domingo, 11 de março de 2012

O LEITE DO MEU FILHO

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Supunhetemos, com todo o respeito, que o prefeito de Manaus, Amazonino Mendes (PTB-vixe,vixe), solte um pum, depois de ingerir duas cuias de tacacá apimentado. Sei que parece inusitado, mas foi isso mesmo que você ouviu: um pum! É. É isso mesmo! Acontece. Com as melhores famílias. Comigo, contigo, leitor (a), e até com o papa e com a rainha da Inglaterra, embora os dois últimos não sejam chegados a um tacacá. Por que, então, não haveria de ocorrer com o prefeito que se amarra num tucupi?

A ventosidade, às vezes, escapole-bate-fica, sem a gente querer. No caso, se ela for soprada diante do Diretor de Projetos da Prefeitura de Manaus, o zeloso funcionário, que tem cargo em comissão e função gratificada, criará imediatamente o Projeto Meu Pum. É que tudo nessa administração municipal vira projeto.

Eles acham que projeto é uma palavra mágica que enobrece qualquer atividade, até um reles pum do prefeito, conferindo-lhe uma aura sagrada. É claro que, em vez do nome vulgar, escolheriam um título mais pomposo, com mais mídia, tipo Projeto Meu Flato, Minha Vida, achando que assim a realidade fica mais colorida e menos fedorenta.

Longe de mim querer minimizar aquilo que Amazonino faz numa rodada de dominó depois de duas cuias de tacacá. Mas, francamente, será que justifica criar um projeto para isso? Essa é uma mania, uma marca da administração do Amazonino, desde a época em que ele, prefeito biônico de Manaus (1983-1985) nomeado por Gilberto Mestrinho, criou o Projeto Meu filho para distribuir cadernos e lápis às crianças nas escolas.

Foi quando proliferaram projetos com nomes espalhafatosos. Escrevi até uma coluna, em maio de 1985, intitulada Projeto 'Projeto Projeto', detalhando um projeto que consistia em transformar todas as atividades municipais - as mais banais possíveis - em projetos. Ai surgiram o Projeto Mãe Amiga, o Projeto Pai Herói, o Projeto Maninho, o Projeto Sogrinha do Meu Coração e por aí vai.

No entanto, não se trata apenas de uma mania, de uma excentricidade. Acontece que se o pum do prefeito permanecer apenas como um flato ocasional, não será subvencionado. Mas se for transformado em projeto, ele terá verbas previstas no orçamento para tal atividade e até mesmo poderá pedir financiamento internacional de outros países. Então, detrás do Projeto Meu Flato, Minha Vida, tem muita grana.

Foi o que aconteceu agora com o Projeto Leite do Meu Filho, na atual administração municipal. Esse filho que hoje recebe o leite deve ser filho daquele Meu Filho que recebia caderno, lápis e borracha trinta anos atrás. Segundo matéria publicada no Diário do Amazonas, a Prefeitura de Manaus destinou R$23 milhões só para a execução do Leite do Meu Filho.

Desconfiado, com razão, considerando o currículo do Amazonino - um senhor currículo - o Ministério Público do Estado (MP-AM) abriu dois procedimentos para investigar a legalidade do Leite do Meu Filho, que foi lançado no final do ano passado. Isso a pedido do Instituto Amazônico da Cidadania (IACI), baseado em denúncia de que a Prefeitura está comprando leite acima do valor pago pelo Estado. A Promotoria de Justiça está querendo saber se o leite das crianças está sendo superfaturado.

Mas a novela não termina aí. O documento assinado pelo presidente do IACI, Hamilton de Oliveira Leão, questiona a Prefeitura que justifica o gasto, alegando que a distribuição do leite em pó faz parte de um programa de aleitamento materno, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) avalia que crianças alimentadas com leite artificial justamente são as que correm o maior risco de contrair infecções. Ou seja, o Projeto Leite do Meu Filho pode estar sendo prejudicial à saúde das crianças, porque o leite em pó não substitui o leite materno.

Além disso, é preciso colocar água no leite em pó do meu filho, mas uma parte da população não tem acesso a ela, o que pode ser resolvido com um sub-projeto intitulado Projeto Lata D'água Na Cabeça. Amazonino fez promessas mirabolantes para se eleger prefeito. Resolveria o problema de falta de água na Zona Leste, criaria mil novas creches em Manaus, colocaria carretas com internet sem fio em todos os bairros da cidade, governaria de um ônibus itinerante e blá-blá-blá, blé-blé-blé. Tudo cascata, como podemos constatar nesse seu final de mandato. Das mil creches, só quatro e olhe lá!

Sem cobrar pela consultoria, sugiro ao prefeito a criação de outros projetos como o Projeto Daqui Não Saio, Daqui Ninguém me Tira destinado a desatar o nó no trânsito caótico da cidade. O Projeto Dessa Água Não Beberei investigaria o desabastecimento de água, agravado depois que Amazonino vendeu a COSAMA e trouxe a Águas do Amazonas, contando para isso com a assessoria do banqueiro desalgemado Daniel Dantas.

O vereador Waldemir José (PT) está propondo a criação do Projeto Mamadeira do Prefeito, que começa com uma CPI para investigar para onde foram os R$750 milhões concedidos a Águas do Amazonas, desde a privatização, em 2000. Vamos aguardar.

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José Ribamar Bessa Freire é professor universitário (UERJ), reside no Rio há mais de 20 anos, assina coluna no Diário do Amazonas, de Manaus, sua terra natal, e mantém o blog Taqui Pra Ti. Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz
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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

PressAA

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