terça-feira, 14 de julho de 2020

Projeto Fábula no Atacama (Pouca carniça pra muito bico)

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Projeto Fábula no Atacama
(Pouca carniça pra muito bico)

por Fernando Soares Campos
Portal Maltanet -- 06/07/2020

Já faz alguns anos que venho tentando escrever uma fábula ambientada no Deserto do Atacama. Pensei num diálogo entre um urubu e um preá agonizante. Já estava com tudo fantasiado, como quando eu era adolescente, no banheiro, prestando homenagem à saudosa Odete Lara. Mas, como desconheço a fauna do Atacama, pintou uma dúvida: não sei se no Atacama existem preás e urubus. Dizem que, nos oásis e margens das lagoas, podem ser encontrados flamengos, lhamas, guanacos e outras espécies. Bom, nesses locais, pode-se encontrar tudo isso, creio que até preá. Urubu, jamais; pois sabe-se que urubu prefere lugares mais hostis, onde preás morrem de fome e sede. Além disso, oásis não é deserto, é desvio de conduta, como a honestidade desde muito antes de Ruy Barbosa.

LEIA COMPLETO: http://www.maltanet.com.br/v2/literatura/2020/07/06/projeto-fabula-no-atacama

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Massacre do Caldeirão da Santa Cruz do Desterro

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Massacre do Caldeirão da Santa Cruz do Desterro


por Fernando Soares Campos
Portal Maltanet -- 28/06/2020

Trecho:

Sobre Canudos, quase todo brasileiro tem alguma informação, mesmo que seja apenas a de que ali ocorreu uma guerra, visto que, além da obra de Euclides da Cunha e tantas outras nela inspiradas, também o filme Guerra de Canudos foi um grande sucesso de público e palpites da crítica, além de ter sido premiado em importantes festivais. Muitos são os vídeos-documentários sobre aquele conflito, e a maioria dos professores de História recomenda a obra euclidiana aos seus alunos.

Porém, se o episódio de Canudos é conhecido mundo afora, principalmente através de “Os Sertões”, o mesmo não ocorre com acontecimentos idênticos que também tiveram como palco os sertões nordestinos, como, por exemplo, a destruição da comunidade Caldeirão da Santa Cruz do Desterro, no Sertão do Cariri (CE).

LEIA COMPLETO: http://www.maltanet.com.br/v2/literatura/2020/06/28/massacre-do-caldeirao-da-santa-cruz-do-desterro


Assista ao vídeo: 

O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto(Completo) - Rosemberg Cariry 


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segunda-feira, 22 de junho de 2020

Se entrega, Corisco!

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Se entrega, Corisco!

por Fernando Soares Campos
Portal Maltanet -- 20 de junho de 2020

Lampião, o rei do cangaço, e Corisco, o diabo loiro, tinham por companheiras Maria Bonita e Dadá (é bom que se diga "respectivamente", porque naquela época certas liberalidades de hoje eram tidas como libertinagens, sem-vergonhices que os homens do cangaço não adotavam). Lampião morreu em combate em 1938, quando ele e Maria Bonita foram decapitados (ela capturada viva) e suas cabeças foram exibidas na feira livre de Santana do Ipanema, minha cidade natal, no sertão alagoano. Corisco e Dadá continuaram a luta. Em 1940 ele também tombou, e sua cabeça foi juntar-se à de Lampião no Museu Nina Rodrigues, em Salvador, onde ficaram expostas até 1969, como troféus das forças de repressão. Dadá, atingida por um tiro no pé direito, sofreu processo gangrenoso que lhe custou a amputação da perna.

Os grupos de cangaceiros certamente não eram formados por indivíduos santificados, entretanto muitas histórias que contam sobre eles não passam de fantasias ou mesmo difamações propositadamente plantadas nos tempos em que o presidente Getúlio Vargas pediu as cabeças dos cangaceiros, que haviam criado a ilusão de mudarem o status de "bandoleiros" para "revolucionários". Foi quando Lampião decidiu autoproclamar-se "governador dos sertões nordestinos".

LEIA COMPLETO: http://www.maltanet.com.br/v2/literatura/2020/06/20/se-entrega--corisco 


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domingo, 14 de junho de 2020

O torturador que diz não temer a verdade (Final)

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O torturador que diz não temer a verdade (Final)

por Fernando Soares Campos
Portal Maltanet 

Trecho:

O meu falante companheiro de carona se aproximou da base de uma escadaria e gritou para o andar de cima:

― Pai, chegamos! Pai, o senhor está aí?! ― voltando-se para mim, finalmente apresentou-se: ― Seu Fernando, eu sou Leonardo. Sou filho do suboficial Túlio, seu colega submarinista dos velhos tempos de guerra ― sorriu. ― Sente-se, fique à vontade. Quer água?

― Aceito ― respondi enquanto me acomodava numa poltrona.

Leonardo dirigiu-se para onde deve ser a cozinha da casa.

Descendo a escadaria, apareceu o velho Túlio. Esquelético, lento, passo a passo, com visível dificuldade de locomover-se.

Leonardo retornou à sala com uma jarra d’água e um copo, me ofereceu. Tomei água. Ele colocou tudo em cima da mesa.

O suboficial Túlio se aproximou de mim. Leonardo fez as apresentações:

― Pai, esse aí é seu Fernando, escritor. Ele foi seu colega na Marinha, no Submarino Bahia. O senhor se lembra dele?

LEIA COMPLETO: https://www.maltanet.com.br/v2/literatura/2020/06/13/o-torturador-que-diz-nao-temer-a-verdade--final

LEIA TAMBÉM (ou releia) AS PARTES 1 E 2:
Parte 1: http://www.maltanet.com.br/v2/literatura/2020/05/30/o-torturador-que-diz-nao-temer-a-verdade--parte-1
Parte 2: http://www.maltanet.com.br/v2/literatura/2020/06/07/o-torturador-que-diz-nao-temer-a-verdade--parte-2   





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segunda-feira, 8 de junho de 2020

O torturador que diz não temer a verdade (Parte 2)

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O torturador que diz não temer a verdade (Parte 2)

por Fernando Soares Campos
Portal Maltanet -- 07/06/2020

Trecho:

Em 2008, a presidenta Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil, falou que se orgulhava de ter mentido sob tortura, quando foi presa no final dos anos 1960, por fazer parte de grupo insurgido contra a ditadura civil-militar. “Me orgulho de ter mentido, o que estava em questão era a minha vida e a de meus companheiros. Aguentar tortura é dificílimo”, disse a ministra.

É preciso coragem para mentir àqueles que estão tentando lhe arrancar informações sob tortura, há que se ter talento para convencer os algozes. Até porque os gorilas, provavelmente, não acreditam nem mesmo quando o torturado está falando a verdade. Evidente, pois devem imaginar que a vítima está apenas querendo se livrar dos suplícios. Coragem ainda porque, se eles acreditarem no que lhes foi dito e em seguida descobrirem que foram enganados, o interrogado certamente será submetido a tratamento ainda mais violento.

Assim como a militante Dilma Rousseff mentiu no momento da apuração dos fatos e formação do processo judicial que viria a condená-la por participar de ações contra o regime ditatorial, eu também, em 1974, menti para os inquisidores de uma auditoria militar, prestei falso testemunho, com o propósito de livrar um amigo que se encontrava preso, enquadrado na Lei de Segurança Nacional, acusado de desacato à autoridade de um oficial da Marinha de Guerra e suspeito de participar de ações contra o modelo político-ideológico vigente.

LEIA COMPLETO: http://www.maltanet.com.br/v2/literatura/2020/06/07/o-torturador-qu...

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A Parte 1 de "O torturador que diz não temer a verdade" pode ser lida aqui: 


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domingo, 31 de maio de 2020

O torturador que diz não temer a verdade (Parte 1)

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O torturador que diz não temer a verdade (Parte 1)


por Fernando Soares Campos

Portal Maltanet, 30 de maio de 2020

Trecho:

No dia seguinte, por volta das três da tarde, o telefone chamou. Atendi. Um sujeito meio rouco perguntou por mim.

– É ele – respondi.
– Seu Fernando, aqui é um amigo do falecido suboficial Damasceno. A viúva dele me falou que o senhor gostaria de falar comigo.
– É o sargento Sousa?
– Tenente Sousa.
– Desculpe, eu me lembrava de você ainda como sargento e esqueci que a dona Marilane me falou que havia se reformado como tenente...
– Não tem problema, eu entendo.
– Tenente Sousa – acentuei a patente com um tom firme, muito apreciado pelos militares –, eu servi com você no Submarino Bahia. Cheguei a bordo em 69 e desembarquei em 71. Eu me lembro que você era o sargenteante, o homem que cuidava de muita coisa, mas principalmente do nosso soldo, acrescentava as horas de mergulho na nossa caderneta e, a partir daí, a gente passava a ganhar um pouco mais. Confere?
– Tem boa memória! Mas eu não me lembro de você. A Marilane me deu seu nome completo. Eu lidava com toda a tripulação, mas você sabe, faz muitos anos, e a gente acaba esquecendo, não dá pra lembrar de todos. Qual era seu posto?
– Eu trabalhava nas máquinas, era marinheiro do serviço de máquinas, sou do tempo do cabo Cleber, do Martins, do Edivan...

Súbito, o tenente Sousa me cortou:

– Peralá! não vá me dizer que você é aquele marinheiro que deu calote numa boate na zona de Santos, no dia da final da Copa de 70!

Eu preferia ser lembrado por alguma coisa mais relevante, ou mais honrosa. Em todo caso, fiquei satisfeito por ter sido lembrado por um feito qualquer, mesmo que nada edificante.

– Você também tem boa memória – com isso, confirmei que era o tal que ele acabara de se lembrar.

O tenente Sousa caiu na risada, gargalhadas dobradas. Tomou fôlego e falou:

– Rapaz, eu já contei essa história pros meus netos – continuava rindo, agora mais moderado –. Você estava na boate, os colegas iam chegando, você convidava pra mesa, mandava servir os drinques. Depois foi dançar com uma das garotas e sumiu – os risos novamente passaram a gargalhadas –. Na hora da dolorosa, o pessoal falou pro garçom: “Nós não temos nada com isso! Foi o marinheiro quem pediu as bebidas, aquele que estava com a loirinha. Cadê ele? Cobre lá dele?!” – e tome gargalhadas.

Eu mesmo contei o final da história. Falei que o garçom acabou me localizando a bordo, queixou-se ao oficial de plantão. Este adiantou o pagamento da conta com dinheiro do caixa de bordo e registrou a queixa no Livro de Contravenções Disciplinares, mais conhecido como Livro de Castigo. E foi ele mesmo, o sargento Sousa, quem me encaminhou para a audiência com o comandante. Fui punido com cinco dias de impedimento, que consiste em não poder ir para terra naquele período. Cumpri dois dias em Santos e três no Rio.

– Mas tem também aquele outro caso que acho que foi com você... – continuou o tenente Sousa.

Pelo visto, ele estava disposto a levantar todas as babaquices que cometi enquanto estive a bordo do Bahia. E não foram poucas. Eu nem perguntei “qual?”, pois poderia suscitar lembranças outras. Preferi dissimular com:

– É, acho que teve outro caso interessante.
– Rapaz! Esse outro caso foi muito engraçado. Foi em Recife. Você levou pra bordo aquelas garotas de um bordel da Rio Branco, apresentou uma delas como sua namorada e as outras como cunhadas, primas, amigas – o filho da mãe explodia de rir.

Só não desliguei o telefone porque precisava de informações sobre o paradeiro do sargento Túlio, e aquele seria, sem dúvida, o mais importante contato para chegar a ele. O cara havia exercido as funções de sargenteante, o homem que lidava com toda a tripulação, conhecia cada um de nós. Unidades maiores têm mais de um sargenteante, mas, num submarino, um só dá conta do serviço.

Continuou com as gozações:

– Dali em diante todo mundo tirava sarro contigo: “E aí, marujo, como é que tá a família da noiva?” “Boy, ontem à noite estive lá na casa da tua sogra” – a sogra era a cafetina... gargalhadas enchendo meu saco.

Foi naquele momento que tive a certeza da existência de Deus! Sim, Deus existe, sim! Quem mais poderia me fazer lembrar de uma passagem muito engraçada na Ilha da Martinica?

“Só pode ter sido um anjo que me soprou essa!”

– Sargento...
– Tenente.
– Ah! desculpe, esqueci. Tenente, você também conta pros seus netos aquele caso do sargento que, na Martinica, pegou uma garota no escurinho, em cima de uma ponte, encostou a vítima na balaustrada, transaram, e, quando ela foi embora, ele saiu assoviando, feliz, pelas ruas de Fort-de-France, sem entender nem ligar pra todos que olhavam pra ele e sorriam ou faziam gestos estranhos?

Silêncio. Pensei que a linha tivesse caído, até que o Sousa tossiu, falou alguma coisa para alguém bem próximo dele, pareceu cochichar. Apesar de eu não ter entendido o que falou, me pareceu que não tinha nada a ver com o que conversávamos.

– Desculpe aí, meu caro Fernando... É Fernando, não é?
– Sim.
– Ah! você se lembra daquele caso na Martinica? Pois é, rapaz, nem eu mesmo me lembrava daquilo – interrompeu e novamente falou alguma coisa com alguém e retomou a nossa conversa informando:
– É o meu filho que está com um problema no carro... Mas, sim, a Marilane me passou o seu telefone, mas não soube dizer o que você está querendo falar comigo.

Claro que o tenente Sousa não estava mais interessado em minhas trapalhadas nos portos. Menos ainda em falar do sargento Sousa, que transou com uma garota no escuro, apenas com o zíper aberto, sem nem mesmo arriar um pouco as calças, e somente quando chegava a bordo notou a mancha de sangue na barguilha daquela calça de uniforme branquinho. A garota estava “naqueles dias”. Até Chiquita Bacana deve ter rido dele naquela noite, distraído pelas ruas da capital da colônia francesa.

Não voltaria a curtir com a minha cara.

– Estou tentando encontrar um sargento do nosso tempo no submarino.
– Sargento é mais fácil de lembrar, pois eu também era sargento. Quem você tá procurando?
– É o sargento Túlio. Acho que ele era telegrafista.

Ficou mudo. Mais alguns segundos e o telefone deu sinal de ligação encerrada.

“O filho da mãe desligou!”

Se a ligação tivesse caído por problemas na linha, o sinal teria sido imediato, mas aquele silêncio que precedeu o sinal de encerramento da conexão indicava que ele pensou um pouco antes de desligar. “Assustou-se?”

Por que achei que ele se assustou? Porque o sargento Túlio era um conhecido agente do Cenimar. Todos a bordo sabiam disso. E, se ele se assustou por isso, então, no meu entender, deu bandeira. Talvez o sargento, agora tenente, Sousa tivesse sido seu parceiro, um dos poucos “secretas” (como eram conhecidos os olheiros) do Cenimar que conseguiam esconder a identidade. Sim, porque a maior parte dos alcaguetas plantados a bordo depois do golpe de 64, vigiando cada gesto e palavra do pessoal subalterno, fazia questão de exibir seus estreitos relacionamentos com o oficialato. Só faltavam vestir camisetas com a inscrição: “Agente Somos do Cenimar”.

Talvez ele apenas não quisesse se envolver falando desse tipo de elemento, principalmente naquele momento, quando a questão dos crimes cometidos nos porões da ditadura estavam sendo questionados, e os torturadores ligaram as antenas, ficaram apreensivos. Mas foi aí que tive certeza de que o sargento Túlio estava vivo. E o tenente Sousa sabia de seu paradeiro. Tudo indicava que este tem algum relacionamento com aquele.

Fui à cozinha tomar um pouco d’água. Voltei para a sala, sentei-me à mesa, onde dispunha de papel e esferográfica. Rascunhei os quatro primeiros parágrafos destes relatos. Fiquei por algum tempo pensando na atitude do tenente Sousa. Estava convicto de que ele bateu o telefone na minha cara. Não foi a linha que caiu.

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quarta-feira, 11 de março de 2020

Amar é...

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"Amar não é aceitar tudo.
Aliás, onde tudo é aceito,
desconfio que há falta de amor."  
Vladimir Maiakóvski  

Amar é...
por Fernando Soares Campos
Portal Maltanet -- 10/03/2020
 
Trecho:
 
Geralmente as pessoas se casam criando um conjunto de expectativas ideais em relação ao parceiro e acabam se frustrando. Certamente a expectativa de que os dois se tornarão um só, ou mesmo acreditar no mito da alma gêmea, atrapalha, frustra aquele que assim pensa e não é capaz de refazer seus conceitos na medida em que se desenrola a união conjugal.

Falamos frequentemente que certos casais já não se amam, apenas se respeitam, se toleram, como se respeito e tolerância não fossem expressões de amor amadurecido. O problema é que, talvez inconscientemente, às vezes imprimimos ao termo "tolerar" a conotação de certa penalidade imposta a quem se resigna diante do erro alheio, apesar de tanto condenarmos a intolerância às opções, atitudes ou condições dos outros.   
 
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terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Lúcifer está morto

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Lúcifer está morto


por Fernando Soares Campos

Portal Maltanet - Literatura - 19/01/2020

Trecho:

Em meados dos anos 1990 (infelizmente não lembro precisamente mês e ano), fui convidado a participar da composição de uma mesa de debate no Seminário Arquidiocesano São José, localizado no bairro do Rio Comprido, no Rio de Janeiro. O tema se reportava aos diversos conceitos de céu e inferno, conforme as orientações de religiões diversas. A plateia era composta de seminaristas, leigos católicos e convidados especiais. Os integrantes da mesa deveriam se posicionar como representantes de credos religiosos ou simplesmente praticantes de tal ou qual doutrina religiosa. Também participou um notável professor da próppria instituição católica, o qual se declarava ateu.
Estavam ali representantes do Candomblé, do Evangelismo Protestante, da Igreja Católica (evangelismo católico), do Ateísmo e eu, estudante da Doutrina Espírita. E na condição de mediador, um seminarista, destacado líder estudantil do Seminário Arquidiocesano São José.
Representando a Igreja Católica, ninguém menos que Dom Estêvão Bettencourt (1919 ─ 2008), teólogo, professor do Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro.
O evento representava, simbolicamente, a última aula do curso de Teologia para a turma de seminaristas que se graduavam naquele ano.
Ao ser convidado para participar do evento, imaginei que, no mundo "avançado" em que nos encontrávamos, alunos de cursos de Teologia já haveriam de ter tido acesso a todas as visões de céu e inferno pregadas por todas as doutrinas religiosas do mundo. Principalmente pelas mais ativas em território nacional. Engano.
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