, Simpson teria aparecido na cena do crime, como testemunha. "Acho que ele pode ter pressentido o que aconteceria, com ele e com ela. Apenas aconteceu de ele estar lá", West conjectura. "Mas também pode ter acontecido de Simpson ter estado lá, ter espiado, ter tentado saber o que estava acontecendo, viu que nada poderia fazer, assustou-se e fugiu. Pode ter pensado 'Não posso fazê-los parar e, se me virem, virão para cima de mim'. Pode ter acontecido de ter fugido para salvar a própria vida."
Acreditar que Simpson é inocente e foi absolvido implica crer que se evitou uma terrível injustiça – e muitos negros americanos, inclusive intelectuais respeitados, pensam exatamente assim. A soprano Jessye Norman está furiosa com o que, para ela, foi prejulgamento feito pela imprensa que condenou Simpson sem julgá-lo. A imprensa, diz ela, "deveria dedicar-se a ensinar as pessoas a analisar os fatos de outro modo, de modo mais equilibrado." Diz que o que mais desejou foi que o culpado "aparecesse e dissesse 'Fiz isso e sei que causei muito mal a muitas pessoas'." Embora seja sensível à questão da violência doméstica e do abuso contra esposa, não acredita que as coisas tenham acontecido do modo como a acusação mostrou-as: "É preciso parar de pensar sobre como o casal vivia a intimidade, porque são raros os casais cujas vidas, exibidas pela televisão, seriam 'aprovados'. Quero dizer: parem de pensar desse modo." E pergunta: "Não é interessante que aquela mulher, Faye Resnick, que morava na casa com Nicole Simpson, tenha-se mudado de lá do dia 8/6? Não haveria aí alguma estranha coincidência?" Norman também considera "perfeitamente plausível" a muito disseminada teoria do envolvimento de todos com drogas, "porque muita gente sabe como os traficantes agem", e acrescenta: "Os maus sempre são castigados."

Em determinado sentido, todas essas falas podem ser consideradas como contra-narrativas, ou fragmentos de contra-narrativas –, "conhecimento subalterno", se alguém preferir. Todos disputam território contra a cultura oficial; não ganham o imprimatur dos editores e editorialistas dos jornais e noticiários de televisão; não são apresentadas como "discussão aprofundada" ou "opinião de especialistas" no [programa] "MacNeil/Lehrer". E quando essas falas chegam à superfície da opinião pública, são tratadas, no máximo, como 'depoimento' de valor etnográfico. Há uma cultura oficial que trata essas opiniões como se fossem opinião de algum fundamentalista milenarista texano, ou de desconstrucionistas marxianos de academia: algo que ainda tem de ser diagnosticado, decifrado, antes de receber significado, quero dizer, antes de receber outro significado.

Os negros e negras dizem que acreditam que Simpson é inocente. E então, imediatamente, os guardiões brancos da opinião branca da cultura midiática, falam muito rápido, quase sem respirar, para explicar o que os negros e negras, de fato, estariam 'querendo dizer' quando dizem que acreditam que Simpson é inocente. E, para explicar, lançam mão de 'motivo' sempre elevadíssimo: os negros e negras dizem o que dizem porque esse tipo de opinião alternativa é a única opinião que resta para uma população marginal que, entregue ao próprio modo de raciocinar, não é apenas resistente ou interessada em contra-informar: são loucos, doidos varridos. De fato, os negros e negras são livres para dizer o que bem entendam; mas o que digam jamais significará o que negros e negras realmente queriam dizer quando disseram.
O caso é que não se precisa de algo tão imponente quanto uma ruptura epistemológica para explicar por que pessoas diferentes atribuem diferentes pesos à prova de autoridade. Nos termos do slogan da propaganda dos Republicanos "Em quem você confia?"
É lugar-comum que os brancos confiam na polícia; e os pretos, não. Os brancos reconhecem essa evidência em termos abstratos, mas sempre se surpreendem com a profundidade da desconfiança, da precaução, dos negros. Não se deveriam surpreender tanto. O ensaio de Norman Podhoretz em busca da alma dos negros de 1963 (“My Negro Problem, and Ours” [meu problema negro e o nosso][8], — um dos documentos mais francos que temos, sobre liberalismo e ressentimento racial — conta sobre uma infância passada no Brooklyn sob a sombra de assaltantes negros crueis e indiferentes, e sobre o mal-estar residual do qual o autor jamais se livrou, e que acorda sempre que ele cruza com grupos de negros nas ruas do Upper West Side. Isso, diz o autor, numa passagem crucial, apesar de "hoje eu saber, como não sabia quando era criança, que o poder está do meu lado, que a Polícia trabalha a meu favor, não a favor deles." Esse conforto – a sensação de que "a Polícia trabalha a meu favor" — continua e iludir os negros, até os mais bem-sucedidos. Thelma Golden, diretora do show "Macho Negro", de Whitney, diz que no dia em que foi anunciada a absolvição de Simpson, um negro foi assassinado no Harlem por policiais, em circunstância jamais esclarecidas. Como os negros mais velhos ensinam, "Quando os brancos dizem 'justiça', dizem 'só a nossa'."[9]

Os negros — de modo especial os homens — contam entre si suas experiências de encontros com a Polícia como narrativas de guerra, e poucos são os que só têm um caso a contar. "Essas histórias têm algo de clichê", diz Erroll McDonald, diretor executivo da Editora Pantheon e um dos raros negros que se destacou no mundo editorial, "mas, como todos sabemos, todos os clichês têm um fundo de verdade." McDonald conta sobre quando dirigia um Jaguar alugado em New Orleans e foi parado pela Polícia –, "para que eu provasse, com documentos, que não era o caso de eu ser preso, porque, afinal, qualquer um tinha direito de supor que eu fosse um negro ladrão, dirigindo carro roubado". Wynton Marsalis lembra: "Que merda. Uma vez, a polícia me virou do avesso, ainda no ginásio. Naquele tempo, eu ainda não era Wynton Marsalis. Era um negro igual a tantos, parado numa esquina, que podia levar cascudos da Polícia, como, de fato, levei." O autor de romances policiais Walter Mosley, recorda: "Quando menino, em Los Angeles, a Polícia me fazia parar a cada passo, me batia, me seguia, me acusava de roubar coisas." William Julius Wilson — um de seus genros é policial em Chicago ("Não há rapaz mais gentil nem mais dedicado que ele") — não entendeu por que foi parado pela Polícia, na entrada de uma cidadezinha em New England; o policial só queria saber o que andava fazendo na 'área'. De fato, estava violando uma proibição que muitos afro-norte-americanos conhecem bem: "Dirigir veículo automotor em estado de negro".

Assim é que todos temos nossas histórias. Em 1968, eu aos 18 anos, conhecia o homem que fora eleito prefeito no condado de West Virginia, onde eu vivia, uma grande vitória. Algumas semanas depois da posse, o prefeito aprovou uma lei local, da qual achou que eu devia ser informado: a Polícia local preparara uma lista de pessoas a serem imediatamente presas, em caso de agitação política; e o meu nome lá estava, na lista. São muitos anos de condicionamento.
Wynton Marsalis diz que "Meu maior medo nessa vida é virar reu no Sistema Judiciário dos EUA." Por absurdo que seja, o meu maior medo é exatamente o mesmo. [leia mais em

http://www.newyorker.com/archive/1995/10/23/1995_10_23_056_TNY_CARDS_000372419?
(em inglês)]

NOTAS
[1] Sobre a prisão do prof. Gates, dia 22/7/2009, ver http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1238187-5602,00-PROFESSOR+DE+HARVARD+E+PRESO+SOLTO+E+ACUSA+POLICIA+DE+RACISMO.html; sobre o comentário de Obama, de que a prisão teria sido gesto "estúpido" da Polícia e sobre desenvolvimentos, ver http://www.nydailynews.com/news/politics/2009/07/23/2009-07-23_obama_doesnt_regret_acted_stupidly_remark_compliments_sgt_james_crowley.html
[2] "Every day, in every way, I am getting better and better". Há um trocadilho sonoro entre "better and better" e "meta and meta" (ing.) que se perdeu na tradução.
[3] Marcha que aconteceu dia 16/10/1995, em Washington. Para saber mais, vide http://www.britannica.com/EBchecked/topic/382949/Million-Man-March
[4] Fitas citadas no julgamento de OJ Simpson.
[5] Counter Inteligence Program, COINTELPRO-FBI, 1956-1971.
[6] Deputada ultra-conservadora, racista, eleita por grupo que se autodefinia como "Congresso Ariano dos EUA". Sobre ela, ver, por exemplo, http://downwithtyranny.blogspot.com/2006/10/helen-chenoweth-is-dead.html, na ocasião de sua morte, em 1996.
[7] Ing. MIA (missing in action, "desaparecidos em combate"). A expressão ocorre associada a outra: POW-MIA ("prisioneiros de guerra"-"desaparecidos em combate"), sempre em referência aos soldados desaparecidos na Guerra do Vietnam, cujos cadáveres não foram devolvidos às famílias. Sobre isso, ver, por exemplo, http://www.miafacts.org/hope.htm.
[9] Ing. “When white folks say ‘justice,’ they mean ‘just us’.” Na tradução, perde-se o efeito de trocadilho sonoro entre justice e just us, do inglês.
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PressAA
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sexta-feira, 24 de julho de 2009

Num ligue pra cara feia de Beethoven, isso é só pra espantar os curiosos

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De Brasilianas para o nosso Editor-Assaz-Atroz-Chefe


“Dom Fernando
a prática desta Literatura joyciana, borgiana, flaubertiana lhe deve ser muito desgastante... vives um momento biológico de queima rápida de neurônios. De onde pode vir tanta regurgitação e verve para um homem só - na maturidade, quase decrepitude
[Eu não mereço tanto mas também não agradeço] - conseguir criar o nome de uma agência chamada PressAA. Coisa de gênio. Como se não o fora essa retranca Assaz Atroz... quantas horas, quantas noites, quantos neurônios consumidos para obra tão relevante no conjunto das grandes criações universais.
Nosso grito de alerta, Dom Fernando, está na hora de uma autobiografia... Seja generoso com o mundo das letras... (Nosso Doktor Ferencz recomenda a suspensão por algumas horas da mardita da cachaça... ele não consegue saber se o seu vermelhão é lulístico ou de raiva mesmo...)”

Brasilianos(as)

Caros Brasilianos(as), quando a minha secretária Helen Lower leu sua mensagem, senti um comichão oportuno na mão esquerda. Mas não era nada demais, apenas o pelo onanista insistindo que eu fizessse barba, cabelo e bigode.

Em se tratando dos neurônios, eu também já tive essa sua preocupação, tempos atrás. Ou seja, achava que neurônios eram consumidos como, por exemplo, o doutor Hannibal fazia com seus inimigos explícitos e os ocultos também. Neurônios não são consumidos, são utilizados, cansam-se, descansam e voltam renovados, para novas batalhas.

Sim, são muitas horas, muitas madrugadas e meios-dias dedicados à AAA – PressAA; às vezes devagar, noutros casos fazendo jus ao nome da empresa. E é nestes casos que em determinadas ocasiões atropelo o vernáculo, corrigo, ou deixo que corrijam.

Vocês não devem ter lido minha última entrevista à Nova Coletânea ( http://entrevistaescritores.blogspot.com/2009/05/normal-0-21-false-false-false.html), senão saberiam porque não pretendo escrever uma autobiografia. Também não atentam para determinados escritos meus, que, como acontece com qualquer outro escritor, estão apinhados de dados biográficos meus e de quem cruzou meu caminho.

Quanto à “cachaça”, já fui adepto da mardita em forma líquida, gasosa e até enfumaçada, mas logo descobri que cada tempo é um tempo, como dizia Franz Liszt, que eventualmente me visita (ele gostha de vir aqui). Doktor Ferencz não gostou mesmo foi quando o chamei de Lili Marlene. Pô! Num sei o que esse pessoal pensa, se é que pensa! Perde a esportiva com a maior facilidade, como outra noite dessas aconteceu com o Beethoven, só porque eu disse que ele não podia fazer seus discípulos de capachos. Taí, quando ele sacou a minha ironia, foi aí que ele deu uma baita risada e me respondeu: “Sie denken, dass ist genial, und ist, aber enfoi Kopf ESSSE Tätigkeit der "Nie zuvor in der Geschichte," gibt, die Geschichte kann Schlag ihr Gehirn aus, und Sie nicht mehr zurück in pavilão Dr. Henrique Roxo.

Foi o suficiente para me embananar, pois nada entendo de alemão. Mas despachei o Goober e ele me trouxe essa versão: “Você acha que é gênio; e o é; mas enfiou na cabeça essse negócio de 'nunca antes na história', aí, ó, a história pode explodir os seus miolos e você vai parar novamente no pavilhão do Dr. Henrique Roxo".

São Lima Barreto que me proteja!

Bom, Ludwig van Beethoven é sagitariano e como [conjunção] tal é multipolar. Desculpei.

* * *

P.S.: Sagitariano, do dia 16 de dezembro. Que diabos de coincidência, né?

Não se pode dizer que a turma dos Brasilianos seja colaboradora da AAA - PressAA, mas que isso foi uma colaboração ninguém pode negar

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PressAA

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quarta-feira, 22 de julho de 2009

PressAA entrevista: Barack Obama ganha camisa canarinho, mata a mosca e mostra o fio de cabelo na palma da mão

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Falsa ou verdadeira? Camisa canarinho gera polêmica

Por Fernando Soares Campos, nosso Editor-AA-Chefe

Ponte Rio de Janeiro-Washington - Repórter pirata da PressAA entrevistou Barack Obama a fim de saber se ele é contra, a favor ou muito pelo contrário, quanto à indústria de pirataria de produtos sino-peruguaios. O nosso enviado aproveitou a ocasião e fez lobby para incentivar o presidente norte-americano a liberar a venda de produtos piratas sino-peruguaios no Brasil.

Durante a entrevista o companheiro Obama matou a mosca de seis milhões de dólares e mostrou o pau, provando que já foi bom de tapa na cara, modalidade esportiva praticada pelos palestinos, tendo como adversários os soldados israelenses.

PressAA: - O que o senhor achou da camisa canarinho que ganhou de souvenir do presidente Lula?

Obama: - Achei mais autêntica do que as originais usadas pela equipe brasileira. E com uma vantagem: depois de lavada encolhe. Em casos como esse, nós testamos em alguns jogadores de nossa seleção, a fim de facilitar a escalação da equipe de soccer. É como aquela história da cinderela, entende?!

PressAA: - V. Exª acredita que no Brasil os técnicos de futebol também empregam esse teste nos jogadores?

Obama: - Parece que agora as coisas estão se invertendo: Os EUA estão agindo como o Brazil de antigamente.

PressAA: - V. Exª tem noção de qual dos nossos jogadores foi submetido ultimamente a esse tipo de teste?

Obama: - Não, nós não costumamos intervir na soberania do soccer brasileiro. Mas temos idéia do que ocorre do lado de baixo do El Condor.

PressAA: - Obrigado (pronuncia-se "thank you")







Fonte de inspiração

http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Times/Selecao_Brasileira/0,,MUL638897-15071,00-FALSA+OU+VERDADEIRA+CAMISA+DO+PRIMEIRO+GOL+DE+PELE+EM+COPAS+GERA+POLEMICA.html

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PressAA
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terça-feira, 21 de julho de 2009

De 2003 a 2009, histórias de Alberto Dines: Rosa Luxemburgo entre outras não menos importantes





Nº 359 set/out 2003
A Guerra do Iraque e a imprensa

O jornalista Alberto Dines realizou uma palestra, no Conselho de Economia, Sociologia e Política da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, com o tema "Guerra do Iraque – A Mídia como Campo de Batalha", no dia 8 de maio de 2003. Publicamos abaixo o texto da exposição. O debate que se seguiu pode ser lido na edição impressa da revista.

ALBERTO DINES – O assunto "Guerra do Iraque" foi tomado como uma metáfora, é apenas um caso de estudo. A partir desse momento supremo da humanidade, em que o homem se permite matar outro, gostaria de fazer uma reflexão sobre a mídia, sobretudo a guerra que se trava dentro dela, e também sobre um novo elemento que surgiu neste conflito, que eu chamaria de tropa de choque, que é a crítica da mídia. Vou fazer algumas ponderações sistematizadas a respeito de minha atividade cotidiana, e a partir daí vamos tentar trazer as lições da cobertura da campanha militar contra o Iraque, já que estamos metidos em outra guerra, contra o crime organizado, que alguns chamam de narcoterrorismo, e que a cada dia fica mais grave, mais acirrada.

Por que foi dada tanta importância à mídia no episódio do conflito do Iraque? Inicialmente, porque estamos acostumados a ouvir dizer que vivemos a era da informação. Por que essa designação? Por duas razões muito fortes. Primeiro, pela quantidade de informação posta atualmente em circulação, com potencial de saturação. Informação é usada até para desinformar pelo excesso. É um processo inexorável, incontrolável, mas a realidade que temos de enfrentar é a quantidade que leva à saturação.

Segundo, o teor da informação. Hoje ela é usada evidentemente como instrumento de poder, o que constitui seara da ciência política.

Feita essa caracterização, é interessante analisarmos alguns fundamentos do processo democrático. Falamos muito em estado de direito e democracia, mas uma das coisas que considero mais importantes é a dialética da democracia, que é o sistema que ingleses e norte-americanos chamam de checks and balances, poder e contrapoder. Dentro desse mecanismo de poder e contrapoder, temos os três poderes republicanos – Executivo, Legislativo e Judiciário –, e a imprensa transformada num quarto poder, o fiscalizador. Esse esquema vem do século 18, dos filósofos que inspiraram os patriarcas da revolução norte-americana. Só que hoje, mais de 200 anos depois, estamos verificando que esse sistema de poder e contrapoder evolui muito rapidamente. Assim, a imprensa, que era o contrapoder aos poderes constituídos, também precisa de um contrapoder, sobretudo porque ela, dentro do processo econômico mundial, tende a ser controlada por grandes organizações e conglomerados, e em muitos deles o negócio principal não é propriamente a comunicação. Existe uma preocupação com esses conglomerados de informação mundial, que precisam ser vigiados, observados. Criou-se então a necessidade de que o contrapoder, que é a imprensa, tenha também o seu contrapoder. E quem vai exercê-lo? Não é o governo, senão teremos intervenção e quebra da fluência do processo democrático. Quem deve fazê-lo é a sociedade, devidamente alertada e sensibilizada por algumas instituições para que possa ficar atenta ao comportamento da imprensa.

Evidentemente, estamos no meio do processo, mas já se nota que o contrapoder ao poder da imprensa é visível, começa a aparecer e a ganhar uma dimensão que não é desprezível.

Estabelecida essa premissa, temos também de invadir outra seara que é, sem entrar em estudos profundos da polemologia – a ciência das guerras –, examinar os conflitos sob o ponto de vista informativo. Das grandes conflagrações modernas, desde a do Cáucaso em meados do século 19 até a do Golfo I, a primeira Guerra do Iraque, existe uma certa marca sob o ponto de vista informativo. Seriam conflitos de versões, em que cada beligerante apresenta sua história. Na do Cáucaso, Inglaterra e França mostravam para os respectivos públicos sua versão das barbaridades cometidas pelo adversário. Na 2ª Guerra Mundial, que é o caso mais típico, a máquina de propaganda alemã funcionou a todo o vapor, aliás, começou antes do conflito. A dos Aliados também espalhava sua versão. Durante a guerra as informações já corriam pelo mundo, mas não com a fluência e a velocidade de hoje. Considero (e pode ser que esse critério esteja errado) que os conflitos mais recentes, dos últimos três anos mais ou menos, têm características diferentes, porque o cenário mudou. É um panorama globalizado, os campos adversários são importantes, as sociedades que dão apoio aos respectivos exércitos são relevantes, e existe uma audiência global, não diria neutra, mas envolvida diretamente na argumentação e na ansiedade dos beligerantes.

Portanto, são guerras que já se iniciaram em um contexto globalizado. Pela ordem, são a Intifada II, que começou no ano 2000, quando houve uma disputa não apenas entre os beligerantes, mas na mídia mundial, para conquistar a atenção e o interesse da audiência do planeta. Depois tivemos o 11 de setembro, em Nova York, em que o cenário global era muito importante para as partes envolvidas, cada uma tentando mostrar seus argumentos. Logo em seguida, veio a Guerra do Afeganistão, e o cenário foi também a audiência global. Disputava-se ali não apenas a conquista militar do país, mas a dos corações e mentes no mundo inteiro, para justificar o que estava acontecendo no campo de batalha. E finalmente a Guerra do Iraque II, que foi também globalizada. Embora localizada militarmente no Oriente Médio, estendeu-se pelo planeta, e o trabalho de informação e contra-informação foi muito acirrado.

O conflito de informação e contra-informação tem características muito claras, sobretudo para desqualificar a fonte inimiga. Os adversários dos Estados Unidos diziam que a imprensa norte-americana não era livre, era controlada, e a coligação anglo-americana afirmava que as informações dentro do Iraque ou nos países vizinhos não tinham a fluência dos processos democráticos. Basicamente, está claro que o conflito não era apenas ideológico ou político, mas de informação, no esforço de desqualificar a fonte adversária.

Como se caracteriza e como se define esse esforço? É a crítica da imprensa. Estamos vendo que a crítica da mídia, que até há pouco tempo era restrita a esferas acadêmicas, não tinha a penetração de hoje. A Guerra do Iraque trouxe esse processo a uma situação quase de novidade mundial. O leitor médio, ao acompanhar o conflito, passou a discutir não mais o fato em si, mas as informações sobre ele, como se fosse uma coisa perfeitamente natural. Isso é um avanço extraordinário.

Talvez poucos se lembrem da 2ª Guerra Mundial, durante a qual as informações eram veiculadas e ninguém discutia seu teor: os japoneses conquistaram Cingapura, os alemães invadiram a Rússia, o pacto entre Stalin e Hitler... Na Guerra do Iraque, o grande debate não foi apenas sobre os avanços ou retrocessos militares, vitórias ou derrotas, mas sobre a informação que dizia respeito ao campo de batalha. Portanto, passamos de repente não apenas a participar de um processo informativo, mas a ser parte da discussão da informação, o que é um dado novo e para o qual temos de nos preparar. Por isso afirmei que na Guerra do Iraque o campo de batalha fomos nós, não apenas os jornalistas, mas também leitores, ouvintes, telespectadores.

A imprensa não conseguiu discutir alguns temas dominantes no conflito do Iraque porque a avalanche informativa foi tão grande que se perdeu a capacidade de identificar erros e até mistificações. Por exemplo, a questão do pacifismo passou em brancas nuvens. Na 1ª Guerra Mundial, tivemos o início de um processo de pacifismo internacional organizado e neutro. Na França houve vários casos em que pacifistas, aí, sim, foram acusados de traidores. O escritor francês Romain Rolland, por exemplo, foi considerado traidor até quase a véspera da 2ª Guerra Mundial pelas posições pacifistas que tomou no primeiro conflito. Tivemos Rosa Luxemburgo, líder revolucionária alemã, nascida na Polônia, que se manifestou contra a guerra. Na Áustria, o escritor e poeta Karl Kraus, talvez o pai da crítica da imprensa, se colocava abertamente contra o conflito no boletim que produzia sozinho, de grande aceitação. Nas palestras que fazia apresentava-se como crítico da guerra, dizendo que ela começara por causa da mídia. Essa sua visão do pacifismo era tida como não-beligerância, como neutralidade. Esse conceito foi muito prejudicado, eu diria adulterado e manipulado, pela União Soviética na guerra fria. A paz deixou de ser aquele conceito puro para se transformar em estratégia política como outra qualquer.

Vimos isso também na Guerra do Iraque, em que o movimento pacifista não era em grande parte contra o conflito ou contra os beligerantes, mas basicamente para marcar posição contra o presidente dos Estados Unidos. Uma subversão do conceito de paz porque, pelo menos sob o ponto de vista teórico, paz significa uma não-beligerância e não uma parcialidade. Isso a mídia, com raras exceções, não conseguiu identificar. Em nosso "Observatório da Imprensa", talvez por uma questão de experiência, lembramo-nos de mostrar que paz é não-beligerância, é neutralidade, e não a participação disfarçada numa das partes em conflito.

Outro cavalo de batalha pouco discutido foi a cobertura norte-americana. Houve dias durante o conflito em que um jornal como "O Globo" publicava, em um caderno especial de 14 páginas sobre a guerra, quatro ou cinco matérias em que discutia a mídia. Não relatava avanços ou retrocessos, bombardeios ou vítimas, mas discutia o papel da mídia. Portanto, percebe-se que o debate sobre a informação, se não passa a ser dominante, tem um valor significativo na discussão sobre todos os conflitos internacionais. E com detalhes extremamente interessantes.

No caso dos repórteres incorporados às unidades militares, criou-se também uma celeuma, mas de certa forma falsa, pois parte de um pressuposto também falso. Ou você cobre uma guerra incorporado a uma unidade militar ou leva um tiro na primeira oportunidade, porque fica sem nenhuma proteção e pode ser atingido pelas partes beligerantes, por uma bala perdida, ou pisar numa mina. Não há outra forma de cobrir guerra. Mas, evidentemente, o grupo contrário à intervenção no Iraque usou a incorporação dos jornalistas para desqualificar a cobertura jornalística.

Um mito que se criou na discussão sobre o trabalho da imprensa na guerra foi que esse era um conflito que estava sendo relatado com imparcialidade, porque finalmente existiam coberturas alternativas à norte-americana. Foram apontados os casos da Al Jazeera e da Al Arabia, duas tevês de países árabes, emissoras noticiosas que funcionam 24 horas. Isso foi apresentado como uma grande conquista de equilíbrio da informação. Tanto a Al Jazeera como a Al Arabia são de países não-democráticos, financiadas por capitais, se não políticos, pelo menos politizados, controladas por governos que tinham interesse no conflito. Embora apresentassem versões alternativas que são sempre necessárias, elas não são legitimadas como porta-vozes da imparcialidade. Esses tópicos surgiram na discussão, mas não foram avaliados com profundidade por causa do envolvimento e das paixões.

E finalmente o quarto tema seria o esforço, que ainda não conseguiu ser neutralizado, da demonização de um lado e vitimização do outro. No início da guerra havia a figura de um demônio, representada por George W. Bush, que deslanchou o conflito desprezando as organizações internacionais e a opinião pública. E Saddam Hussein, que comandava um regime extremamente autoritário, era a vítima do satã norte-americano. No final da guerra, essa imagem já começou a mudar. A imprensa francesa, que praticamente tinha esquecido o terror do regime de Saddam, passou a revelar os horrores do que foram os últimos 25 anos do regime. Ou seja, parte da imprensa ficou em cima do muro, com medo de enfrentar a bipolaridade entre satanização e vitimização, porque queria manter-se no terreno do politicamente correto. A imprensa francesa sempre foi apresentada como modelo de não-engajamento, democracia, de centro-esquerda, e de repente rendeu-se a uma evidência. Se tivesse feito isso há mais tempo, talvez até o desenrolar das negociações pré-guerra pudesse ter sido diferente.

O que estou querendo mostrar com essas pinceladas sobre a cobertura da Guerra do Iraque é que temos hoje alguns campos de batalha muito definidos dentro da mídia. Em primeiro lugar, a imprensa brasileira, que teve um passado modelar em matéria de cobertura internacional, e hoje não posso dizer que seja lamentável, mas é bastante insatisfatória. "O Estado de S. Paulo" há pouco tempo tinha 13 correspondentes internacionais fixos. O problema é dinheiro, mas vamos falar de vontade política também.

Em meados dos anos 90 conversei em Portugal com o vice-presidente de uma grande empresa jornalística brasileira. Observei-lhe que os portugueses, que vivem num país pequeno, sem maior importância no cenário mundial, tinham uma respeitável cobertura internacional. Era a época da guerra na Bósnia, e as rádios, com correspondentes falando em português, acompanhavam o desenrolar do conflito. No Oriente Médio, as rádios lusitanas também estavam presentes, como os jornais, cada um apresentando uma visão diferente. Perguntei a esse amigo por que a cobertura internacional brasileira, que já foi excepcional, tinha sido reduzida. Pode-se alegar falta de dinheiro, já que uma coisa é Portugal mandar um correspondente para a Iugoslávia, outra é o Brasil fazer isso. Temos de cruzar o Atlântico, pagar tarifas aéreas extraordinárias, sobretudo com o problema cambial. Mas isso não foi alegado. Ele disse o seguinte: "Fizemos pesquisas de opinião e descobrimos que cobertura internacional não vende". Essa foi a explicação. Então o jornal demite os correspondentes e não temos mais cobertura internacional. Quando ocorre um grande acontecimento, envia-se um jornalista que em geral é pau para toda obra, aquele que cobre o Iraque, a Argentina, uma crise no Peru e a Indonésia. Isso é apenas presença física, não é a voz experimentada de quem conhece a região, os bastidores do que está acontecendo. Isso não é cobertura internacional.

É claro que alguns jornais mantêm correspondentes internacionais, como "O Estado de S. Paulo" em Buenos Aires, tem um ou dois em Paris, um em Washington. Mas é muito diferente daquele quadro de jornalistas contratados que moravam no exterior, que estudavam as circunstâncias específicas daquela área e podiam até antecipar-se aos acontecimentos. Hoje a mídia brasileira vive a reboque da informação proveniente de fontes internacionais, o que é perigoso.

Outro campo de batalha que nos chama a atenção é a Internet. Ela é uma realidade, e ganhou grande importância, sobretudo a partir da invasão do Afeganistão. As pessoas recebiam uma mensagem pela Internet, imediatamente a repassavam para seu mailing de mais de 100 ou 200 pessoas, e isso ganhava uma repercussão instantânea, muito mais forte talvez do que a provocada pela própria televisão, porque vinha com a aparência de profundidade que às vezes os telejornais não conseguem ter. A Internet precisa ser observada. Ela ainda não mereceu dos anunciantes e dos empresários brasileiros a devida atenção. Ainda é uma coisa marginal, paralela, boêmia.

Devemos voltar a atenção também para a TV alternativa, que hoje apresenta três variantes. A TV pública está vivendo uma situação quase trágica, não apenas a TV Cultura, de São Paulo, mas também a TV Educativa, a Rede Brasil ligada ao governo federal. Um país que não tem mecanismos de TV pública está sujeito às instabilidades dos interesses das emissoras comerciais. Os Estados Unidos, com toda a liberdade e o culto à livre iniciativa, têm um sistema de TV pública de suma importância, que é o PBS (Public Broadcasting System), que funciona como um contrapoder, um equilíbrio, com qualidade e densidade de informação extraordinárias. Sem falar na BBC (British Broadcasting Corporation), uma das maiores entidades de informação do mundo, que é eminentemente pública, independente e desligada dos interesses do governo inglês.

Outro aspecto que devemos ter presente é a concentração da mídia no Brasil. Hoje temos cada vez menos empresas jornalísticas. Neste momento, pelo menos duas estão praticamente na UTI. Elas editam seus veículos, mas com dificuldades. Não interessa nomeá-las, mas é importante considerar que, se já tínhamos poucos veículos alternativos, hoje temos menos. E as outras empresas, que estão sadias, passam por apertos inéditos em sua história. Isso é um fator de grande preocupação, pois torna a mídia sujeita a instabilidades e pressões. Se está tomando cuidados com sua saúde, tem de ser mais sensível aos apelos do mercado, e então pode até cometer algumas infrações em matéria de equilíbrio.

Dentro desse quadro de concentração, estamos assistindo particularmente a algo inquietante, que é a situação dos semanários. Temos quatro revistas semanais, mas na realidade vamos ter praticamente uma ou uma e meia talvez. O quadro é lamentável. Antes a informação dos semanários era complementar, arredondava o noticiário. Hoje eles são praticamente descartáveis. Temos um rádio sem qualidade, o que é um dado preocupante, pois num país com a extensão do Brasil e com o desinteresse pela leitura o rádio tem grande importância. Quantas emissoras se preocupam em dar informações de qualidade? Basicamente uma, mas a Rádio Eldorado é exceção, voltada apenas para o público de São Paulo.

Temos uma desvantagem no sistema de televisão all news, notícias em tempo integral. Não há nenhuma emissora ou rede de qualidade que se possa equiparar à CNN em espanhol, nem chegar aos pés dela. A Globo News faz um esforço, vem melhorando, mas é extremamente limitada, e não tem ainda potencial para transmitir os fatos. Em geral são notícias enviadas por telefone, o que tira, digamos, certa força da imagem. Enquanto isso estamos assistindo hoje no mundo a um movimento de preocupação dos Estados com as suas emissoras all news. A França resolveu finalmente acordar e quer criar condições para ter sua CNN. Isso vai tornar o balanceamento do noticiário muito mais satisfatório, porque, além da CNN, da BBC e da Fox News, vamos ter então uma emissora francesa.

Evidentemente é um sonho imaginar que o Brasil possa ter uma emissora all news com penetração internacional, mas tenho a impressão de que vai chegar o momento em que vamos precisar, se houver um conflito em nosso continente, de uma com potencial para ir além das fronteiras e dar a nossa versão. Esse é um dado que temos de levar em consideração, se não para esta geração, pelo menos para as futuras. Não podemos deixar de colocar como meta uma emissora de notícias, forte, organizada, com capacidade de ser captada internacionalmente. Portugal de novo é exemplo, a Rádio Televisão Portuguesa internacional (RTPi) é uma estatal, mas atinge pelo menos as populações que falam português – mais de 200 e tantos milhões de pessoas no mundo –, uma das grandes línguas do Ocidente.

Finalmente, para encerrar, devo dizer que o Iraque é aqui. Não há guerras formais, não há divisões de tanques se enfrentando, não há bombardeios, mas estamos numa situação séria de guerra. Não é localizada, é um problema nacional. O governo, apesar de atento aos aspectos policiais da questão, está desatento à segurança do país. Quando se diz que a Linha Vermelha foi interceptada pelos bandidos, talvez a sociedade brasileira não saiba, mas essa via é um eixo rodoviário federal da maior importância. Ali começa a ligação norte-sul. Se se domina a passagem da Linha Vermelha e da Amarela, estrangula-se a comunicação rodoviária do Brasil. Isso é uma questão de segurança nacional, não somente do estado do Rio de Janeiro. A visão global do narcoterrorismo está faltando ao governo por timidez, por uma questão até do politicamente correto, mas está se esquecendo que o problema não é a favela. Temos uma situação de guerra, de extrema gravidade. A imprensa cobre os elementos formais desse conflito armado, mas não está atenta ou não tem capacidade de acionar todos os alarmes, porque, assim como corre atrás dos acontecimentos na área internacional, internamente também corre atrás, não se antecipa. Preocupada com a própria sobrevivência, talvez não tenha força para advertir o governo de que estamos em situação de emergência nacional.

Precisamos institucionalizar no Brasil o conceito de que a imprensa deve ser observada, não pode ser discutida apenas nas áreas especializadas, seja da corporação profissional, seja da acadêmica. A mídia diz respeito à sociedade como um todo e exige uma atenção permanente. Quando se observa um fenômeno, estamos intervindo nele. Não é preciso controlar a imprensa para que ela encontre seus caminhos. E temos visto que, ao sentir-se observada, ela passa a agir de forma mais cautelosa e mais atenta.

Isso é um avanço, mas não suficiente. É imperioso, sobretudo no caso brasileiro, que a imprensa, ao sair dessa crise, encontre uma sociedade consciente, que saiba o que exigir dela.

http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas_sesc/pb/artigo.cfm?Edicao_Id=167&Artigo_ID=2444&IDCategoria=2494&reftype=1



A Revista Problemas Brasileiros podia ser adquirida na rede de lojas SESCSP, nas unidades da Capital e Interior, a R$5,00 cada exemplar. Talvez hoje seja possível também comprar em sebo online.
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PressAA
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segunda-feira, 20 de julho de 2009

Quem não tem colírio usa óculos escuros, já dizia Zebu, quilombola do Cubo

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Os Sujeitos


Por Fernando Soares Campos

Quando da reunião oficial do G-20, na Inglaterra, o presidente Barack Obama mandou uma das gírias mais comuns nos Estados Unidos: "This is my man" (numa versão aproximada do português, “Esse é o cara”, ou “Esse é o homem que admiro”). Foi o maior fuzuê: a esquerda moderada achou o máximo; a extremada esquerdopata achou, no mínimo, uma ofensa à soberania nacional; o centro bateu os tambores e despachou a mensagem: “Só pode ser gozação”. Os apolíticos não sabiam se riam ou se choravam, como se isso fizesse alguma diferença.

A imprensa cantou de decantou o elogio do atual plantonista do império. Ótimo, pra quem gosta de novela, foi um daqueles encerramentos do tipo "quem será o próximo elogiado?" E Obama correu mundo elogiando e, em alguns casos, puxando orelhas. Depois deu uma de gafanhoto e, plact!, matou a mosca biônica.

Mas vamos ao que interessa. Naquela reunião no Palácio de Buckingham, ocorreu outro fato não menos importante que a falta de educação de Obama. Estou me referindo ao barão da mídia italiana Sílvio Berlusconi, que, imaginando que estava numa de suas mansões na Itália ou na Goenlândia, gritou no meio do salão: “Obama! Ei! Neguin, vem cá, que eu tenha uma novidade pra te contar”. Só que o capo pensou (se é que numa hora dessas alguém pensa) que a Rainha Elizabeth II era cega e não iria ouvir o garoto da fuzarca fazendo feio numa festa decente.

A rainha voltou-se para o chefe de estado de pena e disse: “Rapaz, aqui não é a Sicília, onde você acha que pode gritar e até andar nu no meio da rua”. Berluscorleone botou a língua pra pensar e decidiu ir ao banheiro, imitando os Beatles, que tempos atrás fumaram um baseado no escurinho do cinema a fim de criar coragem para enfrentar a Espada de Excalibur, que faria deles Cavalheiros do Ex-Império. Coisa muito mais importante que o Grammy. (Nesses casos, a cannabis faz seu papel. Quem não tem colírio, usa óculos escuros, né, Raul?)

Bom, me dá licença que estou de saída, vou ao teatro de fantoche no Teatro da Rocinha, deixo aí pra vocês um excelente vídeo que faz uma paródia sobre o encontro do G-20, que já foi 2, 3, 4, 5, 6 e 7....

http://tvig.ig.com.br/97966/parodia-sobre-g20-tira-sarro-dos-lideres.htm

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PressAA

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No nosso tempo os iates faziam linha entre o Rio de Janeiro e a Palestina (MGB, em Lucubrações de Violeta)

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LUCUBRAÇÕES DE VIOLETA

Maria Goretti Brandão

Não foi sem-mais-nem-menos que Violeta recorreu aos antigos álbuns de família. Há dias ela andava procurando achar-se. É que vez por outra a gente se perde da gente mesmo. Foi atrás de um banquinho, colocou-o diante do guardarroupa - ficou muito estranha essa palavra -, subiu, e alcançou suas memórias. Coisa imagética, pontuou, dando novidade à palavra. Memória fotográfica. Melhor, memória imagética. Aprumou-se então. 'Hoje em dia é preciso reciclar até as palavras'!. Lembrou-se então de algumas delas que lhe ocorriam, e que para ela, desgraçadamente, haviam saído de uso: ligeiro, creme rinse, rodeira, serviço de som, palavras que toda vez que falava, causava estranhamento e risos nos filhos. Parecia besteira preocupar-se com essas picuinhas, mas corria-se o risco de ao desconsiderá-las, engrossar as fileiras dos que estão vivendo fora da realidade.

Violeta procurava evitar termos como: 'No meu tempo'. Para ela era um "pecado" que não se devia cometer. Simplesmente porque as pessoas não têm prazo de validade. Nem devem aceitar que lhe dêem prazo de tempo. Gente não é coisa nem produto. Gente é gente. E sendo gente, há sempre a possibilidade dialética da vida. Transformações, ajustes aqui-e-acolá, novas idéias, novos rumos. Envelhecer não é ficar encostado como coisa velha e ultrapassada, sem valor nenhum, pensava ela. Assim pensando, moveu-se até o local onde estavam os seus álbuns de retratos.

O quarto era amplo, iluminado, e apesar dos móveis estarem pedindo para serem mudados, o lugar tinha vida. De posse dos álbuns, Violeta acomodou-se na cama. Embora sentada diante deles, colocou-se pela primeiríssima vez na vida toda, como quem se coloca em profunda genuflexão. Assumiu, por assim dizer, uma postura religiosamente sacramental. Ia rever o passado. Ia ver-se e aos outros. Voltaria para outros cantos por onde havia passado. Retornaria à contemplação da sua vida, o registro dela.

Não obstante, abriu cuidadosamente, e com certo receio, o primeiro álbum. Olhou para cada fotografia, pôs-se em cada circunstância, mediu-se e pesou-se para cada quilo a mais, viu-se em todos os cortes de cabelo, em cada Natal, em cada ano seguinte àquele, em cada acontecimento. Observou atenta os devaneios da moda, e os seus, dentro daquelas roupas ridículas. Ponderou acerca das antigas futilidades, justificando-se. Mas o que mais a chamou a atenção, foram os mortos. Seus parentes, amigos, vizinhos. Ao olhá-los e sem querer, ressuscitou-os um a um. Devagarzinho. Começou por ouviu-lhes os timbres e as vozes, depois seus risos, e adiante não apenas os ouviu, viu a todos e eles que se riam e conversavam. Sentiu os seus cheiros, seus abraços, suas idéias e seus segredos. De repente o seu quarto encheu-se de pessoas invisíveis. Todas saídas, quase que arrancadas das imagens.

Tudo era vivo a partir da sua própria alma. Violeta pode enfim compreender, num insigth maravilhoso, que ninguém estava realmente morto. Todo mundo vivia dentro dela. E retornava, magicamente, da sua saudade ativa, das suas lembranças vívidas, da sua memória que quanto mais lhes era fiel, mais realidade lhes trazia. A cada detalhe, os mortos se enchiam de vida, prosperavam, corria-lhes sangue nas artérias, pulsava-lhes o coração. Coravam, falavam e se riam, numa fartura crescente de vitalidade. Aqueles aos quais ressuscitara, puseram-se a falar de coisas, as quais poderiam ser classificadas como 'no meu tempo'. Porque embora ali, cheios de vida, eles não tinham novidades para contar, senão as coisas daquele dia em que haviam sido fotografados e talvez até o último encontro com ela.

Desse modo, como era de se esperar, os instantes do passado vieram à tona, depois dissiparam-se como poeira, e o que restou, perturbou e ensinou a Violeta, lá dentro, no seu espírito e em sua razão. Compreendeu que à sua memória, mesmo trazendo-os de volta, não dava-lhes as possibilidades dialéticas da vida. Foi-lhe posto um novo limiar para a consciência, daí em diante. Ultrapassar um novo portal. Atuar na vida com maestria. Fazer valer seus próprios episódios. Fazer-se na contínua história cotidiana, ainda que miúda, silenciosa e anônima. Uma coisa, no entanto, confirmara-se. É necessário reciclar as palavras, empreender jornadas heróicas em busca do que é atual, sem perder-se a si. Superar os prazos de validade que lhe estavam sendo impostos. Gente não é coisa. Gente perdura, dura, se eterniza na memória dos outros. Quando a gente se perde da gente mesmo, é quando as possibilidades de crescimento interior estão pedindo expansão.

Ontem é o meu tempo, com as suas palavras, hoje é o meu tempo, com as suas palavras, e amanhã será o meu tempo também, pontificou Violeta. Cheia de si, achou-se de repente, ali no seu quarto, no começo de uma nova estrada. A estrada que por ventura nos leva de volta ao começo de alguma coisa maior em nós mesmos.

Maria Goretti Brandão é escritora e artista plástica, colaborou com a AAA - PressAA com este maravilhoso conto.

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sábado, 18 de julho de 2009

War Games assim na Terra como no Céu

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Deus joga gamão, dominó, baralho (com ou sem b), basket, bocha (às vezes isso aí), tiro ao alvo, ao escuro e à penumbra; de vez em quando arrisca numa porrinha, mas aí aporrinha meio mundo imundo; Deus joga caxangá com as crianças e adolescentes do padre Severiano; Deus joga paciência, jogo dos sete erros, amarelinha, cuspe à distância e até uma espécie de baisebol... Deus é o máximo em play station de zero ao infinito, mas num larga o velho nitendo. Dia desses, Deus estava jogando uma partida de boliche, escorregou e se espatifou na pista, aí, num teve dúvida, pois Deus é rápido no jogo de neurônios e sinapses: tascou uma pedra nos pinos e Scatrash! fez um tremendo strike! Deus sempre foi bom de bola, bastava que a pelota fosse dele e já estava escalado pro gol. Podemos dizer que Deus seria um bom bookmaker, pois entende pacas de cavalos também. Mas todo mundo sabe que Deus é bom de dados, tem dados no Paraíso, coisa fina, cravejados de brilhnates, ametistas e seixos do Ipanema; mas, na Terra, Deus tem os seus dados, só que não são como os dos Céus...




...mas Deus gosta mesmo é de jogar par ou ímpar!

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