quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A Camisa de Carlos

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Urariano Mota



(Extraído do romance Os Corações Futuristas, Editora Bagaço, 1999 )

A pequena ascensão para o cargo de escriturário, que tornou possível a compra de uma bela camisa, não se fez sem grandes embaraços. O primeiro deles foi manter o emprego. Carlos achava, nos primeiros dias de escritório, que dele seria exigido somente trabalho. Sem medir esforços, afastando de si qualquer reflexão de como era desproporcional o seu talento para o que dele se esperava, atirou-se com fúria à máquina. Para quê?

– Seu Carlos – disse-lhe a figura única de chefe e patrão, tendo às mãos uma correspondência recém-batida. – Seu Carlos, isso aqui tá muito feio: é uma cagada só.

– Pois não… – ia dizer “chefe”, mas se conteve, para não deixar impressão de servil – …sim, o senhor quer que eu mude o modelo?

– Que modelo? Eu tou falando disso – e abanou o papel –, o senhor não consegue cagar mais bonito? Olhe o pedação de branco que sobrou na carta.

– Ah, é a estética. Eu bato outra.

– Se for igual não presta. Só me mostre se prestar. E isso é pra ontem, ouviu? Pra ontem.

O chefe, apesar de baixo, ganhava altura de lhe puxar as orelhas. Carlos recomeçava, querendo ser rápido. O diabo eram os tipos da máquina. Eles se abraçavam, grudavam–se, agarrando-se no ar sem atingir a impressão na fita. Carlos respirava fundo e procurava reproduzir, no que se lembrava, de um dos Cem Modelos de Cartas Comerciais. As palavras, unidas numa frente contra qualquer inteligência, vinham-lhe cheias, aglomeradas de letras. Não era à-toa que elas, as letras, se grudavam promíscuas nos tipos da máquina, no ar, e no ar do que nada expressavam: “prezado senhor, vossa senhoria, nesta, conceituada firma, protestos de consideração, atenciosamente”. E isso era o mesmo que “prxsnh, awtyz rtw”. Então Carlos rasgava a folha e rebatia-a. Isso não era o difícil. Difícil era organizar a margem direita, e, pior do que isso, distribuir a mancha, a nódoa do modelo na folha em branco. Daí a merda que o chefe e patrão Romualdo lhe via.

Para azar de Carlos, Romualdo era o que se podia chamar de um self-made-man. Ou seja, um produto do laboratório da selva, uma síntese de falta de escrúpulos, sorte e obsessão por crescimento na sociedade. Como todo homem que “veio de baixo”, e não vem ao caso aqui zombar de sua crença de que chegou “em cima”, como todo homem que ascendeu sem títulos universitários ou “perda de tempo com o rabo sentado no estudo”, ele odiava os intelectuais, ainda que não os chamasse por esse nome. Reunia-os todos num saco, sob a denominação genérica de “cambada de doutores”.

Os seus escriturários, coitados, não passavam todos, sem exceção, de puxa-sacos dos seus escrotos, aspirantes que eram, com seus conhecimentos de bosta, a um futuro de doutores de merda.

Quando lhes perguntava, na entrevista, a esses passa-fomes de camisa engomada e enfiada no cinto, se estudavam, e lhe respondiam que sim, ele retornava, com malícia e propósito: para quê você estuda? E se lhe devolviam, vou fazer vestibular para direito, ou para administração, ou para contabilidade, coitados, ele os expulsava lisos e com fome para o olho da rua.

Ah, não lhe viessem fazer sombra. “Querem ser burros de canudo às minhas custas. Puta que pariu”, dizia à massa escura de operários da oficina. Mas se lhe respondiam, e este foi o caso e acaso de Carlos, quando lhe respondiam com voz magoada, pesarosa, e olhos do Cristo na cruz fitando o céu, “pai, por que me abandonaste?”, quando lhe respondiam, como Carlos, “já estudei. Não posso mais continuar meus estudos”, ah, para estes ele decretava: “Muito bem. Eu preciso de meio-burros. Pode começar”. E isso vinha numa entonação, que só mais tarde descobririam: “Tirem a roupa. Vou marcá-los. Eu lhes dou o privilégio de experimentar o meu chicote”. Porque Romualdo era um homem prático. Sem entender uma só Lei de Faraday, e virando o traseiro para isso, gabava-se de construir caixas para subestações elétricas cujos desenhos os doutores apenas assinavam. “Só têm teoria. Não sabem de nada”.

Foi esse homem que Carlos começou a entender, à custa de muitos e desaforados e insultuosos esporros. À medida que os recebia, e calava, e com esse silêncio via a fera tomar atitudes que se assemelhavam a afabilidade, foi compreendendo que só o trabalho, e a fúria no bater à máquina, e os modelos de correspondência na memória, e a hora a mais, além do expediente, e o chegar mais cedo, não lhe asseguravam o emprego.

Era preciso mais. Era preciso ouvi-lo, com um ar de aprendiz, ainda que tal disfarce muito lhe custasse.



O problema não era tanto, e era também, mas não era o principal, o problema não era bem dobrar a cerviz. “Há necessidade de um embate de surdos? Quantas vezes ouvimos o que não concordamos? E como é que vou responder a quem me paga o salário? Só se fosse louco”, Carlos se dizia, repetia-se, ainda que pílulas amargas Romualdo lhe empurrasse goela abaixo. Esse não era bem o problema. O diabo era a figura do patrão – repugnante. Pois Romualdo não passava de um sujeitinho a quem em outras circunstâncias Carlos não sopraria um cumprimento, sequer um gesto. Do alto dos ombros potencialmente hercúleos Carlos não o veria. Passou então, como defesa, a ouvi-lo balançando-lhe o queixo, enquanto por dentro ria-se dele, comentava-o. “Vá, eletricista, vá, analfabeto, fale. Mostre-se puro e total na sua brutalidade”.

– Me diga uma coisa, – o chefe lhe dizia, ao fim do expediente, enquanto Carlos fingia não ver que suas 8 horas já estavam findas. – Me diga uma coisa, você come carne?

– Sim, como. Assim… O senhor conhece algum modo novo de se comer carne?

– Eu não como.

– Ah, entendo. O senhor está doente?

– Eu? Quantos anos você tem?

– Vinte e um.

– Pois eu tenho quarenta e cinco. Vamos ver quem tem mais saúde?

E antes que o chefe o chamasse para uma quebra-de-braço, e ele se visse convocado a perder, Carlos respondia, rápido:

– De maneira nenhuma, acredito. Então o senhor não come carne… é impressionante!

– Me diga uma coisa: o boi come carne?

– Não, o boi não come carne.

– Aí está. Veja a saúde do boi. O boi não come carne. Entendeu?

– É interessante. Eu nunca havia observado que o capim … não, eu nunca havia observado a saúde por esse lado.

– Então … veja a força do boi. – E depois de uma pausa: – Nenhum doutor ainda lhe tinha dito isso, hem?

Carlos assentia. “E eu sou louco?” Estava começando a ganhar a sua camisa.

Carlos não percebia ainda, como uma lei geral, que no trabalho não se vende só o esforço físico. Ele não percebia que assim como existem na terra as categorias de metalúrgicos, industriais, comerciários, bancários, banqueiros, no inferno ou no céu também existem as categorias de almas de banqueiros, metalúrgicos, comerciários e industriais.

Ele julgava, como uma lei geral, que no domínio de um ofício era possível manter a cabeça livre do espírito da gente desse ofício. Seria como se nos dedos que batiam aquelas asneiras protocolares, no corpo que se assentava nove horas batendo aquilo, nos ouvidos que digeriam os sons da oficina e o malho da voz do chefe, seria como se em meio a tudo a alma e o gosto não sofressem impressão, pois estariam resguardados de fé e concreto, bem ocultos.

Essa crença, diga-se de passagem, cairia melhor em João, que acreditava na lenda de Spinoza polindo lentes, enquanto pensava em latim Sobre o Melhoramento do Intelecto. Em Carlos essa ilusão recebera a variante de uma astúcia ingênua, mas astúcia, que era o conforto de se enganar, como o indivíduo cansado e com muito sono e que tem uma tarefa inadiável para concluir antes de dormir, mas que se diz, “descansarei apenas 5 minutos”. O indivíduo dorme a sono solto por 100 x 5 minutos, a pedido do corpo lasso.

O trabalho que Carlos julgava ser um custo sem embate, adaptando-se fisicamente, por habilidades que de tanto serem feitas tornar-se-iam obra de um autômato, alheio à sua pessoa, somente deixando no trabalho o corpo, numa migração mecânica da alma, não se fez conforme a sua esperançosa astúcia.

A alma regressou ao corpo, de onde nunca se havia apartado, e se entranhou nos dedos, e se fez carne, ou mais precisamente busca de carne, ao tempo em que ouvia histórias de bois que não a comem, e por isso têm muita força e saúde.

O que ele não via como uma lei geral, percebia-o, no seu caso particular, embora disso não formasse conceito, porque lhe era pesaroso o nível de adaptação a que se via forçado. “E eu sou louco?”, a pergunta, que se fazia, evoluiu sem rastros de percurso para um “é claro que não sou louco”, até um “longe de mim a loucura”, quando passou a ser convidado para almoços rápidos, de 15 minutos, na casa do patrão Romualdo.

Ora, estava escrito que passasse a elogiar, e até mesmo a gostar (e não vem ao caso distinguir a fronteira entre o gosto verdadeiro, sentido, e o gosto por agradecimento), a gostar e fazer comentários judiciosos sobre legumes, frutas e verduras. Pois a fome é onívora.

Se lhe servem um bife suculento, muito bom. Se lhe servem um arroz com salada, não é mau. É até ótimo, quando a digestão se faz de volta no carro do chefe, uma sólida Rural Willys. Vontade de cochilar lhe dava, cochilar e voar para longe, migrando, mas o matraquear de Romualdo não lhe dava trégua. Ele, Romualdo, tinha a consciência de que lhe pagara o almoço, não fosse agora o empregado, de rabo cheio, negar-lhe a dívida.

– O povo não gosta de trabalhar, viu, rapaz? Não querem trabalho não. Querem só, ó – e tirava uma das mãos do volante, agitando os dedos na boca aberta. – Esta é que é a verdade.


E Romualdo voltava a mão ao volante, firme, sério, cônscio da solidez do seu patrimônio, ele próprio se vendo forte como o granito. Contente e eterno. Carlos dirigia os olhos para a paisagem, que corria, de meio-fio, sol e gente. “Deixa pra lá”, pensava, “isso passa. Vamos ao que importa”. E o que importava? Vácuo como resposta.

Arrotava o arroz com ponche de laranja. O arroto lhe era desagradável, um desagradável que era motor de empurrar mais os olhos para longe da janela estável da Rural. “Isso passa. Vamos ao que interessa”.

Desciam. Era emendar o segundo expediente sem descanso.

Ora, estava escrito que a lua-de-mel, como toda lua-de-mel, não podia durar sempre.

A intimidade doada pelo chefe teve a contrapartida da quebra do respeito, ousemos esta palavra, respeito que ainda havia nos momentos do esporro. Antes, Carlos era um estranho, um objeto, podia ser executado com frieza. Agora o chefe lhe conhecia a fraqueza, tinha-o na mão como um devedor – pois não lhe pagava às vezes até a janta? – media-o pela medida do seu almoço.

Ora, era o diabo. Se Carlos houvesse tomado distância, já teria sido posto no olho da rua. Como não se distanciara, e aí residia a fina lâmina do equilíbrio, para se dar ao respeito em público, o que vale dizer, para evitar a descompostura com testemunhas, deveria viver com o chefe em permanente salamaleque. “A paz esteja contigo” deveria expressar em constante mesura. Ora, não se pode exigir de um jovem tamanha ciência. E de um jovem espiritualizado, o que é um agravante, muito menos.

Um dos problemas de um caráter espiritualizado é que ele se envolve no encanto das formas. O que isso quer dizer: num edifício levantado, por exemplo, ele somente vê o acabamento, o desenho no resultado final, erguido. Pior, para ele é um choque descobrir lajes, e que uma planta do prédio pode ser reduzida a retângulos e semicírculos.

Falando mais, digamos, concreto: o jovem espiritualizado acredita em Talento, Generosidade, Amor, Decência, como fenômenos puros. O que vale dizer, fenômenos vistos no seu exterior.

Para ele as estrelas são luzes lácteas. Ora ora. Se ao descer da Rural, voltando do almoço na casa de Romualdo, Carlos não encontrasse ante os seus olhos os olhos da massa escura de operários, de macacão aberto, com o riso infame insinuado nos lábios grossos, ah, teria sido mais fácil atingir posturas próximas ao salamaleque, mas que não o seria, misturado que estava à tapinha, ao insulto recebido como uma característica jocosa, típica, de um patrão camarada.

“O secretário do chefe”, “meu chefe”, começou a ouvir da oficina, e isso estava longe de ser um elogio. Tratavam-no como um rameiro, pelo menos na tradução que Carlos dava a essas irônicas antonomásias. “Inveja, é natural que sintam inveja”, pensou a princípio. “Eles acham que a minha posição é importante. Como não podem estar aqui … ” E deu de ombros. Mas não se sentiu por isso liberado.

A possível inveja acabou por constrangê-lo. E passou a ser cordato com Romualdo, quase pedindo desculpas à massa. O que quer dizer: às cobranças arbitrárias do chefe deu-se ao embaraço de fazer ponderações.

– Carlos, venha cá.

– Pois não…

– As guias de recolhimento do INPS de três anos. Eu quero elas.

– Hum… veja bem. Quando eu cheguei aqui, não me foi possível conceber a organização do arquivo – e a ponderação de Carlos era assim, cerimoniosa – sem um exame prévio das condições gerais…

– Conversa mole, seu Carlos – o chefe o interrompe. – Quando o senhor chegou aqui não sabia nem um A. Me passe as guias, ligeiro.

– Certo. Mas veja bem. Não é totalmente justo que me seja imputado…

– E quem chamou o senhor de puta? Vamos. O senhor sabe ou não sabe das guias?

– Sinceramente, de uns três anos para cá… O senhor tinha mesmo arquivo disso?

Aquilo acabou por queimar o pavio curto de Romualdo.

– Eu lhe pago pra me servir. Era só o que faltava! – Levantou-se, e se dirigindo ao armário, arrancou de lá, às braçadas, pilhas de papéis, que jogou para o chão. E varrendo com as mãos as prateleiras, ia exclamando: – Tá uma zona! Virou frege!

O chão ficou atapetado de cartas, algumas modelares, outras não, e mais notas fiscais, faturas, algumas presas por grampos, outras por clipes, e pastas, de guias amareladas, outras não.

– Quero tudo separado – o patrão lhe gritou – com cada boi no seu curral. Hoje, daqui a pouco, até a minha volta do almoço.

E bateu a porta, saindo. Carlos ficou como um gigante faminto, sem almoço, com a multidão de papéis nos calcanhares. “Mártir quis ser, cuidei qu’eu era. E um louco fui, nada mais”, eram os versos de que se lembrava. E se pôs humilde, franciscano, paciente e cristãmente a organizar os papéis sobre o birô.

Uma semana depois tinha camisa nova e, num protesto mudo, um tumor estourado no pé direito. 

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Urariano Motta* é natural de Água Fria, subúrbio da zona norte do Recife. Escritor e jornalista, publicou contos em Movimento, Opinião, Escrita, Ficção e outros periódicos de oposição à ditadura. Atualmente, é colunista do Direto da Redação e colaborador do Observatório da Imprensa. As revistas Carta Capital, Fórum e Continente também já veicularam seus textos. Autor de Soledad no Recife (Boitempo, 2009) sobre a passagem da militante paraguaia Soledad Barret pelo Recife, em 1973, e Os corações futuristas (Recife, Bagaço, 1999). Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz.

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Leia também...


José Antonio Gutiérrez D., La Pluma.net, Espanha
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

José Antonio Gutiérrez D.
Volta-se a cogitar de conversações de paz, com o beneplácito de boa parte do establishment, na agenda política Colômbia na. Uma trapalhada de Uribe [Alvaro Uribe, ex-presidente], que revelou movimento do governo, de aproximação às FARC-EP, em Cuba, quando tentava canalizar apoio para seu projeto ultradireitista [1], bastou para gerar corrente de opinião favorável à aproximação. E o tiro saiu-lhe pela culatra.

Santos [Juan Manuel Santos, presidente] frente à questão, mostrou-se hermético, mas a rede TELESUR, hoje, deu a notícia de um milhão de dólares: as FARC-EP assinaram o início de um acordo de paz com o governo da Colômbia [2]. Há grandes expectativas, dado que há apenas poucos dias, Gabino [Nicolás Rodríguez Bautista], principal comandante do Exército de Libertação Nacional (ELN), declarara-se disposto a unir-se numa iniciativa de diálogo da qual participassem as FARC-EP [3]. Pronunciamento de alta importância, uma vez que, dentre outras lições do passado, já se sabe que não é possível negociar em paralelo com as diferentes expressões do movimento guerrilheiro colombiano. No momento em que escrevo essas notas, estamos à espera do pronunciamento oficial de Juan Manuel Santos sobre a mesma questão.

A aproximação não acontece gratuitamente, nem é efeito da boa vontade do presidente da Colômbia: é óbvio que a tese do “fim do fim” não se sustenta e que o Plano Colômbia já faz água. A guerrilha respondeu ao desafio imposto pelo avanço do militarismo e um novo ciclo de lutas sociais ameaça fazer deteriorar a situação política no médio prazo, a ponto que a oligarquia encontrará dificuldades para controlá-la. O cenário político mostra-se às vezes perigosamente volátil. Por outro lado, também nada há de surpreendente na disposição dos guerrilheiros para aproximar-se da mesa de negociações: em primeiro lugar, porque a guerrilha nunca deixou de propor, já há 30 anos, em todos os tons possíveis, a solução política do conflito social e armado; e em segundo lugar, porque a guerrilha, nos últimos anos, melhorou notavelmente sua posição de força, não só militar, mas, sobretudo, no plano político.

Atenção às falsas ilusões

Embora a assinatura desse acordo seja desenvolvimento positivo, não podemos ser excessivamente otimistas, nem, e menos ainda, triunfalistas, pensando que a “paz”, por si só, representaria alguma espécie de triunfo para os setores populares e suas demandas históricas, que, há mais de meio século, o Estado bloqueia a sangue e fogo. É preciso ter plena consciência de que o caminho até eventual processo de negociações é eivado de obstáculos, e que há diferenças substanciais, de fundo, sobre o que esperar dessas negociações e sobre o que se entende por “paz”, palavra que anda em tantas bocas. É preciso ter plena consciência de que a oligarquia com a qual se está negociando é a mais sanguinária do continente e que não pensa em negociar movida por alguma súbita mudança de espírito.

(Clique no título e leia matéria completa)

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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PressAA


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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Quem são nossos verdadeiros inimigos?

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Fernando Soares Campos



Julga-se um homem tanto por seus inimigos quanto por seus amigos.” [Joseph Conrad – escritor polonês]

Não caminhe atrás de mim; eu posso não liderar. Não caminhe na minha frente; eu posso não o seguir. Se possível, caminhe ao meu lado e seja meu amigo.” [Albert Camus – filósofo francês nascido na Argélia]


A gente costuma julgar nossos inimigos como se fossem umas antas, geralmente os tratamos por indigentes intelectuais. Entretanto, esses a quem assim classificamos são, nas mais das vezes, apenas tentáculos do verdadeiro inimigo: aquele com quem nunca nos relacionamos diretamente ou mesmo indiretamente; alguns a gente conhece de “ouvi falar”; outros, nem isso. Por isso invariavelmente centramos nosso fogo-fátuo (ou seria flato?) nos “tabelinhas”, os pernas-de-pau que se sentem craques da pelota, os que recebem a bola cheia e repassam murcha.

O nosso verdadeiro inimigo é intelectualmente bem dotado, é culto, refinado, mas usa sua potencializada inteligência sob a influência de sentimentos mesquinhos, aplica sua cultura acadêmica e o refinamento de suas idéias na elaboração de planos para a implementação do mal, a fim de atender aos seus mais obscuros instintos. São, em geral, líderes natos, mas tronam-se artificiais pela demagogia, pela vaidade, pelo cinismo, pelo egocentrismo. Sofismam e procuram fazê-lo de forma criativa, suas argumentações são intrincadas de raciocínios capciosos, porém muito bem engendrados, em razão de suas mentes calculistas. Catequéticos, fazem escola, formam discípulos – canonizadores que endeusam o mentor, dão continuidade à sua obra; mas, apesar dos esforços, raros são os que alcançam o status de mestre.

Os sofistas do baixo escalão não são propriamente sofistas, são animais híbridos, “antagaios”, cruzamento de anta com papagaio; não falam, palreiam, e o fazem “convictos” de que estão sendo autênticos. Quando citam seus mentores, o fazem apenas com o intuito de promoverem a si próprios, tentando exibir “erudição”, mas fazendo interpretações enviesadas; pois, às vezes, estes “hermeneutas”, mesmo diante de argumentações inconsistentes do mestre, acabam dando parecer ainda mais esdrúxulo.

As redações dos órgãos midiáticos de cunho empresarial estão aí mesmo para confirmar o que estou dizendo. Os jornalistas e colunistas da chamada grande imprensa leem as ordens do dia... quer dizer... os editoriais formulados pelos seus patrões, interpretam-nos a suas maneiras e, em muitos casos, reproduzem as idéias e intenções do chefe de forma ainda mais grave do que aquilo que foi determinado nas prescrições absurdas que lhes foram ditadas.

Assim, os “focas” oriundos das faculdades de Comunicação (e até mesmo as velhas raposas empíricas) tentam ser originais, querem aparentar independência. Muitas vezes dão palpites aos seus chefes, a fim de marcarem presença, distinguirem-se no todo, mas fazem isso fundamentados nas idéias originais da chefia, apenas reforçam suas fidelidades ao maquiavelismo da empresa. Nunca são autênticos. (Apesar de que, a meu ver, nesses casos, revelamos autenticidade apenas quando nos expressarmos de forma parafrástica, mas tentando oferecer uma nova visão do tema abordado, ou seja, criando paráfrases “autênticas”, metáfrases que digam a mesma coisa do original, porém com objetividade e, se possível, com inteligibilidade, a mais abrangente possível. E não algaraviando, como estou fazendo aqui. Mas daqui pra frente vou me modificar, vou tentar chegar onde pretendo.)

O general Golbery do Couto e Silva, eminência parda dos governos da ditadura civil-militar que se instalou no Brasil em 1964, dizia que “o problema não é o general, mas, sim, o inspetor de quarteirão”. Acho que, com isso, ele queria dizer que os “excessos” cometidos pelo regime deveriam ser imputados aos subordinados que não interpretavam corretamente as vozes de comando dos seus superiores. É uma forma de alguém se eximir de culpa, tirar o asterisco da reta, chamar os outros de analfabetos funcionais, “herança maldita dos velhos tempos” num país em que o povo ai pra frente... do pelotão de fuzilamento.

Mas as tropas de choque são formadas com buchas de canhão, fanáticos e inocentes úteis, todos instruídos e comandados por patrioteiros ou mercenários.

Meu amigo Raul Longo, jornalista e escritor, colaborador desta nossa Agência Assaz Atroz, tempos atrás costumava se dedicar a responder mensagens absurdas, disparates que circulavam pela internet acusando inverdades sobre o governo Lula, fazendo zombaria com a maneira simples de o presidente se expressar, aproveitando falhas gramaticais em seus discursos para chamá-lo de analfabeto. Nós postamos muita contra-argumentação abalizada do Raul, que dedicava seu precioso tempo a responder àquelas mensagens desconexas que viravam corrente na internet.

Eu disse “viravam”? Disse-o mal. Ainda viram.

Há poucos dias recebi uma dessas mensagens, antiga mas requentada pela circulação na internet. Trata de suposta notícia publicada na revista Forbes informando o ranking dos maiores bilionários do Planeta. Entre esses incluíram quem?! Isso mesmo, o ex-presidente Lula, que seria possuidor de nada mais nada menos que 2 bilhôes – não se sabe ao certo se de dólares ou reais, pois registraram assim: R$ 2 bilhões de dólares. E o analfabeto é Lula!

Entediado com essas chatices, não respondi à mensagem, não tive saco nem pra dizer “isso aí é uma bobagem”. Porém, poucos dias depois, recebi e-mail com a devida análise da tal matéria que teria sido veiculada pela revista Forbes. O site E-Farsas.com, “10 anos desvendando as farsas da internet” (Pô! Não sei como eles têm paciência para tal tarefa), mostra claramente que é tudo uma farsa, a partir da montagem fotográfica que fizeram com uma capa original da revista Forbes, na qual aparece Lula à Al Capone, de chapéu de feltro com aba quebrada sobre a testa.

Certa ocasião um leitor nosso nos escreveu dizendo que uma fotomontagem nossa estava muito “mal feita”.

Respondi:

Pô! Anônimo, agora você me surpreendeu pra valer. Senão vejamos.

Você acessou esta página, viu diversas fotomontagens e acabou dizendo que "esta" é "mal feita".

Eu pensava que todas estariam mal feitas, amadoristicamente mal feitas.

Na verdade, não usamos o fotoshoping, mas o editor Paint, exatamente para que as fotomontagens não pareçam perfeitas e possam ser confundidas com fotos originais.

A idéia aqui é fazer humor, não é cometer estelionato, fraude, falsificação, como no caso da revista Isto É, que publicou fotomontagem do Zé Dirceu numa Harley Davidson, tentando vender gato por lebre. Lembra-se?

Sabe o que foi que o José Serra disse quando viu o Dirceu na moto: “Ah, eu sabia que o Dirceu ia acabar a vida em cima de uma moto”.

Se o Serra tivesse o seu olho de lince, teria dito: "putz! que montagem de foto mais mal feita!"

É isso aí, Anônimo, nós tentamos fazer humor; não, aplicar 171.

Cá entre nós: creio que a maioria das pessoas que veem esse tipo de matéria, essas que são escancaradamente fraudulentas, identifica o logro, mas passam em frente por má-fé ou simplesmente por gozação. Outros, não, pois existe aí uma grande quantidade de criaturas ingênuas estimuladas por declarações de pessoas como José Serra.


O que se constitui em pior atitude: acreditar em tudo ou não acreditar em mais nada?

Eu mesmo não sei.

Mas podemos arriscar uma análise palpitante...

Acreditar em tudo é um comportamento infantil, lato sensu, pois é próprio das crianças acreditarem em tudo que lhes digam, ou se espelharem em tudo que os adultos fazem, considerando aquilo como atitudes corretas e dignas de serem imitadas. Mas também é esse o comportamento do adulto imaturo, aquele em quem persistem características psicológicas e emocionais próprias das crianças. Ele acredita em tudo que “dá” na televisão, ou que sai no jornal, na revista, no livro... Já existe até quem diga “vi na internet”, e por isso aceita como fato consumado. Existem também aqueles que acreditam em tudo que foi dito por intelectuais, por acadêmicos, por experts em determinadas áreas, por autoridades em determinados assuntos, acatando os dizeres e saberes como verdades in-con-tes-tá-veis! Isto também é uma forma de se acreditar em tudo. Tudo que “alguém” diz. O resto é zé-ninguém, inclusive ele próprio.

Não acreditar em mais nada é característica daqueles que saltaram da infância psicoemocional para a decrepitude sem passar por um estágio de autoanálise das suas vivenciadas experiências, não praticando o “conhece-te a ti mesmo”, aquilo que nos conduz gradativamente à maturidade. Mas engana-se quem pensar que decrépitos, nesse caso, são apenas os que estão caducando em decorrência de uma idade muito avançada. Existem “moços” já relativamente decrépitos. São, invariavelmente, pessoas que viveram longo período em condições maniqueístas (“Deus é Deus, e Nicuri é o diabo!”), sem atentar para as variantes das verdades tangíveis ou para as nuances das realidades perceptíveis. São indivíduos facilmente manipuláveis e que, por conveniência ou preguiça mental, se deixaram manipular durante muito tempo; até que, cansados por não verem suas expectativas tornarem-se realidade, se decepcionaram com seus ícones voláteis: políticos demagogos e corruptos, empresários gananciosos, militares mercenários, religiosos pervertidos e tantos outros “monstros” que “dilaceraram suas esperanças”. Ele agora é aquele cara que grita veemente: “É tudo farinha do mesmo saco!” “São todos iguais!” “Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão!” Honesto, verdadeiro, sincero, inteligente, em todo o mundo, só restou ele próprio.  Mas não se surpreenda se vir um desses sujeitos “militando” em favor da “desmilitância” geral: “Voto nulo!” “Ninguém merece!” E até engrossar as fileiras de movimentos do tipo “Cansei”, liderado por políticos demagogos e corruptos, empresários gananciosos... E lá vai ele exibindo “vigoroso cansaço” (desculpem por mais um oximoro forçado).

Portanto, a meu ver, acreditar em tudo é uma condição infantil que pode levar o indivíduo a saltar etapas evolutivas, passando daí direto para uma caduquice precoce – estado em que não se acredita mais em nada.

Quando lemos ou ouvimos alguém não podemos medir o grau de convicção do autor ou do discursista, menos ainda perceber claramente o alvo de suas intenções. Não somos dotados de “convictômetro” ou “intenciômetro”. E se tivéssemos um “detector de convicções” instalado em nossas consciências, ele dispararia o alarme a cada momento em que disséssemos a nós mesmos que acreditamos piamente nisso ou naquilo. Quanto ao “verificador de intenções”, precisamos entender que “bem-intencionado” é o sujeito que deve ser perdoado quando erra, apesar de ter agido exatamente como o “mal-intencionado” agiria. Mas podemos e devemos sempre ligar o “desconfiômetro”. Ter um pé ligeiramente recuado não é uma atitude paranoica, mas tão-somente uma indispensável precaução diante das realidades em confronto com as verdades acessíveis.

Mas... o que essa lengalenga toda tem a ver com amigos e inimigos?

Acontece que muitos dos nossos amigos dão algum crédito àquilo que expomos sob a condição de conjunto sistemático de opinião, mas de caráter hipotético. São pessoas que encontraram traços de lógica naquilo que estamos expondo, por isso se dispõem a aprofundar nossas análises. Essas pessoas costumam nos brindar com retornos surpreendentes: concordando, parcial ou integralmente, com aquilo que teorizamos, acrescentando dados que desconhecíamos, indo bem mais fundo do que seríamos capazes. Ou, muito pelo contrário, discordando da totalidade de nossos hipotéticos raciocínios, apontando os erros de nossas presunções. Em ambos os casos somos beneficiados, porém este segundo resultado nos é muito mais proveitoso. Somente quando reconhecemos nossos erros e nos dispomos a modificar nossos comportamentos é que evoluímos, partimos para novas descobertas com a visão um pouco mais ampliada. Entretanto isso não é tão fácil de se pôr em prática, dado a fatores íntimos, tais como o orgulho, a vaidade, o egoísmo... os quais nem sempre nos permitem reconhecer nossos próprios erros.

Quanto aos nossos inimigos, esses não têm apenas um pé ligeiramente recuado em relação ao que dizemos ou fazemos: estão sempre em posição de carateca pronto para atacar ou se defender. Se forem inimigos motivados por questões no âmbito da política ou da ideologia (nesses casos deveriam ser simplesmente opositores), aí, tudo que dissermos, mesmo que confirmado por fatos evidentes, irrefutáveis, será visto como “teoria da conspiração”. Para eles o nosso linguajar é que se transformou em “Novilíngua”, como em “1984”, de George Orwell. O linguajar deles se renova, sim, mas em função das “novas necessidades de comunicação”. Mas Alain Badiou, filósofo francês contemporâneo, explica essa coisa. Para ele, “a história da política não é a história das palavras, mas sim a história dos novos significados que podem ter as palavras”.

Mas amizade não determina que a gente tenha que viver passando a mão na cabeça dos amigos, inflando-lhes o ego.

Quando dizemos apenas coisas amáveis aos nossos amigos e duras verdades aos inimigos, estamos falseando os verdadeiros propósitos de uma amizade.

Amizade requer sinceridade. Claro que franqueza excessiva é falta de educação, pode ser até arrogância. Mas, para mim, delicadeza só é sinônimo de debilidade quando agimos com pieguice, com sentimentalismo exagerado. Precisamos, sim, ser naturalmente delicados no trato com os amigos e, se possível, até com os inimigos. Não com o receio de melindrá-los com atitudes aparentemente mais ousadas e com isso romper a amizade ou instigar o inimigo. Não, não é nada disso. Devemos ser delicados por ser esta a nossa natureza.

Ao contrário do que muitas vezes tentaram me fazer acreditar, o ser humano não é um bicho feroz, um monstro, um lobo em pele de ovelha, traiçoeiro por excelência, malvado por natureza. Esse é o retrato de uma minoria dentre a Humanidade, mas uma minoria poderosa que faz sua imagem brilhar por todos os cantos da Terra, um brilho intenso, emanando de televisores e telas de cinema já há muitos anos, terrivelmente fascinante.

Creio que devemos dizer duras verdades de forma amável aos nossos amigos; mas, quanto aos inimigos, se estes só querem nos falar e não nos ouvir, devemos dizer-lhes as mesmas duras verdades, só que (ou soque!), para estes, às vezes precisamos falar de forma grosseira.

Reconciliar-se com o inimigo não quer dizer anuir aos seus propósitos, mas apenas mantê-lo incapacitado, ou ao menos inibido, de nos prejudicar. Acho que é isso que fazem os governantes progressistas, reformadores e até os revolucionários.

O amigo do meu inimigo não deve ser necessariamente meu inimigo. Assim como o inimigo do meu inimigo não é essencialmente meu amigo.

 Mas... quem são nossos verdadeiros inimigos?

Não sei! Conheço apenas os que exteriorizaram suas antipatias por mim e se declararam meus inimigos. Mas esses não me parecem ser meus “verdadeiros inimigos”, eles têm pinta apenas de buchas de canhão, bolas murchas, pernas-de-pau, indivíduos teleguiados, “matrixiados”, como diz Komila Nakova. O buraco negro em que meu verdadeiro inimigo me espreita é mais em cima.

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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domingo, 26 de agosto de 2012

CIA: Operação Wi! Ki Rombo! - Guerra "humanitária"

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O lançamento de uma "guerra humanitária" contra a Síria



Michel Chossudovsky

por Michel Chossudovsky

A administração Obama, em ligação com Londres, Paris, Tel Aviv e o quartel-general da OTAN em Bruxelas, está contemplando  várias "opções de intervenções" militares contra a Síria, incluindo a realização de operações navais e aéreas em apoio às forças rebeldes de “oposição” sobre o terreno.

Os EUA e o seu impassível aliado britânico estão num “pé de guerra humanitário”. 

Forças aliadas, incluindo operativos de inteligências e forças especiais, reforçaram a sua presença no terreno em apoio ao “Exército Livre da Síria” (ELS). Fui informado que o Ministério da Defesa britânico está “formulando planos de contingência para o caso de o Reino Unido decidir instalar tropas nesta região volátil”.

Posicionamentos de forças navais e aéreas já foram anunciados pelo Ministério da Defesa britânico. Segundo notícias de tablóides de Londres, citando fontes militares “confiáveis”, “... a escalada da guerra civil [na Síria] torna cada vez mais provável que o Ocidente seja forçado a intervir”. ( Daily Mail, Julho 24, 2012). 

Uma campanha de bombardeio no estilo “pavor e choque” do Iraque não está, por razões práticas, sendo contemplada: “analistas da defesa advertiram que uma força de pelo menos 300 mil soldados seria necessária para executar uma intervenção em plena escala [na Síria]. Mesmo assim, esta enfrentaria resistência feroz. ...” (ibid).

Ao invés de executar uma operação relâmpago total, a aliança militar EUA-OTAN-Israel optou por intervir sob o diabólico enquadramento do R2P, da “guerra humanitária”. Modelado na Líbia, as seguintes grandes etapas estão a ser encaradas:

1- Uma rebelião apoiada pelos EUA-OTAN, integrada por esquadrões da morte, é lançada sob o disfarce de "movimento de protesto (meados de Março de 2011 em Daraa) 

2- Forças especiais britânicas, francesas, qataris e turcas estão sobre o terreno na Síria, aconselhando e treinando os rebeldes bem como supervisionando operações especiais. Mercenários contratados por companhias de segurança privada também são envolvidos no apoio às forças rebeldes. 

3- As matanças de civis inocentes pelo Exército Livre Sírio (ELS) são deliberadamente executadas como parte de uma operação encoberta de inteligência (Ver: SYRIA: Killing Innocent Civilians as part of a US Covert Op. Mobilizing Public Support for a R2P War against Syria, Global Research, May 2012) 

4- O governo sírio é então culpabilizado pelas atrocidades resultantes. A desinformação da imprensa-empresa internacional articulada para a demonização do governo sírio. A opinião pública é levada a endossar uma intervenção militar com fundamentos humanitários. 

5- Respondendo à indignação pública, os EUA-OTAN são então "forçados a intervir" sob o mandato humanitário da “Responsibility to Protect” (R2P). A propaganda da imprensa-empresa internacional entra então em alta velocidade. “A Comunidade Internacional vem para o resgate do povo sírio”. 

6- Navios de guerra e caças de combate são então posicionados no Mediterrâneo Oriental. Estas ações são coordenadas com o apoio logístico aos rebeldes e das forças especiais no terreno. 

7- O objetivo final é “mudança de regime” que leve à “ruptura do país” de acordo com linhas sectárias e/ou a instalação de um “regime dominado ou influenciado por islamistas” modelado no Qatar e na Arábia Saudita.

8- Os planos de guerra para a Síria são integrados com aqueles referentes ao Irã. A estrada para Teerã passa por Damasco. As implicações mais vastas da intervenção EUA-OTAN são escalada militar e o possível desencadeamento de uma guerra regional estendendo-se desde o Mediterrâneo Oriental até a Ásia Central, na qual a China e a Rússia poderiam ser direta ou indiretamente envolvidas.

As etapas de 1 até 4 já foram implementadas. 

A etapa 5 foi anunciada. 

A etapa 6, envolvendo o posicionamento de navios de guerra britânicos e francesas no Mediterrâneo Oriental está destinada a ser lançada, segundo o Ministério da Defesa britânico, “ainda neste Verão”. (Ver Michel Chossudovsky, The US-NATO War on Syria: Western Naval Forces Confront Russia Off the Syrian Coastline? Global Research, July 26, 2012. 

A fase 7, nomeadamente a “mudança de regime” – a qual constitui o fim do jogo da guerra humanitária – foi anunciada por Washington em numerosas ocasiões. Nas palavras do Secretário da Defesa, Leon Panetta, referindo-se ao presidente Bashar Al Assad: “Já não é mais uma questão de se ele está chegar ao fim, é de quando”.

(Clique no título e leia completo)


Enquanto isso...


A few minutes leter...


O chefão liga para uma dupla de seus subordinados plantados na Inglaterra...




A few minutes leter...




Enquanto isso, de volta ao outro lado do Atlântico...



Jornalista brasileira vai até o motel... quer dizer... a Embaixada do Equador e entrevista Julião Assanhado



por Natália Viana (no Observatório da Imprensa, Reproduzido do suplemento “Aliás” do Estado de S.Paulo)

Até a noite de quarta-feira (15/8), eram poucos os policiais que vigiavam a entrada da embaixada equatoriana em Londres. Passavam parte do turno apoiados no balcão da recepção, batendo papo com um simpático equatoriano gorducho que recebe as frequentes visitas. Onde quer que Julian Assange esteja vivendo, sabe-se que haverá um constante entra e sai de amigos, jornalistas, advogados, ciberativistas. Haverá um pequeno grupo de apoiadores segurando cartazes e tocando um mau violão. E, vez ou outra, uma turba de repórteres atrás da última notícia sobre o WikiLeaks e seu fundador.

Naquele sábado de julho, semanas depois de Assange ter pedido asilo na embaixada do Equador fugindo dos olhares dos policiais, o recepcionista respondeu animado minha saudação: “Como está tudo por aqui?” “Muito bom, muito bom!”

Lá dentro, uma jovem morena de braços tatuados me acompanhou. Passando pela recepção, onde uma foto de Rafael Correa com a faixa presidencial recebe os visitantes, há um longo e branco corredor; ao fundo dele, no escritório modesto, espalha-se uma balbúrdia de cartões de congratulações coloridos. A janela está sempre coberta pelas cortinas brancas – afinal, lá dentro vive um dos homens mais vigiados da Grã Bretanha. Que invariavelmente está sentado à mesa de madeira, mergulhado no seu laptop, entretido em uma quantidade inacreditável de dilemas éticos, jornalísticos, jurídicos.

Negócios de empresas europeias com a Síria

Na sua voz forte, Assange quase sempre é categórico: existe o certo, e o errado. “Só havia uma decisão à qual a Corte Suprema Britânica poderia ter chegado”, me disse naquela tarde. A Corte decidira enviá-lo para a Suécia, onde um promotor pede sua extradição para ser interrogado sobre acusações de crimes sexuais. Para Assange e seus advogados, um promotor não pode ser considerado autoridade judicial, segundo as leis britânicas. “Eles então usaram uma convenção que nem foi discutida no julgamento para embasar a decisão. E é mentira.”

Foi com plena convicção de que se tratava de uma mentira, e de que o processo tinha sérias falhas legais, que o alvíssimo australiano tocou a campainha da embaixada equatoriana no dia 19 de junho e não saiu mais. Surpreendeu a Justiça britânica e sueca, toda a população do Equador, a imprensa internacional, a Interpol. E seus amigos mais próximos. “Fiquei impressionado quando soube”, disse o jornalista americano Gavin MacFadyen. “Ele decidiu não avisar ninguém, nem mesmo os que deram dinheiro para sua fiança. Se alguém mais soubesse, poderia ser responsabilizado legalmente.”

Nos dias seguintes, parte da equipe do WikiLeaks já se reunia na embaixada, retomando o ritmo de trabalho – a organização jamais teve uma sede. Ali, continuou produzindo vazamentos saborosos. Em 5 de julho, começou a publicar os Arquivos da Síria, mais de 2 milhões de e-mails internos do governo sírio. A partir deles, jornais do Líbano, Egito, Alemanha e Itália, além da agência americana Associated Press, revelaram negócios de empresas europeias com o regime amplamente criticado pelo massacre de oposicionistas.

(Clique no título e leia matéria completa)

Corta para uma ligação entre a América do Sul e o Oriente Médio...




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