quinta-feira, 18 de abril de 2024

EL CHE - Roteiro Cinematográfico Romanceado - (Parte 1)

 


 El Che 

 

Leia o filme, assista ao livro

 

EL CHE, roteiro romanceado para película cinematográfica, composto de ..X.. sequências, podendo desdobrar-se em tantas outras, o quanto for necessário, considerando que o protagonista exibe uma biografia significativa entre as que se desenvolveram no Século XX. É certamente uma das mais admiráveis, pois se trata de Ernesto Guevara de la Serna, o Che Guevara, extraordinário combatente das guerrilhas latino-americanas. Portanto, não há como negar, distorcer ou simplesmente ignorar esta verdade: Che Guevara é importante vulto histórico contemporâneo. Sua memória ocupa posição de destaque entre os mais expressivos ícones da História. 

 

 

001 — Antiga praça da capital mexicana — Exterior/Dia 

 

Do alto, câmera abre em panorâmica sobre a praça, destaca detalhes de uma imponente estátua e encerra a cena enquadrando uma monumental basílica. 

 

Legenda: CIDADE DO MÉXICO, abril de 1955. 

 

002 — Rua de antigos prédios de apartamentos — Ext./Dia 

 

Da calçada, câmera acompanha passagem de um táxi. Corta para o interior do veículo, enquadra o motorista e gira focando o passageiro no banco traseiro. Ponto de vista do passageiro: desfila casario antigo; pessoas caminham pelas calçadas, outros atravessam a rua apressadamente. Em algumas paredes, há pichações de caráter político, cartazes de propaganda governista e um grande painel anunciando uma tourada. Tomada de imagem no meio da rua, táxi (frontal) parando em frente a um dos prédios. O passageiro (homem de aproximadamente 30 anos) desembarca, paga a corrida e acena cordialmente para o motorista. Táxi se afasta. O recém-chegado observa o prédio por um instante. Ponto de vista: câmera elevando-se sobre a fachada do prédio até o último andar. O homem entra no prédio. Corta para o interior do prédio: o homem subindo alguns lanços da escadaria. Para em frente a um dos apartamentos e bate levemente à porta. Após alguns segundos, a porta se abre, surge Ernesto Guevara (Che Guevara aos 28 anos). Ao ver o visitante, expressa ar de surpresa, manifesta alegria, praticamente gritando. 

 

Guevara: — Alberto! 

 

Os dois se abraçam eufóricos, demonstram imensa satisfação pelo reencontro. Entram abraçados e sorridentes. Corta para o interior do apartamento. Alberto, expressando curiosidade, observa o ambiente. 

 

Alberto: — Você progrediu bastante, Guevara! 

 

Guevara: — Nada comparado ao seu estilo de vida nos isteites. 

 

Riem. Alberto continua observando os detalhes do modesto apartamento. 

 

Alberto: — Isto aqui é bem mais sofisticado que a pensão da Guatemala. 

 

Guevara: — Um palacete! Lembra-se do quarto da Rua Yanacocha, em La Paz? 

 

Alberto: — Não dá para esquecer. Foi o ambiente mais discretamente mobiliado que conheci. Tinha uma cadeira e alguns pregos na parede. 

 

Guevara: — Então, estamos, na verdade, num palácio. E com toda a família real...    

 

Hilda Gadea, primeira mulher de Guevara, vindo do quarto, aparece na sala. Traz nos braços a filha de poucos meses de idade. Ela e Alberto já se conhecem. Alberto se aproxima de Hilda, cumprimentam-se e ele acaricia a criança. 

 

Alberto: — Ela é a cara do pai, mas espero que tenha a cabeça da mãe. 

 

Guevara: — Tem, pelo menos, o mesmo nome. 

 

Alberto: — Hilda. É um belo nome. Inspira sobriedade, equilíbrio... 

 

Guevara: — Hum... sei não... Creio que essas qualidades ela vai ter que herdar de parentes mais distantes. Maternos ou paternos. 

 

Hilda: — Se herdar dos meus, vai ser beneficiada pelo misto de duas culturas milenares, a inca e a chinesa. O que vocês acham?! 

 

Alberto e Guevara entreolham-se (olhos arregalados) e fazem gestos fisionômicos indicando grande admiração.  Hilda sorridente. 

 

Hilda: — Vamos, princesa, a plebe já teve a honra de contemplar sua nobreza. Deixemos que confabulem sobre seus problemas menores. 

 

Com um gesto afetadamente altivo, Hilda faz meia-volta e retorna ao quarto. Os amigos continuam sorridentes. Guevara indica uma poltrona, convidando Alberto para sentar-se. Alberto senta-se. 

 

Alberto: — O que você tem feito para sobreviver? Não me parece que o México ofereça muitas opções de trabalho. 

 

De uma pequena estante Guevara pega uma câmera fotográfica e finge ser um exímio profissional da lente. Com a câmera sempre direcionada para Alberto, busca diversos ângulos, simulando enquadrar o amigo e fotografá-lo. 

 

Guevara: — Sorria, senhor (clic); assim está bem, senhorita (clic); muito  bem, madame (clic)... 

 

Alberto abre os braços, com os indicadores e polegares formando ângulos retos, simula a leitura de um grande cartaz. 

 

Alberto: — “Ernesto Guevara de la Serna, de médico a fotógrafo, uma odisseia latino-americana”. 

 

Guevara põe a câmera sobre a mesa e senta-se em uma cadeira. 

 

Guevara: — Mas a medicina ainda tem suas chances, Tchê! Recentemente participei de um concurso público, estou tentando uma vaga no Hospital Central. O resultado deve sair na próxima semana. 

 

Alberto: — Fale sobre a Guatemala. Por que não sustentaram a revolução? Pareciam decididos a lutar pelas reformas sociais conquistadas. 

 

Guevara: — Lembra-se daquele coronel assessor direto da Presidência? Aquele camarada que andava sempre armado com uma metralhadora e falava apressado, dando a entender que andava sempre muito ocupado. 

 

Alberto: — Como eu poderia esquecer tão notável figura? Afinal, a maior humilhação que senti, em toda a minha vida, foi quando ele, em tom fanfarrão, falou “Aqui as coisas não ocorrerão como abaixo do equador!” 

 

Guevara e Alberto (punhos cerrados, socos ao ar, bradando em uníssono): — Lutaremos até o último homem! Esse era... ou seria... o lema. 

                                                                      

Alberto: — Então... morreu lutando, certo?! 

 

Guevara pega a máquina fotográfica, levanta-se, focaliza em direção a um ponto distante e fala apressado. 

 

Guevara: — Senhor, espere! Senhor, um momento! Calma! senhor, volte aqui, por favor... é somente uma foto para a posteridade... Pobre homem, deve estar pensando que isto é uma máquina mortífera. Senhor, espere! 

 

Ambos riem divertidos. Subitamente, Guevara muda o semblante, torna-se grave, concentrado. Denota tristeza. 

 

Guevara: — Bem, quanto aos que demonstraram suas fraquezas correndo do inimigo, apavorados, abandonando suas mal resolvidas convicções... esses até podemos entender, considerando que o medo é um fator claramente intrínseco à natureza humana... 

 

Guevara põe a máquina fotográfica sobre a mesa, caminha até a janela, observa a rua. Ponto de vista: a câmera passeia focalizando um trecho da rua, até que se detém enquadrando um grande cartaz, no qual se vê a figura de um militar graduado, tendo ao lado a inscrição: REVOLUCION ES TRABAJO. Close de Guevara. Abre para a sala em plano geral; Alberto observa Guevara olhando a rua pela janela.  

 

Guevara: — Pior que a fraqueza do coronel fanfarrão, foi a ação dos traidores, os vendilhões da pátria, os entreguistas. Esses, sim, foram os verdadeiros covardes. Diversos oficiais do exército guatemalteco trabalhavam, a soldo, para os ianques. 

 

Alberto: — Canalhas! 

 

Câmera fecha no rosto circunspecto de Guevara. 

 

FLASH BACK  

 

Efeitos de abertura. 

 

Legenda: Fronteira Honduras—Guatemala. 

 

Tomadas aéreas de uma floresta tropical. Corta para uma ponte de corda sobre um rio de corredeiras, ligando dois penhascos; homens armados, em trajes militares, porém desuniformes entre si, atravessando a ponte; bombas explodindo em pontos avançados. Corta para entrada de uma vila. Pan: barricadas em diversos pontos do lugarejo, fumaça, destroços e corpos desfalecidos por toda parte. Pequena estação ferroviária: soldados desembarcando de um comboio de carga; na plataforma homens feridos agonizam. A câmera desfila os feridos e contorna a estação até uma área descampada por detrás desta, onde quatro homens (entre estes, um militar graduado e um soldado), duas mulheres e um jovem de aproximadamente 14 anos estão colocados lado a lado, mãos atadas para trás e os olhos vendados. À frente deles, um pelotão de fuzilamento mirando-os, pronto para disparar. O oficial que comanda a operação, braço erguido, sinaliza abaixando o braço rapidamente e gritando (off) certa palavra de ordem. O pelotão fuzila os condenados, que tombam abatidos. Corta para soldados embarcando em vagões de um comboio ferroviário, em caminhões e jipes; helicóptero decolando, soldados sentados na borda da entrada do helicóptero que decola. Vista aérea da vila (de bordo do helicóptero); tropas se deslocando numa estrada. Corta para a capital guatemalteca: ruas ocupadas pelas tropas do exército; prisioneiros civis enfileirados, mãos na cabeça, estão sendo embarcados num caminhão. Um prisioneiro tenta evadir-se; um soldado acerta-o com um tiro de fuzil; o fugitivo tomba”. 

 

Durante o desenrolar do flashback, as cenas são narradas em sincronia com as imagens descritas: 

 

Voz de Guevara: — “A invasão começou pela fronteira de Honduras. O exército invasor era formado por uma maioria de mercenários. Muitos deles tinham experiência de combate, haviam lutado na guerra da Coréia. Também contavam com tropas da Guatemala, grupos de infantaria comandados por oficiais contrários ao governo revolucionário. A todo momento, recebíamos informações sobre o avanço do inimigo, cuja escalada acontecia quase sem resistência, devido às sucessivas adesões que conquistavam. Um dos mais graves erros do presidente Arbenz foi ter-se negado a preparar tropas camponesas, que certamente defenderiam a revolução agrária iniciada pelo ex-presidente Juan Jose Arévalo, que desapropriou 161.000 hectares de terras da United Fruit Co., o célebre monopólio fruteiro norte-americano. Também os partidos políticos e sindicatos que proclamavam fidelidade ao regime revolucionário não tiveram direito a armas e treinamento para defenderem suas causas. Apenas o exército profissional podia enfrentar os invasores. Porém não foi suficientemente combativo. Ou não pretendeu ser. Enquanto no campo os julgamentos sumários aconteciam, seguidos de fuzilamento de homens, mulheres e até de crianças, acusados de colaboração com o governo, na capital os líderes revolucionários e os membros da Juventude Socialista já haviam sido covardemente eliminados. Com a queda do presidente Arbenz, desencadeou-se a perseguição política, o terror, a vingança dos latifundiários, a liquidação do programa de reforma agrária e da esperança; restabeleceu-se o reinado da United Fruit Co. e o culto à servidão”. 

 

(Encerra-se o flash back) 

 

Corta para Guevara observando a rua pela janela. Ele se volta devagar para o interior do apartamento. Close de Alberto; abre para Guevara se aproximando do amigo. 

 

Guevara: — Sabemos que existem os verdadeiros revolucionários, homens abnegados, sonhadores, visionários, dispostos ao próprio sacrifício pela causa da justiça. Mas não podemos ignorar, muito menos esquecer, os oportunistas, aqueles que aparentemente apoiam dignas bandeiras de luta, no entanto, visam apenas o aluguel de seus inescrupulosos préstimos, no momento adequado. 

 

Alberto: — Eles estão sempre bajulando o poder, qualquer que seja a orientação ideológica de quem estiver no trono. Mas... quanto a você, como conseguiu escapar? Sei que era bastante atuante e apoiava a revolução agrária. 

 

Guevara: — O embaixador argentino foi até a pensão e me convenceu de que seria suicídio permanecer ali. Não havia mais nenhuma resistência. Cabeças estavam sendo caçadas; entre elas, a minha. Meu nome já constava na lista de condenados. Me exilei na embaixada argentina até poder deixar o país em segurança. 

 

Alberto: — Exilado numa embaixada peronista! Essa você deve ao caudilho! 

 

Hilda retorna à sala, anuncia o jantar. 

 

Hilda: — Está na hora de alimentar as “ideias”.  

 

Guevara: — Vamos saborear uma receita sino-incaica. Mao-Tsé-Tung e Tupac Amaru apreciariam (risos). 

 

A luz que penetra pela janela já não tem a mesma intensidade de antes, começa a anoitecer. Guevara ajuda Hilda na preparação da mesa. Alberto folheia um livro ao lado da estante. O clima de contentamento pelo reencontro dos amigos culmina com o jantar. À mesa, conversam (off) animadamente. A câmera circula pelo ambiente até se deter na janela, com o foco para a rua. Numa calçada adiante, observa-se um jovem equilibrando-se em pé sobre os ombros de outro rapaz, em frente ao cartaz de propaganda governista, o cartaz do militar graduado com a inscrição REVOLUCION ES TRABAJO. Uma jovem, a poucos metros distante dos rapazes, aparentemente nervosa, inquieta, parece vigiar as proximidades. O rapaz de cima terminando de pichar o cartaz. Os jovens concluem a tarefa de pichação e se afastam correndo. Detalhe no cartaz: na testa do militar agora se lê traidor. 


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OBJETIVO DESTA PUBLICAÇÃO:


Com a publicação do roteiro “EL CHE”, o autor tem como principal objetivo a busca de parcerias e recursos técnicos, humanos e financeiros que viabilizem a transformação deste trabalho em livro (roteiro romanceado), filme ou série especial para plataforma de exibição pelo método streaming.


O AUTOR: Fernando Soares Campos é escritor (contista, articulista e colaborador de diversos portais de notícias), com quatro livros publicados e participação em diversas obras de autoria coletiva, destacando-se estudo de caso em "Para além das grades: elementos para a transformação do sistema socioeducativo". Editora PUC/Rio. Coedição: Edições Loyola.


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