Fernando Soares Campos
A
Agência Fapesp, uma agência de notícia eletrônica, totalmente gratuita (segundo
o seu “Quem Somos”), uma espécie de PressAA
metida a besta, publicou resenha do livro “Virtuosas
e perigosas: as mulheres na Revolução Francesa”, de Tania Machado Morin, a ser
lançado em janeiro de 2014.
Com
a pulga atrás da nossa orelha, resolvemos reproduzir o texto aqui nesta nossa
Agência Assaz Atroz. Mas gostaríamos de fazer algumas observações.
O
título do livro informa que a pesquisadora identificou distintas personalidades
femininas: “Virtuosas e perigosas”; enquanto o título da resenha interroga:
“Virtuosas ou perigosas?”. Em ambos os casos faz-se uma distinção, certamente
baseada em informação da pesquisadora:
Constituiu-se, assim, no imaginário da
época, a dicotomia “virtuosas versus perigosas”. Como Morin explica em seu
livro, “virtuosas” eram as mulheres idealizadas pelos líderes da Revolução: as
“mães republicanas” que, por meio do parto, do aleitamento e da educação dos
filhos, preparavam a futura geração de patriotas. “Perigosas” eram “as
militantes, às vezes armadas, que denunciavam a incompetência e a corrupção dos
governantes e exigiam a punição dos ‘traidores do povo’”.
Até
aí morreu Neves, o machismo da época pode explicar o fato, portanto até que dá
pra engolir essa tese. Porém, mais adiante o resenhista diz por sua própria
interpretação:
É sintomático que essa visão negativa
acerca das mulheres militantes tenha sido endossada, em momentos diversos, por
diferentes facções em luta no processo revolucionário. Não apenas pela
contrapropaganda monarquista, como seria de esperar, mas também pelos
girondinos (representantes principalmente da alta burguesia moderada),
jacobinos (representantes principalmente da pequena burguesia radical) e outros
agrupamentos políticos. Apenas as
facções revolucionárias mais radicais, como a dos chamados enragés (“enraivecidos”),
sustentaram até o final a militância feminina.
Sei
não! Sei não! Mas tem angu nesse caroço (ou seria o contrário?!).
Quem
chamava essas facções radicais mais profundas, os radicais dos radicais, de “enragés” (enraivecidos)? Por que,
definidamente, somente esses sustentavam a militância feminina? Veja que, nesse
caso, separa-se uma suposta “minoria” de “enraivecidos” que apoiavam toda a militância feminina. É o que se
deduz. Portanto, coloca-se, assim, toda a militância feminina num saco de
“tricotadeiras”, mulheres frias, inclementes, monstruosamente insensíveis.
Enquanto os homens são tipificados em monarquista, burguesia moderada (girondinos), pequena burguesia radical
(jacobinos) e outros agrupamentos políticos.
Porém,
a experiência vivida me diz que pessoas enraivecidas, iradas, brutalizadas,
inclementes, intolerantes, cruéis, atrozes são geralmente misóginas e, em
muitos casos, usam capa, ou toga, de moralista, jamais revelando suas aversões
às mulheres. O disfarce pode ser sob a forma de falso sedutor-libertino e/ou
homofóbico.
As
tricoteuses, por exemplo, não podem
ser consideradas as principais representantes das mulheres revolucionárias,
pois eram escolhidas entre as raivosas mal-amadas, ou ingênuas muito sofridas,
para se sentar em frente ao patíbulo, fazer a claque aos gritos, a fim de
minimizar o sentimento de culpa dos carrascos e dos homens taciturnos da
plateia; muitos deles eram, na verdade, “revolucionários de última hora”,
ex-agentes da repressão, colaboradores da monarquia, traidores de seus pares.
Estes eram os agenciadores de “tricoteuses”, eles instigavam algumas mães,
dizendo que o condenado teria sido aquele que torturou, estuprou e assassinou
sua filha, filho ou marido.
O
problema de as mulheres revolucionárias (as principais responsáveis pela
Revolução Francesa) terem sido desmobilizadas foi o fato de não contarem com um
liderança feminina expressiva. Depois de usá-las, os homens as descartaram,
mandaram de volta pra cozinha, o tanque de lavar e a cama.
É
basicamente o que acontece hoje com os movimentos “acéfalos”, convocados pela
internet, supostamente sem lideranças. Também foi o que aconteceu com o
impeachment de Collor, os caras-pintadas não passaram de bucha de canhão.
Tempos depois, a “liderança” fabricada para aquele momento, sentiu-se usada e
foi reaproveitada pelo PT.
Quanto
ao título da resenha, ou mesmo do livro, essa coisa de qualificar as mulheres
em “virtuosas e/ou perigosas” não tem sentido, quando se trata de mulheres
revolucionárias, pois, para mim, por mau exemplo, a virtude mais nobre seria o
fato de serem perigosas.
Gostaria
de continuar tratando dessa resenha, mas acho melhor esperar o lançamento do
livro.
Porém,
como a pulga está insistindo, vou opinar sobre o mecenato.
A
Agência FAPESP é um serviço da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (FAPESP) e tem como presidente do Conselho Superior ninguém menos
inferior que Celso Lafer, que foi chanceler de Fernando Henrique Cardoso. Sim,
é ele mesmo, aquele que tirou os sapatos no aeroporto de Miami, em 31 de janeiro
de 2002, em simbólico ato de submissão do governo brasileiro ao império do
terror.
O resenhista, José Tadeu Arantes, o Kabir, é um guru discípulo do grande mestre Babaji Nagaraj, nasceu em São
Paulo, em 11 de fevereiro de 1951. Atua profissionalmente como jornalista,
escritor e professor. Com atividade na mídia
desde 1976, trabalha atualmente na Gerência de Comunicação da FAPESP (Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), e dá aulas no curso de Extensão
em Jornalismo da PUC de São Paulo. Em outubro de 2011, rodeado pelas majestosas
montanhas do Himalaia, recebeu de seu instrutor, Govindan Satchidananda, o nome
espiritual de Kabir, em homenagem ao grande poeta místico do século XV, e como
lembrança da meta que deve buscar na vida.
Deve
ser um desses gurus que, quando seus seguidores o veem, erguem as mãos aos céus
e dizem: “Salve, ó Deus!”, e ele responde “Salvá-lo-ei”.
Não
sei por quê, só sei que essa pulga petista está incomodando pra caramba! Ela
quer dizer que podem reeditar a ficha falsa de terrorista da presidenta Dilma.
Ou, se já saíram com um “Lula X-9”, nada melhor pra jogar um contra o outro:
Lula vira Robespierre e Dilma incorpora o espírito de Maria Antonieta, no papel
de Viúva Capeto, a vingança.
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12/12/2013
Por José Tadeu Arantes
Agência FAPESP – “Os homens tomaram a Bastilha, as mulheres tomaram o Rei”: assim
o historiador francês Jules Michelet (1798-1874) resumiu o alcance da primeira
grande manifestação política feminina ocorrida na Revolução Francesa – que
mudou a dinâmica do processo revolucionário, imprimindo-lhe a marca de uma
crescente radicalização.
O ato ocorreu no dia 5 de outubro de 1789, quando, encabeçadas pelas
vendedoras de peixe de Paris, cerca de 7 mil mulheres, armadas de facões de
cozinha, lanças rústicas (piques), machados e dois canhões, marcharam a
Versalhes, sede da Corte Real e da Assembleia Nacional, para protestar contra a
escassez e o preço do pão, arrastando atrás de si soldados da Guarda Nacional e
outros homens.
No dia seguinte, exasperadas com a crise de abastecimento e a atitude de
Luís XVI, que vetava sistematicamente todos os decretos revolucionários da
Assembleia, as manifestantes pressionaram o Rei a abandonar o Palácio de
Versalhes e o escoltaram à capital.
“Foi uma iniciativa política sofisticada, porque, com a concentração do
poder em Versalhes, o rei ficava longe da pressão popular e mais exposto às
influências da rainha e da corte, e se utilizava do direito de veto, que ainda
possuía no início da Revolução, para impedir que as reformas fossem realizadas.
Ao trazerem Luís XVI para Paris, as mulheres mudaram o centro de gravidade do
processo revolucionário e propiciaram à população da capital um novo
protagonismo”, disse à Agência FAPESP Tania Machado Morin, autora
do livro Virtuosas e perigosas: as mulheres na Revolução Francesa,
que será lançado no fim de janeiro.
Apresentado originalmente como dissertação de mestrado no Departamento
de História da Universidade de São Paulo (USP), com orientação da professora
Laura de Mello e Souza, o livro, agora publicado com apoio da FAPESP,
divide-se em duas partes: a primeira discorre sobre as práticas políticas
femininas ocorridas no curso da Revolução e suas repercussões na sociedade; a
segunda parte analisa em detalhes um conjunto de imagens, representando
mulheres, produzidas durante o período revolucionário.
Morin, que fez a maior parte de sua pesquisa iconográfica no Gabinete
das Estampas do Museu Carnavalet e na Biblioteca Nacional da França, em Paris,
demonstra, por meio dos fatos e das imagens, como o protagonismo feminino
evoluiu ao longo do processo revolucionário e dividiu-se em tendências muitas
vezes conflitantes, e como a visão masculina, sempre hegemônica, mudou
correspondentemente.
“Enquanto as ativistas foram aliadas úteis dos líderes revolucionários,
eles conviveram com os clubes femininos e toleraram suas manifestações, na
Assembleia e nas ruas. Mas, no momento em que deixaram de ser apenas
personagens excêntricas e barulhentas para se tornarem uma ameaça política, os
governantes julgaram necessário reprimi-las com o rigor da lei e a força das
armas”, disse Morin.
“Além da extinção dos clubes políticos femininos em outubro de 1793, em
maio de 1795 as mulheres foram proibidas de frequentar a Assembleia e de se
reunir em qualquer lugar, inclusive nas ruas, em grupos de mais de cinco, sob
pena de detenção imediata”, continuou.
As “mães republicanas” e as “fúrias do inferno”
Constituiu-se, assim, no imaginário da época, a dicotomia “virtuosas
versus perigosas”. Como Morin explica em seu livro, “virtuosas” eram as
mulheres idealizadas pelos líderes da Revolução: as “mães republicanas” que,
por meio do parto, do aleitamento e da educação dos filhos, preparavam a futura
geração de patriotas. “Perigosas” eram “as militantes, às vezes armadas, que
denunciavam a incompetência e a corrupção dos governantes e exigiam a punição
dos ‘traidores do povo’”.
As imagens traduziram de forma estereotipada esses conceitos. Às figuras
das “virtuosas”, inspiradas nas nobres matronas da estatuária romana ou nas
madonas da pintura renascentista cristã, oferecendo aos filhos o leite da
moralidade, contrapuseram, de forma muito explícita, as figuras das
“perigosas”, “verdadeiras ‘fúrias do inferno’, que tricotavam ao pé da
guilhotina, deleitando-se com o espetáculo da morte”.
É sintomático que essa visão negativa acerca das mulheres militantes
tenha sido endossada, em momentos diversos, por diferentes facções em luta no
processo revolucionário. Não apenas pela contrapropaganda monarquista, como
seria de esperar, mas também pelos girondinos (representantes principalmente da
alta burguesia moderada), jacobinos (representantes principalmente da pequena
burguesia radical) e outros agrupamentos políticos. Apenas as facções
revolucionárias mais radicais, como a dos chamados enragés (“enraivecidos”),
sustentaram até o final a militância feminina.
No entanto, as militantes, cuja principal organização política foi a
Sociedade das Cidadãs Republicanas Revolucionárias, não tinham uma agenda
propriamente feminista.
“Elas tinham, sim, uma agenda ‘terrorista’. Isto é, apoiavam o ‘terror
revolucionário’ como forma de governo: queriam a destituição dos aristocratas
de todos os cargos públicos e das chefias do exército; a adoção do ‘máximo’, ou
seja, do tabelamento dos preços dos gêneros de primeira necessidade; a estrita
vigilância em relação aos contrarrevolucionários e açambarcadores de
mercadorias, com a prisão, julgamento e eventual execução dos traidores; e
outras medidas radicais”, afirmou Morin.
Sua posição não se diferenciava daquela dos sans-culottes (“sem
culotes”), a numerosa massa popular urbana, especialmente ativa em Paris,
formada por trabalhadores assalariados, artesãos e pequenos comerciantes, assim
chamada porque os homens desse amplo segmento social não usavam culotes
(calções de seda abotoados abaixo dos joelhos sobre meias compridas), como os
aristocratas e a burguesia endinheirada, mas calças rústicas que desciam até os
pés.
Pauline Léon e Claire Lacombe, as fundadoras da Sociedade das Cidadãs
Republicanas Revolucionárias, eram mulheres educadas, que escreviam bem e
discursavam com eloquência. Pauline, nascida em Paris, trabalhou originalmente
como fabricante e comerciante de chocolates, ofício que herdou dos pais.
Claire, nascida em Pamiers de pais comerciantes, atuou como artista de teatro
em Marselha, Lyon e Toulon, antes de mudar para Paris e dedicar-se inteiramente
à Revolução.
As demais militantes eram, em geral, comerciantes de rua ou artesãs,
muitas delas iletradas. As fontes citadas por Tania Morin divergem quanto ao
número exato de frequentadoras da Sociedade, mas ele pode ser estimado em torno
de cem. No entanto as líderes diziam ter o apoio de milhares.
“Durante a revolução, houve várias crises de falta de alimentos. E as
mulheres – responsáveis pela alimentação da família, que enfrentavam, entre
outras, a fila do pão – foram às ruas reivindicar o controle governamental do
abastecimento e dos preços. E a punição dos açambarcadores dos gêneros de
primeira necessidade. Muitas foram empurradas para a militância por essa
razão”, disse Morin.
Contra a ‘tirania’ dos homens
Bem diferente foi o caso de Olympe de Gouges, que pode ser considerada
uma feminista avant la lettre. Filha nominal de um açougueiro de
Languedoc, mas, segundo dizia, descendente ilegítima de um marquês, Olympe era
politicamente próxima dos girondinos.
Idealista e generosa, insurgia-se contra as injustiças e defendia os
oprimidos, mas se horrorizou com os massacres perpetrados, em nome da
Revolução, nas prisões de Paris, em setembro de 1792.
Nessa ocasião, aterrorizadas com o avanço de tropas estrangeiras rumo à
capital francesa e com os boatos de que os aristocratas presos planejavam um
revide, massas enfurecidas invadiram os presídios e trucidaram os prisioneiros,
muitos deles delinquentes comuns, sem qualquer conexão com o complô
aristocrático. “O sangue dos inocentes, especialmente quando derramado com
crueldade e abundância, mancha indelevelmente as revoluções”, disse Olympe,
segundo citação no livro de Morin.
Autodidata, Olympe notabilizou-se como dramaturga e panfletária. “Ela
denunciou a ‘tirania que o homens exercem sobre as mulheres’ e defendeu uma
reforma do casamento, que deveria durar apenas enquanto subsistissem as
inclinações mútuas”, destacou Morin.
“Ao mesmo tempo, condenou a escravidão nas colônias, reclamou oficinas
de trabalho para operários desempregados, asilos para os órfãos e ajuda social
para os miseráveis. E propôs o casamento do padres, em nome dos bons costumes”,
disse Morin.
“Depois que a Assembleia Nacional promulgou a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão, em agosto de 1789, não contemplando nela nenhuma das
reivindicações especificamente femininas, Olympe publicou, no mês seguinte, sua
Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, reivindicando a igualdade cívica
entre os sexos”, disse.
Em outra faixa do espectro social e político, a Sociedade das Cidadãs
Republicanas Revolucionárias foi fundada em maio de 1793, no auge da
radicalização do processo revolucionário, após a invasão do território francês
por tropas austríacas e prussianas; a proclamação da República e a execução do
rei, acusado de traição depois de serem descobertos documentos que explicitavam
suas negociações secretas com as potências inimigas; e o levante camponês
instigado pela clero contrarrevolucionário e pelos aristocratas que buscavam
retomar o poder.
A sobrevivência da Revolução estava por um triz. E Robespierre,
Saint-Just, Marat, Danton, Desmoulins e outros representantes políticos da
pequena burguesia radical, reunidos no agrupamento heterogêneo dos montagnards (“montanheses”),
assim chamados por se sentarem nas arquibancadas mais altas da Convenção
Nacional, buscavam uma aliança com as massas populares como forma de salvá-la.
Nesse momento crítico, as militantes da Sociedade das Cidadãs Republicanas
Revolucionárias desempenharam importante papel na luta dos montanheses contra
os girondinos, cujos deputados, até então hegemônicos na Convenção, favoreciam
os interesses burgueses em detrimento dos sans-culottes.
“De fato, as Republicanas concorreram para preparar a insurreição contra
os girondinos, fazendo propaganda, discursando, promovendo agitações na
Convenção, nos clubes políticos, nas seções”, escreveu Morin.
No dia 2 de junho de 1793, pressionada por uma insurreição popular em
Paris, a Convenção ordenou a prisão de 29 deputados girondinos. Derrotados, os
girondinos utilizaram a retórica mais furiosa para denegrir as militantes. Elas
foram chamadas de “bacantes de Marat” e “megeras” e acusadas de quererem “fazer
rolar as cabeças e se embebedar de sangue”.
Já em setembro-outubro do mesmo ano, porém, acompanhando a radicalização
dos enragés, que acusavam a Convenção de imobilismo e defendiam a
democracia direta, com a autonomia das assembleias populares das “seções”
(correspondentes grosso modo aos bairros parisienses da época) em relação às
autoridades constituídas, as militantes passaram a ser criticadas também pelos
montanheses, que, apesar de acatarem várias reivindicações dos sans-culottes,
como o tabelamento dos preços e a execução dos contrarrevolucionários,
procuravam preservar a estrutura representativa.
Peixeiras versus militantes politizadas
Um grave conflito entre as vendedoras de peixes e as militantes – que
mobilizou um grande grupo de mulheres e acabou em agressões físicas – foi a
gota d’água que possibilitou ao Comitê de Segurança Geral extinguir, não apenas
a Sociedade das Cidadãs Republicanas Revolucionárias, mas todos os outros
clubes femininos do país.
Em seu livro, Tania Morin analisa detalhadamente o relatório apresentado
por Jean-Baptiste André Amar, então relator do Comitê de Segurança Geral, para
justificar a proibição das agremiações femininas – motivada por contradições
políticas imediatas, mas que também trazia à tona concepções ideológicas de
fundo. Tal relatório é o único documento oficial da época revolucionária que
enuncia os princípios da exclusão feminina da vida política nacional.
Pauline Léon foi detida com o marido, o enragé Théophile
Leclerc, em abril de 1794, sendo libertada pouco tempo depois. Já Claire Lacombe
permaneceu encarcerada um ano e meio. “Na opinião de suas amigas, a prisão
quebrou seu espírito. Apesar da insistência das antigas companheiras, ela
abandonou definitivamente a política e deixou Paris, voltando à vida de atriz e
à obscuridade”, escreveu Morin. Crítica veemente do regime de terror liderado
por Robespierre, Olympe de Gouges foi guilhotinada em 3 de novembro de 1793.
“Depois da dissolução dos clubes femininos, as mulheres continuaram
participando ativamente da política por meio dos clubes mistos”, falou a
pesquisadora.
“Isso se prolongou até 1795, quando, após a deposição e a execução de
Robespierre e a retomada do poder pela alta burguesia conservadora, houve duas
revoltas muito importantes em Paris, as revoltas de Germinal e Prairial. Foram
os últimos levantes populares na Revolução Francesa. Neles, as mulheres
desempenharam um papel decisivo, incitando os homens a invadir a sala da
Convenção, onde se reunia o governo, para reivindicar a aplicação da
Constituição revolucionária de 1793 e reclamar da falta de pão, pois estavam
todos morrendo de fome. Por essa atuação como incitadoras, as mulheres ficaram
apelidadas como as ‘bota-fogos’”.
Os levantes foram ferozmente reprimidos, com numerosas prisões e
execuções. A fase do movimento popular urbano da Revolução chegava ao ocaso. A
última tentativa de levar o processo revolucionário adiante, a “Conjuração dos
Iguais”, liderada por Gracchus Babeuf, foi desmantelada em maio de 1796, com a
prisão dos líderes. Babeuf foi guilhotinado um anos depois.
“As mulheres foram silenciadas e confinadas ao lar. As francesas só
acederam aos direitos cívicos após a Segunda Guerra Mundial. Por isso, algumas
historiadoras acham que nada restou da participação feminina revolucionária. E
que entre as precursoras do feminismo e as feministas modernas não há nenhum
elo”, afirmou Morin.
A historiadora, no entanto, discorda dessa posição. “A Sociedade das
Cidadãs Republicanas Revolucionárias foi o protótipo dos clubes políticos de
mulheres que surgiram na revolução de 1848. Aqueles seis primeiros anos da
Revolução ficaram na história das lutas pela cidadania e serviram de inspiração
para as gerações futuras”, afirmou.
·
Virtuosas e perigosas: as mulheres na Revolução
Francesa
Autora: Tania Machado Morin
Lançamento: janeiro de 2014
Editora: Alameda
Preço: a ser definido
Páginas: 370
Mais informações: www.alamedaeditorial.com.br
_____________________________________________Autora: Tania Machado Morin
Lançamento: janeiro de 2014
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Preço: a ser definido
Páginas: 370
Mais informações: www.alamedaeditorial.com.br
De...
...para a PressAA...
Trabalho sexual, dignidade e preconceitos
Nos últimos anos, prostituição foi equiparada a tráfico humano e ofício indesejável. Este erro brutal atinge, infelizmente, as feministas ortodoxas
Por Marília Moschkovich | Imagem: Pan Yuliang
(Para ler artigo completo, clique no título)
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A síndrome da militância arrogante
26/05/2013CATEGORIAS: COMPORTAMENTO, POSTS, SOCIEDADE
Parte dos oprimidos adota, previsivelmente, a ideologia do opressor. Mas nem por isso feminismo, ou outros movimentos libertários, deveriam julgar-se superiores
Por Marília Moschkovich, editora de Mulher Alternativa | Imagem: Nick Gentry
A situação não é nada nova: mulheres reforçando o machismo. Isso sempre existiu e existirá, enquanto houver machismo. Ser mulher não torna ninguém automaticamente revolucionária, feminista. Estar na condição de oprimido não torna ninguém necessariamente contra a opressão. Aqueles que lutaram e lutam pelo socialismo no mundo todo sabem bem disso. Se essa condição fosse suficiente para derrubarmos as opressões, definitivamente não teríamos saído da guerra fria como majoritariamente capitalistas, no mundo todo. Quem eram (e quem são) os soldados estadunidenses nas guerras contra “o comunismo”? Donos de empresas? A classe que tem os meios de produção? (eu realmente preciso responder essas perguntas pra vocês?)
A lógica é relativamente simples: existe uma forma dominante de pensar, que defende sempre os interesses de quem domina. Marx chamou isso de ideologia, Gramsci foi mais longe e pensou numa hegemonia, Althusser explicou que esse negócio se difunde por “aparelhos ideológicos” responsáveis em transmitir essas maneiras de pensar e reforçá-las (e, depois, dirá Foucault, a coagir e controlar as pessoas para que as executem). Essa é, substancialmente, a maneira pela qual quem concentra poder mantém o poder concentrado e a sociedade funciona como funciona. As opressões de classe, raça e gênero têm ainda uma série de ferramentas próprias para que se mantenham.
Por isso, não é de se espantar que mulheres reforcem o machismo, ou que pessoas negras reforcem o racismo, ou que pessoas mais pobres defendam os interesses de pessoas mais ricas, e daí em diante. Como militantes, porém, temos duas formas de lidar com essa situação.
A primeira forma é um tanto contraditória, mas extremamente popular entre militantes de diversas causas, infelizmente. Frustrados com essa contradição gerada pelos próprios sistemas de opressão, muitos de nós acabam descontando a frustração nas pessoas que, em tese, estaríamos defendendo. Há algumas semanas, várias companheiras feministas compartilharam no Facebook uma imagem que apontava alguns motivos pelos quais as mulheres deveriam reconhecer o feminismo. No fim da imagem, um pequeno asterisco estragava todo o propósito de militância, com os seguintes dizeres: “Mas se você prefere continuar lavando louça, provavelmente você deve ser mais útil na cozinha. Então fique lá, enquanto outras lutam por você. Não precisa expor sua ignorância para toda a rede”.
Ai. Essa me doeu na alma.
Doeu porque é uma postura muito comum: o militante, ou a militante, sente-se de alguma maneira superior porque consegue enxergar além do véu da ideologia dominante (como diria o barbudo alemão). Esse ar de superioridade faz com que ele ou ela sinta-se no direito de falar por grupos dos quais muitas vezes ele/ela não fazem parte e, muito pior que isso, excluir as próprias pessoas em situação de opressão da luta contra essa opressão. Acham-se no direito de determinar que sua luta “serve” apenas para algumas pessoas – aquelas iluminadas como ele/a, que enxergam os mesmos grilhões. Que raio de militância é essa?
Pessoalmente, prefiro uma segunda atitude possível diante dessa frustração. A bem da verdade, ela inibe o próprio sentimento de frustração. Consiste em enxergar, na existência de oprimidos que agem contra seus próprios interesses, um resultado inevitável do próprio sistema de opressão. Isso permite entender que, enquanto nossos movimentos (negro, feminista, de trabalhadores, etc) existirem, essa contradição existirá, já que a partir do momento em que acabarmos com a opressão, nossa própria militância perde o propósito de existir. Quer dizer: lutamos para acabar com uma opressão; enquanto essa opressão existir, existirá essa contradição que frustra muitos e muitas de nós; quando conseguirmos acabar com a opressão, conseguiremos acabar com a contradição; mas então, nosso próprio movimento deixará de existir.
O fim último de todo movimento contra opressões é que, como resultado de seu próprio trabalho, ele deixe de ser necessário. Que ele deixe de ser necessário precisa ser um objetivo geral, que valha para absolutamente todas as pessoas envolvidas nesses sistemas de opressão. Não dá pra pensar um feminismo que quer incluir apenas as feministas no processo e no resultado da luta. Não dá, gente. Não dá.
Ou o feminismo será para todas e todos, ou não será.
–
Marília Moschkovich é socióloga, editora do site Mulher Alternativa e co-editora de Blogueiras Feministas. Seus textos em Outras Palavras podem ser lidos aqui.
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Oprah: "Se eu tivesse filhos, provavelmente eles teriam ódio de mim!"
Apresentadora abriu o jogo sobre não ter tido filhos, em nova entrevista
Uma das mulheres mais celebradas do showbusiness norte-americano, Oprah Winfrey acaba de sentar para um papo pra lá de sincero com a revista The Hollywood Reporter.
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Texto recebido por e-mail da nossa colaboradora-correspondente Urda Alice Klueger:
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A morte do poeta e os ecos da
“novembrada”
Historicamente Santa Catarina é um
estado privilegiado, como poucos, em termos de produção cultural. A pluralidade
e diversidade desse patrimônio imaterial advêm, acredito eu, de um encantamento
com suas belezas naturais e do encontro das inúmeras etnias que se espalham por
todo o território catarinense. Por isso mesmo, é absolutamente inadmissível que
a Cultura continue sendo (mal) tratada como peça assessória no contexto das
políticas governamentais. Essa riqueza artística e cultural acumulada é que dá identidade
ao povo catarinense. No entanto, infelizmente, o setor cultural vem lutando
para sair do plano do supérfluo e ganhar a importância que lhe é devida.
Em termos de política pública
cultural o que constatamos é um estado de abandono, desrespeito e contínua
omissão. Há muitos anos a Cultura foi embrulhada num mesmo pacote com o Turismo
e o Esporte, compondo uma Secretaria que já se chamou SOL – Secretaria da
Organização do Lazer, inspirada nas teorias do “ócio criativo” do sociólogo
italiano Domenico De Masi. Qual o sentido de se "organizar o
lazer" e de se pregar o "ócio criativo", especialidade na qual
boa parte dos nativos da Ilha de Santa Catarina são PHD?Parece piada, mas não
é.
Tendo recebido como herança maldita
do seu antecessor, o atual governador manteve intacta a estrutura de Governo
que, a par das chamadas Secretarias Centrais, sustenta a paquidérmica coleção
de quase 40 Secretarias de Desenvolvimento Regional. Qualquer cidadão com um
mínimo de bom senso, informação e cultura reconhece que esse modelo condena o
Estado a uma situação de profunda anemia financeira. É cristalino que essas SDR
somente existem para acomodar cabos eleitorais e que a descentralização poderia
muito bem ser executada através de Coordenadorias, Diretorias ou Gerências. Mas
quem se atreve a cortar as benesses, mordomias e privilégios contidos no status
de Secretaria? Por que arriscar a base de sustentação política que assegura a
continuidade no poder? Ninguém é bobo – somente o povo, o contribuinte, que
paga a conta.
É triste reconhecer que o Governo do
Estado, tão pródigo na criação e manutenção de tantas Secretarias, não dê
autonomia e independência para esses três setores importantíssimos, que são o
Turismo, o Esporte e a Cultura. Não há como reconhecer a importância do Turismo
para a economia do Estado. Mas esse setor também não consegue se desenvolver e
expandir suas potencialidades da forma como está situado. As demandas do
Turismo são vastas e complexas e precisam de um planejamento próprio. O mesmo
vale para o Esporte e a Cultura, que são determinantes para uma política
pública séria que pensa em formação de cidadania e inclusão social. Se em
determinado momento o Turismo se entrelaça com a Cultura, essa área de
convergência é ínfima para justificar tal atrelamento. Arrisco dizer que de
cada mil turistas que visitam o Estado, depois da praia menos de uma dúzia
procuram por um museu, teatro ou galeria de arte. O destino natural são os
shoppings, bares, restaurantes e baladas. Isso é óbvio.
A Cultura padece ainda mais por esse
equívoco administrativo, pois sobrevive à sombra do Turismo. As casas de
cultura e espaços culturais vivem à míngua. Os artistas há muito foram
deserdados, com os poucos editais públicos de fomento às atividades artísticas
sendo ano a ano empurrados com a barriga, procrastinados ou adiados. O que
impera é a política neoliberal de transferência de responsabilidade das
decisões sobre a Cultura para a iniciativa privada, na medida em que a
principal ação de governo é induzir os produtores e agentes culturais a
utilizar os mecanismos de incentivo fiscal. Isso quando o próprio Governo não
compete de forma desigual com os produtores independentes, indo ao mercado
captar patrocínio para seus próprios projetos, como no caso emblemático da
Ponte Hercílio Luz. E com isso, o que resta como marca de ação governamental
são a ausência, o autoritarismo e a instabilidade na área cultural.
Na última segunda-feira, 25 de
novembro, tive a honra de ser agraciado com a Medalha do Mérito Cultural Cruz e
Souza. A maior honraria da Cultura no Estado, algo que nunca cobicei e que
jamais imaginei alcançar. Ainda tenho dúvidas se de fato sou merecedor de tal
distinção. Mas como estava em ótima companhia, resolvi aceitar. Juntos
estavam, in memoriam, o mestre Zininho e o escritor Holdemar de
Menezes, mais o coreógrafo Amarildo Cassiano, do Ballet Bolshoi de Joinville, o
cenotécnico e administrador cultural Osni Cristóvão, o historiador e fotógrafo
Joi Cletison Alves, e as instituições Associação Coral de Chapecó, Federação
Catarinense de Teatro – FECATE, Museu Victor Meirelles e Biblioteca Pública do
Estado. Confesso que quando o escritor Amilcar Neves, membro do Conselho
Estadual de Cultura, fixou em meu peito a medalha que leva o nome de Cruz e
Souza, a emoção bateu forte e invadiu a minha alma. Um momento fugaz, que
ficará guardado eternamente. Só que a realidade dos fatos logo me fez trocar em
parte a alegria pela tristeza, o envaidecimento pela indignação.
A começar pela consciência de que a
sina de Cruz e Souza, apesar da passagem do tempo, ainda persiste entre boa
parte dos que se atrevem a fazer da arte uma profissão de fé. Gênio
do simbolismo universal, maior poeta brasileiro de todos os tempos na minha
modesta opinião, Cruz e Souza morreu na mais absoluta miséria. Em vida, sofreu
na pele negra a rejeição causada pelo preconceito e racismo, tendo suportado a
dor de ver quatro de seus filhos morrerem de tuberculose e a mulher Gavita
enlouquecer aos poucos diante de tanto sofrimento, decorrente da fome e da
péssima condição de vida da família. De Minas Gerais, onde havia ido buscar
tratamento para a tuberculose que por fim também o levou, o corpo de Cruz e
Souza foi transportado em um vagão de trem que levava gado para o Rio de
Janeiro, onde foi sepultado praticamente como indigente. Bastou morrer para que
a sua genialidade fosse reconhecida, sendo alçado ao panteão do simbolismo
universal ao lado de Verlaine, Rimbaud e Mallarmé. Mas seus restos mortais,
trasladados alguns anos atrás para Florianópolis, a sua cidade natal, entre
discursos demagógicos e foguetórios, vergonhosamente continuam abandonados num
canto perdido do Museu Histórico que, solene e ironicamente, também leva seu
nome – Palácio Cruz e Souza.
Enquanto as medalhas iam sendo
distribuídas eu me afundava na poltrona e em meus pensamentos cada vez mais
cinzas. Olhando o palco do Teatro Álvaro de Carvalho, fundado em 1857 e que
tantos artistas e espetáculos memoráveis acolheu ao longo de sua história,
lembrei-me de que ele também, Álvaro de Carvalho, o primeiro dramaturgo
catarinense, igualmente não teve o descanso eterno que merecia e o respeito que
se esperava dos governantes catarinenses. Seus ossos mortais continuam
abandonados em Buenos Aires, aonde veio a falecer de febre tifoide em 1865.
Pensei em Zininho, o nosso poeta
maior, autor do hino oficial da capital catarinense. Enquanto sua viúva e sua
filha recebiam a comenda que, em seu caso, já veio tarde, também lembrei de
toda a privação que passou no crepúsculo de sua vida. O nosso maior músico,
Luiz Henrique Rosa, que naquela mesma data se vivo fosse completaria 75 anos,
também foi solenemente ignorado. Assim como a data litúrgica, 25 de novembro,
que é dedicada a Santa Catarina - padroeira dos artesãos, artistas,
bibliotecários, jovens, estudantes e desse Estado – sequer foi mencionada pelo
cerimonial, num lapso imperdoável. Pior foi constatar que o desprestígio e
desapreço pela Cultura catarinense se evidenciava na ausência de quem se
esperava exatamente o contrário. Não apareceu nenhum senador, deputado, representante
do prefeito, vereador, secretário de Estado (além do titular da pasta do
Turismo, Esporte e Cultura, Valdir Walendowski), sequer representantes
das entidades culturais (com raras exceções), assim como nenhuma cobertura por
parte dos jornais ou emissoras de televisão. O próprio Governador do Estado,
Raimundo Colombo [PressAA: Cá sabe-se que esse hoje é do PSD do Kassab, depois de saltar do PFL para um galho daquela arvorezinha de Natal do DEM], que foi quem assinou a outorga da Medalha do Mérito Cultural,
vim a saber pela coluna do Cacau que naquele exato momento tinha ido ao
shopping assistir a um filme depois de dez anos sem ir ao cinema. Poderia
ter esperado um pouquinho mais. Gostaria muito de ter dirigido a fala que me
encarregaram em nome dos homenageados (e que reproduzo em parte nesse artigo)
olhando nos olhos do nosso governador só para ver qual a sua reação e o que
teria para dizer. Por isso, só tenho uma palavra para resumir o que
ocorreu: lamentável!
Ao que parece, os sismógrafos dos
políticos e governantes continuam desligados. Não captaram ainda os tremores
que vêm das ruas, do povo anônimo e cada vez mais impaciente. Esqueceram-se dos
ecos da “novembrada” (que hoje faz 34 anos e que também deve passar no
esquecimento), assim como das “diretas já”, do impeachment do Collor e até
mesmo das manifestações que varreram esse país como um tornado em meados deste
ano. Podia ainda lhes lembrar da revolução francesa e bolchevique, da chinesa e
da cubana, com as consequências diretas para os incautos governantes que também
ignoraram as vozes inconformadas que vinham das ruas. Mas prefiro mirar a outra
margem: se os governantes não mudam, que se mudem os governantes. Para tanto, é
necessário que o povo se mobilize, permanentemente, determinado a combater
essas redes piramidais de apadrinhamento que mantêm inabaláveis as estruturas
desgastadas do poder e que permitem aos seus ocupantes manterem por longos
períodos o estamento e o status que lhes asseguram as benesses e as vantagens
que ele, o povo, banca. Mas para isso é preciso liberdade de informação e um
processo contínuo de cidadania, educação e inclusão cultural.
Ainda haverá o dia em que o slogan
para esse nosso Estado, muito mais do que uma mera peça publicitária
artificial, mas como reflexo concreto de um pacto pela Cultura entre governo e
sociedade, seja de verdade “Santa, Bela e Culta Catarina”!
Eduardo Paredes
*Cineasta e jornalista
A leitura dessa crônica, me fez lembrar o
comentário que fiz ontem no site Taqui
Pra Ti, do nosso colaborador professor José Ribamar Bessa Freire, sobre a
sua crônica em homenagem a "DOM
WALDYR, O NOSSO BISPO", que faleceu recentemente.
Trecho:
"A cobertura contrasta com a
espetacularização do funeral televisionado do cardeal dom Eugenio Sales
(1920-2012), há um ano e meio, num show exacerbadamente sensacionalista. Ambos,
o bispo e o cardeal, tiveram intensa atuação pastoral e política no cenário
nacional. No entanto, no processo de rememoração que ocorre nessas despedidas,
cada um recebeu tratamento oposto. Para Eugênio, tudo, até a voz trêmula e o
tom compungido de William Bonner no Jornal Nacional. Para Waldyr, nada.
Por que?"
Fernando Soares Campos comentou:
12/12/2013 - 08:44:24
Esse é um problema sério, caro professor Bessa. Se nós vimos e continuamos vendo o que os defuntistas fazem com figuras obscuras, transformando-as em símbolos de luta pela dignidade, por que exigir que façam o mesmo com os verdadeiros lutadores? Ora, eu quero mesmo é que a mídia venal esqueça esses. Hoje (e por enquanto) temos nossos espaços para homenageá-los e registrar suas passagens por entre nós . Você queria o quê? Que Bonner chorasse e mostrasse um Hommer Simpson soltando uma pomba, ou que a bandeira fosse hasteada a meio-pau, enquanto o pau inteiro rompe o revestimento do sofá e pega a reta do reto? Ser homenageado por certa gente é desonroso. Certamente não dava para ignorar Mandela, mesmo assim distorceram o que podiam distorcer em relação à sua imagem. Chico Xavier rogava aos seus mentores que, se pudessem, fizessem sua passagem para o Além num dia em que a população estivesse em clima de total euforia diante das telinhas de tevê. Ele queria sair "à francesa", como dizem por aí. Foi atendido, desencarnou no dia em que o país comemorava mais uma conquista da Copa do Mundo. Mesmo assim, teve quem dissesse: “Em sua grandiosa simplicidade, ele será sempre uma referência para todos que, de alguma forma, têm responsabilidade pública. Minas, o Brasil, o mundo ficou menor com a morte de Chico Xavier”, disse Aécio Neves (e fez snif! snif!, e todo mundo pensou que ele estava chorando). Abraços. Fernando
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Ilustração:
AIPC – Atrocious International Piracy of Cartoons
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PressAA
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