sábado, 31 de março de 2012

O preço de uma vida

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Eliakim Araujo*

Os Estados Unidos pagaram cerca de 50 mil dólares como compensação por cada afegão morto no massacre praticado por um de seus soldados em pobres aldeias do Afeganistão. A informação está no MSNBC online deste domingo e a fonte é um funcionário do governo que pediu para não ser identificado.

O mais chocante na informação é que o funcionário que a revelou garantiu que o montante pago às famílias das vítimas era "significativo" e "substancial", porque a renda média anual de um afegão é de 425 dólares.

Pobre povo afegão. Explorado de um lado pelo seu próprio (e corrupto) governo. E por outro, pela tropas de ocupação que avaliam em 50 mil dólares a vida de pessoas, crianças inclusive, fuziladas enquanto dormiam em suas precárias residências. Em relação ao custo das guerras, estimado em três trilhões de dólares, 50 mil por uma vida inocente é uma miserável gorjeta. Mas é “substancial”, na avaliação do governo estadunidense.

A propósito do tal sargento Robert Bales, o autor do massacre na noite de 11 de março, sua biografia revela uma sequência de contradições. Por amigos e vizinhos, é apontado como dedicado chefe de família e soldado exemplar, que já participou de três jornadas no Iraque e uma no Afeganistão.

Mas não é isso que indica sua folha corrida policial. Além de indiciado por atropelamento e brigas no trânsito, Bales está envolvido em negócios fraudulentos em empresa de investimento da qual foi sócio na Flórida.

Agora, as autoridades castrenses afirmam que ele será julgado pelos dezessete homicídios que praticou, podendo até mesmo ser condenado à morte.

O que, evidentemente, não ocorrerá. Primeiro porque Bales será julgado por uma corte miltar. E entre os militares ele é considerado herói por seu passado nas guerras e pelas condecorações.

Além do mais, ao condenar Bales, o militarismo do Tio Sam estará se condenando, por permitir a volta à guerra de um soldado que passou por vários traumas durante seus períodos nas frentes de combate. Da ficha de Bales, constam ferimentros em combate e séria pancada na cabeça durante o capotamento do veículo militar em que viajava. Mantê-lo em combate com poderosas armas a seu alcance foi um erro gravíssimo do comando militar dos EUA.

Bales, de 38 anos, que está preso nos EUA, armou-se de uma pistola 9mm e um rifle M-4 com dispositivo de visibilidade noturna, e invadiu casas onde as pessoas dormiam. E matou à sangue frio, quatro homens, quatro mulheres, dois meninos e sete meninas. Ele diz hoje que não se lembra de nada e seu advogado afirma que ele teve uma momentânea crise de loucura.

Argumento falacioso, tudo indica que o massacre foi rigorosamente planejado. O homem estava tão consciente que se armou até os dentes, deixou a base de madrugada e foi percorrer as aldeias em busca das vítimas. Não teria sido mais natural que o ataque de loucura vitimasse aqueles que estavam mais próximos, seu colegas de farda? Ou foi uma crise “seletiva” de loucura?
Da guerra ao subemprego

Enquanto o sargento Bales e seu advogado tentam encontrar uma boa descupa para massacre, veteranos das guerras no Iraque e Afeganistão estão enfrentando a maior dificuldade para conseguir emprego em um mercado de trabalho que já não é fácil.

"Ser o homem mais duro do melhor batalhão no mundo não significa muita coisa quando você sai do Exército", disse Sean Parnell, autor de "Platoon Outlaw", um livro sobre suas experiências como um líder de pelotão do Exército, no Afeganistão 2006. "Cinqüenta por cento dos meus homens, que estão agora estão fora da vida militar, estão vivendo de subempregos, alguns até como ajudante de garçom e no metrô, quando conseguem um trabalho".

Mais de 2,2 milhões militares serviram no Iraque ou no Afeganistão, nesses quase dez anos de guerra. E o pior é que outros 90.000 soldados estão programados para voltar do Afeganistão até 2014.

A taxa de desemprego entre o pessoal que veio da guerra sempre foi mais elevada do que a taxa de desemprego da população em geral, quase 13 por cento. Graças a um grande impulso por parte dos empregadores e do governo, essa taxa caiu para 7,6% em fevereiro, ficando abaixo da taxa nacional de desemprego nos EUA de 8,3%.
Apenas 6 em 500

No país que tem um presidente negro, 99 por cento das maiores empresas não têm negros como principais executivos.

Quando Don Thompson (foto) assumir seu novo posto como principal executivo da rede McDonald, dia primeiro de julho, como foi anunciado nesta quinta-feira, ele será apenas o sexto negro como presidente de empresa na lista da Fortune 500, que relaciona as maiores dos EUA.

Thompson, que é atualmente o número dois da rede McDonald, irá se juntar a a Kenneth Frazier, da Merck, Kennety Chenault, da American Express, Ursula Burns, da Xerox, Clarence Otis, de Darden Restaurantes e Roger Ferguson , que dirige uma empresa privada Tiaa-Cref.

Estes os seis afro-americanos de empresas da lista Fortune 500. Se contados os seis atuais e os ex-executivos, o número de negros em postos executivos chega a apenas treze.

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*Eliakim Araujo ancorou o primeiro canal de notícias em língua portuguesa, a CBS Brasil. Foi âncora dos jornais da Globo, Manchete e do SBT e na Rádio JB foi Coordenador e titular de "O Jornal do Brasil Informa". Mora em Pembroke Pines, perto de Miami. Em parceria com Leila Cordeiro, possui uma produtora de vídeos jornalísticos e institucionais.


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sexta-feira, 30 de março de 2012

Falando com a minha mãe

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(Para Minervina Klueger, minha mãe)

*Urda Alice Klueger


Sabe, mãe? Há coisas, agora, que já não tenho para quem contar. Há coisas que eu fazia ou vivia pensando em como contaria para a mãe, e que agora faço ou vivo sem ter mais nenhuma pessoa que se interessaria em saber a respeito. Talvez, a Margaret, mas ela foi-se embora da minha vida quando a Valentina era um bebê, e a Valentina já vai fazer 9 anos.

Eu visitei meu primo Ralf Passold em novembro do ano passado e gostaria de poder contar para a mãe como foi, pois a mãe sempre queria saber tais coisas, mas agora já não tenho para quem contar. Então, escrevo.

O Ralf está morando numa cidade chamada Aurora, numa localidade chamada Fundos Aurora. É muito longe de tudo – desde o centro de Aurora (que é minúscula) até lá são uns 15 km. O Ralf comprou uma casa de negócios, uma construção enorme, que tem um bar e uma cancha de bocha. É aquele o único local de encontro da população local, além de duas igrejinhas, talvez três, pois deve ter a luterana também. O que vi foram a católica e a Assembléia de Deus. Então, nos sábados à noite, que é quando estive lá, algumas pessoas aparecem para tomar um refrigerante ou uma cerveja porque “já não agüentam mais ficar em casa sem ver ninguém”. Enquanto eu estava lá o Ralf falou para alguns clientes se já haviam conhecido a escritora Urda, etc. E, incrivelmente, lá naquele fim de mundo, as pessoas tinham meus livros e os liam!

Eu disse fim de mundo, mas é um fim de mundo muito bonito. Passeei com a Iraide ao por do sol e tudo é tão bonito, por todos os lados! E para se chegar a Fundos Aurora, a maior parte da estrada está plantada, de ambos os lados, de rosas de Santa Rita. É uma iniciativa incipiente de turismo rural. Com Iraide, vi duas ou três propriedades que já não eram rurais, mas casas de campo de gente que não era dali. E o Ralf tem um cachorrinho, e o Atahualpa estava comigo. Se a mãe soubesse como o Atahualpa ficou grande, bonito e inteligente!

Sobre o Atahualpa eu posso falar para outras pessoas, pois muitas o conhecem, e estou até escrevendo um livro sobre ele. Mas a quem mais interessara saber que fui visitar o Ralf e a Iraide? É em momentos assim que sinto a falta da mãe.

Blumenau, 25 de agosto de 2010.

*Urda Alice Klueger: Escritora, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR. Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz.

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Millôr em preto e branco

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Urariano Motta*

Recife - No calor das primeiras horas depois da morte de Millôr Fernandes, é natural que as palavras sejam todas de glória para ele, e mais natural ainda que o amor a sua pessoa ganhe todas as cores do exagero no sentimento. Ora, se na mesma semana em que parte Chico Anysio se disse que Chico era melhor que Chaplin, o que dizer de um humorista da palavra? No mínimo, que melhorou Shakespeare nas traduções em português, ou que era um Bernard Shaw, além de gênio inexcedível no desenho em todo o mundo.

Manifestações assim de exagero não comportam estranheza em quem lê o obituário. Apenas cabe, em quem as lê, a surpresa de que artista desse valor não tenha sido notado em vida com tais magnificências. Se os sobreviventes não exageram agora, foram relapsos, mesquinhos e insensíveis antes. Mas esse não é o ponto, que procurarei destacar. Como uma lembrança distante dos famosos retratos 3 x 4 de Millôr, tentarei esboçar algo em preto e branco da sua pessoa, no espaço estreito de duas páginas.

É chover no molhado falar de suas qualidades como escritor, dono de humor moderno e de vanguarda, gênio no desenho e nas mais diversas criações. Se estivesse vivo, ele diria: “sim, mas fale ainda assim, chover no molhado tem lá sua graça”.

Aquilo que se disse de Chico Anysio, que era homem de mais de 200 personagens, porque fazia mais de 200 caricaturas, de Millôr pode ser dito que era mais de 200 criadores, sem apoio da muleta da maquiagem. Ele era tão bom nos textos para sorrir quanto melhor nos sérios, como no retrato de Sérgio Porto e nas frases sobre a sua infância dickensiana. Esse chover no molhado, é fato, ainda não recebeu a consagração das academias, talvez como uma resposta delas à antipatia de Millôr pelos estudos acadêmicos.

De passagem anoto que a mitificação em vida de Millôr não se deu por falta de esforços próprios. Em trecho de sua autobiografia escreveu:

“1943 - Começam os anos gloriosos da revista “ O Cruzeiro”, que um grupo de meninos levaria dos estagnados 11.000 exemplares tradicionais a 750.000”.

E um dos meninos era ele.

Isso foi repetido nos obituários da televisão, mas é mais falso que nota de milhão de cruzeiros. Millôr estava em O Cruzeiro na época, mas é tão responsável pelo sucesso da revista quanto um relógio é responsável pela hora da passagem do trem.

Notem: a sua página, O Pif-Paf, em O Cruzeiro, não conseguia grande leitura porque a popularidade sempre rejeitou a vanguarda. O que era bem diferente do maior sucesso de humor entre o povo até hoje, em todo o Brasil: O Amigo da Onça, de Péricles Maranhão. Péricles, mais a dupla David Nasser-Jean Manzon, repórteres desonestos e sensacionalistas ao extremo, é que foram os responsáveis pelo sucesso de O Cruzeiro.

E agora, alcançamos o ponto mais sério. Com o tempo, o que era graça se tornou azedume, ou gracinha para os amigos reacionários bem postos. Sobre o Barão de Itararé, o primeiro humorista moderno do Brasil, na entrevista ao Roda Viva Millôr declarou:

“Agora, querer fazer com que eu engula o Barão de Itararé porque está engolido há 50 anos, é um idiota. A moça quer saber, é um idiota. Faz uns trocadilhos bons, meia dúzia de trocadilhos imbecis...”.

E mais, sobre Lula, em outra oportunidade:

“É evidente que a ignorância lhe subiu à cabeça, não tem dúvida nenhuma. Porque de repente ele começou a se sentir culto, falar sobre tudo.”.

Socialismo:

“A ideia do socialismo é incrível, mas está fadada a não dar certo. Porque o ser humano não é isso. Ele é capitalista na essência”.

E esta pérola sobre o feminismo:

“O melhor movimento feminino ainda é o dos quadris”.

É uma particular tragédia que homens brilhantes, criadores na maturidade, se tornem primeiro uma caricatura do próprio gênio. Que respondam ao mercado com uma transformação da originalidade em uma fórmula consagrada pela fama. Já vimos esse filme em Gabriel García Márquez, por exemplo.

No caso de Millôr, ou de Gilberto Freyre, entre outros, mais adiante passam da caricatura à negação de si mesmos, como num lento apagar de luzes da velhice, em fade-out.

Para nossa felicidade, resta a obra, o fogo da rebeldia dos melhores anos. Em Millôr há de sobreviver o prosador das Fábulas Fabulosas, de A história do paraíso, do revolucionário O Pif-Paf. E de modo mais claro, o frasista, que profetizou:

“A ocasião em que a inteligência do homem mais cresce, sua bondade alcança limites insuspeitados e seu caráter uma pureza inimaginável é nas primeiras 24 horas depois da sua morte”.

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*Urariano Motta é natural de Água Fria, subúrbio da zona norte do Recife. Escritor e jornalista, publicou contos em Movimento, Opinião, Escrita, Ficção e outros periódicos de oposição à ditadura. Atualmente, é colunista do Direto da Redação e colaborador do Observatório da Imprensa. As revistas Carta Capital, Fórum e Continente também já veicularam seus textos. Autor de Soledad no Recife (Boitempo, 2009) sobre a passagem da militante paraguaia Soledad Barret pelo Recife, em 1973, e Os corações futuristas (Recife, Bagaço, 1997). Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz.

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quinta-feira, 29 de março de 2012

Millôr: No dia em que o gato falou

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Millôr Fernandes

Era uma vez uma dama gentil e senil que tinha um gato siamês. Gato siamês! Gato de raça, de bom-tom, de filiação, de ânimo cristão. Lindo gato, gato terno, amigo, pertencente a uma classe quase extinta de antigos deuses egípcios. Este gato só faltava falar. Manso e inteligente, seu olhar era humano. Mas falar não falava. E sua dona, triste, todo dia passava uma ou duas horas repetindo sílabas e palavras para ele, na esperança de que um dia aquela inteligência que via em seu olhar explodisse em sons compreensivos e claros. Mas, nada!

A dama gentil e senil era, naturalmente, incapaz de compreender o fenômeno. Tanto mais que ali mesmo à sua frente, preso a um poleiro de ferro, estava um outro ser, também animal, inferior até ao gato, pois era somente uma pobre ave, mas que falava! Falava mesmo muito mais do que devia! Um papagaio que falava pelas tripas do Judas. Curiosa natureza, pensava a mulher, que fazia um gato quase humano, sem fala, e um papagaio cretino mas parlapatão. E quanto mais meditava mais tempo gastava com o gato no colo, tentando métodos, repetindo sílabas, redobrando cuidados, para ver se conseguia que seu miado virasse fala.

Exatamente no dia 16 de maio de 1958 foi que teve a idéia genial. Quando a idéia iluminou seu cérebro, veio logo acompanhada da crítica, autocrítica: "Mas, como não ocorreu isso antes" perguntou ela para si própria, muito gentil e senil como sempre, mas agora também autopunitiva. "Como não me ocorreu isso antes?" O papagaio viu o brilho da dona o seu (dele) terrível destino e tentou escapar, mas estava preso. Foi morto, depenado, e cozinhado em menos de uma hora. Pois o raciocínio da mulher era lógico e científico: se desse ao gato o papagaio como alimentação, não era evidente que o gato começaria a falar? Não era? O gato, a princípio, não quis comer o companheiro. Temendo ver fracassado o seu experimento científico, a dama gentil e senil procurou forçá-lo. Não conseguindo que o gato comesse o papagaio, bateu-lhe mesmo - horror! - pela primeira vez. Mas o gato se recusou. Duas horas depois, porém, vencido pela fome, aproximou-se do prato e engoliu o papagaio todo. Imediatamente subiu-lhe uma ânsia do estômago, ele olhou para a dona e, enquanto esta chorava de alegria, começou a gritar (num tom meio currupaco, meio miau-aua-au,mas perfeitamente compreensível):

- Madame, foge pelo amor de Deus! Foge, madame, que o prédio vai cair. Corre, madame, que o prédio vai cair!

A mulher, tremendo de comoção e de alegria, chorando e rindo, pôs-se a gritar por sua vez: - Vejam, vejam, meu gatinho fala! Milagre! Milagre! Fala o meu gatinho!

Mas o gato, fugindo ao seu abraço, saltou para a janela e gritou de novo:

- Foge, madame, que o prédio vai cair! Madame, foge! - e pulou para a rua.

Nesse momento, com um estrondo monstruoso, o prédio inteiro veio abaixo, sepultando a dama gentil e senil em meio aos seus escombros.

O gato, escondido melancolicamente num terreno baldio, ficou vendo o tumulto diante do desastre e comentou apenas, com um gato mais pobre que passava:

Veja só que cretina. Passou a vida inteira para fazer eu falar e no momento em que eu falei não me prestou a mínima atenção.

MORAL: - O mal do artista é não acreditar na própria criação.

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Millôr na Wikipédia
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quarta-feira, 28 de março de 2012

No fundo, no fundo, isso é inveja do tesão

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Mas, afinal... O que é que estão inventando? E desde quando a luxúria é crime?!

Graaaande Strauss-Kahn, o libertino!

por John Lichfield, The Independent, UK [excertos] Strauss-Kahn's defence: what's wrong with lust?

Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

John Lichfield

[Entreouvido na Vila Vudu, na hora do recreio: “Bom... Em matéria de libertinagem, muito melhor o Strauss-Khan, que o Sarkozy, o Hollande, a Le Pen e a Lagarde SOMADOS”.]

Dominique Strauss-Kahn [No Cartum] , ex-presidente do Fundo Monetário Internacional, está sendo perseguido por ser conhecido como “homem de desejos fortes” e “libertino” – esbravejaram ontem seus advogados.

Um juiz francês acusou Strauss-Khan, 62, formalmente, por participar da organização de orgias em três países, das quais participaram empresários, um alto oficial de polícia e prostitutas. Para a lei francesa, ajudar prostitutas a encontrar clientes ou a reunir-se com clientes é crime, mesmo que a ajuda não seja remunerada.

A polícia diz ter em seu poder mensagens enviadas por Strauss-Kahn, nas quais fazia arranjos para festas e recomendava uma das mulheres a um amigo.

Strauss-Kahn não nega participar de orgias, “soirées libertines”, como disse, entre 2009-11. A última em Washington, dias antes de ser preso em New York em maio passado.

Interrogado por juiz de instrução na França, mês passado, Strauss-Kahn disse que nunca imaginou que as moças presentes às festas fossem prostitutas. “Como poderia supor que fossem prostitutas”, perguntou ele, “se a noitada havia sido organizada por alto funcionário da Polícia?”

Seus advogados disseram ontem que o caso contra ele é “oco, vazio, raso, inexistente”. Um dos advogados disse:

“Mobilizaram-se recursos colossais, da Polícia e do Judiciário, para invadir e vasculhar toda a vida privada do Sr. Strauss-Khan... com o único objetivo de inventar, para poder punir, o que só se pode descrever como “crime de luxúria”.

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Matéria recebida por e-mail da redecastorphoto

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terça-feira, 27 de março de 2012

Revista Veja - o mosqueiro da ética

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Isso aí deu na Veja! (Mas, na Veja, muita gente dá)

Agora está dando (no bom sentido!) nesta nossa Agência Assaz Atroz:

A associação da mídia com o crime


Está na hora de se começar a investigar mais a fundo a associação da Veja com o crime organizado. [Grifo AA] Não é mais possível que as instituições neste país - Judiciário, Ministério Público - ignorem os fatos que ocorreram.

Está comprovado que a revista tinha parceria com Carlinhos Cachoeira e Demóstenes. É quase impossível que ignorasse o relacionamento entre ambos - Demóstenes e Cachoeira.

No entanto, valeu-se dos serviços de ambos para interferir em inquéritos policiais (Satiagraha), para consolidar quadrilhas nos Correios, para criar matérias falsas (grampo sem áudio).

Até que a Polícia Federal começasse a vazar peças do inquérito, incriminando Demóstenes, a posição da revista foi de defesa intransigente do senador (clique aqui), através dos mesmos blogueiros das quais se valeu para tentar derrubar a Satiagraha.

Aproveitando a falta de coragem do Judiciário, arvorou-se em criadora de reputações, em pauteira do que deve ser denunciado, em algoz dos seus inimigos, valendo-se dos métodos criminosos de aliados como Cachoeira. Paira acima do bem e do mal, um acinte às instituições democráticas do país, que curvam-se ao seu poder.

O esquema Veja-Cachoeira-Demóstenes foi um jogo criminoso, um atentado às instituições democráticas. Um criminoso - Cachoeira - bancava a eleição de um senador. A revista tratava de catapultá-lo como reserva moral, conferindo-lhe um poder político desproporcional, meramente abrindo espaço para matérias laudatórias sobre seu comportamento. E, juntos, montavam jogadas, armações jornalísticas de interesse de ambos: do criminoso, para alijar inimigos, da revista para impor seu poder e vender mais.

Para se proteger contra denúncias, a revista se escondeu atrás de um macartismo ignóbil, conforme denunciei em "O caso de Veja".

Manteve a defesa de Demóstenes até poucas semanas atrás, na esperança de que a Operação Monte Carlo não conseguisse alcançá-lo (clique aqui). Apenas agora, quando é desvendada a associação criminosa entre Cachoeira e Demóstenes, é que resolve lançar seus antigos parceiros ao mar.


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CHICO ANYSIO

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Lou Micaldas*



Não estou triste com a partida de Chico Anysio.

Até pensei: graças a Deus! Merecia o descanso eterno!

Ele não nos deixou órfãos, porque não era nosso pai. Porém, nos deixou um legado de valor altíssimo: exemplo de vida, de amor ao trabalho, aos amigos, aos colegas e alunos.

Deixou uma das suas maiores riquezas: a arte de fazer rir sem apelação, humor crítico aos político com classe.

Através da personagem Dona Salomé, dava seu recado ao General Figueiredo, presidente do regime militar, que se tornou seu fã e até foi cumprimentá-lo no teatro, acompanhado de Dona Dulce.

Recriou a “Escolinha do Professor Raimundo” a fim de trazer de volta os velhos comediantes que estavam fora do ar, no esquecimento.

Ninguém é eterno aqui na terra.

Como poderia eu chorar sua morte se ele estava em péssimo estado num leito de hospital e seus familiares, em contínuo sofrimento diário, vendo sua vida se extinguir?

Ele partiu, mas seus personagens e sua história ficaram aqui: seus programas humorísticos estão documentados e, felizmente, poderão ser reprisados.

Lá no céu as cortinas se abriram para ele.

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*Lou Micaldas é professora, formada pelo Instituto de Educação (RJ), e jornalista, criada e formada no Jornal do Brasil; administra o site Velhos Amigos e colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz


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domingo, 25 de março de 2012

O CANÁRIO NAS MINAS DE CARVÃO

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O canário está ferido. Suas plumas estão tintas de sangue. Ele foi atingido nesta quarta-feira, 21 de março, pelos disparos feitos por trinta e oito deputados que aprovaram, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, um relatório destinado a mudar a atual Constituição Federal do Brasil. A mudança proposta redefine as terras indígenas, quilombolas e ambientais, num retrocesso histórico que, se for confirmado por três quintos dos parlamentares, condena o canarinho à morte.

A imagem do canário é do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro. Ele conta que nas minas de carvão do Reino Unido, os mineiros tinham o costume, até 1986, de levar com eles, para dentro dos socavões, um canário em uma gaiola. O bichinho, muito mais sensível que os humanos aos gases tóxicos acumulados dentro dos túneis, começa a agonizar quando o ar fica envenenado. Sua morte é um sinal para os mineiros, um "aviso" de que devem evacuar as galerias. "Canary in the coal mine" - canário na mina de carvão - virou expressão que indica perigo iminente.

Dessa forma, os mineiros usavam o canário como um "indicador ecológico" toda vez que iam cavar os "ossos da terra" - é assim que os Yanomami chamam os metais extraídos das jazidas.

Viveiros de Castro considera que os índios, bem à sua revelia, são os nossos canários sociológicos ou socioambientais. A agonia dos índios é um "aviso", anunciando que a sociedade envolvente está podre, na iminência de falir, do ponto de vista ecológico e sociopolítico. E acontece que, no Brasil, se essa emenda passar, o ar vai ficar irrespirável. Só que, ao contrário dos mineiros, nós não temos para onde nos picar. O nosso destino está amarrado ao das sociedades indígenas.

Nova Era

Aqui, durante cinco séculos, os índios tiveram suas terras pilhadas, saqueadas, usurpadas, sempre através da violência armada. Em 1988, a Assembleia Nacional Constituinte deu um basta nisso, quando aprovou a Constituição, selando um pacto novo com mais de 200 povos. O Brasil falou, então, aos índios, que não era mais possível recuperar os 87% das terras que eles haviam perdido, mas daqui pra frente o Estado garantia a demarcação dos 13% restantes que ainda ocupam. A partir de agora, ninguém mais pode roubar terra de índio.

Esse foi o pacto assumido pela "carta cidadã" de 1988, queacatou o pressuposto da antecedência histórica, reconhecendo aos índios os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, posto que eles estavam aqui antes do que qualquer fazendeiro. O quadro jurídico novo reconhece ainda organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, bem como a relação integrativa com a terra, que é tão essencial para os índios como o ar para qualquer ser vivo.

Com esse espírito, a Constituição criou mecanismos de ações afirmativas para compensar os crimes históricos cometidos contra os índios, permitindo que o país inaugurasse uma "nova era constitucional", para usar a expressão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ayres Britto, em seu relatório sobre a Terra Indígena Raposa Serra do Sol.

O Brasil chamou, como testemunhas desse novo pacto, o mundo inteiro, quando assinou, em 2002, a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que estabelece, no plano internacional, a proteção das instituições, das pessoas, dos bens e do trabalho dos índios. Depois, no dia 13 de setembro de 2007, numa Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, o Brasil aprovou a Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas, e se comprometeu, na frente de todos os países do mundo, que iria respeitar esses direitos.

Agora, 38 deputados pretendem rasgar a Constituição e descumprir os acordos nacionais e internacionais do Brasil. Eles ressuscitaram a Proposta de Emenda Constitucional - a PEC 215/2000 - de autoria do deputado Almir Sá, do PPB (atual PP - vixe, vixe) de Roraima. Esta PEC estabelece que quem decide se uma terra é indígena não é a forma tradicional de ocupação, mas o Congresso Nacional, que pode até mesmo rever as demarcações já feitas. As raposas votam que são elas que devem tomar conta do galinheiro.

O relatório aprovado do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR - vixe, vixe) retirou essa última parte sobre as terras já demarcadas, mas conservou o restante, que representa um golpe contra índios e quilombolas. Manteve várias outras propostas incorporadas à PEC 215, como a do deputado Carlos Souza (PSD-AM, vixe, vixe), que determina que as Assembleias Legislativas devem ser consultadas sobre demarcações - o que é competência da União - "a fim de se evitarem os significativos prejuízos que a demarcação de terras indígenas impõe às unidades federadas". Ele não explica que prejuízos são esses e, afinal, quem são os prejudicados.

Agonia do canário

A sessão da CCJ, tumultuada, durou mais de quatro horas. Os índios, é claro, se fizeram presentes e protestaram, entre eles, Jaci Makuxi, comandante da luta pela demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Tiveram o apoio do deputado Alessandro Molon (PT-RJ), para quem a PEC é um "gravísimo retrocesso, gritantemente inconstitucional, que atende a sanha do ruralistas por novas terras".

O relatório foi aprovado com o voto de 38 deputados da CCJ. Entre eles, a fina flor da moralidade pública, da retidão e da honestidade, com uma larga folha de serviços prestados a si próprios: Paulo Maluf, Esperidião Amin, Alberto Lupion, Eduardo Cunha, Eliseu Padilha e - que vergonha! - Roberto Freire, além dos cultivadores de cacau do sul da Bahia, Felix Mendonça e Paulo Magalhães, inimigos declarados dos Pataxó e Tupinambá.

Agora, com o relatório aprovado, uma Comissão especial criada exclusivamente para isto, vai elaborar a emenda que deve ser apresentada ao plenário. Resta saber se a parte sadia do Brasil vai assistir acocorada, de braços cruzados, a morte do canário, e vai morrer junto com ele, ou se vai se levantar contra essa vergonhosa legislação em causa própria.

O ministro Ayres Britto, que assumirá a presidência do Supremo Tribunal Federal, representa um fiapo de esperança. Quando ele foi relator no caso Raposa Serra do Sol desmontou o alegado antagonismo entre a questão indígena e o desenvolvimento e defendeu "a efetivação de um novo tipo de igualdade, qual seja, a igualdade civil-moral de minorias que têm experimentado historicamente e por preconceito desvantagem corporativa com outros segmentos sociais".

Contra essa igualdade civil-moral é que votaram os 38 deputados, que parecem retomar o espírito das comemorações do Quarto Centenário do Descobrimento do Brasil, cuja sessão magna, no dia 4 de maio de 1900, foi aberta com um discurso do engenheiro Paulo de Frontin, empossado depois como prefeito do Rio de Janeiro. Ele disse, com todas as letras, que o Brasil nada tinha de indígena:"Os selvícolas (...), não são nem podem ser considerados parte integrante da nossa nacionalidade; a esta cabe assimilá-los e, não oconseguindo, eliminá-los".

O cara, que presidia as solenidades, estava propondo eliminar os índios, como se estivesse dando um presente de aniversário ao País. Afinal, qual é o lugar dos índios na construção do Brasil? Se for aquele planejado por Paulo de Frontin e pelos ruralistas, então quem está ameaçada é toda a sociedade brasileira, nós, nossos filhos e nossos netos, e já podemos ouvir os gritos soando nas galerias: - "Canary in the coal mine".

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José Ribamar Bessa Freire é professor universitário (UERJ), reside no Rio há mais de 20 anos, assina coluna no Diário do Amazonas, de Manaus, sua terra natal, e mantém o blog Taqui Pra Ti. Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz
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sábado, 24 de março de 2012

O que será que te dá, PSDBesta?!

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Alguém aí se lembra desta manchete do velho Pasquim: "Todo paulista (que vota em Maluf) é babaca"? Pois bem mal, agora o Roni Chira vem com esta versão: Todo paulistano que vota no PSDB é "O eleitor 'Coca-Cola' de São Paulo" (Publicado originalmente em "O que será que me dá?" )

Entendemos por "eleitor Coca-Cola", aquele que toma (epa!) groselha e arrota champanhe.

Abraços

Editor-Assaz-Atroz-Chefe

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O eleitor "Coca-Cola" de São Paulo

Roni Chira*

É espantoso como a maioria dos paulistanos não tem a capacidade de relacionar a péssima qualidade de vida em São Paulo ao desempenho dos governantes que elege. O PSDB chuta-lhes o traseiro há uns 20 anos e eles quase que se desculpam por oferecê-lo seguidamente, a cada eleição. Muitos filmam o caos em que vivem pelo celular, guardam de recordação ou publicam no Youtube! Enchentes, congestionamento humano surreal nas estações do metrô, trombadinha atacando vítima, traficante vendendo droga, assaltante em ação… E quando chega na frente da urna, “alguma coisa acontece em seus corações” e lá vão eles, de novo, no mesmo PSDB! Ser conservador, reacionário ou um idiota completo em São Paulo, não tem origem na educação, raça ou nível social. É resultado de uma longa e profunda convivência com a mídia paulista.

A maioria dos paulistas não liga para política e políticos porque “tem mais o que fazer”. E quando não dá pra fugir do assunto, faz cara de esperto e sentencia: “todos os políticos são iguais; todos roubam”. Vão naquela linha do “poder que corrompe” etc… Enganam os mais distraídos, já que não querem ou não têm conhecimento para se aprofundar na questão. Para não se darem ao trabalho de pensar, comparar candidatos e toda essa chatice, muitos paulistas vão de “Coca-Cola” – o candidato que conhecem desde a infância. Neste caso, os “Coca-Cola” são José Serra, Geraldo Alckmin. Maluf também foi um grande “Coca-Cola”. Íntimos que são de seus eleitores igualmente “Coca-Cola”, os tucanos paulistas não mudam o discurso usual “te engano porque você gosta”. Bastou Serra anunciar-se candidato à prefeitura usando as habituais manobras rasteiras dentro do próprio partido, para que o paulistano o elevasse imediatamente a favorito disparado nas pesquisas. E mesmo que o eleitor se esconda da informação, ela lhe bate na testa há anos: até os marcianos sabem que da última vez, Serra não governou nem cumpriu mandato algum, focado que estava em sua eterna escalada rumo ao Palácio do Planalto. Além disso, largou a prefeitura nas mãos do oportunista mais desqualificado que gravitava em sua órbita. Kassab tornou-se o pior de todos os prefeitos que já passaram por esta cidade, na avaliação de seus moradores que… o reelegeram em 2008!


São Paulo tem muito pobre que come carne de pescoço e arrota caviar. Este tipo acredita que enriquecerá “junto” com o patrão. Por isso rouba na balança contra o freguês. É o tal “negro de alma branca” – que prefere catar as migalhas que caem do bolso do feitor a almejar igualdade de direitos e oportunidades para seus semelhantes sociais ou raciais. Acha que educação para pobre é perda de tempo. Por isso bota seu filho pra trabalhar o mais cedo possível, traçando-lhe o mesmo destino do pai desde a adolescência. Acredita em Deus e vai à missa aos domingos. (Mas admite com seus botões que do lado de fora da igreja, quem dá as cartas é o Diabo.)

A maioria dos paulistanos reconhece que viver em São Paulo é cada vez mais insuportável. Não por culpa dos seguidos governos elitistas do PSDB, é claro. Mas pelo crescimento desordenado da cidade provocado pela “invasão de alienígenas nortistas e outras impurezas étnicas – inclusos aí, filhos, netos e toda a parentada”. Por isso, é comum o cidadão achar-se no direito de furar qualquer fila: desde a dos congestionamentos até a dos supermercados. Se viaja enlatado no transporte coletivo, a culpa do seu desconforto é do passageiro ao lado, que invadiu “sua” cidade. (Em sua arrogância delirante, torce secretamente para que surja alguma epidemia que dizime ¾ da população: basicamente os negros e os nordestinos. Ah, sim, quase esquece: inclua-se aí os mendigos e os gays.)

Muitos caem na conversa de uma profissional de telemarketing e acabam assinando um desses jornalões ou revistas decadentes que ainda circulam por aí. Mas logo no segundo mês perdem o interesse na leitura: tirando as manchetes de capa, a página que fala do seu time, quadrinhos e horóscopo (que consomem numa única sessão no “trono sanitário”) o impresso nem se desmancha. E mesmo constatando que não tiram proveito algum, mantêm sua assinatura. Assim, mantêm também a ilusão de serem cidadãos bem informados. E o ciclo ilusório se completa nas estatísticas das quais fazem parte e que o dono do jornal empurra aos seus anunciantes.

Esse paulista foi convencido por idiotas das rádios, jornais e TVs igualmente paulistas, que é um otário que paga mais impostos hoje do que em outras épocas. Não lhe passa pela geléia do cérebro que o número garrafal exibido no impostômetro da rua Boa Vista é fruto da política de aquecimento do consumo interno que protege nossa economia do vírus neo-liberal – o mesmo que arrasa metade do planeta. Fizeram-no acreditar também que São Paulo é a tal “locomotiva” que carrega o Brasil nas costas. Para ele, “desde o Brasil Império já havia oportunidades para todos de norte a sul do país – seja nas escolas, seja no mercado de trabalho”. Por isso odeia os programas sociais do Governo Federal que “sustentam vagabundos que passam o dia bebendo pinga e jogando sinuca enquanto ele dá um duro danado”.

O paulistano ama seu automóvel – embora sempre esteja disposto a trocá-lo por um modelo mais novo. Adora passear a uma velocidade de 20 km por hora em média durante 1h30 também em média quando se dirige ao trabalho. Xingue sua mãe, cobice sua esposa, tire sarro do seu time que perdeu de goleada… mas nunca, jamais risque ou amasse seu carro! Porque, acima de tudo, este é seu verdadeiro governante. É o fiel parceiro que acomoda o traseiro daquela mulher-objeto, que está sempre disposta a deixar-se seduzir quando o motorista confunde seu joelho com o cambio e acelera em direção a um motel qualquer. No embalo da última do Teló…

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*Sabemos muito pouco a respeito desse genial Roni Chira, que já nos autorizou a publicar o que possa nos interessar do seu blog (no bom sentido!) O que será que me dá?, a título de colaboração para com esta nossa Agência Assaz Atroz.

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Sabe aquela anedota dos tempos do apartheid na Áfica do Sul? Não?! Então nós contamos:

Dois negros caminhavam pelo acostamento de uma estrada, quando um branco, dirigindo um conversível em alta velocidade, atropelou os dois. Um deles subiu! subiu" e caiu no meio do mato. O outro negro subiu! subiu! rodopiou e caiu no banco traseiro do conversível. Aí, por uma casualidade, o caso foi parar na justiça. Veredito: um dos negros foi condenado por ter fugido do flagrante e se escondido no mato. O outro foi condenado por invasão de propriedade privada.

Portanto, leia também...

Morreu na contramão atrapalhando o tráfego


Como costumava fazer, o ajudante de caminhoneiro Wanderson Pereira dos Santos (foto), 30, deixou na noite do sábado 16 sua casa humilde, quase de beira de estrada, para comprar uns poucos mantimentos para alimentar o tio deficiente mental. Na volta, encontrou a morte na forma de uma Flecha de Prata, apelido universal dos carrões acinzentados Mercedes. A seta motorizada de R$ 2,7 milhões que espatifou seu corpo era dirigida por Thor Batista, herdeiro do homem mais rico do Brasil, sétimo do mundo. Se morresse como o ajudante de caminhoneiro, quem sabe num acidente do mesmo tipo – sempre cercado por seguranças, Eike é também um ciclista – o bilionário teria lançado em seu espólio algo como R$ 50 bilhões de reais. Entre os seus, Wanderson vai somente deixar saudades, ele que, a exemplo de milhões de brasileiros, não tinha posses.

(Leia matéria completa, enviada à PressAA por nossa colaboradora Urda Alice Klueger, clicando no título)

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoon

PressAA

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sexta-feira, 23 de março de 2012

DROGAS - A CULPA É DA VÍTIMA?

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Pedir e esperar que um viciado deixe de comprar para diminuir ou acabar com o tráfico revela um desespero de quem confia mais na força de um fraco dependente do que na força do governo constituído.

Lou Micaldas*

A CULPA É DA VÍTIMA? "- Você teve ou tem um filho viciado? Você tem ou teve pais, avós, ou parentes viciados? Você já teve a oportunidade de ouvir o drama dos pais de filhos viciados? Já chorou pelo suicídio de um amigo ou familiar viciado? Se a sua resposta é não, você não consegue imaginar o sofrimento de quem está passando por tudo isso. Pare de acusar o viciado de ser o culpado pelos altos lucros da venda de drogas ilícitas.

“Pega leve!" Foi o conselho que recebi quando comentei que iria escrever esta carta à sociedade!

Não quero e não posso pegar leve, pois minha palavra tem que pesar mais do que as armas usadas pelo tráfico! Tem que ser mais forte e abrangente do que as granadas que fazem parte do arsenal dos bandidos. Tem que causar mais impacto do que o abalo moral causado pela corrupção, pela extorsão e pelo suborno que levam toda uma sociedade a sofrer de medo e de constrangimento diante da violência ou ameaças graves.

Quero mesmo que o peso das minhas palavras atinja as velhas raposas da política e toda a sociedade, para que acabem com a hipocrisia, com a corrupção e com o custo alto das drogas! O álcool e o tabaco são drogas que matam. Os viciados escolhem e compram seus cigarros livremente, mesmo com as trágicas imagens expostas nos pacotes. Quanto lucro traz ao governo a venda dessas drogas!

Quantos empregos legais em todas as escalas são oferecidos por essas indústrias de drogas "legais"?! Muitas mães são viciadas em barbitúricos, derivados do ópio. Só conseguem dormir se tomar a pílula de tarja preta.

Muitos pais se socorrem no uísque, na vodca, na cachaça, pra esquecer as angústias do dia-a-dia, pra suportar as ameaças sofridas pelos filhos e filhas dependentes das drogas intituladas ilícitas.

Então, é assim: o álcool, permitido pelos juízes, pode matar nas estradas e nas pracinhas das cidades, o cigarro pode matar de câncer. Somos uma sociedade de drogados legais e ilegais: de produtos que são vendidos nas farmácias, nos supermercados e importadoras e os que são vendidos nas "bocas" e "becos", espalhados por toda cidade, não só nos morros ou nas periferias.

O comércio das drogas ilícitas recruta escancaradamente batalhões armados de crianças e jovens desesperançados, transformando-os em marginais na busca do dinheiro fácil, do lucro garantido! São meninos aliciados e preparados para começarem de baixo, como olheiros. Contentam-se em poder levar pão e um pouco de comida pra casa, porque sabem que "naquela organização a fome é zero" de verdade, não é promessa. E eles sabem que têm "futuro".

A subida de posto é rápida. Em contrapartida, também sabem que sua vida é curta. Podem morrer por um simples deslize. E eles são testemunhas de que seu "protetor", seu "chefe", morreu aos 20 anos. Outros tantos também foram abatidos antes de alcançarem a maioridade.

Mas eles também são testemunhas de que o irmãozinho morreu de fome, ou de chumbo, ou de overdose. Vale a pena arriscar. Já que a vida vai ser curta, pelo menos, querem aproveitar o melhor.

Compram roupas de grife, tênis importado, até o dia em que tombam mortos ou vão para um Carandiru qualquer.

- Fazer o quê, "broder"? - Melhor enfrentar, "mermão! A lei do tráfico é a lei que impõe "respeito" e que funciona rápido. Não tem burocracia. Não paga imposto. Também não sonega...

Liberem as drogas todas! Quem vai comprá-las sabe o que está comprando. Vai porque quer, porque ficou dependente dela.

Pedir e esperar que um viciado deixe de comprar para diminuir ou acabar com o tráfico, pode ser um desespero de quem confia mais na força de um fraco dependente, do que na força do governo constituído. Mas pode ser também uma forma simplista de encontrar um responsável. Ou talvez o pior: revelar uma forma perversa de empurrar com a barriga (cheia) e o bolso (cheio) esta conversa fiada, protelando a solução. Quem vai querer secar a fonte do dinheiro farto e rápido?

Acredito na boa fé daqueles que têm a esperança de que, se todos os viciados se unissem e fizessem greve, o tráfico entraria em falência. São os inocentes úteis aos abutres, que fingem combater, que prendem de mentirinha, com o fim de extorquir mais e de valorizar o produto.

Liberem as drogas e cobrem altos impostos. Que elas sejam vendidas em qualquer boteco, supermercado, farmácias e drogarias, assim como as bebidas e os cigarros e os soníferos.

Com a vultosa arrecadação de impostos, invistam na recuperação e na saúde dos dependentes das drogas.

Invistam na educação de crianças, que antes de aprenderem a segurar um lápis, já sabem como utilizar armas pesadas, com seus braços magros que mal as aguentam. Aumentem a remuneração e a dignidade das polícias.

Com a droga legalizada, o tráfico de entorpecentes, perderia uma das mais lucrativas fontes de achaque. Seria o fim do comércio e o início de uma vida melhor pra todos.
Como aconteceu com o fim da "Lei Seca".

Recolham e apliquem, honestamente, os impostos de todas as drogas legalizadas, reduzindo os impostos dos remédios. Apliquem na melhoria de vida dos idosos, diminuindo seus impostos e aumentando seus proventos, suas pensões. Apliquem a arrecadação dos impostos nas estradas, nos meios de transportes, no turismo, na agricultura, na criação de empregos. Em creches.

Quanto arrecadaria o INSS com a contribuição de empregados com carteira assinada, na indústria legal das drogas? Quantas novas empresas seriam reabertas, com o fim da insegurança dos assaltos e sequestros, motivados pela busca desenfreada de dinheiro para compra de armas e munições pra abastecer o crime organizado? Nem será necessário fazer campanhas demagógicas, paternalistas!

Quantos políticos se elegem à custa de discursos hipócritas, enquanto estão associados a marginais traficantes? Quantos foram presos? Quantos já foram soltos? Não podemos continuar passivos nesse circo, onde somos os palhaços, mas pensamos que somos plateia.

Por que aplaudimos com nossos votos aqueles que nos iludem e nos roubam?
O que se vê nos jornais é o governo barganhando o salário mínimo, aumentando os impostos, propondo um aumento menor para os aposentados, cujo imposto já vem confiscado na fonte.

Políticos, policiais, ministros, juízes faturam com a contravenção e, depois, fingem que se espantam quando aparece a "vovó do pó"! Os candidatos, em época de campanha eleitoral, prometem o que não podem cumprir: "segurança pública, saúde e educação". Eles já estão "carecas" de saber que a repressão leva à contravenção, encarece a droga e enriquece os que assumem o comando.

Acabaram-se os inocentes! Eles fingem tomar "atitudes severas", prometem "aplicar a lei quando se fizer necessária", mas não se movem. Por quê?

Acabaram-se os inocentes! Sobramos nós, uma sociedade amedrontada, anestesiada, inerte. Todos nós sabemos disto. As fitas gravadas e as imagens invadem as nossas casas e nos roubam a confiança naqueles em quem votamos.

Todos têm algo a dizer, mas "pegam leve". Não se comprometem, não se mobilizam pra acabar com este inferno que invade os próprios lares, que tiram nosso sono. São quase 4 horas da manhã e eu resolvi me levantar da cama, dos lençóis macios e vim "pegar pesado".

Faça isso você também! Abra bem os olhos e a boca! Vamos proteger nossas crianças, jovens e velhos; vamos socorrer os viciados contra a falsa moralidade, contra a omissão. É de socorro que eles precisam.

Vamos cobrar das autoridades uma atitude honesta, rápida e verdadeira: legalizar a venda das drogas. Torná-la lucrativa em benefício da sociedade em geral, e não aos bolsos dos corruptos.

Quantos juízes estão nas mãos dos traficantes? Quantos têm filhos e filhas dependentes e não podem cumprir a lei que os beneficiariam, porque também são vítimas de ameaças? Basta!

Basta de se vestir de branco e de sair pelas ruas carregando faixas, com a inscrição "Basta!"

Conheço mães e pais que me escrevem porque são chantageados por terem filhos viciados. Não há dinheiro que baste para saciar a cobrança dos que lucram com esse comércio ilegal. Entre eles, a polícia que bate na porta ou telefona pra um pai desesperado e pergunta: "- Você quer que seu filho apareça morto na sarjeta? Não? Então trate de me dar o meu."

Vamos tratar das nossas vítimas do tráfico como doentes, e não como culpados.

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*Lou Micaldas é professora, formada pelo Instituto de Educação (RJ), e jornalista, criada e formada no Jornal do Brasil; administra o site Velhos Amigos e colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz

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Leia também...




Sua cannabis é um esterco. E sua imprensa?


por Fernando Soares Campos

(...)

O Jornal do Brasil (5/3) publicou uma notinha sobre uma chacina ocorrida em Nova Iguaçu, no final de semana. Cinco mortos. A matança ocorreu durante uma festa de aniversário de uma criança da comunidade Grama, num CIEP da região. Em O Globo, apesar da chamada na primeira página, a matéria é menor que boa parte das notas de falecimento pagas. E não há necessidade de o leitor ir buscar as "reportagens" desses jornais para se informar sobre a tragédia, pois elas não tratam mais do que já falei. Quer dizer, O Globo informa, logo na abertura do texto, que "segundo investigação, um dos mortos, Rafael Gomes Pereira, de 22 anos, tinha sido autuado por tráfico de drogas na 6ª DP (Cidade Nova)". Talvez quando ainda era adolescente, não há informação precisa. E nisso se concentram as "reportagens". Na mesma edição do JB, a que mandou seu tijolinho sobre a chacina de Nova Iguaçu, uma missa em homenagem aos franceses chacinados ganhou meia página.

Oito sujeitos invadem um CIEP, matam cinco pessoas e a investigação chega a uma informação sobre o passado de uma das vítimas.

(Clique no título e leia matéria completa)

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

PressAA

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quinta-feira, 22 de março de 2012

A verdade sobre a censura em Cuba

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Mariana Mendes*, via Jornal A Verdade [Nota Assaz Atroz: muitos cliques e não tivemos acesso] e lido no Solidários

Cuba denunciou em dezembro que o Facebook censurou sua página na rede social, que possui mais de 70 mil seguidores, porque ela protestava contra o fechamento do canal do portal Cubadebate no YouTube.

Tudo aconteceu porque o canal de vídeos do sítio estatal Cubadebate.cu publicou um vídeo sobre Luís Posada Carriles, que é acusado por vários crimes na Venezuela, incluindo a derrubada de um avião civil cubano que matou 73 pessoas; cumpriu pena no Panamá por tentar assassinar Fidel Castro e recentemente propôs a via armada para derrubar o governo cubano. O ex-agente da CIA está sendo julgado nos Estados Unidos apenas por fraude migratória, embora a Venezuela exija que o terrorista seja extraditado para ser julgado em seu país natal.

Segundo o YouTube, o vídeo possui “infração de copyright”. Contudo, o sítio cubano afirma que as imagens do vídeo, que mostram Luís Posada Carriles dizendo que queria o pagamento por seus serviços como terrorista internacional, são utilizadas sem autoria em vários outros sítios.

Em nota, o sítio cubano afirma a existência de vários vídeos no YouTube com informações manipuladas e tendenciosas sobre Cuba com imagens roubadas do sítio estatal sem que o Google as tenha tirado da rede social, ainda que haja denúncias.

O acesso ao canal e à página cubanos foram restabelecidos, o vídeo de Carriles continua censurado. Outro canal já publicou o vídeo em protesto à censura do Google. Leia a nota no sítio do Cubadebate.

O bloqueio midiático

Além do bloqueio econômico imposto a Cuba pelos Estados Unidos, que dura mais de 50 anos, a Ilha também sofre com o bloqueio midiático. A grande mídia filtra as informações reais sobre o país e divulga informações falsas.

Em seu livro Cuba, apesar do bloqueio, atualizado em 2011, Mário Augusto Jakobskind, que morou um ano em Cuba, afirma que o bloqueio midiático é a “desinformação externa, que cria no mundo um senso comum que demoniza Cuba. A imprensa mundial não se cansa de dizer que lá é ‘uma ditadura’, chega ao absurdo de chamar de ‘ditadura dos irmãos Castro’. Isso não reflete a realidade”.

Segundo o sítio do Cubadebate, o microblog Twitter censura os TT (temas do momento) quando eles não são do interesse da empresa. Isso aconteceu com o hashtag #DerechosCuba, que foi bloqueado na Espanha. Contas da rede social também são fechadas arbitrariamente por motivos políticos em todo o mundo, ou seja, os direitos tão proclamados de liberdade de expressão são simplesmente negados todos os dias para manipular opiniões.

Embora seja intensamente propagandeado que presenciamos a “era da informação”, a realidade é que poucos possuem acesso à rede, e ela é controlada por uma minoria interessada em lucrar com a propaganda online e bloquear o que foge de seus interesses. A sociedade cubana, ao contrário desta tendência, utiliza seus escassos recursos cibernéticos, diminutos por conta do bloqueio econômico e comercial, para divulgar a verdade sobre sua história. Falsas informações são propagadas com o argumento de que o governo cubano teme liberar o acesso total à internet, quando se trata, na verdade, da falta de recursos tecnológicos no país, devido ao implacável bloqueio.

O “cybermercenarismo”

Outra faceta da propaganda falsa contra Cuba se manifesta por meio do “cybermercenarismo”. O jornal The New York Times publicou, em junho de 2010, que os Estados Unidos lideram um grupo de países que utilizam a tecnologia da informação mediante utilização de plataformas portáteis, viagens, consultorias, hardwares e apoio à criação de páginas virtuais e sistemas de telefonia móveis, para beneficiar os “dissidentes” em suas mensagens contrarrevolucionárias. Sob o falso título de “independentes”, esses mercenários divulgam informações que incitam à desobediência civil, fazem propaganda ilusória sobre o capitalismo e mentem sobre a revolução cubana.

A propaganda pró-capitalismo é o resultado menos perigoso destas ações, já que tais blogueiros não gozam de popularidade entre os cubanos. Tais “cybermercenários” podem trabalhar como espiões e até promover interferências em sistemas estatais e danos nos sistemas de serviços à população, além de acidentes graves.

La Polémica Digital

Apesar de todos os gastos e dos imensos esforços da máfia capitalista para manter contrarrevolucionários em ação, a cada dia surgem novos blogueiros cubanos que acreditam na revolução cubana e escrevem sobre o sistema em que vivem.

O blog La Polémica Digital, da jornalista cubana Elaine Diaz, é um destes blogs que escreve sobre o dia-a-dia de Cuba: “É sobre isso que gosto de escrever: o dia-a-dia, o que vejo na rua, no transporte público, o que ocorre com meu avô – que é camponês e não tem a menor ideia do que seja a internet, e, além disso, ela não lhe faz falta porque não a considera algo necessário para ser feliz. Por isso, eu acho muito engraçado que os indicadores para medir o grau de satisfação da população cubana sejam baseados em termos de internet, uma vez que a maioria da população do mundo nem sequer tem o que comer ou onde dormir esta noite”.

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*Mariana Mendes é discente em Geografia na UFSCar em Sorocaba (SP).

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Síntese Cubana
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Matéria recebida por e-mail de Miguel Baia Bargas, de Blogueiros Progressistas.

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Leia também...

A estratégia afegã de Obama: "Em rota de colisão com o penhasco"

Tao Wenzhao, China Daily
"Afghan strategy in danger"

Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu



Tao Wenzhao é pesquisador do Instituto de Estudos Americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais.


PEQUIM. – O assassinato de 16 civis afegãos dia 11/3, provocou protestos intensos no Afeganistão, e não apressou só a deterioração das relações entre EUA e Afeganistão: também pôs sob grave risco toda a estratégia afegã dos EUA.


O exército dos EUA no Afeganistão gosta de ver-se como força de libertação, que salvou o país do regime dos Talibã e o pôs na rota rumo à democracia. Não é como os afegãos veem o exército dos EUA, para eles "exército de ocupação". Os soldados dos EUA são diferentes dos civis afegãos no estilo de vida, na religião, na tradição cultural, e os soldados dos EUA não dão sinais de tomar a iniciativa para entender melhor e aprender a respeitar a cultura religiosa dos civis afegãos.


Apesar de os EUA tentarem preservar a rotatividade das tropas, muitos soldados cumprem hoje a quarta, quinta missão no Afeganistão. E, à medida que a guerra vai-se infiltrando no espírito dos soldados, muitos se sentem cada dia menos motivados, com inúmeros casos de depressão na tropa. Esse é um dos fatores que contribuíram para os recentes incidentes, profanação de cadáveres de soldados Talibã, queima de livros sagrados e de outros materiais de culto religioso, e o mais recente, o ataque contra população civil desarmada que fez 16 mortos.


Apesar de o presidente Barack Obama, o secretário de Defesa Leon Panetta e a secretária de Estado Hillary Clinton terem apresentado pedidos formais de desculpas pelo ataque aos civis, a investigação ainda não começou de fato; e, pelo que se sabe até agora, o incidente teria resultado da ação de um único soldado, sargento Robert Bales, já formalmente acusado pelos crimes. O governo e grupos civis afegãos têm exigido que os EUA entreguem o acusado, para que seja julgado no Afeganistão. Mas o exército dos EUA no Afeganistão goza dos privilégios de extraterritorialidade e não é regido por leis afegãs. O presidente Hamid Karzai acusou os EUA de estarem criando obstáculos à investigação do atentado.

(Clique no título e leia matéria completa)

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons (O cartum do Latuff foi copiado de Sarrabulhada )

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quarta-feira, 21 de março de 2012

AFINAL, CUSCO!!!

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(Excerto do livro "Viagem ao Umbigo do Mundo", publicado em 2006)

Urda Alice Klueger*

E na sombra do entardecer, chegamos a Cusco! Ah! Cusco, Umbigo do Mundo, como é possível alguém morrer sem ter te conhecido? Eu acho muito difícil descrever Cusco, e talvez seja mais elucidativo contar das longas ruas de construções Incas até hoje inabaladas, não importa quantos terremotos ou quantos cristãos já tenham acontecido ou vivido naquela cidade. Um dia ela foi uma Cidade Imperial, e então tudo lá foi feito da melhor qualidade possível, com as pedras tão bem cortadas como se o fossem por raios laser, e as longas ruas de construções Incas estão lá como no passado, embora tenham sofrido um exorcismo espanhol. O que aconteceu foi que os Incas gostavam das suas construções térreas, baixinhas, e os espanhóis provinham de uma cultura de cidades muradas, de casas altas e oprimidas por uma longa Idade Média. Então, o exorcismo que aconteceu quando Pizarro afinal apoderou-se de Cusco foi que seus sequazes e descendentes construíram segundos e terceiros andares nas casas térreas, e os fizeram com rendilhados balcões espanhóis, e transportaram para Cusco uma nova maneira de viver, um tanto quanto mourisca, e enxertaram nas casas Incas coisas das quais já vinham enxertados, e à primeira vista, para quem está desavisado, tem-se até a impressão que se está a adentrar a uma cidade espanhola – mas é só olhar mais um pouquinho, olhar para o térreo sob aqueles balcões que também são lindos, para se dar de cara com o antigo passado Imperial daquele lugar que, sem dúvida, é o Umbigo do Mundo, conforme os antigos Incas o chamavam.

Cusco é um lugar sempre tão cheio de turistas que a chegada de um bando de extraterrestres não chegou a causar estranheza, e acabamos indo dar num hotel moderno, num quarteirão moderno, mas felizmente não muito longe da Praça de Armas – dava para ir à pé até lá! E foi o que fiz assim que me acomodei e tomei meu banho, apesar da preocupação que vi estampada nos companheiros quanto à minha segurança, por sair à pé já noite fechada, sem querer tomar um táxi. Mas eu estava em Cusco – como deixaria de andar à pé por aquelas ruas onde um dia caminharam por todos os lados os Filhos do Sol? Rapidamente atingi a Praça de Armas e parei, deslumbrada, encantada, fascinada, por poder de novo estar ali! Mesmo os 3.400 m de altitude de Cusco pareciam não me fazer grandes efeitos, mesmo depois de alguns quarteirões de caminhada apressada, tamanha a emoção que estava sentindo! Como que segurando nas mãos o coração descompassado, parei no meio da Praça de Armas a olhar devagarinho o entorno, mal acreditando que estava ali! Aquele era, afinal, o Umbigo do Umbigo do Mundo! Em duas rodas fôramos aqueles muitos milhares de quilômetros sem nenhum problema, sem ninguém se acidentar, sem ninguém se machucar, embora tivesse havido tantas quedas – e agora eu podia deixar o coração pular de alegria e de encantamento tanto quanto quisesse! Valera a pena, puxa como valera a pena!

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*Urda Alice Klueger é escritora, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR. Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz.

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Leia também...



Mais educação para quem vive no campo

“Dentro da nossa estratégia de combate à miséria, junto com o Bolsa Família, a nossa busca ativa, este programa é um dos eixos estratégicos porque aposta não só em retirar as pessoas das condições de miséria a que foram condenadas durante décadas, mas implica sobretudo em garantir que as gerações futuras terão um outro tipo de horizonte de oportunidades à sua frente”.

(Clique no título e leia matéria completa)

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Tem mais...

Charge do Bessinha no site Brasil! Brasil!


Estarão, provavelmente, no Caldeirão 666...
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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons (O cartum Primeiro Livro de Leitura foi copiado de Ler, escrever e contar )

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terça-feira, 20 de março de 2012

Viúvas da ditadura! que vocês atirem pedras nas paredes de cristal do salazarismo, ora!

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Saramago e as paredes de cristal do salazarismo

Comunista e crítico feroz da ditadura e suas misérias, José Saramago não se deu ao luxo do descanso nem no túmulo. Dois anos após sua morte, o Prêmio Nobel de Literatura volta a ser notícia com a descoberta de um romance perdido: Claraboia. A obra, publicada no Brasil em novembro de 2011, está sendo lançada também na Espanha e Portugal. Não só: está prevista nova publicação de inédito do autor no final de 2012.

Saramago figura entre os escritores latinos mais lidos na América do Sul e no Caribe. Antes e depois de haver recebido o prêmio Nobel de Literatura, editoras cubanas e brasileiras imprimiram muitas de suas obras.

Escrito nos anos 1950, Claraboia sofreu censura por apresentar críticas ao regime ditatorial de Antonio de Oliveira Salazar. A editora portuguesa que recebeu os originais decidiu não publicar o texto por considerá-lo “duro e transgressor” para a época. Portugal vivia a ditadura salazarista e muitos de seus cidadãos, como Saramago, estavam enfrentando desde a clandestinidade ao exílio, além da repressão e violência policial.

A via-sacra de um manuscrito

O romance de Saramago sataniza em cerca de 300 páginas as convenções sociais e políticas dos anos 1950. A publicação póstuma atende a um desejo do escritor, que queria que o conteúdo de Claraboia fosse levado ao público após sua morte.

Sabe-se que o manuscrito foi entregue a um amigo em 1953. Esse o levou a uma editora, que deixou Saramago sem resposta até 1989, quando finalmente houve um contato, relatando que o livro havia sido encontrado durante uma mudança de suas instalações.

A primeira novela de Saramago, Terra de Pecado, havia sido publicada em 1947, e recebeu tanta crítica e indiferença que o autor não voltou a escrever outro livro durante 20 anos, segundo declarou sua viúva, Pilar del Río.

Pilar disse que Saramago chamava Claraboia de "livro perdido e achado no tempo", do qual lhe mostrou uns cadernos com as anotações que fazia enquanto escrevia a novela, bem como o manuscrito original da obra e o recuperado, enviado à editora.

Uma luz inventada

Em 1952, ano em que escreveu o livro, Saramago tinha pouco mais de 30 anos, já estava casado e tinha uma filha. O autor enfrentava, então, grandes dificuldades econômicas e não tinha a quem recorrer, pois seu pai e avô integravam as filas de dezenas de milhares de portugueses analfabetos.

Sensibilizado pela situação particular e social, o autor recorreu a metáforas e ao realismo fantástico para criar o enredo do romance, no qual há um narrador que penetra pela claraboia de um velho edifício nas proximidades de Lisboa e converte em paredes de cristal toda a estrutura do imóvel, recriando no cenário inusitado as penúrias e a opressão reinantes.

É um livro no qual a família, pilar da sociedade, se apresenta como “um ninho de víboras” no qual há violação, amores lésbicos e maus tratos, segundo indica a apresentação da obra.

Saramago em Cuba

Defensor da Revolução Cubana em todas as tribunas, Saramago sentia orgulho por ter integrado as fileiras do Partido Comunista Português desde sua etapa clandestina e, depois, ter-se incorporado à Revolução dos Cravos de 1974, movimento de militares e forças de esquerda que reinstalou a democracia no país lusitano.

Agora, a fim de ressaltar sua imortalidade nas letras, anuncia-se a publicação no final de 2012 de outra obra inédita: Alabardas, alabardas, espingardas, espingardas. O título faz referência a versos do poeta e dramaturgo português Gil Vicente (1465-1536). A novela denuncia o armamentismo e o tráfico de armas no mundo.

Claraboia - sinopse

O romance se passa em Lisboa de meados do século 20. Num prédio existente em zona popular não identificada, vivem seis famílias. No térreo, moram um sapateiro com esposa e um caixeiro-viajante casado com uma galega e com um filho; um empregado da tipografia de um jornal com esposa e uma mulher solteira residem no 1º andar; uma família de quatro mulheres (duas irmãs e as duas filhas de uma delas) e outra formada por um empregado de escritório com esposa e filha adolescente residem no 2º andar.

A história tem início com uma conversa matinal entre o sapateiro, Silvestre, e a mulher, Mariana, que discutem a conveniência, ou não, de alugar um quarto que têm vago e, assim, conseguirem obter algum rendimento extra.

A conversa segue, o dia vai nascendo, a vida no prédio recomeça e o romance avança revelando ao leitor as vidas daquelas seis famílias da pequena burguesia lisboeta: os seus dramas pessoais e familiares, a estreiteza das suas vidas, as suas frustrações e pequenas misérias, materiais e morais.

O sapateiro acaba alugando o quarto vago para Abel Nogueira, personagem que incorpora as questões sociopolíticas e existenciais do autor, dando voz a um diálogo com Fernando Pessoa que, 30 anos depois, viria a ser o tema central do romance O Ano da Morte de Ricardo Reis: “Podemos nos manter alheios ao mundo que nos rodeia? Não teremos o dever de intervir no mundo porque somos dele parte integrante?”

Claraboia: trecho ( versão em português de Portugal)

“Por entre os véus oscilantes que lhe povoavam o sono, Silvestre começou a ouvir rumores de louça mexida e quase juraria que transluziam claridades pelas malhas largas dos véus. Ia aborrecer-se, mas percebeu, de repente, que estava acordando. Piscou os olhos repetidas vezes, bocejou e ficou imóvel, enquanto sentia o sono afastar-se devagar. Com um movimento rápido, sentou-se na cama. Espreguiçou-se, fazendo estalar rigidamente as articulações dos braços. Por baixo do camisolão, os músculos do dorso rolaram e estremeceram. Tinha o tronco forte, os braços grossos e duros, as omoplatas revestidas de músculos encordoados. Precisava desses músculos para o seu ofício de sapateiro. As mãos, tinha-as como petrificadas, a pele das palmas tão espessa que podia enfiar-se nela, sem sangrar, uma agulha.

Num movimento mais lento de rotação, deitou as pernas para fora da cama. As coxas magras e as rótulas tornadas brancas pela fricção das calças que lhe desbastavam os pelos entristeciam e desolavam profundamente Silvestre. Orgulhava-se do seu tronco, sem dúvida, mas tinha raiva das pernas, tão enfezadas que nem pareciam pertencer-lhe.

Contemplando com desalento os pés descalços pousados no tapete, Silvestre coçou a cabeça grisalha. Depois passou a mão pelo rosto, apalpou os ossos e a barba. De má vontade, levantou-se e deu alguns passos no quarto. Tinha uma figura algo quixotesca, empoleirado nas altas pernas, em cuecas, o emaranhado dos cabelos enbranquecidos, o nariz grande e adunco, e aquele tronco poderoso que as pernas mal suportavam.

Procurou as calças e não deu com elas. Estendendo o pescoço para o lado da porta, gritou:

- Mariana! Eh, Mariana! Onde estão as minhas calças?

(Voz de dentro)

- Já lá vai!

Pelo modo de andar, adivinhava-se que Mariana era gorda e que não poderia vir depressa.

Silvestre teve de esperar um bom pedaço e esperou com paciência. A mulher apareceu à porta:

- Estão aqui.

Trazia as calças dobradas no braço direito, um braço mais gordo que as pernas de Silvestre. E acrescentou:

- Não sei que fazes aos botões das calças, que todas as semanas desaparecem. Estou a ver que tenho de passar a pregá-los com arame…

A voz de Mariana era tão gorda como a sua dona.”

Christiane Marcondes com informações da Prensa Latina e agências


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Oração por Chico Soares, o “Canhoto da Paraíba”

por Urariano Mota

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Minha Nossa Senhora do Perpétuo Socorro mostrai que sois verdadeiramente mãe de todos artistas caídos em desgraça na terra.

Existe um homem que é grande no tocar, existe um sereno e augusto artista que é largo e alto de coração, existe um violonista de nome Francisco Soares de Araújo, que a simplificação da gente achou por bem chamar de Canhoto da Paraíba.

Minha Nossa Senhora, esta súplica seria inútil se tivésseis a graça de ouvi-lo um só minuto. Então saberíeis como ele transporta o céu para a brutalidade e para a angústia de todos animais que somos.

(Clique no título e leia texto completo no blog da redecastorphoto)


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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

PressAA

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