Fernando Soares
Campos
Antonio Carlos Peixoto Magalhães, ou
simplesmente ACM, era um velho senador da família pefelista (Demo, se vivo
estivesse). Durante muitos anos, o poderoso baiano enganou o satanás, pois sua
alma fora penhorada por dívida a Lúcifer, que lhe concedeu o título e poderes
de capo di tutti i capi (chefe de todos os chefes) das
máfias brasileiras, com prazo de validade vencido no final do período da
ditadura militar que vigorou no Brasil a partir de 1964 e prorrogado por tempo
indeterminado.
Numa das tentativas de cobrar a dívida, Lúcifer submeteu ACM a um infarto, porém ele foi operado e recebeu o implante de duas pontes de safena e duas mamárias. O Príncipe das Trevas mandou apedrejar seus rins, contudo o velho foi operado em Londres, quando lhe retiraram três cálculos renais. Os capetas responsáveis por doenças do sistema respiratório andaram atanazando-lhe, porém o velho ACM pediu a Belzebu para permanecer na Terra até preparar seu sucessor. O demônio-chefe gostou da ideia e até lhe indicou alguns nomes.
Quando Deus ainda exercia alguma influência sobre ACM, este se formou em medicina; porém, ao estabelecer o pacto com o Reino das Trevas, abandonou a profissão para assumir funções mais apropriadas aos desígnios de Satã: em 1954 elegeu-se suplente de deputado estadual pela UDN, mas, com uma ajudazinha do capeta, acabou assumindo o cargo no lugar do titular, marcando o início de uma das mais tenebrosas carreiras de golpista do Brasil, quiçá do mundo.
Dez anos depois, já na condição de deputado
federal, apoiou o golpe militar que implantou uma sanguinária ditadura no País.
Os generais-ditadores reinstalaram o sistema de capitanias hereditárias no
Brasil, e foi assim que ACM, como não poderia deixar de ser, apropriou-se de
uma das sesmarias mais cobiçadas do Nordeste, a qual ficou mundialmente
conhecida como Bahia de Todos os Santos de Antonio Carlos Magalhães, que também
atendia pelo título de imperador Magá, o Toninho Malvadeza.
Apesar do título monárquico, ACM governava seu território à maneira de um coronel latifundiário, símbolo do autoritarismo e impunidade em terras tupiniquins, na modalidade coronel eletrônico, como são conhecidos os políticos donos de emissoras de rádio e tevê. O seu patrimônio era dos mais expressivos da Bahia. Em maio de 2000, o poderoso chefão baiano fez uma declaração parcial de seus bens à revista Valor Econômico:
Apesar do título monárquico, ACM governava seu território à maneira de um coronel latifundiário, símbolo do autoritarismo e impunidade em terras tupiniquins, na modalidade coronel eletrônico, como são conhecidos os políticos donos de emissoras de rádio e tevê. O seu patrimônio era dos mais expressivos da Bahia. Em maio de 2000, o poderoso chefão baiano fez uma declaração parcial de seus bens à revista Valor Econômico:
"Eu tenho o governador, os três senadores, 95% dos prefeitos e 30 dos 39 deputados federais". E ainda desafiou: "Me mostre alguém que tenha um poder como este onde faz política".
Cunha ainda não possui os 300 picaretas que
Lula identificou na Câmara dos Deputados, mas, muito em breve, conquistará os
40 elementos que ainda se ocupam em perseguir Ali Babá. Aí terá a corja
completa.
Cunha, o achacador, um elemento mais esperto
que Abadia
Júlio
Camargo, empresário preso na Operação Lava-Jato, foi consultor das
empreiteiras Toyo Setal e Camargo Corrêa. Em depoimento ao Juiz Moro, sob a
condição de “delação premiada”, ele falou do momento em que esteve cara a cara
com Eduardo Cunha, acusando este de agir como chantagista-achacador, hoje
presidente da Câmara dos Deputados da República Federativa do Brasil.
Júlio
Camargo ― “Marcamos num domingo, final de tarde, no Rio de Janeiro, um encontro
num edifício comercial no Leblon e tivemos o encontro, o deputado Eduardo
Cunha, o Fernando Soares e eu. Eu fui bastante apreensivo. O deputado Eduardo
Cunha é conhecido como uma pessoa agressiva, mas comigo foi até bastante
amistoso, dizendo que ele não tinha nada pessoal contra mim, mas que havia um
débito meu com o Fernando, no qual ele era merecedor de U$ 5 milhões e que isso
estava atrapalhando, porque estava em véspera de campanha; se não me engano,
campanha municipal, e que ele tinha uma série de compromissos, e eu vinha
alongando esse pagamento há bastante tempo, e ele já não tinha mais condições
de aguardar.”
Camargo
também confessou que havia ficado temeroso do poder que Eduardo Cunha exibiu
para ele naquele encontro.
—
“Estamos falando de uma pessoa que, segundo ele, tinha o comando de 260 deputados
no Congresso. Uma pessoa de alto poder de influência. O maior receio é com a
família. Quem age dessa maneira perfeitamente pode agir contra terceiros” ―
disse o delator.
E
ele tem razão, não se sabe do que Cunha é capaz. Sabe-se, no entanto, que ele
já esteve envolvido em negócios com o megatraficante colombiano Juan Carlos
Ramírez Abadia, preso pela Polícia Federal e deportado para os EUA.
Abadia, também conhecido como "Chupeta", é acusado de mais de trezentos assassinatos na
América Latina e cerca de quinze nos Estados Unidos. Chegou
a ser considerado pelo FBI como o segundo homem mais perigoso do
mundo depois de Osama Bin Laden.
Tudo
bem, não duvido, Abadia pode até ser mais violento que Eduardo Cunha, mas este
é bem mais esperto que o megatraficante colombiano.
Leia trecho dessa
matéria publicada em 11 de outubro de 2007, no Portal Terra, e veja como
Cunha passou a perna em Abadia.
“O deputado federal
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi acusado ontem, no Plenário da Assembléia
Legislativa do Rio, pela deputada estadual Cidinha Campos (PDT), de ter vendido
ao traficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadia uma casa em Angra dos Reis.
De acordo com Cidinha, o empresário Daniel Maróstica, que seria operador de
Abadia, teria comprado a casa atribuída a Cunha de um laranja do deputado por
US$ 800 mil (cerca de R$ 1,6 milhão), em dinheiro, e meses depois revendido ao
mesmo laranja por US$ 700 mil. As informações são do jornal O Estado de S.
Paulo.”
Imaginemos
um diálogo entre ACM e Cunha, ambos exibindo seus podres poderes.
“Tenho
os três senadores e trinta dos trinta e nove deputados
federais da Bahia”, diria ACM
Depois de se refazer de incontrolável crise de riso, Cunha
tomaria fôlego e diria:
“Agora entendi por que vossa excelência precisou renunciar
à presidência do Senado, a fim de não ser cassado.”
E voltaria a rir a bandeiras despregadas...
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Ilustração: AIPC - Atrocious
International Piracy of Cartoons
PressAA
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