quarta-feira, 14 de março de 2012

Bundalelê em cima da bike

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Kais Ismail*


Em vez de demonstrarem competência administrativa e capacidade de resolver, ou, ao menos, amenizar as questões intrínsecas aos problemas do trânsito, certos burocratas de repartições públicas preferem mostrar por onde sai processado o que comeram. E a isso consideram brilhante atuação.

Acho que consideram frases feitas (os tais slogans que “criam”) a solução para o desordenado trânsito das grandes cidades. E até fazem muita gente delirar com bordões do tipo: “Um trânsito mais humano e democrático”, como ocorreu no último sábado em São Paulo, quando um grupo de “papagaios ciclistas” desfilou em suas bikes de último modelo, pelados, bumbum de fora, num ingênuo protesto contra a falta de empenho das autoridades em incentivar o uso de bicicletas para aliviar o pesado trânsito da capital paulista.

Ver aqui imagens do evento: Sem roupas, ciclistas fazem manifestação em São Paulo

Ciclistas eles são, é óbvio, mas não passam de “representantes” de classes sociais mais bem postas. Não se vê naquele desfile os verdadeiros interessados em humanizar o trânsito: as pessoas que se utilizam de bicicletas para prover suas subsistências; seja usando-as para se dirigirem aos locais de trabalho, ou empregando a “magrela” para fazer entregas; até mesmo usadas pelo policiamento e em outras atividades.

Se esses supostos manifestantes não agissem como papagaios, saberiam que o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) foi elaborado com o propósito de tornar o nosso trânsito mais humano e o mais democrático possível.

O CTB é a única coisa oficial que deveria nos garantir, na prática, todos os direitos e nos cobrar os deveres. Mas ele quase nunca foi respeitado, portanto não passa, até certo ponto, de letra morta da Lei.

Ao não cobrar o cumprimento integral do CTB e repetir feito papagaio “um trânsito mais humano e democrático”, estaríamos apenas dando margem muito extensa para políticos e oportunistas burocratas agirem fora da legalidade com o argumento que estão buscando o legal.

É assim que se criam projetos para construir ciclovias milionárias, e centenas de milhões de reais são queimados sem que o trânsito se torne mais humano e democrático.

Se o CTB fosse uma legislação de conhecimento desses que se prestam a agir como quem quer somente mostrar a bunda, nosso trânsito há muito tempo seria mais humano e democrático. Mas esses não passam de gente alienada.

O cumprimento do CTB e também a implementação do Projeto Bicicleta Brasil, do governo federal, são fáceis de serem interpretados, para que possamos cobrar o exercício de suas determinações. Tanto nas manifestações como no judiciário, se for o caso.

Mas isso não acontece. Nem em manifestações nem através do judiciário.

O Projeto Bicicleta Brasil foi criado em 2004, quando o governo federal assumiu que o número de vítimas decorrentes de acidente de trânsito expunha resultados equivalentes aos de uma verdadeira guerra nos grandes centros urbanos.

Apesar de o projeto conter todo o necessário para um trânsito mais humano e democrático e ser de conhecimento dos organizadores de tais manifestações exibicionistas, ele sequer é citado pelos papagaios. Isso porque quem os adestra não os ensina como se libertarem.

Há muito o CTB vem sendo descumprido, e o Projeto Bicicleta Brasil ainda anda com as rodinhas de apoio em areal. Isso porque, os verdadeiros ciclistas, aqueles que não têm outra opção de transporte, a não ser suas magrelas, não têm tempo e nem voz para chegar aos ouvidos da Justiça. Ainda que sejam aproximadamente 40 milhões de pessoas.

Costumo dizer que ciclista de boutique é aquele que solicita ciclovias sem antes solicitar o cumprimento das leis, do CTB. Porque as leis muito mal funcionam para os veículos pesados: os que possuem motor e queimam combustíveis.

Quem só tem magrela não mora em bairros nobres, os quais são contemplados com ciclovias.

Mas é isso aí, se é só para "aparecer", e se a roupa de boutique não consegue mais chamar a atenção, então, tire a roupa e mostre o bumbum.

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*Kais Ismail: produtor publicitário e empresário do ramo de entrega sobre bicicleta (empresa "fechada pra balanço"), colabora com esta Agência Assaz Atroz.

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Leia também e assista ao vídeo de...





Como os holandeses venceram a ditadura do automóvel

"Um vídeo de enorme importância para o Brasil mostra como é possível mudar mentalidades e sistemas de transporte

Outras Palavras não publica normalmente material em outros idiomas, mas o vídeo acima (em inglês – para legendas em português, clique em “CC”, sob a tela) merece uma exceção. Precisamente no período em que surge no Brasil uma forte mobilização em favor de outro sistema de transportes e mobilidade, ele mostra que esta luta pode ser vitoriosa. Está focado na Holanda, provavelmente o país que melhor superou a locomoção baseada no automóvel individual — substituindo-a por uma vasta rede de trens, bondes e ciclovias."

(Clique no título e leia matéria completa)

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

PressAA

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Um comentário:

Anônimo disse...

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(Comentário recebido por e-mail e inserido pela administração do blog)

Não detectei nenhum(a) mestiço(a) nas fotos, representando a maioria avassaladora de nosso povo. O que se vê são bundas repelentes, de brancosos de direta origem europeia, e umas mamas sem a mínima atração. Manifestação alienante, eis aí, sobre ridícula e ineficaz, reunindo paulistan(o)s muito feia(o)s: cruz-credo!

Abraço do
Arnaldo C.

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