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(Tradução* para os analfabetos em grego: Assaz Atroz)
Apresenta
ANDRÉ BRETON, IONESCO, SALVADOR DALI E LUÍS BUÑEL
ANDRÉ BRETON, IONESCO, SALVADOR DALI E LUÍS BUÑEL
em
BOM MESMO É O PIG!
BOM MESMO É O PIG!
Telecomédia de Raul Longo
(inspirada no estilo Fernando Soares Campos)
* * *
Estrelando
Minha Correspondente
Minha Correspondente
(personagem anônimo, amorfo, anódino e de origem desconhecida)
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Participações especiais:
Eugene Ionesco – Dramaturgo surrealista romeno, criador do Teatro do Absurdo.
André Breton – Escritor francês, teórico do surrealismo.
PIG – Partido da Imprensa Golpista para uns, Imprensa Grande pra outros, e Imprensa Gorda para o Miltainho: o Milton Severiano (Realidade, Bondinho, EX, Caros Amigos, etc.). Em suma: a oligarquia midiática do feudo das comunicações brasileiras, um sistema inquisitório e medieval sob o coronelato das famílias Marinho, Civita, Frias e Mesquita. Qualquer semelhança com organizações como a Máfia não é mera coincidência, nem isto se trata de uma obra de ficção. Ou assim é, se lhe parece, como diria o dramaturgo italiano Luigi Pirandello.
Luís Buñel – Cineasta surrealista espanhol.
Salvador Dali – Pintor surrealista espanhol.
Gala – Elena Ivanovna, russa, esposa de Salvador Dali.
* * *
CENA ÚNICA:
Sala iluminada por uma tela de TV e a luz de um monitor de computador.
Minha Correspondente digita martelando o teclado, mas voltada para a tela plana da TV.
Minha Correspondente: Dadá, gugu dadá! Dadá! Dadá!
Luz em Ionesco entrando na sala. Dá-se conta de Minha Correspondente e estanca, sibilando em direção a um vulto voltado para a rotunda.
Ionesco – Ssiiiiuuu!
O vulto atende, revelando-se André Breton.
Ionesco (apontando Minha Correspondente de longe): - Outra da turma do Tzara[1]?
Breton – De certa forma, mas a terra dela se chama Brasil.
Ionesco – Mas lá não é dadá, é Lula!
Buñuel (entrando): - O Anjo Exterminador! A porta está aberta, mas não encontram a saída!
Breton – Ali a coisa é ainda mais séria. Nem Freud[2] explica.
Ionesco – Não disse? É o desequilíbrio: Dadá!
Breton – Não tem nada à ver com cavalo de pau. A questão é a de cara de pau![3]
Salvador Dali (adentrando estouvado): – Os cavaleiros do Apocalipse! Chamem o Hieronymus, o herói do sertão![4]
Clarões estáticos na tela da TV ribombam estentóricos magnetizando os atores e produzindo espasmos na Minha Correspondente, enquanto no écran surgem flashes dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse: os presidentes da Rede Globo, do Estado de São Paulo, da Folha de São Paulo e da Editora Abril.
Confusão geral! Minha Correspondente em crescente histeria e aficionada na imagem da TV, ao lado (quase atrás), digita aleatoriamente e alheia ao protesto da ANJ contra a divulgação de informações da Petrobrás se reproduzindo na tela do monitor. Um dos personagens se aproxima e lê o documento em voz alta para facilitar a incompreensão do compreensível ou vice-versa. No tubo da TV a esfinge dos Cavaleiros do Apocalipse, escalavrados em píncaros de rochas numa imitação das do Monte Rushmore. Abaixo dos bustos, as palavras: THE PIG.
Salvador Dali – Fudeu!
Animação das carantonhas de pedra dos PIG BOSS sendo amassadas, por algo acima e fora de quadro.
Pig Boss Marinho (irritado) - Cacete!
Pig Boss Civita (conciliador) – Não reclama que o Babão era pior.
Pig Boss Frias (temeroso) – Segura aí gente! Se não vamô tudo rolá ribanceira abaixo!
Pig Boss Mesquita (putíssimo) – Inventaram o moleque das Alagoas, agora têm que aguentá!
Enquadramento da esfinge de José Serra, impassível apesar de desequilibrado sobre os esculpidos e irritadiços bustos dos Pig Boss. A Minha Correspondente em estesia orgástica.
Buñuel – Que é isso aí? Os Estranhos Caminhos de Santiago?
Ionesco – Ou um agente funerário?
Dali – Un chien andalou, n’est-ce pás[5]?
Breton (parafraseando Lautréamont): - “de quem serão estes cabelos?”[6]
Ionesco – Ou seja: o que o cu tem a ver com as calças?
Breton (didaticamente estendendo uma varinha metálica e retrátil, com a qual faz cócegas nos narizes das carantonhas da tela, que correspondem com espirros infectos): - Tudo! Acompanhem! Em tristan tzara brasilienses estes são os senhores da informação. Y, por supuesto, no quieren que la información sea informada.
Sob efeito similar ao de troca de slides, surge imagem de uma plataforma marítima petrolífera em naufrágio. Coincidentemente e por ser a maior e única da história: a P-36.
Ionesco - Absurdo! Os surrealistas somos nós!
Buñuel - Cadê o discreto charme dessa burguesia?
Dali - Usurpação!
Breton - Usurpação, manipulação, desespero edipiano, libido pelo úbere da censura prévia materna, chamem como quiserem... Mas nos derrubaram! São muito mais surrealistas do que qualquer um de nós!
Dali (indignado) - Filhos da puta!
Breton - E ditatorial! Carinhosamente a ela se referem como “Ditabranda”
Ionesco - Então, Freud explica.
Buñuel – Qual a verdadeira verdade de Veridiana?
Dali – Que caraco! Estos hombres no tienen una mujer?
Breton – Esse é o problema: a Dilma!
Ionesco (espantado): - Mas o problema não era o Lula?
Minha Correspondente (em delírio espumante e desfalecendo): - Dadá! Dadá! DADÁ!
Todos se acercam:
Buñuel - La Olvidada!
Dali – Sintoma da Persistência da Memória no escoar das horas!
Breton – Dizem que é coisa da gripe suína! A pobre tem respirado perto do focinho do PIG.
Ionesco (leva a mão para sentir a temperatura da testa da moça, mas interrompe o gesto e recua. Esfrega a mão sobre o peito, como se tentando desinfetar o contato que não houve): - Coisa nenhuma! São os rinocerontes que invadiram a cabeça dessa moça!
Dali – Rinoceronte não! O PIG.
Buñuel – A Mirian Leitão!
Dali – O PIG!
Buñuel – Mirian Leitão!
Dali – PIG!
Buñel – Leitão!
Dali – Você não entende nada, seu esquerda festiva!
Buñel – Quem não entende é você, seu direita fascista! Lambe ovos de franquista!
Gala (somente a voz, chamando): - Meninos! Já passei o café! Venham esquentar o leite.
Todos saem. Ficam apenas Minha Correspondente inerte como desfalecera, e Breton, desolado, apoiado na quina do televisor.
Breton – Não! Serra e Aécio, não!
Afastando a rotunda, com uma xícara na mão, Ionesco reaparece oferecendo:
Ionesco – Café com leite?
Apoplético, Breton berra raivoso e avança sobre Ionesco. Ambos somem por trás da rotunda.
Repentinamente Minha Correspondente senta-se, ainda no chão, mas estendendo uma mão acima para digitar o teclado e com a outra apontando o televisor para a platéia, enquanto repete em sorriso patético:
Minha Correspondente – Dadá! Dadá! Dadá! Dadá! Dadá! Dadá! Dadá! Dadá! Dadá! Dadá!
Minha Correspondente: Dadá, gugu dadá! Dadá! Dadá!
Luz em Ionesco entrando na sala. Dá-se conta de Minha Correspondente e estanca, sibilando em direção a um vulto voltado para a rotunda.
Ionesco – Ssiiiiuuu!
O vulto atende, revelando-se André Breton.
Ionesco (apontando Minha Correspondente de longe): - Outra da turma do Tzara[1]?
Breton – De certa forma, mas a terra dela se chama Brasil.
Ionesco – Mas lá não é dadá, é Lula!
Buñuel (entrando): - O Anjo Exterminador! A porta está aberta, mas não encontram a saída!
Breton – Ali a coisa é ainda mais séria. Nem Freud[2] explica.
Ionesco – Não disse? É o desequilíbrio: Dadá!
Breton – Não tem nada à ver com cavalo de pau. A questão é a de cara de pau![3]
Salvador Dali (adentrando estouvado): – Os cavaleiros do Apocalipse! Chamem o Hieronymus, o herói do sertão![4]
Clarões estáticos na tela da TV ribombam estentóricos magnetizando os atores e produzindo espasmos na Minha Correspondente, enquanto no écran surgem flashes dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse: os presidentes da Rede Globo, do Estado de São Paulo, da Folha de São Paulo e da Editora Abril.
Confusão geral! Minha Correspondente em crescente histeria e aficionada na imagem da TV, ao lado (quase atrás), digita aleatoriamente e alheia ao protesto da ANJ contra a divulgação de informações da Petrobrás se reproduzindo na tela do monitor. Um dos personagens se aproxima e lê o documento em voz alta para facilitar a incompreensão do compreensível ou vice-versa. No tubo da TV a esfinge dos Cavaleiros do Apocalipse, escalavrados em píncaros de rochas numa imitação das do Monte Rushmore. Abaixo dos bustos, as palavras: THE PIG.
Salvador Dali – Fudeu!
Animação das carantonhas de pedra dos PIG BOSS sendo amassadas, por algo acima e fora de quadro.
Pig Boss Marinho (irritado) - Cacete!
Pig Boss Civita (conciliador) – Não reclama que o Babão era pior.
Pig Boss Frias (temeroso) – Segura aí gente! Se não vamô tudo rolá ribanceira abaixo!
Pig Boss Mesquita (putíssimo) – Inventaram o moleque das Alagoas, agora têm que aguentá!
Enquadramento da esfinge de José Serra, impassível apesar de desequilibrado sobre os esculpidos e irritadiços bustos dos Pig Boss. A Minha Correspondente em estesia orgástica.
Buñuel – Que é isso aí? Os Estranhos Caminhos de Santiago?
Ionesco – Ou um agente funerário?
Dali – Un chien andalou, n’est-ce pás[5]?
Breton (parafraseando Lautréamont): - “de quem serão estes cabelos?”[6]
Ionesco – Ou seja: o que o cu tem a ver com as calças?
Breton (didaticamente estendendo uma varinha metálica e retrátil, com a qual faz cócegas nos narizes das carantonhas da tela, que correspondem com espirros infectos): - Tudo! Acompanhem! Em tristan tzara brasilienses estes são os senhores da informação. Y, por supuesto, no quieren que la información sea informada.
Sob efeito similar ao de troca de slides, surge imagem de uma plataforma marítima petrolífera em naufrágio. Coincidentemente e por ser a maior e única da história: a P-36.
Ionesco - Absurdo! Os surrealistas somos nós!
Buñuel - Cadê o discreto charme dessa burguesia?
Dali - Usurpação!
Breton - Usurpação, manipulação, desespero edipiano, libido pelo úbere da censura prévia materna, chamem como quiserem... Mas nos derrubaram! São muito mais surrealistas do que qualquer um de nós!
Dali (indignado) - Filhos da puta!
Breton - E ditatorial! Carinhosamente a ela se referem como “Ditabranda”
Ionesco - Então, Freud explica.
Buñuel – Qual a verdadeira verdade de Veridiana?
Dali – Que caraco! Estos hombres no tienen una mujer?
Breton – Esse é o problema: a Dilma!
Ionesco (espantado): - Mas o problema não era o Lula?
Minha Correspondente (em delírio espumante e desfalecendo): - Dadá! Dadá! DADÁ!
Todos se acercam:
Buñuel - La Olvidada!
Dali – Sintoma da Persistência da Memória no escoar das horas!
Breton – Dizem que é coisa da gripe suína! A pobre tem respirado perto do focinho do PIG.
Ionesco (leva a mão para sentir a temperatura da testa da moça, mas interrompe o gesto e recua. Esfrega a mão sobre o peito, como se tentando desinfetar o contato que não houve): - Coisa nenhuma! São os rinocerontes que invadiram a cabeça dessa moça!
Dali – Rinoceronte não! O PIG.
Buñuel – A Mirian Leitão!
Dali – O PIG!
Buñuel – Mirian Leitão!
Dali – PIG!
Buñel – Leitão!
Dali – Você não entende nada, seu esquerda festiva!
Buñel – Quem não entende é você, seu direita fascista! Lambe ovos de franquista!
Gala (somente a voz, chamando): - Meninos! Já passei o café! Venham esquentar o leite.
Todos saem. Ficam apenas Minha Correspondente inerte como desfalecera, e Breton, desolado, apoiado na quina do televisor.
Breton – Não! Serra e Aécio, não!
Afastando a rotunda, com uma xícara na mão, Ionesco reaparece oferecendo:
Ionesco – Café com leite?
Apoplético, Breton berra raivoso e avança sobre Ionesco. Ambos somem por trás da rotunda.
Repentinamente Minha Correspondente senta-se, ainda no chão, mas estendendo uma mão acima para digitar o teclado e com a outra apontando o televisor para a platéia, enquanto repete em sorriso patético:
Minha Correspondente – Dadá! Dadá! Dadá! Dadá! Dadá! Dadá! Dadá! Dadá! Dadá! Dadá!
* * *
[1] Tristan Tzara (terra triste) – poeta romeno, iniciador do movimento dadaísta.
[2] Sigmund Freud – psicanalista judeu-austríaco no qual Breton se inspirou para o manifesto surrealista.
[3] Dadá - palavra com que as crianças pequenas se referiam aos cavalos de pau que balouçavam à frente e para trás, utilizada como denominação ao dadaísmo, contraposição às noções de equilíbrio.
[4] Heironymus Bosch – pintor flamengo (de Flandres, norte da Bélgica, onde é falado o neerlandês) do séc. XV. Apontado como precursor do surrealismo plástico e de forte influência sobre Dali.
[5] “Um cão andaluz, não é?” Un chien andalou, título de uma das primeiras obras cinematográficas surrealistas, criada por Buñuel e Dali.
[6] Conde de Lautréamont – pseudônimo do poeta uruguaio Isidore Ducasse que na França escreveu “Os Cantos de Maldoror”, considerada como obra precursora do surrealismo.
[1] Tristan Tzara (terra triste) – poeta romeno, iniciador do movimento dadaísta.
[2] Sigmund Freud – psicanalista judeu-austríaco no qual Breton se inspirou para o manifesto surrealista.
[3] Dadá - palavra com que as crianças pequenas se referiam aos cavalos de pau que balouçavam à frente e para trás, utilizada como denominação ao dadaísmo, contraposição às noções de equilíbrio.
[4] Heironymus Bosch – pintor flamengo (de Flandres, norte da Bélgica, onde é falado o neerlandês) do séc. XV. Apontado como precursor do surrealismo plástico e de forte influência sobre Dali.
[5] “Um cão andaluz, não é?” Un chien andalou, título de uma das primeiras obras cinematográficas surrealistas, criada por Buñuel e Dali.
[6] Conde de Lautréamont – pseudônimo do poeta uruguaio Isidore Ducasse que na França escreveu “Os Cantos de Maldoror”, considerada como obra precursora do surrealismo.
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Raul Longo
pousopoesia@ig.com.br
pousopoesia@gmail.com
www.sambaqui.com.br/pousodapoesia
Ponta do Sambaqui, 2886
88.051-001 - Floripa/SC
Tel: (48) 3206-0047
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*Tradutor: Goober, o cavalo alado que Fernando Soares Campos adquiriu da Wells & Fargo num leilão da New York Stock U$ e que navega livre pelo universo googleriano.
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