segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A volta oficial de Zé Dirceu alvoroça a mídia

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Aparecida Torneros*

A convenção nacional do PT registrou, segundo o noticiário do jornal O Globo, edição de domingo, uma segunda figura mais ovacionada pelos convencionais e participantes do grande evento que lançou a Ministra Dilma pré-candidata ao cargo de Presidente da República pelo Partido dos Trabalhadores. O mais aplaudido foi mesmo o presidente Lula, e o segundo mais aplaudido, foi José Dirceu, um político histórico, ex presidente da sigla petista, por décadas, na verdade, uma lenda na vida não só das lides do seu partido, mas também um ícone influente e polêmico do quadro político brasileiro, nas últimas décadas, haja vista a importância que a mídia lhe confere e atribui.

Políticos, os há, de toda sorte, ordem, origem, identificação ideológica, trajetória baseada em sorte ou oportunidade, perseverança, estilo próprio, carisma que vem de berço, ou crescente ao longo dos anos, com simpatia respeitável ou questionável antipatia, arrogância detestada ou coragem admirada, liderança reconhecida, capacidade de engendrar estratégias e de conciliar acordos, narcisismo acalentado, poder de persuasão, olhar futurista, sorriso largo ou contido, palavra amena ou arrebatadora, postura e presença constantes, arroubos defensivos e ataques desfechados para atiçar ou derrubar inimigos.

Um dos personagens em questão poderia ser qualquer bom profissional da política internacional ou nacional, com o nome citado nas primeiras páginas dos principais jornais que informam sobre a vida que circula nos meandros do poder de nações ou povos ao redor do mundo, ou, mais precisamente, nos bastidores da performance eleitoral que o Brasil assume em regime de arregimentação de votos.

É fato que a busca eleitoral implica em atrair simpatizantes que gerem votos para que se atinja objetivos plenos de vitórias em pleitos espalhados em cidades, estados, regiões, rincões longínquos, lugares onde a brasilidade sacuda idéias e fomente expectativas, sob a égide do embate de idéias, atitudes, propostas, números sonhados ou alcançados, índices atingidos, qualidade de vida ampliada ou melhorada e ainda a vida desejada por centenas de milhares de criaturas cuja necessidade maior parece alicersar-se na confiança que depositará em alguém que os protegerá muito mais do que os representará em postos ou cargos de comando.

Percebe-se que há desses políticos, em forma e conteúdo, sim, deles, existem aos milhares, pelo mundo, nas histórias contadas em livros biográficos ou romanceados, e nos relatos memoráveis dos bastidores, que um dia, podem virar heróis de filmes de grande circuito, porque as histórias de políticos lendários como é o caso do Zé Dirceu, rendem sinopses atraentes ao mesmo tempo em que incitam a curiosidade dos públicos mais diversos e atentos.

Um brasileiro cuja história pessoal se confunde com as últimas cinco décadas da vida nacional, tal a sua vocação de fênix a ressurgir dos rolos compressores em que se viu metido ao longo dos tempos, nas perseguições da ditadura militar, na vida clandestina, na cassação, no ressurgimento à luz do comando do PT, por dezenas de anos, no papel fundamental que exerceu durante as campanhas que levaram o presidente Lula ao topo do Poder.

Ainda, há o efeito avassalador que a informação e a contra-informação exerceram no episódio apelidado de "mensalão", que, a partir de 2005, espoucou como se fora um meteoro gigante a bombardear a vida republicana em pleno mandato do poder petista, prato cheio para a oposição aturdida.

Interessante ler e reler o noticiário que esta semana explode na mídia nacional trazendo a figura do Zé Dirceu para o primeiro plano novamente:

"José Dirceu diz que vai subir no palanque ao lado de Dilma", O Globo; Dilma sobre Zé Dirceu, "Ele é um dirigente do partido e como tal ...", Jornal Feira Hoje; Lula diz: "Dilma é para 2 mandatos", e acrescenta: "quando aconteceram todos os problemas que levaram o companheiro José Dirceu a sair do governo, eu não tinha dúvida de que a Dilma tinha o perfil para candidatar-se".

Mais: O Globo 09/02/10: "Dirceu sai para o confronto com FHC"; "A volta de Dirceu", A Tarde On Line - ‎25/01/2010‎, Os adversários do PT, tem na “reabilitação” do ex-ministro e deputado cassado José Dirceu, uma boa artilharia. Zé Dirceu circulou recentemente como um ícone, etc...

Ler sobre o Zé Dirceu implica em reler sua própria história na vida brasileira com altos e baixos e com pinceladas, ora romanceadas, ora realistas, e, na maioria das vezes, entremeadas com releituras sobre a fúria e a intensidade com que a os veiculos o assediam, o abordam, o reinterpretam, o nomeiam, tentam desvendá-lo e ainda, no auge da comunicação massificada, tentam enquadrá-lo a modelos pré-estabelecidos.

O que se passa é que o Dirceu, político, ex-presidente e fundador do PT, ex-ministro do Lula, ex-deputado federal, atual dirigente do seu partido, militante assumido das suas idéias, em última análise, foge aos modelos convencionais.

Ele tem no seu caminho tanto pedregoso como vitorioso, uma certa e bem peculiar capacidade de estarrecer e surpreender, exercendo a magia dos bruxos, a competência dos bons estrategistas ou o dominio consciente e inquietante dos guerreiros, para a satisfacão dos seus correligionários e a perda do sono das noites dos seus adversários.

Sua volta alvoroça a mídia e aquece as falas dos especialistas, mas sobretudo, demonstra que ainda há muito a rever, reler ou renascer a partir desta figura lendária da política nacional, chamada José Dirceu de Oliveira e Silva.

*Cida Torneros, jornalista e escritora, mora no Rio de Janeiro, onde edita o Blog da Mulher Necessária http://blogdamulhernecessaria.blogspot.com/

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Flash-Back Assaz Atroz

Crime na ‘Isto É’

WALTER RODRIGUES (jornalista) 12/02/2006

frossas@terra.com.br


José Dirceu passeou em Ipanema na motocicleta do escritor Fernando Moraes e, deliciado com o vento na cara, no dia seguinte encomendou em São Paulo uma supermáquina Harley-Davidson, modelo V-Road, lançado em 2005, semelhante ao cavalo de aço montado por Peter Fonda em Sem Destino, no final dos anos 60. Uma jóia de R$ 90 mil. Fechado o negócio, embarcou para aplaudir o companheiro Chávez em Caracas, não sem antes parar em Brasília e pedir a Lula a cabeça de Henrique Meirelles.

Tudo isso saiu na Isto É desta semana, ilustrado com dezenas de detalhes e — sensacional, convenhamos — uma foto do ex-ministro de Lula, recém-cassado sob suspeita de corrupção, arrasando à beira-mar na motoca do amigo.

O sentido é claro. Dirceu está cheio da grana porque de fato chefiava o esquema do mensalão e, como é natural, tirou o dele. De mais a mais é um bon vivant desmiolado, um adolescente mal resolvido, daí seu encantamento com Chávez e sua ojeriza à racionalidade do doutor Meirelles.

E, no entanto, era tudo mentira... Mentira completa, da primeira à última novidade.
Dirceu não encomendou a Harley-Davidson, nem outra marca qualquer. Não esteve na concessionária contemplando modelos e consultando preços. Não tomou emprestada a de Moraes. Nem sabe andar de moto. A foto, a “prova”, era apenas uma farsa, um engodo, uma fotomontagem. A cabeça de Dirceu no corpo de outrem, aliás bem mais magro do que ele.

(...)

BARBARA GANCIA PEDE DESCULPAS AO EX DEPUTADO DIRCEU

Bom exemplo a ser seguido por muitos outros jornalistas.

Errei. Devo desculpas a José Dirceu. Na semana passada, reproduzi neste espaço uma informação -assinada por um colega com quem já trabalhei e que julgava ser um jornalista responsável-, dizendo que o ex-deputado teria comprado uma moto Harley-Davidson V-Rod, no valor de R$ 90 mil. Dirceu não comprou a Harley e não sabe dirigir motos.

Leia textos completos e comentários no CMI:

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2006/02/344392.shtml


Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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PressAA

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Um comentário:

Anônimo disse...

Barbara Gancia não merece desculpas. Em várias ocasiões já mostrou que não tem compromisso com jornalismo responsável.
Desculpas esfarrapadas diante do papelão de publicar inverdades no afã de mostrar serviço ao PIG não valem nada.