quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Editor da FSP dá uma de Tavares: "Sou! Mas... quem não é?"

Raul Longo recebeu mensagem de sua amiga Guidinha, que lhe enviou artiguete assinado por Sérgio Malbergier, editor do caderno Dinheiro, da Folha de S. Paulo, no qual o colaboracionista do time FSP (PIG-SP), empregando linguagem pseudomoralista, tenta construir uma imagem do presidente contrária à do título de sua escrevinhação: "Lula gigante". Porém até o mais desatento leitor identifica seu mal dissimulado sarcasmo.

Não vale a pena reproduzir as malícias mal-acabadas do Malbergier metido a malandro, mas destacamos aqui as suas conclusões. O sujeito encerra o texto atacando os brasileiros em geral, sem meias palavras ou exceção:

E, para completar, há ainda o filme "Lula, o filho do Brasil", sendo finalizado pelo clã dos Barreto (o PMDB do cinema nacional). Quem já viu trechos diz que é de chorar e arrepiar. O blockbuster certamente elevará a lulamania a patamares nunca antes vistos neste país desde Getúlio Vargas.

A trajetória de Lula é de fato heróica e lacrimejante. Mas, como o ditador gaúcho que tanto bem (e mal) fez ao país, seu apoio explícito ao banditismo político brasileiro manchará seu enorme legado.

Filho do Brasil, não poderia ser diferente
.


“Filho do Brasil”, aí no fechamento, não tem nada a ver com o título do filme, o sujeito quis dizer apenas “brasileiro”, “sendo brasileiro”, “por ser brasileiro”, “na condição de brasileiro”. Basta observar a vírgula.

Malbergier é brasileiro? Estará ele falando sob auto-análise? Por que generaliza? Olhos nos olhos diante do espelho? Atenta observação a tudo que se passa ao seu redor? O que leva um indivíduo a acreditar que toda uma nação é formada por elementos que dão apoio explícito ao “banditismo político”? Por que Malbergier usou o verbo “manchar” no futuro do presente? “Manchará”?! Aparente advertência ao presidente, no entanto isso não passa de mera sutileza; pois, para o escrevinhador, Lula não passa de um corrompido político que empenhou “apoio explícito ao banditismo político brasileiro”.

Só se pode deduzir que o cara cometeu ato falho, revelando ser adepto da filosofia do Tavares, personagem de Chico Anysio, casado com a feiosa, porém rica, Biscoito. O malandro encerrava o quadro no programa com o bordão: "Sou! Mas... quem não é?"

Mas nós contamos com um perspicaz periodista participante das páginas da PressAA, Raul Longo. Leia a resposta do Raul à sua correspondente.

É imperdível!

Fernando Soares Campos

Editor-Assaz-Atroz-Chefe

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Raul Longo

Guidinha:

Eu vou bem, e aguardando nova visita sua. E os meninos, como vão?

Também vou me divertindo, com as que coisas que me enviam vez por outra, como essa matéria que você me manda desse editor da Folha de São Paulo.

Adoro ler esse tipo de coisa! Trabalhei na Folha de São Paulo por pouco tempo, mas a freqüentei bastante em função dos amigos que trabalhavam na redação, e por colaborar com o Maurício de Souza quando a Abril começou a publicar suas revistas. Eu já colaborava com as publicações infantis da Abril, e fui convidado a desenvolver roteiros de HQ para os personagens do Maurício que, na época, tinha o estúdio montado no último andar do prédio da Folha, na Barão de Limeira.

Por essa época, todos sabíamos do envolvimento do Frias com a ditadura, mas sabíamos também que toda a grande imprensa se tornara grande pela mão suja de sangue dos milicanalhas. A TV Globo era apenas uma pequena emissora carioca e do dia pra noite se tornou isso que é hoje. A Abril, no ano em que nasci, se iniciou em uma garagem da casa do Civita. Cresceu e ocupou alguns andares de um pequeno prédio na João Adolfo, no Centro de São Paulo. De repente virou o maior parque gráfico do continente. Os Mesquitas, do O Estado de São Paulo, já eram ricos e pernósticos. Tinham rádio, hotel e o jornal, antigo. Desde que me lembre era na Major Quedinho. Prédio próprio, grande. Durante a ditadura construíram outro maior na Marginal, e o prédio da Major Quedinho abrigou o Diário Popular, que por um tempo foi o segundo jornal em circulação na cidade.

O Otávio Frias ganhava mais dinheiro com a antiga rodoviária de São Paulo, de sua propriedade, do que com o jornal. Até que teve participação ativa na repressão aos opositores do regime criminoso. Entregou os veículos de sua frota de carros de entrega para o que foi chamado de Operação Oban. O cara estava em casa, aparecia um carro de entrega de jornais e ele imaginava que estariam procurando alguma banca de jornal ou trazendo alguma informação urgente. Quando abria a porta para alguém vestido de entregador da Folha, não era entregador. Era polícia.
Aí, enquanto uns ficavam revistando a casa do sujeito, outros o enfiavam dentro do furgão e a vizinhança não se apercebia de nada. As vezes eram levados para o DOPS, outras vezes para lugar algum, pois muitos dos aprendidos na Operação Oban desapareceram. Só quando alguns dos aprisionados nos quartéis começaram a ser resgatados, em troca de diplomatas seqüestrados, a participação do grupo Folha de São Paulo veio a público. Não é à toa que hoje a Folha se refere à ditadura como "ditabranda"

Mas naquela época, enquanto a Folha da Tarde, a outra publicação da empresa, estampava na capa fotos de vítimas do regime que sabiam já assassinadas pela repressão, apontando-as como procurados por subversão, a Folha de São Paulo era considerado um jornal mais à esquerda. Chegou a ser editada por Cláudio Abramo, um mestre do jornalismo e socialista. Mais tarde Abramo também foi preso.

Nessa época eu já não morava em São Paulo e anos mais tarde soube que assumiu a editoria da Folha o Boris Casoy, um sujeito pernóstico e extremamente formal, de quem todos tínhamos aversão, pois anos antes integrara o CCC - Comando de Caça aos Comunistas -, grupo terrorista de direita que invadiu o teatro Oficina e atacou os atores da peça Roda Vida, do Chico Buarque, entre outras ações violentas, inclusive a morte de um estudante secundarista na Rua Maria Antônia.

Durante uma passagem por São Paulo, encontro o Lizoel Costa, que então integrava o grupo Língua de Trapo e me contou da morte do Touchê, um jovem poeta muito querido e conhecido entre os boêmios de São Paulo dos anos 80. Touchê trabalhava na Folha e a secretária do Otavinho Frias (já no lugar do pai) se enamorou por ele. Acontece que a secretária era amante do Otavinho e o Casoy tornou a vida do Touchê um inferno. Ele ia aguentando. Era romântico e não desistia da moça, era pobre e não podia desistir do emprego, embora confessasse aos amigos que estava doido para ser demitido e poder pegar a indenização.

Não o demitiam, mas o Boris Casoy o atormentou até o dia em que encontraram o Touchê morto no apartamento onde morava sozinho e asmático. A causa da morte foi uma crise de asma após um dia infernal no trabalho, conforme relataram seus colegas da redação.

Então é por toda essa história e algumas outras mais, que adorei ler o desespero desses calhordas nesta matéria. Adoro quando recebo notícias como essa. Dados divulgados pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC) apontam queda média de 4,8% dos títulos filiados no primeiro semestre, em comparação a circulação média destes mesmos títulos nos seis primeiros meses de 2008. Segundo o IVC, a circulação média diária total dos jornais filiados nos primeiros seis meses de 2009 foi de 4.231.165 exemplares. Em 2009, foi de 4.394.047 exemplares. No dia 3 de agosto, M&M Online já havia adiantado que a circulação dos 20 maiores jornais diários brasileiros caiu 6% no primeiros semestre. Além disso, o faturamento publicitário dos jornais também está em queda. Segundo Projeto Inter-Meios, houve retração de 9,48% no período de janeiro a maio de 2009, na comparação com os cinco primeiros meses de 2008. Meio & Mensagem – 18/08/2009.

Pra quem sonhou em ser jornalista desde menino, no tempo em que a atividade era uma profissão...

Pra quem ingressou no jornalismo no início da obrigatoriedade do curso universitário ao qual foi barrado pela repressão e, apesar de desiludido por perceber que a profissão pela qual tanto sonhara estava se tornando um negócio mafioso e mancomunado com os milicanalhas do poder, continuou acreditando que ainda viria o tempo em que a informação poderia auxiliar na formação de uma sociedade melhor...

Para quem depois de 30 anos de tentativa de fazer jornalismo sério pelo que então se chamou de imprensa alternativa, ou nanica e marginal, como nos menosprezavam os pseudojornalistas da imprensa-empresa...

Para quem teve de reconhecer que acabara-se o jornalismo no país, substituído pela chamada "pena de aluguel" e os pistoleiros da palavra...

Para quem mesmo já tendo desistido da profissão, ainda se envergonhou por ela quando a transformaram em partido político para a montagem do escândalo do mensalão, o que hoje é conhecido como PIG - Partido da Imprensa Golpista...

Pra quem, como eu, é muito bom ver o desespero desses calhordas neste texto que você envia. Me dá um alívio muito grande saber que, não só o negócio da enganação de leitores através da atividade jornalística, vai mal financeiramente, como também vai mal politicamente.

O estertor, mesmo que de um animal, mesmo que de uma mosca, uma barata, sempre é trágico. Ninguém pisa numa barata e fica assistindo o inseto estrebuchar.

Até o sofrimento de uma barata nos penaliza e compulsivamente abreviamos a morte numa segunda chinelada, não é verdade?

Mas esse texto de estertor do editor da Folha de São Paulo é muito engraçado. Por um momento cheguei a pensar haver algo de errado comigo, em achar graça de algo tão trágico como o explícito estertor desse editor da Folha. Mas percebo que a diversão que esse texto me proporciona não é por mim nem pela história do mal que ele representa. Não é por nenhum sentimento de vingança.

É engraçado, porque até na hora da morte eles conseguem ser ridículos. Impressionantemente ridículos!

Cotidianamente, todos os 365 dias de cada ano, sejam quantos forem antes de eleições, eles fazem a mais nítida e evidente campanha eleitoral dos candidatos que protegem seus interesses. Mas quando o presidente que os derrotou politicamente nas duas últimas eleições anuncia o mais importante e promissor evento ocorrido no país nos últimos 4 séculos, acusam esse anúncio de manobra eleitoreira. Eles, que construíram o escândalo do mensalão! Eles, que publicaram montagens fotográficas, transformando em motoqueiro quem jamais pilotou uma moto! Eles, que montaram uma ficha policial que foi provada como falsa! Eles, que criaram um encontro de uma secretária de alta escalão que não consegue lembrar data e hora do compromisso que ela mesma acusa como sumamente importante e comprometedor! Uma secretária sem memória nem agenda!

Tudo isso seria abjeto! Seria revoltante! Seria nojento em uma barata esmagada! Mas nesse caso é tão ridículo que se torna muito engraçado. Muito divertido. E me divirto com muito gosto.

Tento raciocinar que algo tamanhamente ridículo também não deixa de ser trágico, mas não consigo parar de sentir que ao contrário da morte das baratas, esse estertor é engraçado. É muito engraçado o jeito ridículo de morrer desses caras. Morrem com tamanha falta de um mínimo de dignidade, que dá vontade de rir.

Não... Não me sinto vingado. Não é isso o que estou sentindo.

Se fosse para me vingar, escreveria agora um texto sobre esse do "Lula gigante" da Folha, com o título: "O jornal anão"

Seria um desrespeito, imerecido, aos anões. Pigmeu também, afinal é uma etnia valorosa da querida mãe-África.

Já sei! O título seria: "O efeito Rodox", lembrando aquela baratinha do comercial reconhecendo que Rodox mata. Na época tiveram que tirar o comercial do ar, porque o consumidor acabou ficando com pena da barata.

Incrivelmente a Folha não faz pena alguma, mas que é muito engraçada, é.

No entanto, não vou escrever nada... Não quero me vingar. Não sinto necessidade de me vingar. Mas agradeço muito você ter me enviado esse texto da Folha de São Paulo, pois, confesso, ele me faz sentir bastante aliviado.

Agora só falta você aparecer, para me aliviar a saudade.

Beijo grande!


Raul Longo
pousopoesia@ig.com.br
pousopoesia@gmail.com
www.sambaqui.com.br/pousodapoesia
Ponta do Sambaqui, 2886
88.051-001 - Floripa/SC


Raul Longo é jornalista, escritor, pousadeiro e colabora com a nossa Agência Assaz Atroz.

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PressAA
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2 comentários:

Unknown disse...

Raul Longo!, o camará nervoso e indignado que conheci dobrando as esquinas do velho Bixiga e outras paragens desta metrópole ensandecida e costurada de carne e emoções humanas misturadas ao óleo e fumaça e grana e sexo e dor e miséria e claro alegria diversão comida e tudo quanto a força da grana possa comprar, sim, aqui, onde brotam "histórias de homens e deuses na terra da magia", conforme palavras tuas escritas na face de um livro ainda ontem, 1980.
Alegria, Raul de "rever-te" por estas vias internéticas, atuante, corrosivo e nervoso como aquele Raul que conheci, beleza, mano, beleza M E S M O ! E fico ainda mais contente, pois que te falo, outro dia, frequentador de uns saraus que estão rolando aqui em São Paulo, li um dos precursores deste movimento, lembra-te?, o Lindolf Bell, esperava mandar-lhe uma abraço, estava certo disso, nem me passou pela cabeça, não sabia, Lindolf está morto. Bem Raul, estou por aqui, pinto quadros, na minha página no orkut tens umas fotos, uns versos no shidon.zip.net, myspace, twitter pra brincar de celebridade -olha lá, tenho 49 seguidores!-, email shidon2@hotmail.com, uma grande abraço, Raul!

Raul Longo disse...

Shidon:

É mesmo como você bem disse:
Não sei se vim por vontade própria ou forçado
Não importa como chegamos! Estamos aqui e a guerra é o aqui, não é a origem. A origem é a história e a história são os tambores que compassam o ritmo de nossa guerra, mas a guerra é o aqui. A guerra é agora!
Como foi ontem lá no Bixiga, foi no mangue do Rio de Janeiro, foi no Pelourinho da Bahia e nos Coelhos, Pina, à margens do Capibaribe. A guerra das ladeiras de São Luís, dos puteiros de Campo Grande, dos cadiwéus e caiuás, paiaguás e guaicurus.
A guerra dos Filhos de Olorum. A guerra da terra da magia onde chegamos e pouco importa se trazidos forçados ou por vontade própria. Não interessa se de Itália ou Angola, das Arábias ou Portugal. Como diz no canto: "Ei nóis que viemo de outras terra pra guerrear!"
Meu saudoso Mestre, Darcy Ribeiro, muito dizia: "não estou aqui a passeio, vim à trabalho!". Pois viemos é pra guerrear.
Pois se você me recorda nervoso e indignado nas esquinas do Bixiga, te reconheço tocador de tambores nos teus versos. Reconheço teu toque de Cavalaria, teu sestro de Mestre Bimba, o maior pedagogo do Brasil, ali junto com Paulo Freire.
É isso mesmo Shidon! Fico feliz por poder ouvir os seus tambores contando de nossas origens, contando de nossa história para compassar na medida o ritmo dessa nossa guerra que agora se estende pelos campos virtuais. A roda é virtual, mas a guerra é real e capoeira, ainda, mata um.
Bom te reencontrar no meio da luta, no repasse do passo da cocorinha sempre elegante desse Mestre Fernando Soares. E vá seguindo o Assaz Atroz, Shidon, porque Mestre Fernando produz uma série que faço sob o título Desmitificando Lula e, no próximo, que ainda não escrevi, vou buscar e trazer nossa mãe África pra umas conversa de pé de orelha com essa brancaiada que se faz de malê entendida.
Axé!