segunda-feira, 1 de junho de 2009

O pintassilva aquilino e o tucano condottiere

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(A fábula que Esopo perdeu)

Um pintassilva alçou voo do seu ninho na copa de uma caatingueira com o propósito de emigrar do Nordeste do Reino Unido do Pau-Brasilis em busca de farinha, xerém ou, com muita sorte, alpiste, que andavam escassos devido à seca que castigava a região.

Chegando à maior cidade do seu país, uma das maiores do mundo, o pintassilva notou que os pardais que ali viviam se adaptaram aos costumes da vida urbana e assim conseguiam sobreviver, porém empregando artifícios pouco convencionais aos de sua espécie.

No princípio o pintassilva de arribação decidiu se comportar como os pardais urbanos, fazendo malabarismo nos faróis de trânsito, capturando insetos e catando migalhas de pão que escapavam das vistas e bicos dos espertos pardais.

Certo dia o pintassilva pegou carona numa corrente de ar poluído e foi parar numa cidade portuária localizada no litoral daquele mesmo estado. Foi lá que ele, sem querer, comeu uma isca de polvo jogada à entrada de um restaurante especializado em frutos do mar. O polvo estava estragado, mas, sabe-se lá por que cargas d’água, o alimento provocou uma reação no seu organismo, gerando fenômeno nunca antes detectado pela ciência. Deu-se então um processo metamórfico, e o raquítico pintassilva retirante da seca se transformou numa águia.

Alguns anos se passaram...

A fauna do Reino Unido do Pau-Brasil estava sendo governada por um tucano travestido de condor...

O PinTassilva, agora metamorfoseado em águia, tornou-se líder dos pardais e, encabeçando movimento revolucionário nunca antes exitoso naquele país, depôs do trono o tucano condottiere e assumiu os destinos da nação.

O aventureiro tucano havia deixado o país no mais lamentável estado de penúria, nunca antes registrado pela História, submisso aos ditames da FMI (Fauna Mamífera Internacional) e empobrecido pela pilhagem a que os autóctones comparsas se aventuraram durante muitos anos, saqueando os cofres públicos e vendendo quase todo o patrimônio do Reino a preço de banana-d’água.

Já no segundo mandato de governo, o PinTassilva aquilino havia conseguido resgatar da miséria boa parte dos pardais, até prometera construir um milhão de novos e decentes ninhos, onde eles pudessem se reproduzir e criar seus filhotes com dignidade.

O invejoso tucano vivia o ostracismo a que os governantes corruptos devem ser relegados (sem prejuízo das ações penais às quais a lei possa submetê-los). Porém... Eis que o empalhado tucano sai de sua alcova e, com a ajuda de um bando de urubus malandros, investe em revoada contra o governo democrático do PinTassilva aquilino.

Contudo, por onde os urubus chefiados pelo tucano despenado passavam, toda a fauna se manifestava em retumbante protesto:

– Pipipipipi... Piratas! – piavam os pardais.

– Corru... corru... corru... Corruptos! – arrulhavam os pombos.


Moral da história nunca antes moralizada: Quem tem telhado de vidro pode até jogar merda nos outros; mas, pedra, jamais!

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