quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Fernando Morais, em entrevista a Zé Dirceu, fala sobre o caso dos cinco cubanos presos nos EUA

Fernando Morais, jornalista e escritor, autor de “A Ilha”, “Chatô, o Rei do Brasil”, “Olga”, entre outros grandes sucessos editoriais, concedeu longa entrevista a Zé Dirceu, na qual revela seus métodos e técnicas de pesquisa, trata de suas relações com editores, fala de seus personagens, de sua breve carreira política e da participação em campanhas eleitorais.

Consagrado biógrafo e repórter literário, o último trabalho de Fernando Morais, livro intitulado “O Mago”, relata episódios da vida de Paulo Coelho e se destaca entre os mais vendidos em diversos países. Atualmente ele escreve sobre o caso dos cinco cubanos presos nos Estados Unidos, acusados de espionagem e terrorismo contra o governo norte-americano.

Recomendamos a leitura completa da entrevista, mas reproduzimos aqui na nossa Agência Assaz Atroz apenas o trecho em que o entrevistado comenta a questão dos cinco heróis cubanos acusados injustamente de atuar como terroristas. Fernando Morais aborda, de maneira resumida, porém bastante esclarecedora, a sucessão de acontecimentos que têm como desfecho uma das mais cruéis injustiças cometidas pelas cortes judiciárias dos Estados Unidos, comparável à condenação dos imigrantes italianos Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, executados na cadeira elétrica em 23 de agosto de 1927.

Fernando Soares Campos
Editor-Assaz-Atroz-Chefe

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Cinco cubanos e a luta contra o terrorismo de Miami





[Zé Dirceu] Conte um pouco para os leitores do blog, sobre seu livro atual, a respeito dos cubanos.

[Fernando Morais] O livro está indo bem. É uma história incrível porque são 15 caras que Cuba infiltra em organizações de extrema direita na Flórida, para combater o terrorismo partido dali contra a Ilha. Eles se apresentam nos EUA como desertores, traidores da revolução cubana e cada um foi de uma maneira.

René González, por exemplo, roubou um avião em Cuba e pousou dentro da base aérea naval mais bem armada dos EUA. E, pior, com o tanque seco. Foi um negócio heróico. Ele teve que voar baixo para os radares de Cuba não o pegarem e ainda em zigue-zague porque a gasolina acabou. No momento em que viu as luzinhas de Key West, nos EUA, o tanque já estava seco, seco, seco. Ele entrou no rádio 14 da Marinha, da base aéreo naval e disse “sou desertor cubano, chamo-me René González e preciso pousar”. O cara respondeu, “na pista tal”. Ele desceu, foi recebido como herói e começou a trabalhar. Lá foi cooptado por uma organização de extrema direita [contra os cubanos] e logo depois, cooptado pelo FBI para passar informações desta organização de extrema direita para eles.

Então, ele começa a fazer o jogo de dupla infiltração. Como ele, foram mais 14 cubanos e um não sabia do outro, apenas um que controlava todos sabia dos demais. Cada um foi de uma forma, quase todos como traidores da revolução, e houve os que saíram dentro da cota dos 20 mil vistos concedidos por ano. Os cubanos chegaram nos EUA no começo dos anos 90, quando acabou a URSS, e Cuba entrou no chamado período especial de dificuldades muitos grandes.

Nessa fase, o país salvou sua economia através do turismo. Vendo isso, os americanos começaram a fazer atentados em Cuba, exatamente na área turística. Colocaram bomba em avião, em hotel de luxo para espantar os turistas. Você vai para o Iêmen passar férias? Não vai, tem medo. O Egito durante muito tempo passou por isso. Então, os americanos queriam quebrar a indústria do turismo de Cuba com o terrorismo, e Cuba não tinha como combater esses caras, porque eles moravam nos EUA, na Flórida e a polícia e o governo ou os apoiava ou fechava os olhos. Por isso, mandaram 15 caras para lá.

O primeiro foi em 1990 e até 1998, foram oito anos de trabalho, [infiltrados em organizações de extrema direita]. Eles mandavam informações para Cuba. Por exemplo, “fulano de tal vai entrar dia tal vindo de El Salvador com uma televisão portátil debaixo do braço dizendo que está levando de presente para uma tia”. Os cubanos abriam a televisão e achavam 4 kg de explosivo lá dentro, de centex, de explosivo líquido e plástico.

Até que na madrugada de setembro de 1998, o FBI e a Swat invadiram 15 casas na mesma hora, numa operação na Flórida. Cinco fugiram antes deles chegarem, um na véspera da cana... ficaram dez. Desses, 5 fizeram acordo de delação premiada com o governo americano. Neste período já tinham informações e dedaram os outros cinco em troca de serem libertados com identidade falsa e com bolsa do governo. Até hoje, eles estão nos Estados Unidos em lugares diferentes, com nomes diferentes. Os cinco presos [Gerardo Hernández, Ramon Labañino, Antonio Guerrero, Fernando e René González] foram condenados a penas de 20 anos e a duas perpétuas. Essa é a história.

[Zé Dirceu] Então, o FBI estava vigiando a atividade deles antes?

[Fernando Morais] Eles estavam vigiando os caras há dois anos. Já tinha escutas dentro das casas. Um morava num apartamento e o FBI alugou outro apartamento exatamente na frente para fotografar e ver a hora em que saia. Eles iam lá, abriam, tiravam o disco rígido do computador, copiavam e o recolocavam. Pegaram mais de 20 mil mensagens enviadas pelos cubanos, e o julgamento foi um negócio absurdo. Não há nenhuma prova, no meio dessa documentação toda, de que eles tenham espionado os EUA [o objetivo era obter informações das organizações de extrema direita que faziam terrorismo em Cuba]. Nunca pegaram nenhum documento norte-americano, nunca tiveram acesso a nenhuma informação sigilosa ou secreta, e quem diz isso foram três almirantes e um general americano ligados à Agência Nacional de Segurança. Depoimento do júri, homologado pelos advogados com testemunha de defesa dos cinco, e tudo.

Um camarada, inclusive, tinha o emprego de encanador numa base aérea americana, e o general que comandava essa base disse que ele nunca chegou por perto dos prédios que tinham informações que pudessem ser consideradas de segurança nacional. Outro cara tinha sido comandante de uma coluna de tanques em Angola e entrou nos EUA para ser professor de salsa.

Leia a entrevista completa no blog do Zé Dirceu

http://www.zedirceu.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=7107&Itemid=61

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PressAA

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