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Rui Martins (*)
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Ainda me lembro do meu encontro com Simon Wiesenthal, em Viena, há vinte anos, numa entrevista sobre seu livro Justiça não é Vingança, no qual justificava a transformação de sua vida de sobrevivente de um dos campos do Holocausto, na caça aos nazistas.
E me emociono, diante do relato dos que acompanharam os três anos de depoimentos públicos, por vítimas e culpados, na Comissão de Verdade e Reconciliação, na África do Sul, de que o bispo Desmond Tutu, presidindo os trabalhos, com a cabeça apoiada nas mãos chorava, diante dos relatos de tantas atrocidades e crimes cometidos pelo apartheid contra os negros.
Ali, naquele tribunal moral, sem poder para punir, registraram-se os depoimentos de familiares de nove mil torturados, mortos, enterrados ou lançados ao mar, e de mais de 50 mil vítimas de torturas e agressões por serem negros ou por terem tentado se revoltar contra o apartheid ou por serem do ANC. Também os excessos cometidos pelo ANC na sua luta armada contra o apartheid foram ali levados.
Quando, em abril de 94, Nelson Mandela foi eleito presidente da África do Sul, o país corria o risco de não resistir à explosão dos ajustes de contas. Porém, Mandela tomou a dianteira e defendeu um país de negros e brancos reconciliados. Sem a pacificação, a África do Sul não teria sobrevivido ao apartheid e, no caos previsível, pouco restaria do país.
É aqui entra a atualidade do filme Invictus, de Clint Eastwood, com Morgan Freeman, escolhido pelo próprio Nelson Mandela para representá-lo na tela. Ao ler, no ano passado, um livro sobre o papel do esporte na pacificação sulafricana, Morgan fez a Clint a proposta de uma versão cinematográfica do papel da seleção Springboks, na Copa do Mundo de Rugby, em 95, disputada na África do Sul como será agora disputada a Copa do Mundo de Futebol.
Logo após a eleição de Mandela como presidente, seu partido ANC tinha por objetivo desmantelar todo o poder branco. E isso incluía a seleção Springboks, símbolo do poder branco. Mas Mandela surge, inopinadamenge, no encontro em que seu partido pretende acabar com o Springboks dos brancos para impor a reconciliação e transformar a conquista da copa do mundo de rugby, numa conquista da África do Sul negra e branca. Assim, François Peinaar, um branco boer, pôde continuar dirigindo o Springboks e levar a África do Sul à vitória.
Até que ponto ia essa pacificação? Um dos ouvidos pela comissão verdade e reconciliação foi o médico e cientista Wouter Basson, também chamado de Doutor Morte. Evitando se desculpar e afirmando que trabalhava como médico militar para seu país, Basson concordou ter feito pesquisas diversas, num projeto do governo branco sulafricano, destinado a encontrar uma molécula capaz de ser sensível à melanina, para matar ou tornar estéreis as pessoas de pigmentação negra. Em outras palavras, Wouter Basson era uma versão sulafricana do nazista Mengele e chegou também a fazer experiências mortais com negros levados ao seu laboratório.
Ao fim dos debates, Wouter Basson, acusado de 46 mortes estranhas pela Anistia Internacional e mesmo de inoculações mortais do virus da Aids em negros, pôde sair do tribunal sem escolta e foi considerado inocente, num julgamento presidido por um juiz nomeado ainda sob o regime do apartheid, sob protestos de pessoas como o bispo Desmond Tutu.
A reconciliação desejada por Mandela impediu uma fragmentação da África do Sul, mas o país vive hoje um clima de violências e não parece ainda ter se encontrado. Teria havido muito perdão, como esse concedido ao Doutor Morte, ainda hoje médico militar com consultório de cardiologia em Pretória ?
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http://www.francophones-de-berne.ch/
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http://www.estadodoemigrante.org/
(*) Ex- correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. Autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criou os Brasileirinhos Apátridas e propõe o Estado dos Emigrantes. Vive na Suíça, colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, é colunista do site Direto da Redação.
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Ilustração: AIPC – Atrocious International Piracy of Cartonns
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