sábado, 27 de outubro de 2012

CORTA ESSA DE SUICÍDIO!


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Foi assim. No primeiro século da era cristã, os Guarani saíram da região amazônica, onde viviam, e caminharam em direção ao Cone Sul. Depois de longas andanças, ocuparam terras que hoje estão dentro de vários estados nacionais: Brasil, Paraguai, Argentina, Uruguai e Bolívia. Os vestígios arqueológicos e linguísticos que foram deixando ao longo do caminho permitiram que os pesquisadores reconstruíssem essa rota e estabelecessem datas prováveis do percurso feito.

Dois mil anos depois, um italiano, nascido em 1948, em Toscana, atravessou o oceano Atlântico com sua família, veio para Porto Alegre, de lá para Curitiba, se naturalizou brasileiro e se instalou, finalmente, em Mato Grosso do Sul, onde encontrou os Guarani, que lá vivem há quase dois milênios. O italiano recém-chegado se tornou governador do Estado. Seu nome: André Puccinelli (PMDB - vixe, vixe).

A migração estrangeira ajudou a construir nosso país, quando conviveu em paz com os que aqui estavam há muitos séculos, sem atropelá-los. Muitos estrangeiros, honrados, trouxeram trabalho, riqueza e cultura e compartilharam o que tinham e o que produziam com o resto da sociedade que os acolheu. Ensinaram a aprenderam. Mudaram e foram mudados. Benditos estrangeiros que plasmaram a alma brasileira!

No entanto, não foi isso o que sempre aconteceu em Mato Grosso do Sul. Lá, desde 1915, fazendeiros, pecuaristas e agronegociantes, quando chegaram, encontraram as terras ocupadas por índios. Consideraram as terras indígenas como "devolutas" e começaram a expulsar os que ali viviam, num processo que se acelerou nas últimas décadas. Foi aí que os invasores, representados hoje, no campo político, por André Puccinelli, colocaram seus documentos pra fora e, machistas, ordenaram autoritariamente:

- Deite que eu vou lhe usar!

Usaram a terra em proveito próprio, da mesma forma que o coronel Jesuíno, interpretado por José Wilker, usou a Sinhazinha na minissérie Gabriela: sem nenhum agrado, sem qualquer respeito. Com dose cavalar de brutalidade, desmataram, queimaram, exploraram os recursos naturais, abusaram dos agrotóxicos, colheram safras bilionárias de soja, cana e celulose, extraíram minério, poluíram rios e privatizaram a natureza para fins turísticos. Pensaram só neles, no lucro, e não na terra e na qualidade da vida, nem compartilharam com a sociedade, que ficou mais empobrecida.

Flor da terra

O resultado desastroso do uso da terra foi lamentado pelos líderes e professores Kaiowá em carta de 17 de março de 2007:

- O fogo da morte passou no corpo da terra, secando suas veias. O ardume do fogo torra sua pele. A mata chora e depois morre. O veneno intoxica. O lixo sufoca. A pisada do boi magoa o solo. O trator revira a terra. Fora de nossas terras, ouvimos seu choro e sua morte sem termos como socorrer a Vida.

Para os Guarani, o que aconteceu foi um estupro, ferindo de morte a sinhazinha natureza. A relação deles com a terra é amorosa, eles não se consideram donos da terra, mas parceiros dela. Ela é o tekoha, o lugar onde cultivam o modo de ser guarani, o nhanderekó. "Guardamos com a terra" - diz o kaiowá Tonico Benites - "um forte sentimento religioso de pertencimento ao território".

O professor guarani Marcos Moreira, quando foi meu aluno no curso de formação de professores, entrevistou o velho Alexandre Acosta, da aldeia de Cantagalo (RS) que, entre outras coisas, falou:

- Esta terra que pisamos é um ser vivo, é gente, é nosso irmão. Tem corpo, tem veias, tem sangue. É por isso que o Guarani respeita a terra, que é também um Guarani. O Guarani não polui a água, pois o rio é o sangue de um Karai. Esta terra tem vida, só que muita gente não percebe. É uma pessoa, tem alma. Quando um Guarani entra na mata e precisa cortar uma árvore, ele conversa com ela, pede licença, pois sabe que se trata de um ser vivo, de uma pessoa, que é nosso parente e está acima de nós.

Os líderes Kaiowá reforçam essa relação com a terra quando lembram, na carta citada, que o criador do mundo criou o povo Guarani para ter alguém que admirasse toda o esplendor da natureza."O nosso povo foi destinado em sua origem como humanidade a viver, usufruir e cuidar deste lugar, de modo recíproco e mútuo" - escreve o kaiowá Tonico Benites, doutorando em antropologia. "Por isso, nós somos a flor da terra, como falamos em nossa língua: Yvy Poty" - completam os líderes Kaiowá.

Se a terra é um parente, a relação com ela deve ser de troca equilibrada, de solidariedade. É como a mãe que dá o leite para o filho. Ela dá, sem pensar em cobrar. Ela não cobra nada, mas socialmente espera que um dia, se precisar, o filho vai retribuir.

"Tudo isso é frescura" - dizem os fazendeiros e pecuaristas que pensam como o coronel Jesuíno: a terra é pra ser usada. E ponto final. Portanto, o conflito não é apenas fundiário, mas cultural, com proporções tão graves que a vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat, considera essa como "a maior tragédia conhecida na história indígena em todo o mundo". É que os Guarani decidiram defender a terra ferida e para isso realizaram um movimento de ocupação pacífica do território tradicional localizado à margem de cinco rios: Brilhantes, Dourados, Apa, Iguatemi e Hovy.

Apenas uma pequena parte do antigo território, que lhes permita sobreviver dignamente, é reivindicada. É o caso da comunidade Pyelito Kue-Mbarakay, no extremo sul do Estado, onde vivem 170 Kaiowá, dentro da fazenda Cambará, às margens do rio Hovy, município de Iguatemi (MS). A comunidade está cercado por pistoleiros e lá já ocorreram recentemente 4 mortes, duas por espancamento e tortura dos jagunços e duas por suicídio.

Somos Kaiowá

Um juiz federal, Sergio Henrique Bonacheia, determinou, em setembro último, a expulsão dos índios. Ele afirmou que não interessa "se as terras em litígio são ou foram tradicionalmente ocupadas pelos índios ou se o título dominial do autor é ou foi formado de maneira ilegítima". Os índios vão ter que sair - decidiu o magistrado.

O Ministério Público Federal e a Funai recorreram ao Tribunal Regional Federal contra tal decisão. Os índios se rebelaram, escreveram uma carta anunciando que dessa forma o juiz está decretando a morte coletiva, que ele pode enviar os tratores para cavar um grande buraco e enterrar os corpos de todos eles: 50 homens, 50 mulheres e 70 crianças, que eles ali ficam, como um ato de resistência, para morrer na terra onde estão enterrados seus avós.

O suicídio coletivo - assim a carta foi interpretada - teve enorme difusão nas redes sociais e ampla repercussão internacional, "com o silêncio aterrador" da mídia nacional, como lembrou Bob Fernandes, autor de um dos três artigos esclarecedores e informativos. Os outros dois foram de Eliane Brum e de Tonico Benites.

Construiu-se rapidamente nas redes sociais uma corrente de solidariedade, com sugestões para a realização de atos de protestos em muitas cidades brasileiras. "Nós todos somos Kaiowá" - disseram, parodiando um slogan que ficou célebre em maio de 1968, na França: "Nous sommes tous des juifs allemands". Um desses atos, marcado para hoje, domingo, dia 28, será no Centro Cultural dos Correios, no Rio de Janeiro, onde está instalada uma exposição sobre a vida da atriz Regina Duarte, proprietária de uma fazenda em MS e considerada porta-voz dos fazendeiros, por uma declaração infeliz que deu.

Diante da gravidade dos fatos, o governo federal convocou reunião de emergência para a próxima segunda-feira, com a participação de vários órgãos governamentais. A possibilidade de se efetivar o suicídio coletivo dos Kayowá se apoia em dados oficiais do Ministério da Saúde: nos últimos onze anos, entre 2.000 e 2011, ocorreram 555 suicídios, uma das taxas mais altas do mundo.

Se a tragédia acontecer, uma pergunta vai ter que ser respondida: suicídio coletivo? Será mesmo? A ideia de suicídio é, num certo sentido muito cômoda, porque isenta de culpa a terceiros. Mas se você é levado por alguém a se matar, trata-se de suicídio ou de uma forma de homicídio? O artigo 122 do Código Penal Brasileiro estabelece pena de reclusão para o agente que, através de ato, induz ou instiga alguém a se suicidar ou presta-lhe auxílio para que o faça. Quem pode ser incriminado neste caso?

A pergunta deve ser feita ao governador Puccinelli, implicado pela Operação Uragano da Polícia Federal num esquema ilegal de pagamento de propinas a deputados e desembargadores, que em maio de 2010, durante a abertura da Expoagro, em Dourados, incitou os fazendeiros contra os índios. A pergunta pode ser repassada também à senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, que em artigo, ontem, na Folha de São Paulo, teve o descaro de escrever, com certa dose de cinismo e de deboche:

- "Se a Funai pensa, por exemplo, que são necessárias mais terras para os indígenas pela ocorrência da explosão demográfica em certa região, nada mais fácil do que comprar terras e distribuí-las".

O discurso da senadora - convenhamos - é transparente, porque evidencia a relação exclusivamente mercantil que têm com a terra, ela e aqueles que ela representa e da qual é porta-voz. Mostra ainda que ela não é capaz de entender a relação amorosa e religiosa dos Guarani com a terra. O coronel Jesuíno, certamente, assinaria embaixo de tal discurso.

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José Ribamar Bessa FreireDoutor em Letras pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2003). É professor da Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-Rio), onde orienta pesquisas de mestrado e doutorado, e professor da UERJ, onde coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas da Faculdade de Educação. Ministra cursos de formação de professores indígenas em diferentes regiões do Brasil, assessorando a produção de material didático. Assina coluna no Diário do Amazonas  e mantém o blog Taqui Pra Ti . Colabora com esta nosssa Agência Assaz Atroz.

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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Ereções 2012: Serra abaixo

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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

OS HOMENS VELHOS

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Urda Alice Klueger*




  (Para Terezinha Anastácio e Rodolfo Leite, meus amigos.)

Moro num bairro bastante complexo, que reúne desde uma ocupação urbana até um bocado de burgueses que se comportam bem como são os burgueses, passando por uma população de classe média baixa que anda com o nariz para cima como se burguesa também fosse e um numeroso resquícios de colonos que se crê a nata do planeta, e por aí vai. Como veem, é bastante complexo mesmo e não vou me aprofundar, aqui, neste tema destes tantos feudos deste lugar aonde vivo. Há que aclarar, no entanto, que dentre muita gente complicada que aqui existe também há um bocado de gente simpática e de bom coração e que até alguns amigos consegui granjear desde que aqui estou, gente da melhor qualidade.    
Num bairro assim cheio de diferenças, é bem grande a quantidade de pessoas que se não são, pelo menos tem a cara azeda, e quando saio com o meu cachorro para um dos nossos passeios diários, fico impressionada com aquele azedume de tantas caras que se negam ao cumprimento ou à amizade, e minha preocupação maior é não acabar assim também, com aquela cara de quem acaba de chupar um limão. Impressionante!
Há um pessoal, no entanto, que tem sido muito simpático comigo.  Não falei acima, mas a maior parte das nossas diversas classes sociais é, na verdade, formada pela classe trabalhadora – e naqueles mais batalhadores, que pegam no pesado no tear das fábricas ou na costura das facções, trabalhando sob pressão até a aposentadoria, há toda uma gama de gente que não se queimou na fogueira das vaidades e que não chupa limão e amarra o nariz para cima antes de sair de casa, e encanta-me, sobretudo, uma mulher com quem encontro quase todos os dias lá na rua principal, provavelmente fiandeira ou tecelã aposentada, que anda pela calçada  distribuindo sorrisos e cumprimentos a todos, gentes e animais, e que nunca deixa de me dizer:
-  Como vai, amiga? Tudo bem com o cachorrinho? – embora eu sequer saiba o nome dela e ela também não saiba o meu. Nem tudo é imperfeito, claro.
E há uns homens que eu amaria conhecer mais, escrever suas histórias, ser amiga deles: os homens velhos. Não falo de velhinhos já caquéticos, mas de homens da minha idade que nasceram, cresceram, foram para a fábrica e por 35 anos foram usados e abusados pela fábrica, e que, quando, enfim, saíram para a sonhada aposentadoria, como que esqueceram de que um dia foram moços vaidosos e namoradores, e andam muito mal vestidos, com pulovers do passado, chinelo de dedo e calças desbotadas, e que quando me veem com meu cachorro sorriem e são cordiais, e como que se encolhem um pouco, assim como se lembrassem que num momento perdido no túnel do tempo um dia já foram namoradores, e olham para mim assim como quem imagina que um dia eu também fui uma moça que talvez eles tivessem querido namorar naquela época.


Tenho 60 anos e gosto de andar de vestido cor de rosa, de brinco combinando, e penso que é por isto que eles se encolhem um pouco: nas suas casas, as mulheres deles andam vestidas com a mesma humildade que eles, pois também foram mastigadas pelas fábricas a maior parte de suas vidas e sonharam muito com a aposentadoria para poderem usar seus vestidos velhos e seus chinelos de dedo, sem mais compromisso com nenhum cartão ponto nem nenhuma encarregada – ficaria feio para eles saírem para a rua mais bem arrumados, diferentes delas. Assim, quando encontram uma mulher velha de vestido cor de rosa, com brinco combinando, acho que o túnel do tempo lhes traz um outro tempo em que fomos jovens e talvez eles se lembrem de antigas domingueiras e coisas assim, e pensem em como a vida voou. Então são muito simpáticos comigo, e me sorriem quando me cumprimentam, e eu fico toda feliz porque no meu bairro há uma porção de gente que não toma vinagre ao café da manhã, e recordo como a simpatia e outros sentimentos bons continuam existindo, apesar das tantas caras azedas!
Blumenau, 12 de outubro de 2012.
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 *Urda Alice Klueger Escritora, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz

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domingo, 7 de outubro de 2012

OS CANDIDATOS VIRA-CASACA

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Preciso acreditar, para não perder a fé na luta política, que a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), candidata à prefeitura de Manaus, pelo menos colocou a mão para trás e fez uma figa escondida, quando ouviu na última quarta feira o pastor Jônatas Câmara berrar, num culto de descapirotização da Assembleia de Deus realizado na capital amazonense:
- Sai, demônio, deste corpo imundo!!!
O pastor não prega prego sem estopa. E agora ele pregou, com muita estopa, a favor da criminalização do aborto, xingou os gays - que ele crê estarem possuídos pelo capiroto - e se pronunciou contra o projeto que torna crime a homofobia e a discriminação de orientação sexual. Quem registrou o fato foi o jornal O Globo (05/10), em matéria intitulada "Manaus: comunista pede apoio a evangélicos da Assembleia de Deus. Candidata participa de reunião-culto com ataques a gays e ao aborto".
É que a senadora Vanessa atuou num culto político de descarrego, ao lado do pastor, e não fez figa, mas ao contrário, enquanto ele condenava a aliança do capeta com os homossexuais, "a candidata do PCdoB assentia com a cabeça e aplaudia", conforme conta Fernanda Krakovics, que assina a matéria.
Não posso acreditar no que leio. Conheço Vanessa por quem tenho sincera simpatia, há mais de 35 anos acompanho sua trajetória de luta em favor da diversidade e contra a discriminação, outro dia mesmo ela defendia a tramitação urgente do PLC 122/06, agora parada, que torna crime a homofobia. Por isso, procuro algum indício de que se trata de um equívoco da jornalista, espero um desmentido, mas a informação final não deixa lugar à esperança:
"Ao receber o apoio da Assembleia de Deus, no início da campanha, Vanessa assinou uma carta afirmando que é contra o aborto e que não votará a favor de artigos que contrariam a igreja no projeto de criminalização da homofobia".
Ou seja, se a carta existe - e a carta existe - a senadora Vanessa Grazziotin, negando os princípios que constituem sua história de vida, virou casaca em troca do voto dos evangélicos que, de acordo com o Censo 2010, constituem 35,5% da população de Manaus. A sessão de descarrego era para descarregar os votos nela. O pastor festeja o fato de não existir qualquer prova do compromisso da candidata com o Projeto de Lei Complementar que criminaliza a homofobia. Dirige-se a ela:
- Estou enojado com essa porcaria desse PLC 122. Diziam que você era o demônio, mas não apareceu nenhum vídeo contra você.


O pastor tenta, desta forma, com a anuência da senadora, apagar o passado de luta dela, que constitui um incômodo, um obstáculo para o voto dos evangélicos. A questão que se impõe é saber até que ponto tal operação se justifica eticamente, ou seja, se é válido fazer qualquer tipo de aliança para ganhar votos. Quando Vanessa declara que é contra a descriminalização do aborto, ela está falando no que acredita e, neste caso, virou casaca, ou está apenas enrolando o pastor? A quem está enganando: aos evangélicos? A nós? Ou a ela mesma, à sua biografia?   
Quando você finge concordar com teses homofóbicas por razões eleitoreiras, quem ganha com isso? A candidata ou os obscurantistas? Esses últimos já podem celebrar a vitória, antes mesmo da abertura das urnas. Suas teses foram vitoriosas. O outro lado depôs as armas e virou casaca.
E aí? Como ficam as pessoas que admiram a história de Vanessa e que se sentem derrotadas com essa virada de casaca? No meu caso, tenho publicado nos últimos trinta anos na imprensa amazonense mais de vinte artigos apoiando a senadora, desde quando era vereadora. Alguns amigos meus, que já decidiram que vão votar no Serafim ou no Arthur, estão me cobrando isso e eu não sei o que dizer. Cordialidade entre adversários históricos, tudo bem, mas promiscuidade? 
Não existe a lei da Ficha Limpa? Pois é! O Supremo Tribunal Federal declarou constitucional, em fevereiro de 2012, essa lei que surgiu da iniciativa popular e impede a candidatura de políticos com condenação judicial. Ela já está em vigor, nesta eleição, em que 140 milhões de eleitores vão escolher prefeitos e vereadores de mais de 5.500 municípios. Devia haver, não uma lei, mas um princípio ético, que barrasse a candidatura dos vira-casaca.
P.S. - Sobre os candidatos, incluindo Sabino Podrão, ver crônicas anteriores:
01. Quem deu o coice na Vanessa? - http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=423;
02. Os dois filhos de arigós: Arthur e Felix - http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=564;
03. Manaus, poder e memória - http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=60;
04. Novela eleitoral: o favorito- http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=63;
05. Adeus a um prefeito singular: Serafim Correa - http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=38;
 06. O Dia do julgamento de Sabino Podrão - http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=238

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José Ribamar Bessa FreireDoutor em Letras pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2003). É professor da Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-Rio), onde orienta pesquisas de mestrado e doutorado, e professor da UERJ, onde coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas da Faculdade de Educação. Ministra cursos de formação de professores indígenas em diferentes regiões do Brasil, assessorando a produção de material didático. Assina coluna no Diário do Amazonas  e mantém o blog Taqui Pra Ti . Colabora com esta nosssa Agência Assaz Atroz.

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sábado, 6 de outubro de 2012

Portugal: Desrespeito, teimosia, arrogância e prepotência

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Timothy Bancroft-Hinchey
Pravda.Ru





Portugal: Desrespeito, teimosia, arrogância e prepotência. 17356.jpeg
O governo português acaba de anunciar um aumento de imposto de renda de 3,4 por cento aplicável ao sector privado, ao sector público e aos pensionistas. Esta é a resposta às manifestações maciças nas últimas semanas, quando uma décima parte da população disse de viva voz BASTA! Como de costume, o governo não está interessado.

Eis mais um exemplo da incompetência do governo de Portugal, uma coligação entre dois dos três partidos (PSD, Partido Social Democrata e CDS/PP, democratas-cristãos, conservadores; o outro é o PS, socialistas, em nome) que geriram Portugal tão habilmente desde 1974 que o país agora é governado por estrangeiros que implementam políticas através de chantagem.

A forma como aconteceu foi assim: Portugal não estava preparado para entrar na Comunidade Económica Europeia em janeiro de 1986; se tivesse sido bem gerido, seu atraso depois de quarenta anos de paragem poderia ter sido superado. Não foi. Sucessivos primeiros-ministros e governos dos três partidos mencionados acima conseguiram assistir enquanto rios de dinheiro deslizaram através das suas mãos, gerindo o país com uma abordagem de defender os interesses pessoais e do partido político, e não por consenso nacional.

Na ausência de um plano nacional (o plano é para muitos ser re-eleito para que comparsas e putas partidárias possam entrar em posições onde eles podem desviar fundos públicos) o pêndulo balouçou em duas direcções em ondas de laranja (a cor do PSD) e rosa (PS). Cada onda apagou os programas do governo anterior, idiotas e incompetentes foram colocados em posições de responsabilidade (se lembra de um certo ministro de agricultura no governo do então primeiro-ministro Aníbal Silva, que assumiu o cargo afirmando que "Sobre agricultura, eu não entendo nada", e que era incapaz de ler em voz alta uma simples cifra).

O resultado foi que a Comunidade Europeia, como era então chamado, e mais tarde a União Europeia, esfregou as mãos de contentamento, enquanto aqueles que foram eleitos para liderar Portugal e zelar pelos seus interesses, implementando políticas de desenvolvimento sustentável, venderam os activos do país, destruíram a sua agricultura, as indústrias e pescas, não entenderam os interesses estratégicos de Portugal, viraram as costas, baixaram as calças e deram de graça os poucos bens que este país médio tinha aos seus parceiros. Receberam palmadas nas costas e elogios. "O bom estudante". Enquanto falamos, há rumores de planos em curso para doar parte do espaço aéreo português para estrangeiros, privando Portugal de milhões de euros em receitas. Uma pergunta, se eles vão dar também o espaço marítimo recém-adquirido para os espanhóis em troca de nada. Ou uma transferência bancária nas Ilhas Cayman...

E a maneira como funciona hoje é esta: Em 11 de setembro, o Governo teve a audácia de anunciar estas medidas, pouco antes de uma partida de futebol: Função Pública: corte de um subsídio (igual a um salário), aumento de 7 pontos na contribuição da Previdência Social; Pensionistas: Corte de duas pensões mensais; Sector privado: Aumento de contribuições à Segurança Social por 7 pontos. Seguiu-se uma manifestação de um décimo da população do país.

O "Governo", parecendo meninos apanhados a roubar maçãs, disse pouco ou nada, foi para Bruxelas rastejando-se ao redor das pernas do BCE, FMI e CE, e agora em 3 de outubro, veio com este plano: Função Pública: Corte de um subsídio (um salário), aumento de 3,4% do imposto de renda; Pensionistas: Corte de 90% da pensão de um mês e aumento do Imposto de Renda em 3,4%; Sector Privado: Aumento de 3,4% do Imposto de Renda.

Isso significa uma tributação básica de 19,9% do imposto de renda e mais 8% em contribuições para a Segurança Social.

Com alguns dos salários e pensões mais miseráveis ​​da Europa, e preços exorbitantes nas utilidades e alimentos, este Governo irá, sem dúvida, colher o que ele, e os seus antecessores, têm semeado. Não é culpa do povo português que os sucessivos governos destruíram o país e practicaram uma gestão financeira irresponsável e, portanto, não é justo que os portugueses paguem pelos erros dos outros, que, modo geral, enriqueceram enquanto destruíram o futuro do país.

Se a União Europeia e seus "bons estudantes" meteram Portugal nesta confusão, financiando-o para destruir a sua economia, então deveria ser a União Europeia e seus bons estudantes a tirarem Portugal da situação que só eles criaram, ou Portugal deve considerar sair da UE, refinanciamento-se através de acordos bilaterais com outros parceiros internacionais, reforçando a sua economia através de laços com seu espaço histórico (a comunidade CPLP), utilizando sua própria moeda como alavanca, injectando dinheiro na economia para que possa respirar e crescer. A criação de empregos gera receita fiscal e diminui a carga sobre o Estado.

Para Portugal, da Europa, vinham sempre maus ventos e maus casamentos e se este país investiu 500 anos a encontrar outras soluções no exterior, então, mais uma vez a história se repetiu e entendemos todos por quê. A solução da UE é um país pobre, falido econômica e totalmente inviável, seu povo trilhado na miséria, governado por estrangeiros e acadêmicos incompetentes que pertencem por trás das paredes de suas Universidades, esperadamente fazendo pesquisa e longe dos alunos, cujos futuros venderam, em vez de destruírem a economia de Portugal e doar seus recursos para terceiros.

Existem alternativas, e as alternativas não roubam dinheiro dos bolsos dos cidadãos: sobretaxa sobre transações financeiras, agora, e não vagas referências à ideia no futuro distante; sobretaxa sobre as grandes empresas com volume de negócios de mais de 12,5 milhões de Euros por ano; sobretaxa sobre a distribuição de dividendos; combate contra a evasão fiscal dos grandes em vez de arruinar a vida dos pequenos que simplesmente tentam colocar comida na mesa.

Estas alternativas o governo, aparentemente, não tem considerado, excepto o anúncio de que, eventualmente, Portugal vai seguir o resto da Europa na implementação da Taxa Tobin, ainda uma promessa nebulosa para taxar as transações financeiras. O quê eles estão esperando? A imposição de um imposto de um por cento sobre transações financeiras iria fornecer dinheiro suficiente para exonerar os cidadãos de grande parte do fardo enorme de imposto que pagam.

Mais uma vez, os que governam os portugueses se vendem aos caprichos de estrangeiros, chutando seu povo nos dentes e quando eles se queixam, ainda urinam por cima deles do seu pedestal em uma atitude de teimosia, arrogância e prepotência.

Aos ilustres senhores e senhoras que governam esta faixa atlântica, pela primeira vez nas suas vidas, ouçam, e ouçam bem:
1. O espaço estratégico de Portugal não é mediterrânico, é um país atlântico e seu foco deve estar na CPLP, o espaço ao qual dedicou 500 anos;

2. Os activos de Portugal pertencem aos cidadãos portugueses, e não a um punhado de meninos mimados assentes em posições de poder, não são para vender ou dar a estrangeiros. Se vocês são incompetentes para protegê-los, então façam favor e saiam do lugar. Se vocês destruíram o país intencionalmente, e meteram o dinheiro dos cidadãos nos bolsos, então vocês são uns traidores de merda;

3. Vocês pensam seriamente que os salários e as pensões miseráveis ​que ​seu povo ganha podem resistir um aumento de um por cento em sobretaxas fiscais? Algum de vocês já pegou numa pá na mão e teve que ganhar a vida a partir de uma faixa de terra e meia dúzia de galinhas?

4. Por quê é que vocês se recusam a falar com o seu povo em vez de andar de mãos dadas com os que meteram Portugal no poço em Bruxelas, aqueles que pagaram aos agricultores para não produzir, aqueles que deram as águas portuguesas aos espanhóis, aqueles que deram a industrua portuguesa à Alemanha, aqueles que negoceiam o espaço aéreo português, que mandaram as frotas pesqueiras se afundarem, aqueles que destruíram os futuros dos jovens portugueses?
5. Finalmente, para os iluminados adiantados mentais que (des)governam Portugal, por falta de uma melhor expressão, mesmo um idiota sabe que o exercício de governo através de planilhas de Excel não funciona! Quanto mais pesada for a carga fiscal, menos receita você ganha, porque quanto menos dinheiro as pessoas têm para gastar, menos empregos se criam, portanto, as receitas são menores enquanto o Estado gasta mais em subsídios. Vocês que passaram a vida inteira estudando e ensinando, ainda não entenderam o que é um facto básico? Mas são parvos, ou quê?
Com "ministros" como estes dirigindo o país, quem precisa de ir ao circo no Natal (se ainda o Natal em Portugal não for cancelado por decreto)?

Em fim, o quê esperar de uma meia-tigela de dementes simplórios que têm a mania que o sol brilha dos seus traseiros, que não sabem absolutamente nada sobre nada, nunca fizeram um dia de trabalho nas suas miseráveis vidas, e que ainda por cima têm a audácia de chamar aos portugueses "piegas", "ignorantes", ou preguiçosos"? Resposta: Terrorismo Social.
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Leia também...



“Imaginem o dia do Círio de Nazaré em Belém do Pará, mas antes multipliquem por 100. Essa é a dimensão próxima do que assistimos aqui ontem. Uma verdadeira avalanche vermelha”. Foi o que declarou José Reinaldo Carvalho, secretário Nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), por telefone, direto de Caracas, na Venezuela, à Rádio Vermelho, ao falar sobre a multidão que tomou as ruas da capital venezuelana para reafirmar seu apoio a Hugo Chávez.


Joanne Mota, da Rádio Vermelho em São Paulo





“A multidão que ocupou as ruas de Caracas nesta quinta-feira (4) é incalculável, não há nenhum parâmetro de manifestações no Brasil que já tenha visto para mensurar o que assistimos aqui na Venezuela. Neste momento, o povo, verdadeiramente, faz história. Isso demonstra que está em curso na Venezuela um novo tipo de democracia, uma democracia participativa, uma democracia efetivamente popular, em que o povo é dono do seu destino”, declarou o dirigente.


José Reinaldo, que representa o PCdoB nas atividades que estão sendo realizadas na reta final das eleições da Venezuela, externou que “o entusiasmo e a euforia são os principais combustíveis para reforçar as manifestações e ampliar a adesão das pessoas a apoiar Chávez nestas eleições”.


(Clique no título, leia reportagem completa e ouça Direto de Caracas, o editor do Vermelho falando do clima e da euforia popular para a eleição de Hugo Chávez, na Rádio Vermelho, no rodapé da matéria)
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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Eleições 2012: Em Florianópolis, lava-se roupa suja na paradisíaca praia de Sambaqui

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Raul Longo*



A esquerda capenga de Florianópolis

Nada mais apropriado para identificar a esquerda da capital de Santa Catarina do que a ilustração acima.

Foi utilizada pelo Portal Desacato para a publicação de matéria do respeitado jornalista Celso Martins, denunciando as ameaças de um candidato e um dirigente do PCdoB à sua pessoa, pelo simples fato de ter publicado o indeferimento de uma candidatura à vereança pelo TSE.

Como historiador que é, Celso se ateve à reprodução do documento expedido pela Ministra do Tribunal. E como jornalista, que também é, consultou a opinião do candidato e do dirigente, conforme se confere em: Problemas na filiação motivam o indeferimento da candidatura”.


Considerando que a base eleitoral do candidato se concentra na região à qual reporta e se dirigo Portal Daqui na Rede, administrado por Celso Martins, é de se questionar qual seja a dúvida sobre o processo democrático: no que se refere às normas estabelecidas pelo TSE ou quanto às funções do jornalismo que, quando sério e comprometido com a verdade, se faz necessário e útil a políticos bem intencionados?

A seriedade e o comprometimento de Celso Martins o acompanham por toda sua história jornalística, desde quando em Santa Catarina correspondia o semanário Movimento, expoente nacional da imprensa em oposição à ditadura. Realizou uma das mais completas coberturas fotográficas da Novembrada, manifestação popular contra o General Figueiredo e Bornhausen, então interventor dos militares no estado.

Isso de divergências entre as esquerdas não é de hoje, nem exclusividade de militantes e políticos catarinenses. Na verdade é coisa histórica e muito já beneficiou os interesses de direita em todo o mundo. Mas em Florianópolis toma-se de contornos de histeria personalista.

Na mesma edição do Portal Desacato onde Celso aponta as ameaças recebidas de equivocados partidários de esquerda, um ex-integrante do PT se defende das acusações de outro ainda integrado ao partido que o acusa de se opor à candidatura da aliança PCdoB e PT. E, por sua vez, o acusado denuncia aquele que se mantêm petista, embora integrado a atual administração municipal como aliado ao prefeito de Florianópolis, hoje do PMDB e antes PFL e PSDB, com candidato próprio à sua sucessão.

Como se fosse pouco, pela minha caixa de correio abaixam outros Exus Tranca-Rua e um desses, emigrado do PT ao PSOL, sugere que os ecologistas da cidade estejam perplexos pela falta de respostas da candidata da frente de esquerda liderada pela coligação PCdoB/PT ao que foi intitulado de “Plataforma Ecológica”. Na verdade se trata de um questionário sobre promessas eleitorais, distribuído a todos os candidatos -- de esquerda e direita -- pela Federação de Entidades Ecologistas Catarinenses - FEEC.


Não se pergunte como é isso de uma entidade coordenada por moradores de uma mesma capital, ser uma federação! Por federação se compreende algo de representatividade nacional, mas o realmente difícil de compreender é qual seja a perplexidade pelo fato de em meio ao fim de campanha eleitoral, a equipe da candidata Ângela Albino não ter se dedicado a responder as 67 questões no prazo de menos de três dias, estabelecido pela federação da Ilha de Santa Catarina.

No entanto, perplexidade de fato é provocada pela utilização do questionário para indicar entre os candidatos majoritários a César Souza como o mais identificado aos ideais preservacionistas da FEEC. Da coligação de direita formada pelos que há décadas se sucedem nos governos do estado e do município utilizando os órgãos públicos como balcões de negócios para viabilização de empreendimentos predatórios, César pertence ao grupo político que perpetrou crimes ambientais que deram origem a operações da Polícia Federal. E Federal no sentido de federação brasileira.


Apesar da principal concorrente da [AA: concorre com/contra a] direitaÂngela Albino, ser a candidata que mais enfaticamente se pronuncia sobre questões ambientais, apresentando soluções e propostas realistas e comprometidas com a preservação do que restou de natureza após décadas de governos da coligação Amin/Bornhausen, para um segundo turno em Florianópolis os ecologistas de esquerda ou vice-versa - talvez nem tão versa ou nem tão vice quanto alardeiam - acenam apoio e voto à elite econômica do município, afamada e historicamente predatória aos interesses sociais e ecológicos. Sem dúvida, uma perplexidade!

Enquanto a capenga esquerda da capital catarinense continuar usando da foice para ceifar a si mesma, os leiloeiros da direita continuarão batendo o martelo a cada lance administrativo a que forem eleitos.

Até quando? Quando a esquerda perder todas as pernas? Ou quando a direita arrematar, aos interesses privados de todas as origens -- federais ou estrangeiras -- o pouco que ainda resta aos munícipes e demais cidadãos de todo o estado? 

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*Raul Longo, jornalista e escritor, colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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Hebe Camargo, que Deus a tenha no calor de uma de Suas muitas moradas

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Artigo recebido via e-mail de Rosa Pena, escritora carioca, colaboradora desta nossa Agência Assaz Atroz.

Acesse o site da Rosa e leia crônicas, contos, poesias e prosas poéticas:  ROSA PENA



Hebe Camargo e o respeito à vida (ou a falta dele)


Sérgio de Moraes Paulo

Dou aulas de Geografia há 19 anos. Talvez poucos nomes foram tão lembrados nas minhas aulas quanto o de Hebe Camargo. E tenho certeza de que jamais disse algo de bom a respeito dela. Muita gente deu risada e, de vez em quando, alguém não se continha e perguntava: "Mas por que você não gosta dela?". Para alguns alunos eu dizia as minhas razões. Na maior parte das vezes respondia com outra pergunta: "Por que deveria gostar dela?", ou ainda, "Dê-me pelo menos 3 razões para gostar dela...". Nunca me disseram uma única razão.  

Ontem Hebe Camargo morreu e não foram poucos os amigos que me avisaram. Mensagens pelo celular, recados em caixa-postal e mais de 60 notificações no Facebook me obrigaram a dizer qualquer coisa. 

A primeira coisa que pensei foi explicar, finalmente, as razões de minha implicância com a falecida. Mas julguei que tão importante quanto isso seria deixar claro que não havia motivo para debochar da sua morte. Quem respeita a vida e luta contra os abusos contra ela não tem o direito de brincar com a morte dos outros. Eventualmente uma piada ou outra acaba saindo, em ambiente privado, descontraído. Publicamente não é bom. E no mundo em que vivemos é preciso cada vez mais separar o que é íntimo, privado, daquilo que pode ser público, aberto. 

E eis que aí procuro me diferenciar de Hebe Camargo. A busca pela correção   naquilo que tornamos público. 

Já disse algumas vezes, para algumas turmas de alunos, que um professor deve ter responsabilidade com aquilo que diz. Brincadeiras à parte, manifestações racistas, preconceituosas ou que preguem qualquer tipo de mal individual ou coletivo, devem ser combatidas, mais do que evitadas. Na minha carreira de professor tive períodos de lecionar, semanalmente, para centenas de alunos. Não tive o direito de pregar ódio. E procurei ser cuidadoso com isso. Sempre, apesar de erros.

Hebe Camargo tinha um alcance maior. Em rede nacional de TV atingia milhões de brasileiros. Era descontraída e tinha uma capacidade de comunicação rara. Reconhecer isso não me traz nenhuma dificuldade. Minha repulsa era justamente o que ela fazia com essa capacidade rara de comunicação. 

Quem ler o livro "Autopsia do medo", de Percival de Souza, ficará sabendo de muitas histórias a respeito do maior torturador do regime militar, Sergio Paranhos Fleury. Nele saberá de ao menos uma das relações entre o delegado torturador e Hebe Carmargo. 

Fleury se notabilizou pela capacidade de combater opositores do regime militar, em especial os guerrilheiros.  Ele era um delegado de péssima reputação na polícia de SP, mas foi útil ao empregar suas "técnicas" para a ditadura. Um promotor público de SP, baixinho e fisicamente frágil, chamado Hélio Bicudo, ousou enfrentar o delegado torturador, assassino e ocultador de cadáveres. 

Hélio Bicudo sabia que não podia enquadrar Fleury por crimes de combate a perseguidos políticos. Usou outra estratégia. Resolveu enquadrar o delegado pelos abusos que cometeu ANTES de ser agente da repressão política. Fleury fazia parte de um esquema de assassinatos conhecido como "Esquadrão da Morte", e por ele foi processado e julgado. 

A estratégia de Hélio Bicudo foi tão engenhosa que a ditadura não tinha como livrá-lo da cadeia. A solução para a ditadura foi mudar a lei. Inventou que réu primário não precisava necessariamente ser preso. A lei ficou conhecida como "Lei Fleury". Criada para livrar a cara de um delegado torturador. 

No processo contra Fleury foram arroladas testemunhas para a sua defesa. Uma delas foi Hebe Camargo. Fleury agenciava policiais que trabalhavam como seguranças para cantores e gente da televisão. Por isso era bem relacionado com gente da TV. A estratégia da sua  defesa foi impressionar o tribunal com uma figura conhecida e muito influente. 

Muita gente pode ser poupada de críticas pelo que fez ou  deixou de fazer durante a ditadura. Hebe Camargo não. Num dos momentos mais tristes da história do nosso país ela escolheu um lado. No caso, o lado de quem não respeitava a vida e a dignidade. E fez isso conscientemente. 

No período pós ditadura não me impressionou que Hebe apoiasse Paulo Maluf e atacasse uma figura como Dom Paulo Evaristo Arns. Não foram poucas as vezes em que vi Hebe Camargo protestar contra defensores de direitos humanos. 

Também não me causou espanto vê-la no falido movimento "Cansei", aquele que tentou explorar politicamente a dor causada pela queda do avião da TAM. O movimento "Cansei" partiu de uma ação nojenta. Usar a morte e a tristeza para interesses político-eleitorais. Hebe Camargo mais uma vez não respeitou isso. 

Num país que valorizasse a vida humana e o respeito ao direito básicos de TODOS, Hebe Camargo não teria público. Não seria proibida de falar as bobagens e as apologias de violência que tanto apreciava. Num país mais civilizado ela simplesmente seria ignorada.

Entendo que uma figura como Hebe Camargo não aparecerá novamente, pela simples razão de que a televisão já não é a mesma. Até poucos anos atrás uma apresentadora de TV tinha um peso muito grande na opinião das pessoas, pois não havia muitas opções. Fico muito feliz hoje em saber que meus alunos ficam mais tempo da internet do que diante da TV. É cada vez menor o número de pessoas que ainda assistem novela e que levam a sério porcarias de programas como os que são apresentados na TV brasileira. 

O que lamento nessa história toda é que a saída de Hebe Camargo da TV brasileira se tenha dado apenas por conta da sua morte. O país que desejo para o povo seria capaz de se livrar desse tipo de conduta sem a morte. 

O respeito à vida me obriga a continuar lutando e me manifestando nessa direção. O respeito à vida humana  que Hebe Camargo jamais demonstrou ter. 

Morreu Hebe Camargo e espero que um dia morra esse jeito nefasto e desumano de usar a TV no Brasil. 

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Leia também...


No "Aqui Agora": fama de justiceiro

O jornalista Joaquim de Carvalho, paulista de Assis, fez em 1994 o primeiro grande perfil de Celso Russomanno. Foi para a revista Veja São Paulo. Russomanno era um campeão de audiência no programa sensacionalista Aqui Agora e havia se elegido deputado federal com mais de 200 mil votos. A convite doDiário, Joaquim escreveu sobre os bastidores dessa matéria. Ele conta que Russomanno lhe suplicou, de mãos juntas, para não publicar uma denúncia. “Se você acredita que eu posso fazer alguma coisa boa por este país, pelo direito do consumidor, não publica isso. Vai ficar difícil para mim.”

Joaquim passou pelo Estadão, Veja e Jornal Nacional. Hoje, aos 49 anos, faz reportagens para a produtora Memória Magnética. É autor do livro Basta! Sensacionalismo e Farsa na Cobertura Jornalística do Assassinato de PC Farias, finalista do Prêmio Jabuti de 2005.

(Clique no título e leia matéria completa)
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Nota recebida via e-mail da redecastorphoto


Vocês se lembram de quando FHC comprou votos para mudar a lei e reeleger-se?

E a PRIVATARIA TUCANA, por que não virou CPI? Por que não foi ao STF?

Resposta: porque neste país a classe dirigente é soberana. É ela que decide quem deve ou não ser julgado e condenado. O objetivo não é a tal corrupção, endêmica no país. O objetivo é desmoralizar o PT. Se a meta fosse a corrupção, o tucanato todo já estaria atrás das grades.

Baixe o especial PRIVATARIA TUCANA, do Brasil de Fato, aqui: http://www.brasildefato.com.br/node/9737. (O linque para o material está no fim da página.) Distribua aos amigos, conhecidos, pelas redes sociais.

Exijamos justiça. Afinal, o PSDB vendeu o patrimônio de todas e de todos as/os brasileiras/os, ninguém sabe onde esse dinheiro foi parar e o Judiciário brasileiro nunca se interessou em investigar o caso. Façamos um movimento nacional para exigir punição aos responsáveis -- entre os quais está o intragável José Serra, o que tem o mais alto índice de rejeição do eleitorado brasileiro.

Só uma perguntinha: alguém já investigou o motivo da morte da jovem esposa de Celso Russomano, anos atrás, no hospital São Camilo? Houve exames de vísceras, de tecidos? Se não houve, ainda é tempo.

Baby


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Outra nota recebida via e-mail da nossa correspondente...

Avelina Martinez Gallego

Amigos,
Respeito a decisão de cada um de vocês em relação ao voto! Partindo desta premissa gostaria que vcs. fizessem uma reflexão sobre o que está em jogo nestas eleições:

Todos sabem que defendo a candidatura de Fernando Haddad para a prefeitura de São Paulo, porém não venho pedir seu voto para ele, venho pedir que vcs. reflitam sobre o que, realmente, está em jogo nestas eleições.

Defendo a candidatura de Haddad, pois acompanho a trajetória dele no MEC há 8 anos e não posso, conhecendo um pouco do tema educação, deixar de defender a verdadeira revolução silenciosa que ele fez nas políticas educacionais do país. Ainda não está como gostaríamos que estivesse, ma ninguém pode deixar de perceber que o ministro Haddad fez pelos estudantes mais pobres deste país o que nunca havia sido feito.

Mas o objetivo deste e-mail não  é convencer vc. de que o meu candidato é melhor que o seu, respeito sua decisão.

O perigo maior que estamos correndo é ver o candidato Serra, um moribundo político, ganhar forças para, se for eleito, largar a prefeitura de novo daqui a 2 anos nas mãos de um aventureiro como o Kassab.

 Não tenham dúvidas que, se Serra for para o 2º turno, ele ganha as eleições, pois o PSDB do Brasil inteiro jogará suas forças políticas e econômicas na candidatura dele.

Mas se não ganhar a eleição o que fizemos levando-o para o 2° turno foi dar sobrevida a um político da pior espécie que já está praticamente aniquilado.

O que Serra quer na verdade é ganhar força política pois em breve ele terá que enfrentar os tribunais para responder sobre os processos que estão descritos no livro A Privataria Tucana. ( se vc. ainda não leu, informe-se na Wikypédia :http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Privataria_Tucana

Pois bem, não há outra maneira de nos livrar desse tipo de políticos a não ser cortando pela raiz suas pretensões, não permitindo que ela vá para o 2ºturno.

A única maneira de não permitir que ele tenha uma sobrevida política é não permitir que ele vá para o 2º turno votando no Haddad. 

É isso mesmo voto ÚTIL para livrar São Paulo e o Brasil do político mais nefasto que já tivemos.

Por isso estou pedindo voto útil para Haddad. No segundo turno vc. avalia em quem votar.

Vamos pensar nisso, pelo bem do Brasil.

Se voce concorda comigo, peço-lhe que repasse para seus amigos e familiares

Abraços e obrigada

Avelina Martinez ( socióloga e consultora em educação)

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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