sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

A maconha e a "lógica" da plataforma eleitoral

A lógica da plataforma eleitoral

por Fernando Soares Campos


Todos os dias os três amigos aposentados se reuniam naquele bar. Invariavelmente, discutiam as notícias em destaque na mídia. Tudo acontecia como num ritual de confraria: Natanael lia o jornal e os amigos opinavam sobre os fatos. Quase sempre Bernardo discordava da opinião de Alcebíades, e Natanael costumava rebater os dois com um parecer, digamos, inusitado.


– A polícia estourou depósito com uma tonelada de maconha – informou Natanael.


– Salta essa, Natan – sugeriu Alcebíades. – Isso aí é rotina policial.


– Rotina na favela ou na fronteira do Paraguai. Mas não é todo dia que se descobre uma tonelada de maconha em fundo falso de ônibus da Viação Pássaros da Serra...


–Peralá! – cortou Bernardo. – Logo a Pássaros da Serra?! Isso quer dizer que, sempre que levei minha família para finais de semana no litoral, viajamos em cima de uma carga de maconha!

Alcebíades emendou:
– Isso quer dizer que, depois de viajarem de ônibus, os passageiros da Pássaros da Serra podiam viajar num baseado, à beira-mar. Ora, deveriam liberar de vez a Cannabis!

– Sou contra a legalização da maconha! – quase gritou Bernardo.

Natanael abriu o jornal e fingiu que o lia enquanto falava:

– Vocês se lembram que, tempos atrás, nós comentamos sobre doação de campanha?

– Sim... – confirmou Alcebíades.

– O que tem uma coisa a ver com a outra? – quis saber Bernardo.

– Bom, é que a empresa Viação Pássaros da Serra é doadora de campanha de três deputados e um senador.

Bernardo, desatento ao que ele próprio falava, soltou o verbo:

– Votei num desses deputados e no senador exatamente por serem... – súbito, Bernardo engasgou; olhou para os amigos, que esperavam a conclusão de sua fala. – Bom... é que... esses camaradas são...

Natanael dobrou o jornal, colocou-o sobre a mesa e concluiu pelo amigo:

– Isso mesmo, Berná! Lógico que todos eles são... contra a legalização da maconha!

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoon

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Operação I Love Israel




Operação I Love Israel


Opinião:

Opinião: O primeiro-ministro israelita afirmou que os dirigentes mundiais começam a perceber a ameaça representada pelo extremismo islâmico. "Penso que a maioria percebe, ou começa a perceber, que o terrorismo exercido pelo islã extremista representa uma ameaça clara e real para a paz do mundo, no qual vivemos", disse Natanyahu em 2015, como diz hoje. Entretanto, o que hoje "representa uma ameaça clara e real para a paz do mundo" está bem claro.


por Fernando Soares Campos


Os corpos das quatro vítimas do ataque ao um minimercado kosher em Paris no dia 9 foram sepultados nesta terça-feira (13/01) em Jerusalém.

Durante a cerimônia fúnebre, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirmou que os dirigentes mundiais começam a perceber a ameaça representada pelo extremismo islâmico.

"Penso que a maioria percebe, ou começa a perceber, que o terrorismo exercido pelo islã extremista representa uma ameaça clara e real para a paz do mundo, no qual vivemos", disse Natanyahu.

Ainda sobre as declarações do primeiro-ministro israelense, nota do Deutsche Welle informa que Netanyahu permitiu que os quatro judeus mortos fossem enterrados em Jerusalém. Na ocasião, o premiê convidou os judeus franceses a emigrar para Israel: "A todos os judeus da França, todos os judeus da Europa, gostaria de dizer que Israel não é o local onde apenas se vai para rezar. O Estado de Israel também é seu lar", concluiu.

A nota informa que "Netanyahu PERMITIU que os quatro judeus mortos fossem enterrados em Jerusalém". Assim fica subentendido que os familiares dos mortos solicitaram permissão para que eles fossem sepultados na Terra Santa. Mas não teria sido exatamente o contrário? Quer dizer, o mais provável é que Natanyahu tenha solicitado aos familiares dos mortos que permitissem seus sepultamentos em Israel.

Alguém aí tem alguma ideia do que isso significa? Não?!

Então, tá! 

Vamos de teoria da conspiração...

Passeata em Paris, domingo (11/2015), na Ala do Terror estavam, lado a lado, Benjamin Netanyahu e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmmud Abbas.

Esse Abbas não é nada confiável, suas atitudes indicam que não passa de marionete dos sionistas israelenses. O pessoal do Hamas e palestinos em geral devem se colocar em alerta total, botar as barbas (do profeta) de molho; pois essa pulga aqui atrás da orelha está incomodando muito, ela diz que o massacre de Gaza do ano passado pode vir a parecer treinamento militar, se comparado com o terror que vem por aí. Provocar guerra é fácil, CIA/Mossad têm o norráu do terror.

O governo israelense já não conta com o apoio da maioria da sua própria população. Também os judeus semitas da diáspora mundo afora já se sentem envergonhados com as barbaridades por ele praticadas. Já existem, por exemplo, os rabinos do grupo "Jews United Against Zionism" (Judeus Unidos Contra o Sionismo). Estes estão, junto com membros de suas sinagogas, queimando a bandeira de Israel em praça pública, em várias partes do mundo.

Mas o que isso tem a ver com as falas de Bibi Natanyahu no funeral dos judeus assassinados em Paris?

É que, provavelmente, ele quer sangue novo em Israel, quer gente disposta a acabar com o Hamas e Hezbollah [Gaza e a Nação Palestina]. Quer mais financiamento e apoio total dos EUA e União Europeia, pois acredita que o império do terror e seus tentáculos vão deflagrar o Armagedom a partir da Síria, encurralar a Rússia e invadir o Irã. De gente tresloucada, eu não duvido nada.

Mas, se for isso mesmo, vão quebrar a cara.

Repeteco:

"A todos os judeus da França, todos os judeus da Europa, gostaria de dizer que Israel não é o local onde apenas se vai para rezar. O Estado de Israel também é seu lar", afirmou Netanyahu

Mas, em verdade em verdade vos digo: "A todos os judeus da França, a todos os judeus da Europa, eu gostaria de dizer que Israel não é o local onde apenas se vai para rezar. O Estado de Israel também pode ser o seu cemitério"

 

Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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sexta-feira, 9 de junho de 2023

Sérgio Moro e a Harvard Law(fare) School

Sérgio Moro e a Harvard Law(fare) School


por Fernando Soares Campos


Em 1996, teve início a carreira de Sérgio Moro como magistrado, na condição de juiz substituto, em Curitiba. Naquele mesmo ano, ele passou a lecionar na Universidade Federal do Paraná.

Depois de 22 anos exercendo o cargo de juiz de direito, tendo cumprido a missão (missão, sim) de prender Luís Inácio Lula da Silva, com o propósito de tirá-lo da disputa eleitoral para a Presidência da República em 2018, favorecendo, assim, a candidatura de Jair Bolsonaro, Moro acabou abandonando a magistratura para ser nomeado ministro da Justiça do governo Bolsonaro, com a promessa de vir a ser recompensado pelo seu trabalho sujo com o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal.

Em 1998, Moro assumiu cargo de juiz titular em Cascavel (PR), onde fixou residência. Foi exatamente naquele ano que ele participou do Programa de Instrução de Advogados da Harvard Law School. Daí, foi convidado a participar de programas de estudos sobre lavagem de dinheiro, sob o patrocínio do Departamento de Estado dos Estados Unidos.

Em 2012, Moro foi auxiliar da ministra  Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, no caso do Escândalo do Mensalão. Essa foi a sua oportunidade de acompanhar o desenvolvimento do processo em que o petista José Dirceu, um dos réus, foi condenado sem prova da acusação que Roberto Jefferson lhe imputara. “Não tenho prova cabal contra Dirceu, mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite.” Essa foi uma das mais importantes lições que a ministra Rosa Weber deu ao seu auxiliar, o juiz Moro, que, com esse mesmo “fundamento infundado”, julgou e condenou o ex-presidente Lula no caso “Triplex do Guarujá”, em 2017, atendendo denúncia do Ministério Público Federal, representado pelo procurador Deltan Dallagnol, que havia “fundamentado” a denúncia de maneira semelhante àquela em que a ministra Rosa condenou Dirceu. Dallagnol, tendo concluído que naquele processo não havia provas contra o ex-presidente Lula, alegou que, em foro íntimo, ele tinha “convicção” de que o ex-presidente da República teria sido o “comandante” dos esquemas de corrupção na Petrobrás, falcatruas que vinham sendo aplicadas contra a empresa estatal desde governos anteriores aos petistas, corrupção denunciada e apurada no governo Dilma, que determinou a exoneração de Paulo Roberto Costa, diretor de abastecimento, Renato Duque, diretor de engenharia e Jorge Zelada, imiscuídos nos esquemas de corrupção, e encaminhou os casos à Justiça. Porém, ao ser deflagrada a Operação Lava Jato, os acusados foram apresentados à população, pela imprensa empresarial, oligopolizada, notoriamente antipetista, como se os denunciados tivessem sido “capturados” pela Lava Jato.

Deltan Dallagnol formou-se em direito pela Universidade Federal do Paraná em 2002 e tornou-se mestre em direito pela Harvard Law School em 2013.

Muitas são as armadilhas das quais a CIA se utiliza para aliciar estudantes e militares estrangeiros que possam atuar como seus colaboradores. O propósito é convencê-los a operar em seus países de origem como subagentes daquela agência de espionagem, tornando-se traidores de seu povo, colaboradores nos processos de cometimento de crimes de lesa-pátria. Os ambientes preferidos para assediar os mais vulneráveis estudantes e militares estrangeiros, fazendo deles subagentes da CIA, são as universidades dos EUA e a antiga Escola das Américas. A atuação da CIA nesse sentido envolve praticamente toda a comunidade universitária norte-americana e o Departamento de Estado dos Estados Unidos. Para a realização de suas escusas atividades, as universidades mais visadas são Harvard e Yale.

Escola das Américas, o outro reduto de atuação da CIA

Descrição da Escola das Américas na Wikipédia trata de seus supostos objetivos nos seguintes termos: A Escola das Américas (School of the Americas, em inglês) é um instituto do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, fundado em 1946. Em 1961, seu objetivo oficial passou a ser o de ensinar a "formação de contra insurgência anticomunista".

A Escola treinou vários ditadores latino-americanos, gerações de seus militares e, durante os anos 1980, incluiu o uso de tortura em seu currículo.

Em 2001 foi renomeada para Western Hemisphere Institute for Security Cooperation (WHINSEC). (Instituto do Hemisfério Ocidental para a Cooperação em Segurança, em português).

A instituição é mantida pelos Estados Unidos e, entre outros, oficialmente ministra cursos sobre assuntos militares a oficiais de outros países.

Atualmente situada em Fort Benning, Columbus, Geórgia, a escola esteve de 1946 a 1984 situada no Panamá, onde se graduaram mais de 60 mil militares e policiais de cerca de 23 países da América Latina, alguns deles de especial relevância pelos seus crimes contra a humanidade, como os generais Leopoldo Fortunato Galtieri e Manuel Noriega.

Assim, podemos imaginar quantos brasileiros, civis e militares, atendidos nessas instituições regressaram ao nosso País na condição de subagentes dos sistemas de espionagem ianque, deixando lá nos States, no mais top secret arquivo da CIA, dossiês que tratam de seus pequenos “pecados”, cometidos, em geral, no âmbito de sua sexualidade, com fotos e vídeos que fariam muito sucesso em sites pornô. Outras transgressões à lei são anexadas à pasta do entreguista, principalmente relatos das propinas que o subagente “cucaracha” (no conceito dos gringos) teria recebido com a venda de sentenças e outras falcatruas.

(*) Fernando Soares Campos é autor de "Saudades do Apocalipse - 8 contos e um esquete", CBJE, Câmara Brasileira de Jovens Escritores, Rio de Janeiro, 2003; "Fronteiras da Realidade - contos para meditar e rir... ou chorar", Chiado Editora, Portugal, 2018; e  "Adeildo Nepomuceno Marques: um carismático líder sertanejo" (em parceria com Sérgio Soares de Campos), Grafmarques, Maceió, AL, 2022.  






sexta-feira, 2 de junho de 2023

Flashback para refrescar a memória: A petroleira Chevron (USA) contamina, mas não paga prejuízos no Equador

 Flashback para refrescar a memória

A petroleira Chevron (USA) contamina, mas não paga prejuízos no Equador

Hernando Calvo Ospina, jornalista colombiano, radicado na França, mais uma vez nos brinda com uma de suas relevantes matérias, enviando a esta nossa Agência Assaz Atroz (PressAA) artigo-reportagem de sua autoria, publicado pelo Le Monde Diplomatique, através do qual relata sua visita a sítios de petróleo no leste do Equador, região que se tornou palco de uma acirrada disputa judicial, que tem por objetivo fazer uma gigante do petróleo indenizar os prejudicados pelas contaminações que causou na Amazônia equatoriana, expondo populações indígenas à contração de graves doenças, como o câncer.


A petroleira Chevron, uma das que se negaram a participar do leilão do Pré-Sal brasileiro, por não concordar com o regime de partilha, passou da condição de réu para autor, de acusado para acusador, nos tribunais dos Estados Unidos. E, pelo visto, já gastou muito mais milhões de dólares com advogados e lobistas do que a milionária quantia que teria que pagar aos atingidos pela contaminação das águas e solos nas províncias remotas da Floresta Amazônica.

QUITO DETERMINADO A OBTER UMA REPARAÇÃO



Chevron contamina, mas não paga no Equador


Quarta-feira 19 de março, 2014 , por Hernando Calvo Ospina


Hernando Calvo Ospina. Le Monde Diplomatique . Edição * Março 2014
Por um lado, o Equador, pequeno país sul-americano de quinze milhões de pessoas. Por outro lado, a Chevron, a gigante da indústria do petróleo, cujo volume de negócios ultrapassou 230.000 milhões de dólares em 2012. Combate Desigual? Não importa: Quito está determinado a fazer a multinacional pagar pela poluição da qual esta é responsável.


Um dos veículos que nos acompanharam teve um problema técnico. Fomos obrigados a parar em um daqueles povoados da Amazônia equatoriana, que dificilmente aparecem em mapas do Google. Calor oprimia. Ao lado da oficina, uma senhora vendendo bugigangas para motoristas desamparados. Pedimos um pouco de água fresca. Mas quando ela estava prestes a nos atender, retrocedeu: "É melhor comprar uma garrafa na vizinha. A nossa pode lhe fazer mal". Foi a segunda vez, durante esta viagem, que recebi esta resposta.


Como muitos outros povoados nas províncias de Sucumbíos e Orellana, este não-lugar foi construído por gente vinda de longe, atraída pela indústria do petróleo, inaugurada pela empresa estadunidense Texaco, em 1962. Sushufindi, Tarapoa, Yuca ou Socha: são todas localidades que não são mais do que casarios. Outras têm crescido como Coca ou Lago Agrio, que têm quase 30 mil habitantes.


Josefa, uma colombiana que chegou faz 20 anos fugindo da violência em seu país, nos havia informado no dia anterior, que por sorte podia recorrer às águas da chuva. "E o resto do tempo?" ― "É água de poço!", responde com um sorriso resignado. Uma mulher com feições indígenas nos diz que começou o trabalho de instalar as tubulações de água potável. "E ainda assim, aqui nós nadamos em petróleo há um longo tempo." A poucos metros de distância, uma galinha bica avidamente o óxido de um enorme tubo que transporta o "ouro negro", o qual passa pelo casario de Yucca e se perde na distância.


Existem poços para buscar água a menos de duzentos metros a partir de duas piscinas de armazenamento, que contêm milhares de litros de resíduos de petróleo. São grandes escavações que não foram equipadas com um dispositivo para isolar a terra e evitar o vazamento de produtos tóxicos até o aquífero e as águas subterrâneas. A Texaco decretou que as terras da Amazônia eram argilosas e, portanto, impermeável. Sob essas condições, não havia necessidade de se construir valas de drenagem que coletem os resíduos que se transbordam com as chuvas.


Com o tempo, o “crudo” interage com a água e libera suas moléculas mais pesadas, que se sedimentam. Na superfície ficam as substâncias leves e oleosas. No meio se mantém uma camada de água. Para extrair esta, a Texaco colocou uns tubos chamados "pescoço de ganso". A empresa continua a repetir que essa água é potável, mas nenhum de seus engenheiros se atreve a bebê-la. As folhas e galhos que caem ao redor das piscinas se misturam com o líquido. Aos poucos, formou-se uma superfície macia que se parece com um colchão d'água. Mas seu aspecto é a de uma pasta preta grossa.


Uma investigação publicada em 2003, e realizada principalmente na zona de exploração da Texaco, informava que 87,3% dos entrevistados nessas províncias viviam a menos de 500 metros dos poços de extração, piscinas e outras instalações petrolíferas. E acrescentou que "42% vivem em um raio inferior a 50 metros", antes de concluir que a população local tinha sido exposta "a uma intensa contaminação" [1].


Durante 28 anos, a Texaco desfrutou de uma exploração de petróleo quase exclusiva na região. Em todo esse tempo, nunca informou sobre os riscos que corriam os seres humanos, os animais e as plantas ao redor de poços e piscinas. Muito menos se importava que algumas casas fossem construídas sobre áreas que foram piscinas, cobertas com terra e galhos.


A empresa abriu 356 poços, que. somados às suas piscinas, dá um total de 820 locais contaminados, como foi afirmado pelo tribunal da província de Sucumbios. Os camponeses e índios continuam a encontrar outros que foram escondidos. Alguns poços continuam despejando óleo. De acordo com a organização não governamental (ONG) Ação Ecológica, a Texaco "extraiu cerca de 1.500 milhões de barris de petróleo [...] em uma área de 442.965 hectares [...] e deliberadamente derramou toneladas de material tóxico e resíduos de mantimento e mais de 19.000 milhões de galões (cerca de 72.000 milhões de litros) de água suja no meio ambiente [2].


O gás que saía dos poços individuais, cujas chaminés não são muito altas, era queimado sem o menor controle. Quando chovia, a fuligem caía com a água. Os moradores a recolhiam para preparar a comida e beber, acreditando que não estava contaminada porque "vinha do céu".


As comunidades indígenas foram as mais afetados. "Não havia nenhuma presença do Estado", nos explicou Jimmy Herrera, que participa nos diálogos do atual governo com os índios da Amazônia. "Texaco estava em todas as partes. Para compensar os inconvenientes, oferecia para os indígenas bijuterias e objetos que não lhes serviam para nada, ou os ameaçava com a repressão do Exército quando eles protestavam. E os evangelistas que vieram dos EUA foram a sua mão direita ". Os aviões sobrevoaram a zona vomitando "panelas de alumínio, calças, fitas coloridas, botões e fotos dos missionários" [3]. Os religiosos se aproximaram depois para convencer os indígenas dos benefícios da companhia de petróleo e da "civilização". A mulher do povoado de Yucca contou que a vida de sua comunidade foi a pique porque seus membros foram forçados a buscar o salário da Texaco para a sobrevivência: a poluição havia acabado com a caça e a pesca.


Nós que viemos da cidade sentimos uma mistura de medo e prazer nesta área aberta da floresta, com o canto dos pássaros desconhecidos misturados com os gritos de animais de linha invisível. A folhagem vai engrossando na distância até converter-se em uma majestosa mancha verde.


Mas o que relata Shingre Medardo nos tira de nossa ensonação. Ele é um campesino que vivem em Tarapoa há cerca de quarenta anos, e pertence aos 30.000 vítimas da Texaco. Suas terras agrícolas são envenenados. E não só nos diz: na área mais ampla, você pode afundar um poste de cerca de 20 centímetros de solo, e as folhas manchadas de petróleo. No entanto, a natureza se encaixa: bananas adultos muito pequenos, estranhos olhando tubérculos, frutos e folhas que são deixados sem cor. À primeira vista, o terreno parece normal, compacto. Mas com o calor abanda e se gruda nos sapatos.


Nas províncias de Sucumbíos e Orellana, a mortalidade por câncer é três vezes a média nacional. 43% das famílias que têm pessoas com câncer consumia a água recolhida a uma distância de entre 100 e 250 metros da fonte de contaminação [4]. Mulher Yuca recorda que os funcionários da empresa tinha explicado a seu pai que o câncer entre os índios se devia à falta de higiene. Também não esquece que um homem loiro garantiu que a água suja com óleo iria torná-los fortes: “Se move um caminhão, por que não moveria vocês?”.


Em 1992, a Texaco deixou o país. Em 3 de novembro de 1993, os camponeses e indígenas de Orellana e Sucumbios, apoiados por organizações não-governamentais, principalmente estadunidenses, entraram com uma ação contra a petroleira, em um tribunal de Nova York. Acusavam danos ao meio ambiente e à saúde. Seis meses depois, várias organizações de base e comunidades se uniram para apoiar a alegação da União de Atingidos e Atingidas por Operações da Petroleira Texaco (UDAPT). A Frente de Defesa da Amazônia havia nascido.


Três anos depois, Texaco, preocupada em evitar uma ação judicial, assinou, com o governo equatoriano da época, um Plano de Ação de Reparação: a companhia se comprometeu a limpar 162 piscinas. "O que fizeram foi simplesmente contratar uma empresa que jogou terra em cima” ― recorda Shingre ―. Porém, ao aterrar as piscinas, agravou o problema, porque o petróleo foi deixado intacto e contaminação dos solos se acentuou."


Em 1998, o governo e Texaco firmaram a Acta de Finiquito, que protegia a empresa contra qualquer ação do Estado após o "conserto". Pouco importava os 30.000 afetados, ainda não indenizados.


Mas o processo continuou e a empresa pressionou para transferir para a Justiça equatoriana, comprometendo-se a respeitar a decisão dos tribunais. Pablo Fajardo, um jovem advogado que cresceu na região, explica a manobra: Texaco tinha "influência no sistema político e judicial. Estava, portanto, portanto, convencida de que poderia controlar o julgamento, e, de fato, era verdade" [5]. Em outubro de 2003, dois anos após a compra da Texaco pela Chevron, começou o julgamento, no Equador.


Fajardo, que enfrentou 39 advogados em uma década, conta que a Chevron gastou muitos milhões de dólares no julgamento. Enquanto isso, a Frente de Defesa da Amazônia não tinha mais do que os seus próprios recursos e a solidariedade internacional. Antes de uma nova Constituição, aprovada em 2008, garantir alguma ajuda, na medida em que determina ações civis. [6]


O que a Chevron não tinha previsto era que o país iria mudar com a eleição de Rafael Correa em 2006. E também o seu sistema judicial. A 14 de fevereiro de 2011 foi finalmente emitido um veredicto: a petroleira foi declarada culpada. Deveria pagar 9.500 milhões de dólares à UDAPT para limpeza dos seus solos, instalação de sistemas de abastecimento de água e a implementação de sistemas saúde e de desenvolvimento na área. Além disso, o juiz impôs uma sanção: a Chevron deveria pedir desculpas aos afetados no prazo de 15 dias depois da sentença. Caso contrário, o pagamento iria aumentar para o dobro. Chevron recusou-se a obedecer. Sua dívida duplicou, até que o Tribunal Nacional de Justiça aquatoriano anulou a decisão em 12 de Novembro de 2013.


Chevron, no entanto, contra-atacou ajuizando o Estado equatoriano perante os tribunais internacionais, alegando que este é que deveria ser responsável para reparar os danos. Pelo menos oito lobistas foram contratados para pressionar os membros do Congresso e do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, a fim de desacreditar o governo equatoriano e proteger seus interesses econômicos..


Em 2009, a Chevron apresentou nos Estados Unidos 14 processos diferentes contra a Frente Amazônica e contra qualquer um que trabalhou com os afetados. Em fevereiro de 2010, o Tribunal Federal de Nova York decidiu que, nos termos da Lei sobre Organizações Influenciadas por Extorsão e Corrupção, denominada RICO (Racketeer Influenced and Corrupt Organisations Act), os defensores da Frente tentaram, em processo judicial, "extorquir" a Chevron.


Atualmente, a empresa tem se arrastado Quito perante os tribunais de Washington por "violação dos tratados de proteção de investimentos bilaterais" que se ligam aos Estados Unidos. Não se pode esperar nenhuma decisão antes de 2015. Durante este tempo, a Chevron não pagou um centavo às vítimas.


Epílogo. Fazia dez dias que eu havia retornado para a França. Em 17 dezembro de 2013, de madrugada, recebi longa correspondência de Morgan Crinklaw, porta-voz da Chevron. Sem preâmbulos, declarava saber que eu havia visitado "sítios de petróleo no leste do Equador". Depois me expôs a versão da empresa "perseguida" pelo governo equatoriano.


Crinklaw começou a trabalhar para a Chevron no final de 2008. Antes, havia passado quatro anos no comando da comunicação do Partido Republicano no Congresso dos Estados Unidos.


No dia seguinte, enviei um e-mail perguntando como ele conseguiu obter meu endereço. Até hoje, eu não recebi nenhuma resposta.


NOTAS:


[1] Adolfo Maldonado e Alberto Narváez, "O Equador não é e vontade e país amazônico. Inventário dos choques do petróleo." Ação Ecológica. Quito, 2003

[2] "Você limpar depois Texaco", 11 de março de 2002.http://www.accionecologica.org/petr ...

[3] Fabian Sandoval Moreano, "Povos Indígenas e petróleo na Amazônia equatoriana", ECE, Quito, 1988.

[4] Adolfo Maldonado e Alberto Narváez, op. cit.

[5] "O homem que humilhou Chevron", El País, Madrid, 06 de junho de 2011

[6] Mary Aguinda (em colaboração com Patrick Bele), brin d'herbe A contre le goudron, Michel Lafon, Paris, 2012.



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Transladado por tradutor online, foram feitas adaptações idiomáticas para o nosso vernáculo.


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