quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A História e as farsas: Médici x Allende: Câmara Canto & Eduardo Aguirre & Aristóteles Drummond // Dilma x Evo: Eduardo Saboia & Roger Pinto & Clóvis Rossi --- Nassif: Lá como cá --- Urda: ontem como hoje --- Fátima Bernardes: Encontros com Bonner sem cristalino

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[*] [Fátima BernardesNascida no Rio de Janeiro. Com sete anos começou a cursar balé mas depois optou por cursar jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a fim de ser crítica de dança. Em 1983, começou a trabalhar no jornal O Globo como repórter de um caderno regional. Em fevereiro de 1987 entrou para a Rede Globo de televisão após ser aprovada em um curso de telejornalismo da emissora. Meses depois passou também a apresentar o RJTV. Em maio de 1989 assumiu a apresentação do Jornal da Globo ao lado de Eliakim Araújo e em julho de 1989, passou a dividir a bancada com William Bonner, que viria a se tornar seu marido a partir de 1990. Em 1993, começou a apresentar a revista eletrônica Fantástico ao lado de Celso Freitas e Sandra Annenberg. Em 1 de abril de 1996 assumiu a apresentação e edição do Jornal Hoje, voltando ao Fantástico em 1997, formando dupla com Pedro Bial.

Atualmente faz programa Encontro com Fátima Bernardes
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 Publicado em Sexta, 06 Setembro 2013 
 Escrito por Redação Comunique-se
0-olho bonnerBonner mostrou o olho recém-operado da miopia (Imagem: Reprodução/Instagram)
Usuário assíduo das redes sociais, o jornalista William Bonner usou seu perfil no Instagram nessa sexta-feira, 6, para comunicar aos seus seguidores que voltará ao trabalho na próxima segunda-feira. O apresentador ficará ausente do ‘Jornal Nacional’ por ter se submetido a uma cirurgia no olho esquerdo.

Na legenda de foto publicada na rede social, Bonner explicou como foi a operação realiza nessa quinta-feira, 5. "Troquei meu cristalino com catarata precoce por uma lente intraocular que zerou minha miopia de 6 graus", escreveu. 
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Marinho da Muda

Ninguém Tasca

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Salvador Allende

Publicado em 10/09/2013 por [*] Mário Augusto Jakobskind

O 11 de setembro da América Latina está completando 40 anos. Trata-se de uma data trágica que corresponde ao golpe comandado pelo general Augusto Pinochet que derrubou o Presidente constitucional Salvador Allende. Muito se denunciou sobre a participação dos Estados Unidos comprovada por inúmeros documentos oficiais demonstrando a culpa no cartório do então Secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger.

Nestes dias, documentos da chancelaria do Chile tornados públicos confirmam a participação também do Governo do então ditador de plantão Garrastazu Médici no golpe sangrento. A embaixada brasileira tornou-se inclusive num espaço de apoio aos golpistas. O chefe da representação diplomática, embaixador Câmara Canto, esteve de braços dados com militares que transformaram o Chile numa espécie de sucursal do inferno. Tanto assim que quando se confirmou a vitória dos golpistas, Câmara Canto comemorou com seus asseclas abrindo champagne.

Logo após o golpe, o Governo brasileiro colaborou financeiramente com a ditadura e assim sucessivamente. Mesmo antes do golpe, a ditadura civil militar vigente no Brasil respaldava os chilenos de extrema direita. Documentos tornados públicos no Chile comprovam a participação de brasileiros em apoio a grupos extremistas de direita como o Patria y Libertad.

Matéria do jornal O Estado de S. Paulo informa que em julho de 1973, o Brasil concedeu asilo político a Eduardo Roberto Keymer Aguirre, identificado como integrante do Patria y Libertad. A concessão ocorreu quatro dias depois que os extremistas assassinaram um ajudante de ordens de Allende, o capitão Arturo Araya Peeters.

René Dreifuss
Os vínculos da extrema direita chilena com extremistas brasileiros não se resumiram a este fato. Anos atrás, o cientista político René Dreifuss em seu livro “A Internacional capitalista” revelou que o jornalista Aristóteles Drummond, uma figura nefasta vinculada até hoje a antigos golpistas da pior espécie, fornecia armas para os extremistas do Patria y Libertad

Há tempos este espaço democrático divulgou a informação veiculada no importante trabalho de pesquisa de René Dreifuss sobre o extremista brasileiro acusado inclusive de responsável pela explosão de uma bomba numa exposição soviética no Rio de Janeiro.

Pois bem, na reportagem do Estadão sobre os documentos divulgados nestes dias no Chile aparece novamente o nome de Aristóteles Drumond como um dos brasileiros que teria transportado recursos para os chilenos que preparavam o golpe contra Salvador Allende.

Aristóteles Drummond
Questionado pelo jornal paulista, Aristóteles Drummond preferiu não assumir diretamente a ajuda fornecida, mas a sua resposta é um reconhecimento da ajuda. Analisem bem o que disse este senhor que todo ano aparece no Clube Militar para comemorar o golpe que levou o Brasil a ingressar numa noite escura de 21 anos. 

Eu não levei, mas teria levado. Tenho o sentimento de que os brasileiros amigos do Chile tenham (enviado dinheiro). Sou de classe média, mas, se corresse uma lista aqui para dar US$ 500 (a grupos anti-Allende), eu daria do meu bolso. Acho que o general Pinochet foi decisivo para evitar a criação de uma sucursal de Cuba no Pacífico. Pinochet salvou o Chile, assim como os militares salvaram o Brasil. 

Aristóteles Drummond, que chegou a ocupar um cargo de confiança no governo Negrão de Lima na área de habitação, não foi perguntado pelo Estadão sobre a denúncia de René Dreifuss do fornecimento de armas ao gupo Patria y Libertad, mas se em algum momento for perguntado sobre o tema, provavelmente não confirmará integralmente a ação, mas o teor da reposta será nos moldes da que deu ao Estadão.

Tais fatos são importantes de serem conhecidos pela opinião pública e ajudarão também à Comissão da Verdade a concluir seu relatório sobre os trágicos acontecimentos ocorridos no Brasil depois do golpe de estado que derrubou o Presidente constitucional João Goulart.

O caso de Aristóteles Drumond é bastante emblemático e não será nenhuma surpresa se outros documentos a serem tornados públicos apontarem a participação de outros brasileiros que seguiram impunes ao longo do tempo. É também uma demonstração concreta segundo a qual o golpe no Brasil não foi apenas de conotação militar, mas civil também

Por estas e muitas outras não bastam apenas autocríticas de estilo marqueteiro, como fez recentemente O Globo, sobre o golpe de 64. No caso das Organizações Globo, que ao longo dos anos se transformaram numa espécie de diário oficial dos detentores de fato do poder, teria que acontecer um reconhecimento que além do “erro editorial” do apoio ao golpe, o grupo midiático então comandado por Roberto Marinho, como diria Leonel Brizola, engordou na estufa da ditadura.
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[*] Mário Augusto Jakobskind é correspondente no Brasil do semanário uruguaioBrecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do semanário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídiaDossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
Sobre o Direto da Redação
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Ultimo discurso de Salvador Allende, 11 de sept. de 1973


salvador-allende
Raúl Antonio Capote | septiembre 11, 2013 
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00clovisr0509Clóvis Rossi, Folha de S. Paulo (Imagem: Antônio Gaudério)
De um andar para o outro - Clóvis Rossi, Folha de S. Paulo

"Em 1973, estava no Chile como enviado especial. Em determinada sexta-feira aconteceria uma reunião com reitores e militares. Tentei acompanhar o encontro, mas foi impossível pois era fechado e, também, porque tinha toque de recolher e eu precisava voltar ao hotel. Lembro que, na época, passávamos os textos por meio de telex e sempre acontecia algum problema e as informações chegavam com erros de transmissão ao Brasil. O meu texto, que seria publicado no Estadão de sábado, já estava escrito e enviado, mas precisei retornar e reenviar o documento para corrigir esses erros. Foi aí que encontrei um homem dentro do elevador. Ele me perguntou se eu era jornalista e eu confirmei. Depois, questionou se eu tinha conseguido acompanhar a reunião com os reitores. Nessa conversa, ele comentou comigo o que aconteceu nesse encontro, pois ele tinha participado. Entrevistei essa fonte e ganhei um furo. Ele me contou que iriam intervir  nas universidades do país e que um militar seria nomeado como reitor de todas as instituições. Eu tinha acompanhado o começo dessa reunião e sabia que algo de grave seria anunciado ali. No momento da entrevista, a fonte se mostrou muito bem informada sobre o que estava acontecendo e não me pareceu que ela inventaria tal coisa. Fora isso, ele era reitor de uma das universidades. Confiei, escrevi e transmiti o texto no mesmo dia. Ganhei a manchete do jornal de domingo e éramos os únicos a ter a informação."

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Fernando Soares Campos

Para apoiar, incentivar, mascarar a verdade, culpar o "comunismo ateu" e ainda fazer pose de "bom jornalismo", naquela época o PIC (Partido da Imprensa Colaboracionista) falava até de "incidentes" que agitavam o Chile e, com coisas assim, tranquilizava a Família Brasileira com Deus pela Liberdade e Propriedade. Mas duvidamos muito que informasse detalhadamente sobre as intenções golpistas, duvidamos que a matéria do jornalista Clóvis Rossi, manchetada  num domingão do Estadão, tratasse dos detalhes sórdidos do golpe que se articulava, como, por exemplo, informar que "...iriam intervir  nas universidades do país e que um militar seria nomeado como reitor de todas as instituições". Isso seria mais ou menos como “combinar com os russos”. Não acreditamos que o PIC tivesse moral para contrariar os militares autóctones em relação aos seus planos de apoio a golpes além das fronteiras, eles eram os pontas-de-lança da seleção sul-americana no jogo sujo que golpeou Allende e o povo chileno.

Mas também não duvidamos que, na época, Clóvis Rossi fosse um jovem jornalista bem-intencionado. Mas, razoavelmente alienado; o que é compreensível. Tanto que até hoje ele vibra com a manchetada de sua matéria, seu “furo”, que até o momento fura sua vaidade, seu orgulho de ter sido "testemunha" da História.

Com essa história mal contada, Clóvis Rossi me fez lembrar, mais uma vez, de artigo de minha autoria: "As Especulações e os Golpes", publicado na Folha de Pernambuco, em 1988. 

Eis alguns trechos desse artigo:

Alguém aí já ouviu, em qualquer época, o anúncio [oficial] de um golpe de Estado em andamento? Acredito que não. Então, por que a imprensa nativa, geralmente ao som de boatos, procura as autoridades competentes para confirmar ou desmentir os rumores de um provável golpe que estaria sendo articulado nos bastidores do poder? (...) Não se especula as possibilidades de um golpe junto a quem deseja a virada da mesa. Negar é dever de quem conspira, ignorar é inconsciência de quem não tem compromisso com a Democracia; desmentir, baseando-se em declarações oficiais, é direito de quem não quer jogar lenha na fogueira.”
Às vésperas do golpe, nem mesmo Allende acreditava que seria golpeado. Ele confiava em Pinochet, como se pode observar nessa publicação do site Editorial, que acabo de ler:
No dia 11 de setembro de 1973 ocorreu o sangrento golpe de Estado no Chile contra o governo socialista de Salvador Allende. O fim de semana anterior havia sido marcado por reuniões para decidir a data do plebiscito que tiraria Allende da presidência, já que o país passava por uma crise econômica. As tropas do general Augusto Pinochet entraram na cidade portuária de Valparaiso, a 120km da capital Santiago na manhã de terça feira terça-feira, cortando toda a comunicação da cidade com o resto do país.

O presidente Allende foi avisado mas acreditava que o golpe poderia ser contornado. Não era a primeira vez que o exército se rebelava contra o governo, e Allende confiava em Pinochet acreditando que seria tão leal a ele quanto seu antecessor. Preferiu permanecer no palácio do governo, onde tirou a própria vida. Segundo dados oficiais, mais de 3,2 mil pessoas foram assassinadas e mais de 38 mil foram torturadas. Muitos eram exilados brasileiros e foram executados com outros militantes no Estádio Nacional, em Santiago.” [Editorial – 40 anos do 11 de Setembro Chileno – Acesse e assista ao vídeo “Guerrilheiro comunista (brasileiro) dá testemunho sobre deposição de Salvador Allende”]

O Estadão manchetou a matéria de Clóvis Rossi, dias antes do golpe; mas, no dia seguinte à tragédia, estampou friamente, sem protestos:



Dias depois, não podiam nem mesmo "informar" (simplesmente informar) sobre atentado contra a LanChile no Rio nem publicar entrevista com a viúva de Allende:

'Estado' teve noticiário sobre o Chile censurado

Em 1973, entrevista com viúva de Allende e atentado contra a LanChile no Rio foram censurados

01 de setembro de 2013 
Liz Batista
A censura imposta pelo regime militar brasileiro ao Estado deixou marcas no noticiário sobre o Chile em 1973. Em julho, reportagens críticas ao governo do presidente socialista Salvador Allende eram publicadas sem cortes. Em setembro, porém, declarações sobre a censura imposta pela junta chilena eram vetadas. É o caso da entrevista realizada, dias após o golpe, com Hortensia Allende, a viúva de Salvador Allende.

A entrevista foi publicada em 18 de setembro de 1973, mas não integralmente. Entre as declarações cortadas está a parte em que ela fala sobre a existência de apenas “dois jornais, uma emissora de televisão e uma rede de rádio controlada pelas Forças Armadas” no Chile, já comandado pelo general Augusto Pinochet, e outra em que pede a solidariedade de “todo o mundo”.
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Hoje, Clóvis Rossi destila o ódio de seus donos contra o presidente Evo Morales e defende o diplomata brasileiro Eduardo Saboia, que articulou e operou a fuga de um criminoso boliviano, trazendo-o para o Brasil e criando, por conta própria, um clima de desentendimento nas relações Brasil-Bolívia.

Para Clóvis Rossi, o boliviano é “um cidadão que merece proteção”. 

Claro! Proteção, sim; cumplicidade, não.


clóvis rossi

 

27/08/2013

O senador e os ovos de ouro

Não faz sentido sacrificar o chanceler Antonio Patriota no altar das relações com a Bolívia. Quem errou no caso todo foi o governo Evo Morales, que se recusou a respeitar o direito de asilo. Afinal, se Patriota foi cúmplice, ainda que por omissão, da atitude do subordinado Eduardo Saboia, o diplomata que trouxe ao Brasil o senador boliviano, é uma omissão baseada em elogiável pressuposto:

"Escolhi a vida. Escolhi proteger um perseguido político, como a presidente Dilma (Rousseff) foi perseguida", declarou Saboia ao chegar.

É bom deixar claro que, para o governo brasileiro (e não apenas para Saboia ou para Patriota), Roger Pinto é um cidadão que merece proteção, tanto que lhe foi concedido asilo já faz 15 meses. Não é considerado um criminoso, ao contrário do que diz o governo boliviano.

Se é assim, nada mais natural do que trazê-lo para o Brasil, já que o governo Evo Morales se recusa a conceder o salvo-conduto de praxe, um comportamento inaceitável.

Afinal, o governo boliviano se prontificou a oferecer refúgio a Edward Snowden, que, guardadas as proporções, fez mais ou menos o que fez Pinto: um denunciou a megaespionagem dos EUA, evento obviamente de dimensões planetárias.

Já Pinto denunciou um escândalo (tráfico de drogas) de dimensões apenas internas, ainda por cima de um país absolutamente periférico. Nem por isso deixou de correr riscos, do que dá prova definitiva a frase de Eduardo Saboia sobre "escolher a vida", ao tirar o senador do país que o ameaçava.

Claro que o Itamaraty, como instituição, teria imensa dificuldade em assumir o gesto humanitário de seu funcionário, o que dá um verniz de correção burocrática à demissão de Patriota. Mas, se foi uma decisão para acalmar o governo Evo, Dilma Rousseff precipitou-se.
Ainda mais que La Paz reagira com relativa moderação, quando é usualmente escandalosa ao reagir ao que considera ofensivo à sua soberania/dignidade.

Juan Ramón Quintana, o ministro da Presidência da Bolívia, admitiu, é verdade, que o episódio afeta as relações bilaterais entre os países, mas logo acrescentou que "devemos resolvê-lo no âmbito diplomático", âmbito sabidamente avesso a ruídos escandalosos.

Explique-se a contenção, se é que ela será mantida nos próximos capítulos: "Não é possível matar a galhinha dos ovos de ouro, e o Brasil é isso para a Bolívia", como escreve Pablo Ortiz para o jornal "El Deber", de Santa Cruz de la Sierra.

Completa o ministro Quintana: "O Brasil é o nosso principal aliado comercial, é o nosso principal sócio em questões energéticas, é o país com o qual temos a maior fronteira territorial. Temos temas comuns, formamos parte de mecanismos de integração regional, temos muitas tarefas pendentes para construir economias solidárias. Devemos conviver de maneira harmoniosa, e nossa política exterior com o Brasil deve ser amigável, de benefícios recíprocos".

Muita coisa para que Evo, que já fez desfeitas até com seu amigo Lula, se arriscasse a uma crise, que a cabeça de Patriota deve matar de uma vez.

Clóvis Rossi
Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Assina coluna às terças, quintas e domingos no caderno "Mundo". É autor, entre outras obras, de "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo" e "O Que é Jornalismo". Escreve às terças, quintas e domingos na versão impressa do caderno "Mundo" e às sextas no site.

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A BURGUESIA FEDE!

Urda Alice Klueger*

Eu não sabia que os amava tanto, até dois dias atrás. Nem sei muito direito como entraram na minha vida – penso que começamos a nos unir, de alguma forma, lá por 1985, em plena ditadura do governo Figueiredo, quando eu ainda pertencia a uma profissão que se podia dizer “inexistente”, a de “economiária”, isto é, eu não era nem bancária nem funcionária pública, mas trabalhava numa empresa pública que funciona como banco, a Caixa Econômica Federal, histórica instituição que nos veio com a Independência, e que naquelas alturas do século XIX se chamava de “Monte do Socorro”. Então em 1985 houve uma primeira greve de bancários, em Blumenau, e eu nem era bancária, mas fui ver tudo de perto, as Assembléias,  o que acontecia no Sindicato que ainda não era meu – aquilo me despertava a maior curiosidade, e achava que tinha a obrigação de ir lá ver, ao menos como escritora. Se não me engano, em 1986 conseguimos, nós, economiários, que a justiça nos considerasse bancários, e então passamos a ter sindicato também, e as amizades foram se estreitando naquele novo mundo que num sindicato atuante se descortina.

O que me espanta é que muita gente que é meu amigo hoje sequer tinha nascido naqueles idos do meu alvorecer para outros olhares de mundo. O que sei é que a vida seguiu, e hoje, se tenho uma coisa preciosa na vida, é esse meu colar de amigos que sabe chorar junto quando  fica sabendo que em Faluja foram destruídas 36.000 casas por bombardeios invasores (se você não sabe onde é Faluja, preste mais atenção no que acontece no SEU mundo!), que em Faluja e outros lugares do Iraque as pessoas são atacadas com a proibida arma química chamada fósforo branco, e viram caveiras dentro das suas roupas intocadas, porque o fósforo branco só atua sobre coisas que contenham água, como células humanas, por exemplo. Eu citei Faluja porque é uma das coisas que mais me horroriza, aquela cidade sacrificada ao algoz por mera brincadeirinha, onde até os médicos e os doentes do hospital foram bombardeados inapelavelmente, onde as pessoas ainda apodrecem sob seus escombros, nesta virada de ano para o 2006 d.C. Faluja é só um exemplo: e o Afeganistão, e Guantánamo, e a Palestina, e os cárceres secretos onde se tortura e se humilha em plena “civilizada” Europa, e as barbaridades acontecidas contra as minorias, e os rios que são salvos porque bispos com consciência decidem morrer por eles ... ah! Meu querido John Lennon, o sonho não acabou! Tenho o privilégio desse colar de amigos que ainda sabe chorar e sonhar, e que vai para o bar comemorar, de tanta felicidade, quando um índio aimara, quase pela primeira vez na História dos Índios, se elege presidente de um país! Evo Morales é como um símbolo para mim, para nós, símbolo de que os nossos sonhos podem ser sonhados, que não estamos errados, que os excluídos destinados à destruição (como diria Hitler: “à solução final”) sabem muito, e podem se organizar e reagir aos desmandos impiedosos de uma entidade chamada Capital, coisa recente no mundo, forma de viver que tem lá seus meros 250 anos, mas que é tão prepotente que faz com que a maioria dos seres humanos pensem que sempre se viveu assim...

Bem, eu comecei lá em cima dizendo que não sabia, até dois dias atrás, que os amava tanto, a esses meus amigos que hoje são como um precioso colar na minha vida – só que antes deles eu tinha uma outra turma, e por ironia, era a turma “que amava os Beatles e os Rolling Stones”, John Lennon que me perdoe! Um desses amigos antigos esteve, faz dois dias, lançando um livro aqui na minha cidade, e fui lá prestigiá-lo. Ainda não li o livro, ainda não opino sobre o livro ou sobre ele – o que quero falar é que, com a vinda dele, saiu da toca toda a velha guarda que amava os Beatles e os Rolling Stones, e num primeiro momento houve uma grande alegria ao revê-los, e abraços conforme iam chegando,e tentativas de fazer ressuscitar antigos tempos lá de quando John Lennon ainda era vivo – mas fui descobrindo que eles já não tem sonhos. Os caras que amavam os Beatles e os Rolling Stones, hoje, quase todos, são a burguesia. E nunca entendi tão de perto aquele curto verso de Cazuza: “A burguesia fede”. E essa burguesia já não sabe quem é Evo Morales, e se algum sabe fala dele não como uma possibilidade de promessa, mas como o bobo da corte que veio para ocupar algum espaço que o Capital esperava para se solidificar mais. Os sonhos deles acabaram e eles fedem. E um dia tinham sido meus amigos e tínhamos sonhado juntos. Ainda nem consigo entender, e saí de lá de alma machucada e com medo de feder como eles.

Por sorte, tenho os amigos de hoje, e eles não deixaram morrer os sonhos. E até dois dias atrás eu não sabia que os amava tanto! Já não saberia viver sem eles! É bom, é muito bom, assim numa beirada do Natal, descobrir tal tipo de coisa!

Blumenau, 22 de Dezembro de 2005.
                    
*Urda Alice Klueger - Escritora - Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz.

Como Nossos Pais

Elis Regina

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Coluna Econômica - 11/9/2013
Na nova economia, há um conjunto de movimentos brilhantes prenunciando os novos tempos de Internet.

De um lado, existe a nova indústria do audiovisual, os novos projetos jornalísticos, as novas experiências virtuais, um contraponto eficaz no mercado de opinião política e uma rapaziada esfuziante desenvolvendo aplicativos, sistemas, redes. Todo esse universo é movimentado por pequenas empresas, por jovens empreendedores, criando um arquipélago rico, diversificado, com amplo espaço para o exercício da criatividade e da inovação.


De outro, os campeões do período anterior – grupos jornalísticos com emissoras de TV e rádio e publicações impressas, grandes empresas controlando centralizadamente diversos meios de comunicação, atuando em forma de truste e/ou cartel, envelhecendo a olhos vistos e valendo do poder remanescente combater o novo que nasce.

***


Trata-se de uma disputa ancestral no capitalismo que se manifesta especialmente nesses momentos de transição.


Há grupos dominantes do período em curso. As novas tecnologias abrem espaço para o novo. Não entendendo o novo, a defesa do velho consiste em se fechar em trustes ou cartéis utilizando o poder remanescente para manter o controle sobre o mercado.


***


Hollywood é um caso clássico, fruto direto dessa batalha entre o velho e o novo ocorrida na indústria cinematográfica dos Estados Unidos no início do século 20.


Vale a pena entender os paralelos entre aqueles tempos e os tempos atuais.


***


O enorme mercado norte-americano fechou-se em torno de um truste de dez companhias organizado por Thomas Alva Edison, a partir de seu trunfo com a invenção do gramofone. O Truste era constituído pelos maiores produtores e distribuidores de filme, por George Eastman, da Kodak, principal fabricante de películas, dentre outros.


Sem competição, mataram o mercado. Impuseram cláusulas leoninas para os exibidores, adquiriram a maioria das distribuidoras independentes.


Enquanto Paris tornava-se o grande centro cinematográfico do planeta, atraindo espectadores com grandes nomes, como Sara Bernhardt.
nos Estados Unidos o truste permitia apenas filmecos de poucos minutos e proibia os modelos de filmes fundados em personalidades artísticas – para não encarecer as produções.

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Em 1909 houve a rebelião inicial de um dos distribuidores, Carl Laemmle, que queria implantar o sistema europeu, de produções maiores com grandes estrelas. Quase foi destruído. Mas conseguiu a aliança com um grupo de produtores franceses, italianos e britânicos, que montaram uma empresa para combater o truste.


A luta para valer foi interna, quando apareceram outros aliados, dos quais o mais relevante foi o único distribuidor que se recusou a vender sua empresa para o truste. Atendia pelo nome de Willhelm Fuchs.


Com o tempo, começaram a aparecer produtores independentes,  pequenas empresas ousando sair do figurino do truste e passando a fazer filmes mais extensos, com roteiro e temáticas até então inéditas.


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O Truste reagiu, recorrendo até à censura contra filmes considerados mais fortes. Tentou sufocar os “independentes” com toda sorte de ações judiciais. Depois, apelou para o uso de força, quebrando salas que passassem seus filmes e apelando para a polícia contra a quebra de patentes das novas produtoras.


As ameaças legais eram de tal ordem que parte dos independentes fixou-se em países vizinhos. E parte foi para Los Angeles, por ser perto da fronteira do México, facilitando as fugas da Justiça.


O truste era formado por anglo-saxões de cintura dura. Os independentes, em sua maioria, por judeus com sensibilidade artística e enorme foco no público que se formava.


Gradativamente, o truste foi perdendo o pé do mercado, afastando-se cada vez mais do público, enquanto os independentes ganhavam espaço e passavam a produzir em quantidade cada vez maior.


Laemmle e Fuchs tornaram-se produtores de sucesso, recorrendo à importação de películas para fugir ao boicote da Kodak. O estúdio de Laemmle se tornaria a Universal; o de Fuchs, a Fox, depois que ele adaptou seu sobrenome. William Hodkinsons, dono de um teatro, montou uma distribuidora e, depois, a Paramount. E Hollywood tornou-se o mais importante centro da indústria cinematográfica.


***


Em muito, a ação do truste cinematográfico norte-americano lembra o truste midiático reforçado no país após 2005.


Com o pacto dos quatro grandes controladores do mercado de opinião – Globo, Abril, Estado e Folha - tendo as demais emissoras e jornais a reboque, criou-se o Truste da Mídia - a não ser a diferença de escala e de tecnologia, com métodos idênticos ao do Truste dos Dez.


Moveram campanhas sistemáticas contra os novos atores que surgiam, os blogs, preservando para si a maior parte da publicidade pública. Tentaram assassinar a reputação de novos grupos que se instalavam – como foi o caso dos portugueses da Ongoing.


Abarrotaram os blogs com ações judiciais, para sufoca-los financeiramente. Reagiram com fúria a qualquer tentativa de regulação do mercado que pudesse abrir espaço para o novo.


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Mesmo assim, as poucas brechas abertas estão permitindo o nascimento do novo. 


Já existe uma indústria de audiovisual promissora, algumas (embora poucas) experiências inovadoras de jornalismo online, mas que já fazem um contraponto expressivo no mercado de opinião política. E um conjunto de personagens à espera do próximo grande agente aglutinador, dentro das possibilidades abertas pelas novas tecnologias.


O novo já nasceu. É questão de tempo para o velho morrer.

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Ilustração: AIPC – Atrocious International Piracy of Cartoons
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