sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Que religião que nada! O sangue será o ópio do povo

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TERROR COM CONTEÚDO

Esse é um filme totalmente original que subverte os clichês do gênero e ainda traz uma crítica político-social bastante interessante.

André Lux

“Daybreakers” parece, a princípio, apenas mais um filme sobre vampiros que quer se aproveitar da atual onda de fanatismo que cerca a saga “Crepúsculo”. Mas não se engane. Esse é um filme totalmente original que subverte os clichês do gênero e ainda traz uma crítica político-social bastante interessante.

Estamos na Terra do ano 2019, dez anos após uma epidemia que transformou grande parte da humanidade em vampiros. O problema é que existem cada vez menos humanos e até animais e o precioso sangue está cada vez mais escasso. Assim, o que restou da raça humana é caçada e cultivada por uma mega corporação comandada por um vampiro neoliberal sem escrúpulos que lucra horrores com a alta do preço do sangue. E para piorar tudo, a falta do precioso alimento começa a transformar os vampiros mais pobres em verdadeiros monstros sem controle, os quais são perseguidos e destruídos pela polícia.

Temos aí uma ótima alegoria sobre a crueldade do sistema capitalista, que pode remeter à escassez de água que parece estar chegando, onde só os que podem ter acesso a esses “comodities” (como os defensores desse sistema desumano chamam aquilo que pode gerar lucros) poderão sobreviver, enquanto o resto é tratado como lixo e enviado para a morte. Em tempos onde favelas de São Paulo são sistemática e criminosamente incendiadas, o filme não poderia ser mais atual.

Esse subtexto político permeia toda a obra, que conta com boas atuações de um elenco liderado por Ethan Hawke (como um vampiro cientista que se recusa a beber sangue humano e tenta encontrar desesperadamente um substituto sintético para ele), Willem Dafoe (no papel de caçador de vampiros que funciona como alívio cômico) e Sam Neill.

Assistindo a “Daybreakers” podemos notar também o quanto a música é importante para o cinema. Composta pelo australiano Christopher Gordon (das minisséries para a televisão “A Hora Final” e “Moby Dick”), a partitura é simplesmente espetacular e eleva o filme a patamares maiores do que os sonhados pelos seus realizadores (os irmãos Michael e
Peter Spierig, também australianos).

Tenso, bem dirigido, com diálogos inteligentes, sem finais redentores idiotas ou excesso de cenas nojentas, “Daybreakers” é um dos raros filmes que misturam terror com ficção científica que valem a pena serem assistidos atualmente. Não percam – e não se esqueçam de prestar atenção à música!

Cotação: * * * *


André Lux, jornalista, presta assessoria na área de Comunicação Social, crítico-spam, administra o blog “Tudo em Cima”. http://tudo-em-cima.blogspot.com/




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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons
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