quarta-feira, 11 de julho de 2012

Jovem nua egípcia se refugia na Suécia

.


(Clique na imagem para ver ampliado)

Rui Martins*

 Vocês se lembram da notícia aqui publicada sobre uma jovem egípcia que, em plena primavera árabe no Egito, tirou a roupa e ficou nua em nome da liberdade? « Eu reivindico minha liberdade sexual, o direito de não me casar, meu ateismo. As mulheres devem poder viver sua vida como bem entendem », dizia ela, em seu blog.

Era dezembro, e a primavera árabe, seguindo o calendário, estava virando inverno, pois a revolta juvenil estava mudando de dono.

Os jovens com sua revolta, iniciada na praça Tahir, tinham derrubado Mubárak, mas não eram eles quem iam decidir o futuro. A praça foi pouco a pouco tomada por outros jovens, barbudos, partidários de outro tipo de revolução – queriam o retorno aos princípios religiosos do Profeta e que se voltasse a aplicar como lei, no Egito, a chariá.

Aliaa Magda Elmahdy percebeu que sua foto de protesto nua, publicada no seu blog mas distribuída por todo mundo pela imprensa, ia lhe sair caro.

Mesmo os homens jovens, que com ela protestavam na praça Tahir, não aprovavam seu gesto, mostrando que a intolerância penetra profundo e que a visão machista da mulher não se podia mudar em algumas semanas.

E mesmo as feministas egípcias condenavam o gesto da jovem Aliaa. « Ela nos dá vergonha - disseram.- Não é mostrando o sexo e os seios que vai avançar a causa feminina ». Em síntese, mesmo para os revolucionários e para as feministas Aliaa era uma pessoa incômoda. Não faltava muito para deixarem os islamitas aplicarem a pena devida a esse tipo de comportamente – a morte a pedradas ou lapidação.

Aliaa se eclipsou e se escondeu no apartamento de seu namorado, na periferia do Cairo. Mas mesmo ali, sua maneira livre de ser, vivendo com alguém sem ter se casado como manda o Corão, já começavam a lhe causar problemas.

Felizmente, um grupo de mulheres suecas convidou Aliaa para participar de uma manifestação, em Estocolmo, dentro da Jornada Internacional da Mulher, no mês de março. Era a única chance de escapar de um processo, tão logo algum praticante islamita localizasse a jovem nua das fotos.

E hoje Aliaa – segundo reportagem exclusiva publicada pela revista semanal suíça L´Hebdo – vive numa pequena cidade sueca, mas ainda traumatizada e temendo ser assassinada na própria Suécia, onde vive uma enorme comunidade islamita fundamentalista.

Nesse meio tempo, houve o primeiro turno das eleições presidenciais no Egito pós-primavera árabe. Dois candidatos se qualificaram para o segundo turno – o representante dos Irmãos Muçulmanos que, embora prometa ser moderado, irá instaurar a lei corânica da chariá; e um sobrevivente do regime de Mubárak.

Nas duas hipóteses, a primavera árabe foi usurpada e seus primeiros participantes não terão parte na recontrução do Egito. E o mais provável é o Egito sair do regime laico para se tornar mais uma república teocrática islamita.

As grandes perdedoras serão as mulheres que, entre outras coisas, voltarão a ser propriedade de seus pais e maridos, obrigadas a usar o véu, cobrindo a cabeça e parte do rosto ou, no caso, de ascenção dos fundamentalistas, será a burca, a touca que cobre toda a cabeça, deixando apenas os orifícios para os olhos e a respiração.

O panarabismo, laico e mesmo socialista, está longe. A união dos árabes vem sendo feita pelos religiosos do islamismo integrista que exigem o retorno às regras literais do Corão, um rígido código moral que, repetindo a Idade Média cristã, também enquadra, limita e dita suas leis à ciência.

Tudo começou quando Bush destruiu o Iraque laico, cujo ditador Sadam Hussein servia de muralha ao avanço do islamismo. A queda de outro ditador, Kadafi, na Líbia, rompeu a muralha erguida no Magreb. Duas guerras dignas de aprendizes de feiticeiros que abriram a Caixa de Pandora. Difícil agora de prever o futuro.
_____________________________________

*Rui Martins, jornalista, escrtitor, ex-correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. Autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criou os Brasileirinhos Apátridas e propõe o Estado dos Emigrantes. Vive na Suíça, colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, é colunista do site Direto da Redação. Colabora com o Correio do Brasil e com esta nossa Agência Assaz Atroz.
______________________________________

Leia também...

Cem anos de Luiz Gonzaga


por Roberto Malvezzi, Gogó


Estamos celebrando aqui no Nordeste os cem anos do nascimento de Luiz Gonzaga. Nasceu em 13 de Dezembro de 1912. Além da dimensão artística, é indubitável o papel de sua música na difusão do imaginário sobre o Nordeste, inclusive do ponto de vista ambiental e social.

Fiz com Targino Gondim e Nilton Freitas o CD "Belo Sertão”, numa tentativa de valorizar a importância social da música de Luiz Gonzaga. Fizemos um diálogo de composições como o pout pourri de Asa Branca (Asa Branca, Triste Partida e Volta da Asa Branca), Súplica Cearense, Jesus Sertanejo, Riacho do Navio, etc. Fomos dissecando o que significa cada uma dessas músicas nesse contexto, porque elas existem, qual a razão de tanta celebridade desses clássicos nordestinos. Ao mesmo tempo, na lógica da convivência com o semiárido, compusemos – inclusive com outros compositores - Água de Chuva, Beleza Iluminada, Belo Sertão, Boato Ribeirinho, Estalo de Fogueira e outras.

Curioso como esse trabalho se difundiu no Nordeste muito mais nas escolas, universidades e setores da educação popular que propriamente no mundo do show business. Há inclusive monografias de mestrado estudando o semiárido a partir da música, influenciadas pelo que viram e ouviram no CD.

(Clique no título e leia completo)

Recebido por boletim de Pátria Latina

_____________________________________

Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

_____________________________________

PressAA

.

Nenhum comentário: