quarta-feira, 24 de junho de 2009

Fausto Wolff e Deus num réveillon da Atlântica

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O Aldir Blanc nos conta, em “Fausto e os fogos”, um dos muitos casos pitorescos envolvendo o jornalista e escritor Fausto Wolff. Diz o Aldir: “Muitos contarão histórias fantásticas sobre o Fausto. Tenho a minha”. Pois eu também tenho. Não tenho certeza se foi na mesma festa, pois o Fausto já havia promovido outros encontros com amigos, em réveillons, no apartamento da Av. Atlântica, para brindarem-se pela passagem do ano e assistir à queima de fogos.

Comecei a me relacionar com o Fausto através de correspondência que passamos a trocar nos tempos do velho Pasquim. Em algumas ocasiões saí da seção de cartas para as páginas internas do jornal, na sua coluna, quando ele fazia referência a meus argumentos em relação a determinados assuntos por ele abordados.

A primeira vez em que estivemos cara a cara foi no lançamento de um dos seus livros, “O Ogre e o Passarinho (Atica - 2002), no Photochat, o bar do Hipódromo da Gávea, onde ele costumava arriscar apostas nos páreos, enquanto bebericava um scotch. Apesar do assédio de inúmeros leitores, batemos um animado papo. Depois disso, nossa amizade se estreitou um pouco mais, passamos a trocar e-mails e, de vez em quando, ligar para uma conversa literária ao telefone.

Certo dia liguei; a Mônica atendeu e passou o aparelho pra ele. Falou com entusiasmo: “Rapaz, estou dando uma entrevista para uma revista de Porto Alegre. Só interrompi porque me disseram que era você e, por coincidência, acabei de falar sobre os novos escritores que estão pintando na praça. Citei você como um dos nomes que prometem”. Isso, vindo de um dos escritores que mais admiro, para mim foi a glória!

Mas quero mesmo é falar do réveillon na Atlântica.

Fausto me telefonou e convidou para participar da virada de ano no seu apartamento, entre muitos outros amigos e parentes.

Conforme já falei, só tínhamos nos encontrado pessoalmente uma única vez. Isso numa noite em que ele estava em avançado estado etílico.

Eu e minha mulher chegamos à festa quando esta apenas começava. Fausto, sentado num sofá, conversava com um camarada todo de branco, trajado com uma espécie de túnica de guru indiano. Pensei: “Pô, o Fausto tá com a bola toda. Até Deus veio à sua festa!”.

Começamos a conversar. De início o Fausto me perguntou: “ Você é o...?”. “Fernando Soares”, respondi. “Ah! como pude não reconhecer você, amigo?!”. Voltando-se para Deus ao lado, informou: “Aldir, esse é o Fernando Soares!” - só aí foi que reconheci o Aldir Blanc, que eu estava acostumado a ver apenas nas caricaturas pasquineiras.

O Fausto continuou me interrogando: “E aí, como vai aquele projeto lá na Petrobras?”. Antes que eu esboçasse qualquer sinal de que iria responder, ele danou-se a falar: “O Fernando, Aldir, está implementando um projeto muito bom...” – e se descambou a relatar sobre meus supostos planos de trabalho, que, a meu entender, tratava-se de alguma coisa relacionada a certo programa de assistência social da Petrobras, o que não tinha nenhuma relação com as minhas verdadeiras atividades profissionais ou local de trabalho. Ele havia me confundido com um executivo da empresa, amigo seu.

Pedi um tempo e expliquei: “Fausto, eu sou Fernando Soares Campos, seu leitor...”. “Porra, Aldir, acho que já bebi demais!” – desculpou-se pelo branco de sua memória fotográfica. Expliquei que isso é muito comum. Contei até que eu mesmo, depois de passar apenas três anos sem ver um irmão meu, não o reconheci quando nos encontramos.

Bom, a noite toda foi uma animação só, tudo em abundância: amigos, bate-papos, salgadinhos e bebida em boa variedade. Nunca vou esquecer aquele réveillon. Nos encontramos outras vezes. Outro dia almoçamos no Plataforma e jogamos conversa fora por um bom bocado. E aí tem outra história interessante. Mas essa eu deixo para outra crônica.

Ano passado, Fausto Wolff encantou-se e subiu.

De vez em quando ele pinta aqui ao lado. Conversamos bastante. Quase todos os ghosts que me visitam querem fazer de mim seu ghostwriter, ou parceiro, co-autor... Cúmplice! Isso, sim. Dão dicas com o propósito de corrigir as tortas linhas que costumo escrever. Em muitos casos, insistem tanto que acabo reescrevendo quase tudo. O Fausto não poderia deixar de ser um desses. Mas só ele, dia desses, exigiu:

– Informa que isso é psicografia, porra!

– Eu, não!

– Por quê?

– Ainda tenho esperança de encontrar um bom editor...

– Tem razão, deixa como está, porra!
















Eu e Silene, a minha mulher, abençoados por Deus numa noite de réveillon.

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PressAA

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