Ainda no ano passado, o cardeal Ratzinger, transformado no mais reacionário dos Papas modernos, tinha afirmado, numa viagem aos Camarões e Angola, que « o preservativo agravava o problema da Aids ». E insistido para seus fiéis africanos praticarem a abstenção, enquanto seus concorrentes muçulmanos permitem aos fiéis terem até cinco esposas.
Como diria Galileu, « mas a Terra continua girando », e diante do óbvio, das críticas e da perda da credibilidade da Igreja, principalmente diante da juventude, Bento XVI sai do obscurantismo e justifica, numa entrevista, num livro com lançamento nesta semana, o uso do preservativo, dando mesmo como exemplo o caso da prostituição masculina.
É uma revolução no Vaticano. Mas não significa para os católicos devotos o fim do método contraceptivo Ogino Knaus, pois o Papa só fala em casos que reduzam o risco de contaminação. Casais fiéis, que comungam regularmente, imagina-se não viverem o risco de contaminação e os exegetas das santas decisões vaticanianas logo reafirmarão a proibição do uso da camisinha como anticoncepcional.
Para as prostitutas é a grande chance para exigir que seus clientes católicos usem camisinha, mesmo se alegarem não ser correto se chupar bala com o papel.
As organizações anti-Aids saúdam a decisão do Papa, pois a Igreja vinha sendo um sério empecinho para programas de distribuição das camisinhas em festas populares, que geralmente terminam em copulações mesmo discretas. Carnaval e Copa do Mundo com camisinhas serão torneios bem mais seguros, nas intimidades dos foliões, jogadores e seus torcedores.
Imagina-se que os próprios padres pedófilos passarão a usar preservativos nas suas atividades extra-religiosas e que diminuirá o número de afilhados de padres mais ardorosos nas regiões interioranas.
Enfim, pelo que se depreende dessa extraordinária renovação espiritual do Vaticano, o Papa Bento XVI aceitou permitir o uso da camisinha, pelo menos aos prostitutos, diante da evidência de que a castidade, assim como a virgindade, dão câncer.
Hans Kung, em Tuebingen, deve ter sorrido e comentado, « custou mas, enfim, Ratzinger aceitou modernizar a Igreja ». Estava na hora, porque havia associações de defesa dos direitos humanos querendo processar o Vaticano como cúmplice nos casos de infeções com Aids, evitáveis pelo uso do preservativo.
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*Ex-correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. Autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criou os Brasileirinhos Apátridas e propõe o Estado dos Emigrantes. Vive na Suíça, colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, é colunista do site Direto da Redação. Colabora com o Correio do Brasil e com esta nossa Agência Assaz Atroz.
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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons
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