terça-feira, 21 de julho de 2009

De 2003 a 2009, histórias de Alberto Dines: Rosa Luxemburgo entre outras não menos importantes





Nº 359 set/out 2003
A Guerra do Iraque e a imprensa

O jornalista Alberto Dines realizou uma palestra, no Conselho de Economia, Sociologia e Política da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, com o tema "Guerra do Iraque – A Mídia como Campo de Batalha", no dia 8 de maio de 2003. Publicamos abaixo o texto da exposição. O debate que se seguiu pode ser lido na edição impressa da revista.

ALBERTO DINES – O assunto "Guerra do Iraque" foi tomado como uma metáfora, é apenas um caso de estudo. A partir desse momento supremo da humanidade, em que o homem se permite matar outro, gostaria de fazer uma reflexão sobre a mídia, sobretudo a guerra que se trava dentro dela, e também sobre um novo elemento que surgiu neste conflito, que eu chamaria de tropa de choque, que é a crítica da mídia. Vou fazer algumas ponderações sistematizadas a respeito de minha atividade cotidiana, e a partir daí vamos tentar trazer as lições da cobertura da campanha militar contra o Iraque, já que estamos metidos em outra guerra, contra o crime organizado, que alguns chamam de narcoterrorismo, e que a cada dia fica mais grave, mais acirrada.

Por que foi dada tanta importância à mídia no episódio do conflito do Iraque? Inicialmente, porque estamos acostumados a ouvir dizer que vivemos a era da informação. Por que essa designação? Por duas razões muito fortes. Primeiro, pela quantidade de informação posta atualmente em circulação, com potencial de saturação. Informação é usada até para desinformar pelo excesso. É um processo inexorável, incontrolável, mas a realidade que temos de enfrentar é a quantidade que leva à saturação.

Segundo, o teor da informação. Hoje ela é usada evidentemente como instrumento de poder, o que constitui seara da ciência política.

Feita essa caracterização, é interessante analisarmos alguns fundamentos do processo democrático. Falamos muito em estado de direito e democracia, mas uma das coisas que considero mais importantes é a dialética da democracia, que é o sistema que ingleses e norte-americanos chamam de checks and balances, poder e contrapoder. Dentro desse mecanismo de poder e contrapoder, temos os três poderes republicanos – Executivo, Legislativo e Judiciário –, e a imprensa transformada num quarto poder, o fiscalizador. Esse esquema vem do século 18, dos filósofos que inspiraram os patriarcas da revolução norte-americana. Só que hoje, mais de 200 anos depois, estamos verificando que esse sistema de poder e contrapoder evolui muito rapidamente. Assim, a imprensa, que era o contrapoder aos poderes constituídos, também precisa de um contrapoder, sobretudo porque ela, dentro do processo econômico mundial, tende a ser controlada por grandes organizações e conglomerados, e em muitos deles o negócio principal não é propriamente a comunicação. Existe uma preocupação com esses conglomerados de informação mundial, que precisam ser vigiados, observados. Criou-se então a necessidade de que o contrapoder, que é a imprensa, tenha também o seu contrapoder. E quem vai exercê-lo? Não é o governo, senão teremos intervenção e quebra da fluência do processo democrático. Quem deve fazê-lo é a sociedade, devidamente alertada e sensibilizada por algumas instituições para que possa ficar atenta ao comportamento da imprensa.

Evidentemente, estamos no meio do processo, mas já se nota que o contrapoder ao poder da imprensa é visível, começa a aparecer e a ganhar uma dimensão que não é desprezível.

Estabelecida essa premissa, temos também de invadir outra seara que é, sem entrar em estudos profundos da polemologia – a ciência das guerras –, examinar os conflitos sob o ponto de vista informativo. Das grandes conflagrações modernas, desde a do Cáucaso em meados do século 19 até a do Golfo I, a primeira Guerra do Iraque, existe uma certa marca sob o ponto de vista informativo. Seriam conflitos de versões, em que cada beligerante apresenta sua história. Na do Cáucaso, Inglaterra e França mostravam para os respectivos públicos sua versão das barbaridades cometidas pelo adversário. Na 2ª Guerra Mundial, que é o caso mais típico, a máquina de propaganda alemã funcionou a todo o vapor, aliás, começou antes do conflito. A dos Aliados também espalhava sua versão. Durante a guerra as informações já corriam pelo mundo, mas não com a fluência e a velocidade de hoje. Considero (e pode ser que esse critério esteja errado) que os conflitos mais recentes, dos últimos três anos mais ou menos, têm características diferentes, porque o cenário mudou. É um panorama globalizado, os campos adversários são importantes, as sociedades que dão apoio aos respectivos exércitos são relevantes, e existe uma audiência global, não diria neutra, mas envolvida diretamente na argumentação e na ansiedade dos beligerantes.

Portanto, são guerras que já se iniciaram em um contexto globalizado. Pela ordem, são a Intifada II, que começou no ano 2000, quando houve uma disputa não apenas entre os beligerantes, mas na mídia mundial, para conquistar a atenção e o interesse da audiência do planeta. Depois tivemos o 11 de setembro, em Nova York, em que o cenário global era muito importante para as partes envolvidas, cada uma tentando mostrar seus argumentos. Logo em seguida, veio a Guerra do Afeganistão, e o cenário foi também a audiência global. Disputava-se ali não apenas a conquista militar do país, mas a dos corações e mentes no mundo inteiro, para justificar o que estava acontecendo no campo de batalha. E finalmente a Guerra do Iraque II, que foi também globalizada. Embora localizada militarmente no Oriente Médio, estendeu-se pelo planeta, e o trabalho de informação e contra-informação foi muito acirrado.

O conflito de informação e contra-informação tem características muito claras, sobretudo para desqualificar a fonte inimiga. Os adversários dos Estados Unidos diziam que a imprensa norte-americana não era livre, era controlada, e a coligação anglo-americana afirmava que as informações dentro do Iraque ou nos países vizinhos não tinham a fluência dos processos democráticos. Basicamente, está claro que o conflito não era apenas ideológico ou político, mas de informação, no esforço de desqualificar a fonte adversária.

Como se caracteriza e como se define esse esforço? É a crítica da imprensa. Estamos vendo que a crítica da mídia, que até há pouco tempo era restrita a esferas acadêmicas, não tinha a penetração de hoje. A Guerra do Iraque trouxe esse processo a uma situação quase de novidade mundial. O leitor médio, ao acompanhar o conflito, passou a discutir não mais o fato em si, mas as informações sobre ele, como se fosse uma coisa perfeitamente natural. Isso é um avanço extraordinário.

Talvez poucos se lembrem da 2ª Guerra Mundial, durante a qual as informações eram veiculadas e ninguém discutia seu teor: os japoneses conquistaram Cingapura, os alemães invadiram a Rússia, o pacto entre Stalin e Hitler... Na Guerra do Iraque, o grande debate não foi apenas sobre os avanços ou retrocessos militares, vitórias ou derrotas, mas sobre a informação que dizia respeito ao campo de batalha. Portanto, passamos de repente não apenas a participar de um processo informativo, mas a ser parte da discussão da informação, o que é um dado novo e para o qual temos de nos preparar. Por isso afirmei que na Guerra do Iraque o campo de batalha fomos nós, não apenas os jornalistas, mas também leitores, ouvintes, telespectadores.

A imprensa não conseguiu discutir alguns temas dominantes no conflito do Iraque porque a avalanche informativa foi tão grande que se perdeu a capacidade de identificar erros e até mistificações. Por exemplo, a questão do pacifismo passou em brancas nuvens. Na 1ª Guerra Mundial, tivemos o início de um processo de pacifismo internacional organizado e neutro. Na França houve vários casos em que pacifistas, aí, sim, foram acusados de traidores. O escritor francês Romain Rolland, por exemplo, foi considerado traidor até quase a véspera da 2ª Guerra Mundial pelas posições pacifistas que tomou no primeiro conflito. Tivemos Rosa Luxemburgo, líder revolucionária alemã, nascida na Polônia, que se manifestou contra a guerra. Na Áustria, o escritor e poeta Karl Kraus, talvez o pai da crítica da imprensa, se colocava abertamente contra o conflito no boletim que produzia sozinho, de grande aceitação. Nas palestras que fazia apresentava-se como crítico da guerra, dizendo que ela começara por causa da mídia. Essa sua visão do pacifismo era tida como não-beligerância, como neutralidade. Esse conceito foi muito prejudicado, eu diria adulterado e manipulado, pela União Soviética na guerra fria. A paz deixou de ser aquele conceito puro para se transformar em estratégia política como outra qualquer.

Vimos isso também na Guerra do Iraque, em que o movimento pacifista não era em grande parte contra o conflito ou contra os beligerantes, mas basicamente para marcar posição contra o presidente dos Estados Unidos. Uma subversão do conceito de paz porque, pelo menos sob o ponto de vista teórico, paz significa uma não-beligerância e não uma parcialidade. Isso a mídia, com raras exceções, não conseguiu identificar. Em nosso "Observatório da Imprensa", talvez por uma questão de experiência, lembramo-nos de mostrar que paz é não-beligerância, é neutralidade, e não a participação disfarçada numa das partes em conflito.

Outro cavalo de batalha pouco discutido foi a cobertura norte-americana. Houve dias durante o conflito em que um jornal como "O Globo" publicava, em um caderno especial de 14 páginas sobre a guerra, quatro ou cinco matérias em que discutia a mídia. Não relatava avanços ou retrocessos, bombardeios ou vítimas, mas discutia o papel da mídia. Portanto, percebe-se que o debate sobre a informação, se não passa a ser dominante, tem um valor significativo na discussão sobre todos os conflitos internacionais. E com detalhes extremamente interessantes.

No caso dos repórteres incorporados às unidades militares, criou-se também uma celeuma, mas de certa forma falsa, pois parte de um pressuposto também falso. Ou você cobre uma guerra incorporado a uma unidade militar ou leva um tiro na primeira oportunidade, porque fica sem nenhuma proteção e pode ser atingido pelas partes beligerantes, por uma bala perdida, ou pisar numa mina. Não há outra forma de cobrir guerra. Mas, evidentemente, o grupo contrário à intervenção no Iraque usou a incorporação dos jornalistas para desqualificar a cobertura jornalística.

Um mito que se criou na discussão sobre o trabalho da imprensa na guerra foi que esse era um conflito que estava sendo relatado com imparcialidade, porque finalmente existiam coberturas alternativas à norte-americana. Foram apontados os casos da Al Jazeera e da Al Arabia, duas tevês de países árabes, emissoras noticiosas que funcionam 24 horas. Isso foi apresentado como uma grande conquista de equilíbrio da informação. Tanto a Al Jazeera como a Al Arabia são de países não-democráticos, financiadas por capitais, se não políticos, pelo menos politizados, controladas por governos que tinham interesse no conflito. Embora apresentassem versões alternativas que são sempre necessárias, elas não são legitimadas como porta-vozes da imparcialidade. Esses tópicos surgiram na discussão, mas não foram avaliados com profundidade por causa do envolvimento e das paixões.

E finalmente o quarto tema seria o esforço, que ainda não conseguiu ser neutralizado, da demonização de um lado e vitimização do outro. No início da guerra havia a figura de um demônio, representada por George W. Bush, que deslanchou o conflito desprezando as organizações internacionais e a opinião pública. E Saddam Hussein, que comandava um regime extremamente autoritário, era a vítima do satã norte-americano. No final da guerra, essa imagem já começou a mudar. A imprensa francesa, que praticamente tinha esquecido o terror do regime de Saddam, passou a revelar os horrores do que foram os últimos 25 anos do regime. Ou seja, parte da imprensa ficou em cima do muro, com medo de enfrentar a bipolaridade entre satanização e vitimização, porque queria manter-se no terreno do politicamente correto. A imprensa francesa sempre foi apresentada como modelo de não-engajamento, democracia, de centro-esquerda, e de repente rendeu-se a uma evidência. Se tivesse feito isso há mais tempo, talvez até o desenrolar das negociações pré-guerra pudesse ter sido diferente.

O que estou querendo mostrar com essas pinceladas sobre a cobertura da Guerra do Iraque é que temos hoje alguns campos de batalha muito definidos dentro da mídia. Em primeiro lugar, a imprensa brasileira, que teve um passado modelar em matéria de cobertura internacional, e hoje não posso dizer que seja lamentável, mas é bastante insatisfatória. "O Estado de S. Paulo" há pouco tempo tinha 13 correspondentes internacionais fixos. O problema é dinheiro, mas vamos falar de vontade política também.

Em meados dos anos 90 conversei em Portugal com o vice-presidente de uma grande empresa jornalística brasileira. Observei-lhe que os portugueses, que vivem num país pequeno, sem maior importância no cenário mundial, tinham uma respeitável cobertura internacional. Era a época da guerra na Bósnia, e as rádios, com correspondentes falando em português, acompanhavam o desenrolar do conflito. No Oriente Médio, as rádios lusitanas também estavam presentes, como os jornais, cada um apresentando uma visão diferente. Perguntei a esse amigo por que a cobertura internacional brasileira, que já foi excepcional, tinha sido reduzida. Pode-se alegar falta de dinheiro, já que uma coisa é Portugal mandar um correspondente para a Iugoslávia, outra é o Brasil fazer isso. Temos de cruzar o Atlântico, pagar tarifas aéreas extraordinárias, sobretudo com o problema cambial. Mas isso não foi alegado. Ele disse o seguinte: "Fizemos pesquisas de opinião e descobrimos que cobertura internacional não vende". Essa foi a explicação. Então o jornal demite os correspondentes e não temos mais cobertura internacional. Quando ocorre um grande acontecimento, envia-se um jornalista que em geral é pau para toda obra, aquele que cobre o Iraque, a Argentina, uma crise no Peru e a Indonésia. Isso é apenas presença física, não é a voz experimentada de quem conhece a região, os bastidores do que está acontecendo. Isso não é cobertura internacional.

É claro que alguns jornais mantêm correspondentes internacionais, como "O Estado de S. Paulo" em Buenos Aires, tem um ou dois em Paris, um em Washington. Mas é muito diferente daquele quadro de jornalistas contratados que moravam no exterior, que estudavam as circunstâncias específicas daquela área e podiam até antecipar-se aos acontecimentos. Hoje a mídia brasileira vive a reboque da informação proveniente de fontes internacionais, o que é perigoso.

Outro campo de batalha que nos chama a atenção é a Internet. Ela é uma realidade, e ganhou grande importância, sobretudo a partir da invasão do Afeganistão. As pessoas recebiam uma mensagem pela Internet, imediatamente a repassavam para seu mailing de mais de 100 ou 200 pessoas, e isso ganhava uma repercussão instantânea, muito mais forte talvez do que a provocada pela própria televisão, porque vinha com a aparência de profundidade que às vezes os telejornais não conseguem ter. A Internet precisa ser observada. Ela ainda não mereceu dos anunciantes e dos empresários brasileiros a devida atenção. Ainda é uma coisa marginal, paralela, boêmia.

Devemos voltar a atenção também para a TV alternativa, que hoje apresenta três variantes. A TV pública está vivendo uma situação quase trágica, não apenas a TV Cultura, de São Paulo, mas também a TV Educativa, a Rede Brasil ligada ao governo federal. Um país que não tem mecanismos de TV pública está sujeito às instabilidades dos interesses das emissoras comerciais. Os Estados Unidos, com toda a liberdade e o culto à livre iniciativa, têm um sistema de TV pública de suma importância, que é o PBS (Public Broadcasting System), que funciona como um contrapoder, um equilíbrio, com qualidade e densidade de informação extraordinárias. Sem falar na BBC (British Broadcasting Corporation), uma das maiores entidades de informação do mundo, que é eminentemente pública, independente e desligada dos interesses do governo inglês.

Outro aspecto que devemos ter presente é a concentração da mídia no Brasil. Hoje temos cada vez menos empresas jornalísticas. Neste momento, pelo menos duas estão praticamente na UTI. Elas editam seus veículos, mas com dificuldades. Não interessa nomeá-las, mas é importante considerar que, se já tínhamos poucos veículos alternativos, hoje temos menos. E as outras empresas, que estão sadias, passam por apertos inéditos em sua história. Isso é um fator de grande preocupação, pois torna a mídia sujeita a instabilidades e pressões. Se está tomando cuidados com sua saúde, tem de ser mais sensível aos apelos do mercado, e então pode até cometer algumas infrações em matéria de equilíbrio.

Dentro desse quadro de concentração, estamos assistindo particularmente a algo inquietante, que é a situação dos semanários. Temos quatro revistas semanais, mas na realidade vamos ter praticamente uma ou uma e meia talvez. O quadro é lamentável. Antes a informação dos semanários era complementar, arredondava o noticiário. Hoje eles são praticamente descartáveis. Temos um rádio sem qualidade, o que é um dado preocupante, pois num país com a extensão do Brasil e com o desinteresse pela leitura o rádio tem grande importância. Quantas emissoras se preocupam em dar informações de qualidade? Basicamente uma, mas a Rádio Eldorado é exceção, voltada apenas para o público de São Paulo.

Temos uma desvantagem no sistema de televisão all news, notícias em tempo integral. Não há nenhuma emissora ou rede de qualidade que se possa equiparar à CNN em espanhol, nem chegar aos pés dela. A Globo News faz um esforço, vem melhorando, mas é extremamente limitada, e não tem ainda potencial para transmitir os fatos. Em geral são notícias enviadas por telefone, o que tira, digamos, certa força da imagem. Enquanto isso estamos assistindo hoje no mundo a um movimento de preocupação dos Estados com as suas emissoras all news. A França resolveu finalmente acordar e quer criar condições para ter sua CNN. Isso vai tornar o balanceamento do noticiário muito mais satisfatório, porque, além da CNN, da BBC e da Fox News, vamos ter então uma emissora francesa.

Evidentemente é um sonho imaginar que o Brasil possa ter uma emissora all news com penetração internacional, mas tenho a impressão de que vai chegar o momento em que vamos precisar, se houver um conflito em nosso continente, de uma com potencial para ir além das fronteiras e dar a nossa versão. Esse é um dado que temos de levar em consideração, se não para esta geração, pelo menos para as futuras. Não podemos deixar de colocar como meta uma emissora de notícias, forte, organizada, com capacidade de ser captada internacionalmente. Portugal de novo é exemplo, a Rádio Televisão Portuguesa internacional (RTPi) é uma estatal, mas atinge pelo menos as populações que falam português – mais de 200 e tantos milhões de pessoas no mundo –, uma das grandes línguas do Ocidente.

Finalmente, para encerrar, devo dizer que o Iraque é aqui. Não há guerras formais, não há divisões de tanques se enfrentando, não há bombardeios, mas estamos numa situação séria de guerra. Não é localizada, é um problema nacional. O governo, apesar de atento aos aspectos policiais da questão, está desatento à segurança do país. Quando se diz que a Linha Vermelha foi interceptada pelos bandidos, talvez a sociedade brasileira não saiba, mas essa via é um eixo rodoviário federal da maior importância. Ali começa a ligação norte-sul. Se se domina a passagem da Linha Vermelha e da Amarela, estrangula-se a comunicação rodoviária do Brasil. Isso é uma questão de segurança nacional, não somente do estado do Rio de Janeiro. A visão global do narcoterrorismo está faltando ao governo por timidez, por uma questão até do politicamente correto, mas está se esquecendo que o problema não é a favela. Temos uma situação de guerra, de extrema gravidade. A imprensa cobre os elementos formais desse conflito armado, mas não está atenta ou não tem capacidade de acionar todos os alarmes, porque, assim como corre atrás dos acontecimentos na área internacional, internamente também corre atrás, não se antecipa. Preocupada com a própria sobrevivência, talvez não tenha força para advertir o governo de que estamos em situação de emergência nacional.

Precisamos institucionalizar no Brasil o conceito de que a imprensa deve ser observada, não pode ser discutida apenas nas áreas especializadas, seja da corporação profissional, seja da acadêmica. A mídia diz respeito à sociedade como um todo e exige uma atenção permanente. Quando se observa um fenômeno, estamos intervindo nele. Não é preciso controlar a imprensa para que ela encontre seus caminhos. E temos visto que, ao sentir-se observada, ela passa a agir de forma mais cautelosa e mais atenta.

Isso é um avanço, mas não suficiente. É imperioso, sobretudo no caso brasileiro, que a imprensa, ao sair dessa crise, encontre uma sociedade consciente, que saiba o que exigir dela.

http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas_sesc/pb/artigo.cfm?Edicao_Id=167&Artigo_ID=2444&IDCategoria=2494&reftype=1



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