domingo, 30 de setembro de 2012

ENTRE AMAZONINO E AQUILINO

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Quem é mais notícia: Aquilino ou Amazonino? Será que estamos fugindo da raia quando noticiamos as façanhas do primeiro - um desconhecido da mídia, e deixamos de opinar sobre as pilantragens do segundo - um notório finório que ocupa as manchetes dos jornais do Amazonas?


- Numa terra de fugitivos, aquele que anda na direção contrária é que parece estar fugindo.
Li em algum lugar essa frase do poeta Thomas Eliot e me lembrei dela diante da cobrança de um fiel leitor, de quem frequentemente discordo, mas a quem aprendi a respeitar. Ele acha que estou fugindo dos temas essenciais e me censura:
- Você está abordando outros assuntos em sua coluna como um pretexto, uma desculpa esfarrapada para não opinar sobre as eleições de Manaus.
Segundo outra leitora, estou mesmo fugindo. Ela reforça via facebook:
- Não fuja do pau! No lugar de escrever sobre índios ou sobre a eutanásia, faça um balanço da administração desastrosa do prefeito Amazonino Mendes. Por que você não discute a "guerra do ovo" ou a "guerra do cuspe", tomando posição quanto aos candidatos a prefeito? Isso é que é notícia, o resto é abobrinha que a ninguém interessa.
Será? De qualquer forma, leitores são tão raros, hoje, e mais raros ainda aqueles que te dão um retorno, que recomenda-se tratá-los com mingauzinho de aveia ou mamão com mel. Além disso, é legítima a cobrança feita aqui. Por isso, concordando com eles, comecei a escrever sobre as eleições municipais com destaque para a figura bufonesca e pícara do Amazonino Mendes, mas fui interrompido por um terceiro leitor - leitores são tão escassos - que me enviou um e-mail sugerindo:
- Escreve sobre o Aquilino.
O que é notícia   
E agora, José? Entre Amazonino e Aquilino, o que fazer? Com qual conceito de notícia devemos operar? Existem dois mil quatrocentos e trinta e três articulistas que, ignorando os aquilinos, escrevem sobre os amazoninos, cujas malandragens pululam pelos municípios deste Brasil varonil. Por isso, quando alguém faz o caminho contrário, parece que está evitando a notícia, que está fugindo dela.
E isso porque a mídia está se lixando, olimpicamente, para eventos como aqueles que ocorrem, por exemplo, dentro da universidade. Uma aula, uma conferência, uma defesa de tese ou o lançamento de um livro, por mais excepcionais que sejam, jamais serão notícia, a não ser que um aluno dê um tiro nos cornos de um professor, ou uma aluna use mini-saia, bem mini, excepcionalmente mini, como aquela estudante que causou tumulto em uma faculdade de São Bernardo do Campo (SP). Mas aí, a notícia não é o fato acadêmico.
Decido, então, caminhar contra a corrente, com o risco de parecer fugitivo. Interrompo o texto sobre Amazonino, suspeitando de que essa nova direção é válida, se são outros os critérios definidores do que é notícia. Com a licença dos leitores, troco os atores, focando sobre Aquilino. Afinal, quem é ele? O que foi que fez para ser notícia? 
Aquilino Tsere'ubu'õ Tsi'rui'a é o primeiro índio xavante a receber o título de mestre. O fato aconteceu na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), de Campo Grande (MS), na última quarta-feira, dia 26, quando ele defendeu sua dissertação de mestrado intitulada - A sociedade xavante e a educação: um olhar sobre a escola a partir da pedagogia xavante. Com ele, já são nove os índios de diferentes etnias que se titularam no Programa de Pós-Graduação em Educação da UCDB.
A pesquisa etnográfica feita por Aquilino, orientada pelo doutor Neimar Machado, usou vários procedimentos metodológicos, revisou a bibliografia sobre o tema, entrevistou os velhos xavante, organizou um diário de campo recuperou fotos antigas em arquivos. Dessa forma, o novo mestre pode contar sua história, que é também a da aldeia Marãwatsédé, onde nasceu, e que foi invadida pela fazenda Suiá-Missú. Ele foi expulso de lá, com seu clã, quando era criancinha, o que acabou interferindo até mesmo nas formas de ensinar e aprender.
Pedagogia xavante
O primeiro capítulo reconstrói a andança dos Xavante, na época da ditadura militar, quando os índios foram obrigados a sair da área, sendo levados por aviões da FAB para São Marcos, uma missão salesiana situada a 400 km de lá, no atual município de General Carneiro. Nesse trajeto, muitos morreram de sarampo e outras doenças. Depois de muita luta, a Terra Indígena Marãwatsédé foi homologada e os xavantes a ela retornaram. Mas a retomada integral das terras foi dificultada pela presença de pequenos proprietários.
A pesquisa discute, então, o que aconteceu com as práticas culturais xavante, com a língua, com agricultura e o sistema de troca, com os rituais, com a vida religiosa e com as práticas pedagógicas. O autor comenta os três princípios que orientam as formas de ensinar e aprender: as narrativas antigas, a religião e a tradição. Critica o ensino "copiado" do sistema escolar brasileiro, por não considerá-lo o mais adequado para a escola indígena e propõe o diálogo intercultural como alternativa.
O historiador Neimar Machado avalia assim o trabalho do seu orientando:
Aquilino reverteu o conceito de história ao propor que a história dos xavante foi andança. Nesse sentido, a história Xavante não é somente dos Xavante, mas também de muitas outras etnias acometidas, expulsas de seus lugares, pelo colonialismo e seus agentes. Agora, segundo as palavras do Aquilino, os Xavante querem e estão voltando aos seus lugares, impelindo o fechamento de um círculo, daí a narrativa circular, pois ela é também história e política, nos termos propostos por Néstor Canclini.
A banca, composta por professores da UNEMAT, UFMS e UCDB, aprovou a dissertação, avaliando que o mestre Xavante cumpriu o objetivo proposto pela pesquisa, que era analisar a organização educacional e os processos próprios de aprendizagem, além de discutir a proposta pedagógica das escolas e o ensino da cultura Xavante.
Prometo que no próximo domingo, o foco será sobre as eleições. Isso se durante a semana nenhum índio defender dissertação ou tese, porque nesse espaço, primeiro vem o Aquilino e, depois, os amazoninos. Hepãrĩ - obrigado!

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José Ribamar Bessa FreireDoutor em Letras pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2003). É professor da Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-Rio), onde orienta pesquisas de mestrado e doutorado, e professor da UERJ, onde coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas da Faculdade de Educação. Ministra cursos de formação de professores indígenas em diferentes regiões do Brasil, assessorando a produção de material didático. Assina coluna no Diário do Amazonas  e mantém o blog Taqui Pra Ti . Colabora com esta nosssa Agência Assaz Atroz.

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Outras matérias que estiveram hoje sob o crivo dos pauteiros da PressAA...


Um espectro ronda o jornalismo: Chatô

BRASIL! BRASIL!



Em texto exclusivo para o 247, o escritor Fernando Morais narra como, em meados do século passado, Assis Chateaubriand encomendou ao diretor do Estado de Minas uma reportagem sobre o estupro supostamente cometido pelo arcebispo de Belo Horizonte contra a própria irmã. Detalhe: Dom Cabral não tinha irmã. Passadas oito décadas, Chatô exumou-se do cemitério e encarnou nos blogueiros limpos e editores dos principais jornais brasileiros


Fernando Morais,  Brasil 247 

As agressões e infâmias dirigidas por alguns jornais, revistas, blogs e telejornais ao ex-presidente Lula e ao ex-ministro José Dirceu me fazem lembrar um episódio ocorrido em Belo Horizonte em meados do século passado.

(...)

Passadas oito décadas, suspeito que Chatô exumou-se do Cemitério do Araçá e, de peixeira na cinta, encarnou nos blogueiros limpos e nos editores dos principais jornais e revistas brasileiros.  
Como no caso de Dom Cabral, cabe a Lula provar que não marchou com a família e com Deus, em 1964, quando tinha 18 anos, pedindo aos militares que derrubassem o governo do presidente João Goulart. Cabe a Dirceu provar que não foi o chefe do chamado mensalão.
Fernando Morais é jornalista e escritor. É autor, entre outros livros, de “Chatô, o rei do Brasil”, biografia de Assis Chateaubriand.
(Para ler artigo completo, clique no título)
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E...



Assim como o julgamento do capitão francês também foi julgado, o mesmo acontecerá um dia com o processo do mensalão. Lá atrás, a corte de Paris dobrou-se aos interesses oligárquicos e decidiu reincidentemente contra provas, mandando às favas conquistas fundamentais da revolução de 1789. Será esse também o caminho da corte suprema brasileira? Leia o texto exclusivo de Breno Altman para o 247, na data que marca 110 anos da morte de Emile Zola, autor do célebre "J´accuse"
(Clique no título e leia artigo completo no site 247)
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E tem mais...
Nunca esteve tão clara a situação da eleição em São Paulo: mesmo que Serra, ajudado por todos os barões da mídia – que, aliás, são os únicos entusiastas de sua campanha – conseguisse o milagre de passar ao segundo turno, perderia a eleição. Russomanno começaria a finalíssima com a vantagem da inacreditável taxa de 46% de rejeição que Serra carrega nas costas. Situação ideal para um apresentador de TV premiado com a inesperada primeira colocação na preferência do eleitorado paulistano, não é mesmo? Russomanno se safaria de ter que enfrentar um ex-ministro do tamanho de Haddad. Não teria que apresentar o inconsistente, senão o inexistente, Programa de Governo que nunca imaginou vir a precisar realmente em sua aventura eleitoral.
(...)
Na reorganização das forças, no segundo turno, só Haddad teria chances de vencer Russomanno. Até a Soninha, amiguinha do peito de Serra, se antecipou e declarou ao vivo, no último debate, na TV Gazeta, que vota em Haddad no segundo turno.
(Artigo enviado a esta nossa Agência Assaz Atroz pelo nosso correspondente Roni Chira, a título de colaboração. Isso nos dá imenso prazer! Clique no título e leia artigo completo.)
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Ilustração: AIPC - Atrocious International Pircy of Cartoons
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sábado, 29 de setembro de 2012

Portugal: Nossa Pátria Mãe vive - Viva nossa Pátria Mãe!

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Portugal


Miguel Oliveira da Silva, presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, informou que o Ministério da Saúde deve limitar o acesso aos medicamentos mais caros para tratar doenças como a sida ou o cancro. Explica: "vivemos numa sociedade em que, independentemente das restrições orçamentais, não é possível, em termos de cuidados de saúde, todos terem acesso a tudo". No "tudo" inclui a dignidade de quem está nos últimos meses da sua vida. "Será que mais dois meses de vida, independentemente dessa qualidade de vida, justifica uma terapêutica de 50 mil, 100 mil ou 200 mil euros?"
Onde acaba o "racionamento ético"? E se for um ano? Já vale a pena? E dez anos? No fim, não vamos todos morrer? E se forem 20 mil euros? E se o doente tiver recursos para pagar o tratamento, pode viver mais uns meses? E que tal aprovar um quadro para o tempo merecido de vida com os valores correspondentes? Em que valores exatos, medidos em meses de vida/euros, para o médico de lutar por um ser humano que entregue as suas derradeiras energias a sobreviver? Quanto vale o nosso inabalável instinto de sobrevivência? Quando passará a contabilidade a ser uma fria máquina de morte? E porque ficar pelos doentes? E os velhos que vivem mais do que devem, incapazes de se mover e de trabalhar? Quanto nos custam? Valerá a pena? Terão qualidade de vida que justifique tanto desperdício e ineficiência?
Que fique claro: para continuar a lutar por uma vida não vale tudo. Há coisas que se devem ter em conta. A vontade do doente. A sua qualidade de vida. O sucesso previsível do tratamento. Não os custos. Porque uma vida, um mês de vida que seja, não tem preço. É isso que separa a civilização da barbárie. E no dia em que o médico passa a contabilista sabemos que nada estará entre nós e quem tem de fazer as contas. Que alguém deixou de cumprir o seu papel. O do médico não é medir o valor financeiro dos últimos dias que vivemos. É lutar por nós.
O Presidente daquele órgão consultivo, responsável por um relatório sobre o tema (que li e que é menos explícito, menos brutal e mais cauteloso do que estas inacreditáveis declarações), explica: "é uma luta contra o desperdício e a ineficiência". Finalmente conseguiu-se: os médicos transformados em contabilistas, a vida decidida por uma máquina calculadora. Poderemos, coisa que nos fazia falta, medir o BPN em meses de vida. Refrescante.


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Leia também...


Portugal at flashpoint as austerity lights fires in mild-mannered populace


[Matéria em inglês. Um translado do Google não é lá muita coisa, mas quebra um galho. Clique no título e leia completo]

("Nós somos calmos, respeitamos a lei, mas 1 milhão de pessoas nas ruas, é 10% da população. Se não conseguirem ver que este é um país que se está a erguer contra este tipo de políticas, que mais teremos de fazer?" [...] Agora a questão é saber se os protestos criaram uma marca permanente; se foi o ponto em que os ponderados portugueses dizem basta. De volta a Vialonga, o pai de Marina pensa que se ainda não o foi, então o momento estará bem próximo. "As coisas estão a ficar muito tensas agora," diz. "Poderá quebrar muito facilmente - e muito depressa.")

(...)

O Português são vistos para ser bem-educado e aceitar comparação com os seus de cabeça quente vizinhos espanhóis, mas, como um veterano sindicato observou secamente: "Nós tivemos uma revolução, o espanhol teve uma transição de uma ditadura."

(...)

Fabricantes locais também sofreram. Empresas portuguesas vendem quase 70% de seus bens os consumidores domésticos, muitos dos quais já não têm o dinheiro para itens não essenciais. Como as empresas faliram ou vendas caíram, assim como as receitas de impostos do governo.

(...)

Há um sentimento de desconfiança completo em políticos de todo o espectro político. Durante os protestos, as pessoas gritavam "ladrões" no palácio presidencial e um motorista de táxi brincou dizendo que ele iria me levar ", onde os assaltantes estão", quando perguntado sobre o edifício do parlamento.
[Lá, como aqui, o sentimento sobre a politicalha é o mesmo, com uma diferença fundamental: os portugueses não dizem "cansei", estão na luta nossos irmãos da Pátria Mãe]


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E fiquem com Chico Buarque em "Tanto Mar"



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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O saudável paradoxo do Raul Longo


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O paradoxo do nosso colaborador e amigo Raul Longo está no título desta sua saudável crônica. 

O Raul, com o coração apertado por assistir à destruição de sua cidade natal, vendo-a chegar praticamente ao estado em que Inácio de Loyola Brandão, em "Não Verás País Nenhum", alertou que ela chegaria, nos diz...

Nada acontece no meu coração



Raul Longo*


Na verdade, não é de hoje que nada acontece no meu coração a respeito da cidade de São Paulo.

Já há umas duas décadas a poluição daquela capital me provocou um escarro em plena Ipiranga com São João, justo no pico do horário de rush. Ao contrário de Augusto dos Anjos, senti-me sem um único abismo para filosofar sobre a queda daquela secreção. Acuado por tantos pés céleres a atravessar a esquina, segui até à Avenida Consolação onde, enfim, encontrei um canteiro para me livrar do horrível gosto de fuligem.

Fui em frente considerando a impossibilidade de voltar a viver numa cidade onde a sucessão de representantes dos interesses capitalistas, por puro descaso e desleixo amontoam as pessoas em tão densa concentração.

Terceira ou segunda maior cidade do mundo, São Paulo é o mais acabado exemplo da ausência de humanismo do sistema político/econômico em vertiginosa evolução desde os anos 50, quando ali fui educado pela família e pelo Instituto de Educação Caetano de Campos.

Colégio Caetano de Campos, Praça da República - SP
A família me ensinava a ser cordial com os mais velhos e às mulheres, proceder civilizadamente com todas as pessoas independente de gênero ou faixa etária. Por isso planejei a caminhada da São João à Consolação, evitando cuspir nos pés dos apressados transeuntes das 18 horas da Av. Ipiranga.

Já o Caetano de Campos me ensinou outras coisas, entre elas a importância histórica de São Paulo desde quando os Bandeirantes planejavam incursões pelos interiores, reunidos no ponto de partida lá na antiga bica do Largo da Memória. Os objetivos das Bandeiras eram dos mais deploráveis: prear indígenas e descobrir riquezas minerais a serem espoliadas pelos colonizadores. Mas no século XIX, já com o nome de Largo do Piques, atraindo moradores pela água da nascente, o local testemunhou os moradores do então pequeno vilarejo a planejar o cotidiano e viajantes a projetar o prosseguimento pelas longas trilhas ao sul, ao norte ou a oeste do país.

Ainda no começo daquele mesmo século se criou a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco que junto com a de Olinda é a mais antiga do Brasil e onde se planejou muitos dos principais versos da literatura romântica brasileira, como os de Castro Alves. Em São Paulo, ali se planejou a abolição da escravatura no país! A grande maioria das leis que hoje regulamentam a civilidade de toda a nação.

O verdadeiro Bauru do Ponto Chic
Até o sanduíche nacionalmente conhecido como “Bauru”, foi planejado por um estudante das Arcadas de São Francisco. Era diferente do que hoje se serve, mas quem for ao Ponto Chic, lá no Largo do Paissandu, poderá conhecer a versão original projetada por Casimiro Pinto Neto, natural da interiorana cidade que deu nome ao indevido pão com tomate, presunto e queijo. Projetado para se constituir em uma refeição, o  verdadeiro bauru leva rosbife, queijo branco em pedaço grosso e dilatado no calor da chapa e, além do tomate, vem com rodelas de pepino.

As falsidades exportadas de São Paulo para o resto do país não se resumiram ao bauru. O mato-grossense Jânio Quadros, que renunciou aos 7 meses de presidência, foi outro. Mas o Ponto Chic chegou a ser frequentado pelos que planejaram a promoção da real cultura brasileira: a Semana de Arte Moderna de 1922.

Ponto Chic
Graças àquele movimento o Brasil descobriu-se em Oswald e Mário de Andrade, Villa-Lobos, Di Cavalcanti, Flávio de Carvalho e tantos outros.

Nasci em São Paulo, mas só tomei consciência da importância da cidade nos anos 60. Apesar de um dos mais corruptos políticos paulistas ter criado a Marcha de Deus com a Família que apoiou o mais longo e triste período da história da república, o da ditadura militar, naquele tempo planejava-se ali a resistência à opressão do país. Fosse pela UNE de Dirceu e Travassos, fosse pela luta armada de Lamarca ou Marighela.

Mesmo depois de deixar a cidade nos 70, o meu coração continuou batendo pela São Paulo que também resistia planejando muito do que melhor aconteceu no país na década através de Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal, José Martinez Correa, Plínio Marcos e tantos outros do teatro, como os muitos dos festivais de música: Chico Buarque, Geraldo Vandré, Sérgio Ricardo. E de todas as artes: Leny Dale, Wesley Duke Lee, Rogério Sganzerla.
Esquina da Av. São João com Av. Ipiranga (Centro na madrugada)


Foi em São Paulo que Caetano Veloso e Gilberto Gil, unidos aos Mutantes, Tom Zé, Torquato Neto, Capinam e o Maestro Rogério Duprat planejaram o Tropicalismo.

Também em São Paulo se planejou o lançamento de fenômenos como Elis Regina e Milton Nascimento. Se algo batia no coração do Brasil é porque começara a pulsar em São Paulo.

Ainda no inicio dos anos 80, a cada vez que ia a São Paulo, um novo latejar, uma nova vertente: Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé e tantos outros que planejaram o movimento dos artistas independentes.

Mas, então, a cada retorno a cidade me parecia mais mofina em uma suntuosidade de pouco conteúdo e total falta de planejamento a soterrar o sorriso por seu humor de Adoniran Barbosa e o lamento por suas tragédias cotidianas de um Paulo Vanzolini.

Rua Direita em 1954, final de tarde
Sofrendo decepções com a cidade onde nasci, cansei-me dela ao perceber que por pura falta de planejamento, falta de qualquer cuidado com as vidas humanas que a ocupam, tornou-se um lugar sem espaço sequer para cuspir.

Muitos shoppings, grandes restaurantes, casas de espetáculos, templos de consumo, mas tudo tão frio e artificial quanto à sobrevida em uma UTI onde se esqueceu de planejar a recuperação dos pacientes. Pacientes mantidos por sensação de vida, mas já sem reais emoções, sem real vontade, sem qualquer percepção e possibilidade de futuro, sem nenhum outro plano se não o de ir de lá pra cá, correndo atrás do que há muito perderam e já nem se recordam o que seja.

Rua Direita em 2009, meio da tarde
Tenho muita saudade dos amigos e das mulheres que ali amei, mas hoje, quando vou a São Paulo, fico tentando perceber o que planejam as pessoas além desse eterno e apressado ir e vir sem chegar a lugar algum. Fico tentando senti-los, mas, talvez com medo de que me cuspam nos pés, nada acontece no meu coração.

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Observação Assaz Atroz: Mas, aí sim, nada deve acontecer no coração de um calculista, gente frígida, cujos planos não passam de projetos pessoais, pessoa que não sente nenhuma obrigação, necessidade moral, dever, disposição de retribuir apoios populares do passado, gratidão pelo que um povo já fez por ele... Acaba dizendo coisas assim...


“Não sou obrigado a apresentá-lo...”
Celso Russomanno, candidato a Prefeito da Capital do Estado de São Paulo, referindo-se ao seu plano administrativo.


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Leia também...


Celso Russomanno não é um candidato de muito currículo, mas tem história…


Russomanno é mais velho do que eu, mas a gente já esteve próximo num certo momento da vida. Ele fazia o programa Circuíto Night and Day e eu o Contramão, na TV Gazeta. O programa do qual fui repórter, ia para o ar antes do dele. Eu conheço algumas histórias do atual líder nas pesquisas, mas dando uma googlezada achei outras também bastante interessantes.

Apesar dessa imagem quase heroica que cultiva, Russomanno possui uma folha corrida… Ops, um passado complicado . Como o candidato não aceita falar dessas questões,  César Tralli que o diga, relaciono abaixo a “folha” do “herói” do consumidor.

Crime de peculato: 

Em 2008, Russomanno foi acusado no STF de peculato, que nada mais é que a apropriação, ou desvio, de recursos públicos em proveito próprio. O candidato do PRB teria desviado verba da Câmara para pagar salário de uma funcionária de sua empresa quando era deputado federal.

O caso chegou ao STF em 2008, mas como Russomanno deixou o cargo de deputado em 2010, o processo atualmente tramita na Justiça do Distrito Federal.

(...)

Crime de Falsidade ideológica:

Celso Russomanno é acusado pelo Ministério Público de São Paulo de ter cometido o crime de falsidade ideológica. Para o órgão, o candidato mentiu sobre seu endereço eleitoral para disputar a prefeitura de Santo André em 2000. A lei eleitoral exige que os candidatos morem na cidade onde se vai disputar um cargo eletivo por três meses, antes de solicitar a transferência do domicílio eleitoral.

A acusação contra o candidato do PRB foi aceita pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em junho. Após o Supremo receber a denúncia, o processo voltou para a primeira instância, uma vez que Russomanno deixou o cargo de deputado federal e não possui mais direito ao foro privilegiado.

(...)

CPI do Cachoeira:

Reportagem do jornal Correio Brasiliense, publicada em julho deste ano, revelou que Russomanno teria R$ 7 milhões em uma conta no exterior operada pela organização de Carlinhos Cachoeira.

Russomanno teria recebido este dinheiro quando era deputado federal. De acordo com o jornal, a existência desta conta aparece em um relatório da Polícia Federal enviado à CPI.

(...)

(Tem mais... muito mais, e se isso interessar a algum eleitor paulista, é só clicar no título e ler tudo no Blog do Rovai )

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*Raul Longo, jornalista e escritor, colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz.

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O cordeiro, a cordeirinha, o Lobo Bão e outros bichos

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Fernando Soares Campos


Quase todos nós conhecemos a fábula do cordeiro que estava bebendo água num riacho, na parte de baixo, e foi interpelado por um lobo que o acusava de estar sujando as águas do lado de cima do córrego. Depois de bate e rebate em que o lobo desdobrava suas acusações, o cordeiro foi finalmente abocanhado pelo cruel predador. Isso aconteceu há muitos anos, quando os bichos ainda falavam um onomatopaico dialeto que criaram ouvindo contrabandistas franceses de pau-brasil.

Entretanto, quelques années plus tard, os bichos inventaram outro idioma, o portinglês, e nova história se desenrolou com um enredo às avessas em determinados pontos.

Era outra vez outro cordeiro... Certo dia ele decidiu escalar um aclive muito íngreme na mata. Com muito suor, vencendo toda sorte de obstáculo, pedras e cascalhos foram ficando pra trás; ele tomava cuidados e desvios, até que alcançou o topo do morro. Em lá chegando, ficou deslumbrado com a paisagem, um cenário pitoresco, terrivelmente fascinante, capaz de deixar qualquer animal alheado. E foi assim que, por uns momentos, o bicho ficou: absorto nos próprios pensamentos.

O canto e o voo dos pássaros, o estridular de grilos e cigarras, o farfalhejar das copas das árvores, o coaxar dos sapos... e até o arrulhar da rolinha, tudo isso o encantou, de tal forma que quase não ouvia outros animais, não notou que, nem tão longe, porcos-espinhos grunhiam, raposas regougavam, araras taramelavam, veados bramiam, cobras sibilavam, ratos chiavam e até um insaciável lobo ululava. Ora, é ululante! Lobos ululam.

Distraído, o cordeiro passou a mordiscar a verdoenga relva, em seguida resolveu bebericar no riacho. Só então, ouviu uma voz tarameleira que vinha de cima e uma árvore:

– Você está sujando as águas cristalinas do riacho! – taramelou uma arara – Não vê que o nosso líder, o Lobo Bão, está bebendo logo abaixo? Faz algum tempo que ele anda indisposto, por isso não tem subido o morro pra beber onde sempre bebeu, aí na cabeceira.

No primeiro instante, o cordeiro assustou-se, estremeceu, fora pego de surpresa. Mas se recompôs e retrucou:

– Impossível eu estar sujando as águas do riacho, pois minha língua sempre foi limpinha, limpinha! Duvido até que nesta mata exista animal com a língua mais limpa que a minha.

Lá de baixo o Lobo ululou:

– Você está dizendo que minha língua é mais suja que a sua?!

– Não tive essa intenção. Quero apenas dizer que pode até ter língua igualmente limpa, mas mais limpa que a minha, não

– Mas o fato é que você está sujando sim as águas cristalinas do riacho.

– Tá bem, vamos admitir que, de certa forma, poluí as corredeiras com minha saliva. Mas isso vai acontecer sempre que qualquer animal vier beber aqui em cima, na nascente; principalmente os de língua ferina, ágeis, que revolvem e turvam as águas. Eu até que estou me comportando educadamente, lambendo devagar – deu uma olhada em sua volta, ergueu os olhos e apontou a arara –. Ela disse que o senhor costumava beber aqui, então...

– Então?! Então o quê?! Você quer dizer que eu também sou porco como você?! Pois fique sabendo que, quando eu bebia aí em cima, usava canudinho de bambu!

– Acontece que não tem mais bambu por essas bandas. Os nativos cortaram tudo pra fazer cadeiras, mesas e artesanatos decorativos.

– Sonso! Agora está culpando os artesãos. Isso é calúnia! Como estou me sentindo um pouco cansado, não vou subir até aí pra lhe dar o corretivo que merece, mas vou levar o caso ao Senhor Corvo. Com certeza ele haverá de julgar sua insolência e injúria. E vai cassar seu suposto direito de beber água na cabeceira, sem prejuízo de outras sanções cabíveis.

“Os lobos ululam e a caravana passa, cabreira, mas passa” – pensou o cordeiro.

Irritado, o lobo afastou-se banzeiro, rangendo os dentes, rosnando qualquer coisa ininteligível, e foi fornicar na sua furna.

O caso provocou certa dor de cabeça no cordeiro, mas tudo parecia ter-se resolvido, e ele foi ficando lá no alto, mordiscando a relva e bebericando no riacho...

O tempo foi passando, o cordeiro estreitou relações com alguns animais, como a coruja, o sapo, que, por descuido, ele quase engoliu enquanto pastava, com micos e macacos, grilos e cigarras, formigas e cupins, também com alguns tamanduás. Até já havia esquecido a querela com o Lobo.

Certo dia, o cordeiro estava brincando de cabra-cega com uma cordeirinha sua amiga, aí, sem o quê nem pra quê, ele sugeriu:

– Amiguinha, vem comigo tomar água na nascente do riacho.

– Na nascente?! Olha, amigo, nos últimos tempos tenho tomado água da nascente, como todos os animais da mata, mas aqui um pouco abaixo da cabeceira. Não é a mesma água?

– É, mas você precisa ir lá em cima, vai ver que bela paisagem, ventos uivantes e brisas suaves se alternam. Às vezes a paz é tanta que a gente chega a cochilar na relva...

– E as formigas não picam a gente?

– As formigas? Que nada, amiga! As formigas são mansinhas e estão mais preocupadas em abastecer os formigueiros com picadinhos de folha e outras migalhas. O perigo mesmo é ser ferroado por um escorpião, ou mesmo picado por uma cobra. Mas vale a pena ficar lá por uns tempos.

Então, os dois decidiram subir o morro naquela primavera com cara de verão. O cordeiro, já bastante experiente, ensinou a cordeirinha a escalar o aclive vencendo pedras e cascalhos...

Chegaram lá em cima um tanto gastos, mas felizes. A bicharada, que assistia a tudo por todo canto, até desconfiou que daquele mato sairia coelho, pois os dois trocavam olhares insinuantes, lânguidos até – dir-se-ia.

Incerto dia de lua cheia, o lobo, que contava com os préstimos de arapongas por todos os recantos da mata, foi informado de que o cordeiro saíra mata adentro em busca de ervas fresquinhas e até flores para presentear a cordeirinha.

O velho lobo maquiavélico reuniu a matilha numa caverna cavernosa cuja entrada é camuflada pela lâmina d’água de uma cachoeira. Ali, pela madrugada, bolaram um plano: enviar um convite à cordeirinha.

Ao lusco-fusco do anoitecer, um urubu-correio pousou no galho seco de uma árvore e soltou a encomenda na relva. A cordeirinha apanhou o bilhete e o leu:

“Dear, querida, eu sou seu brother irmão e estou muito preocupado com você. Aquele cabra-cordeiro, depois de comer toda a relva comível, escafedeu-se, qual vagamundo que é, deixando you aí sozinha nesse posto avançado. A estiagem prolongada está ressequindo a mata. Essa foi a herança que ele lhe deixou. Mas nem tudo está perdido, querida darling, venha abrigar-se em minha furna. Aqui você será tratada como uma rainha queen.
Kisses
Lobo Bão”

A cordeirinha se abalou. “Tem fel nesse mel”. Correu até a beira do platô do morro e gritou a pulmões soltos, fazendo sua voz ecoar por toda a mata:

– Socorro, cordeirinho! Volte logo! O Lobo Bão quer me comer!

Moral: Lobo amoral pensa que toda cordeirinha veste casaco de vison e roda bolsinha na Praça Pigalle.

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Políticos caricatos polemizam na França

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Caricaturas de Maomé causam polêmica e apreensão na França

A polêmica gerada pela difusão das caricaturas de Maomé publicadas pelo semanário satírico Charlie Hebdo se deslocou, na França, para o terreno jurídico e político. Stéphane Charbonier, diretor do semanário, alegou que a liberdade de expressão não pode ser compartilhada caso deixe de existir, ao ceder às tensões provocadas pelos extremistas. Muitos jornalistas, intelectuais e políticos questionam se vale à pena voltar a adotar o caminho da provocação num momento como este, e fazer dessa provocação um direito supremo da liberdade de expressão. O artigo é de Eduardo Febbro.

Paris - A querela gerada pela difusão das caricaturas de Maomé publicadas pelo semanário satírico Charlie Hebdo se deslocou, na França, para o terreno jurídico e político. Duas associações muçulmanas recorreram à justiça contra o Charlie Hebdo, ao passo que a extrema direita francesa aproveitou o episódio para meter a colher de ódio em meio a um debate que, com o passar de dois dias, torna-se mais pesado. O semanário satírico francês publicou as caricaturas em meio a uma batalha que se armou no mundo por causa do filme anti-islã produzida nos Estados Unidos.


Na sexta-feira, dia da pregação muçulmana, os imãs das mesquitas suavizaram seus sermões a fim de dissuadir os fiéis de participarem, neste sábado, das manifestações convocadas para protestar contra a difusão de caricaturas consideradas as blasfêmias. No entanto, o Estado francês tomou suas precauções. Além da mobilização geral das forças da ordem em nível nacional, a chancelaria anunciou que manteria todas as embaixadas fechadas no sábado e no domingo, além de escolas e centros culturais franceses, em 20 países onde há forte maioria muçulmana.



É neste contexto de radicalização das opiniões e de debate sobre a liberdade de expressão e o fanatismo religioso que a líder da ultradireita nacional, Marine Le Pen, trouxe sua contribuição com seus princípios antagônicos. Numa entrevista publicada no Le Monde, Marine Le Pen propôs “a proibição de todos os símbolos religiosos, inclusive a quipá judia e o véu islâmico, nos centros de negócios, transportes públicos e nas ruas” do país. A líder da extrema direita, que nada disse sobre os símbolos cristãos, recupera a revolta mundial gerada pelo filme contra o Islã em benefício de suas próprias ideias: Marine Le Pen tem feito da defesa das raízes cristãs da França um dos seus cavalos de batalha. 



O presidente francês François Hollande respondeu de forma direta à proposta de Marine Le Pen. Hollande foi ontem para Drancy, uma localidade situada a uns 20 quilômetros de Paris, de onde mais de 60 mil judeus foram deportados para campos de concentração alemães durante a Segunda Guerra Mundial. O chefe de estado inaugurou em Drancy o memorial do Holocausto e conclamou o país à unidade. Quando se referiu às declarações de Le Pen, Hollande disse: “ Tudo o que separa, divide e fratura é errado (...). As únicas regras que conhecemos são as da República e da laicidade “.





Marine Le Pen envenenou um pouco mais o clima já delicado. Dirigentes da comunidade judaica rechaçaram a proposta da dirigente da extrema direita e o ministro francês da Educação, Vincent Peillon, acusou Marine Le Pen de ser “a número 1 dos fanáticos” e de querer tirar proveito da controvérsia com os muçulmanos. De imediato, duas organizações islâmicas da França, UOIF, próxima do pensamento da Irmandade Muçulmana e a Associação dos Muçulmanos da localidade de Meaux, se apressaram em acionar o semanário por “incitação ao ódio racional”. 



Os políticos, os intelectuais e até as organizações muçulmanas estão divididas em torno de uma posição mais moderada. Assim, por exemplo, Mohammed Moussaoui, Presidente do Conselho francês do Culto Muçulmano, CFCM, apelou para que os fieis para que não fossem se manifestar neste sábado. No entanto, ele adiantou o que também está preparando uma interpelação contra o Charlie Hebdo, por "vontade deliberada de ofender" os muçulmanos. Com tudo, ímãs e líderes religiosos estão se esforçando para desativar a bomba relógio que o semanário francês lançou de novo na França. Said Abdillah, o imã da mesquita parisiense de Adda’Wa, disse aos fieis reunidos na sexta-feira que "a melhor maneira de responder aos imbecis é seguir o seu caminho para dizer, assim, ao outro : não existirás através de mim".



O Charlie Hebdo mantém contra o vento e contra a maré seu direito de publicar o que lhe der na telha. Stéphane Charbonier, diretor do semanário, alegou que a liberdade de expressão não pode ser compartilhada caso deixe de existir, ao ceder às tensões provocadas pelos extremistas. O semanário conta hoje tanto com detratores como com críticos. O líder das revoltas de maio de 68, Daniel Cohn-Bendit, qualificou os responsáveis pelo semanário de “colhudos”. 



O semanário já esteve no passado implicado em vários escândalos semelhantes. Em 2007 e 2008 venceu as disputas judiciais consecutivas, de autoria, entre outros, da OUIF, União da Organizações Islâmicas da França. Estas organizações se opuseram, nos tribunais à publicação de várias caricaturas, mas a Corte de apelações considerou que os desenhos das caricaturas eram conformes à lei porque não estavam dirigidos contra o Islã, mas contra os fanáticos. Muitos jornalistas, intelectuais e políticos questionam se realmente valia à pena voltar a adotar o caminho da provocação num momento como este, e fazer dessa provocação um direito supremo da liberdade de expressão. Os limites da responsabilidade estão fixados quando, para defender a liberdade de expressão em Paris, põe em perigo a vida de milhares de pessoas no exterior.



Tradução : Katarina Peixoto 



Carta Maior

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Recebido por e-mail da redecastorphoto em 12/9/2012

Inserido nesta postagem em 14/2/2014:

Extraído do Facebook

EU FECHO COM O RIO
Rafael Patto
 
É fácil falar “eu voto no Freixo”, assim como era fácil falar “eu voto na Marina”, dois anos atrás, na disputa presidencial. 

É cômodo adotar posições e afirmá-las quando não as vemos confrontadas pelos meios de comunicação. 

A candidatura de Freixo está sendo tão bem tratada pelos órgãos de imprensa cariocas, que aqueles que dizem que vão votar nele não têm sequer o trabalho de justificar essa escolha. 

Votam e pronto, estão dispensados de elaborar, para si mesmos que seja, uma razão consciente que fundamente tal opção. Tanto é assim, que falar que vai votar no Freixo passou a ser a saída escolhida por aqueles que querem se esquivar de debates mais aprofundados sobre as eleições. Daí, para que o cidadão não se veja colocado diante da pergunta “mas por que em fulano”, ele diz logo “voto no Freixo”. Para essa escolha, não tem havido questionamento, até porque mesmo aqueles eleitores que vão votar em outros candidatos não têm sabido questionar a escolha dos que declaram que irão votar em Freixo

Muitas vezes, os eleitores de Eduardo Paes, por exemplo, que aparentemente vencerá em primeiro turno, sabem por que razões votarão em seu candidato, mas eles mesmos não sabem por que não votarão, ou não votariam, em Freixo

Quem vota em Eduardo Paes conhece as razões pelas quais faz essa escolha, e sabe defender seu voto. Mas não é capaz, muitas vezes, de criticar a opção dos que votarão em Freixo. E isso se deve ao vácuo deixado pelos órgãos de imprensa, que parece terem reservado ao candidato psolista o papel do jovem idealista que se nutre dos sonhos mais nobres e virtuosos da humanidade. Fosse um romance e não uma farsa, seria até quixotesco...
 
Apesar da aparente dificuldade de sustentar esta posição, eu afirmo: NÃO voto no Freixo. 

Sei que dizer isso soa como se eu estivesse negando esses sonhos nobres e virtuosos que fazem com que os bem intencionados que lotam o inferno se sintam prazenteiramente irmanados (a sensação de cumplicidade é um vício incorrigível dos fracos). 

Os eleitores de Freixo, na sua maioria jovens e pouco afeitos à vivência política, votam no candidato psolista justamente porque desacreditam e desvalorizam a política. Buscam em Freixo uma identificação psicológica. É esse o resultado da disputa eleitoral quando se reduz o debate político ao enredo maniqueísta e simplista do mal versus bem. 

Freixo, evidentemente, é o mocinho, o herói (está até no “Tropa de elite”, que ele não se cansa de evocar). Dessa maneira, votar nele é compartilhar desse sonho lindo e maravilhoso que só existe nas peças publicitárias ou nos filmes que fazem a platéia vibrar. Freixo é aquele típico manequim de comercial de margarina. Não existe na vida real, mas todo mundo queria ser igual porque não tem nenhum defeito aparente (é calmo, carinhoso, sorridente, bem sucedido, bem apessoado, bem casado, bom filho, bom pai, bom marido, bom isso, bem aquilo...) e ainda consegue ser bravo e aguerrido quando sai às ruas, ultrapassando a redoma de placidez do lar. Esse encantamento tolo é que tem movido muita gente. 

Se Freixo é esse idealista puro, sujeito virtuoso, honesto, inteligente, preparado, destemido e tudo o mais que houver de positivo, lindo e maravilhoso, é de se entender que aquele que vota nele queira ser também tudo isso um pouco. 

Em resumo, é mais fácil votar em alguém que a gente não vê sendo criticado ou mal falado pela imprensa. Dá maior sensação de acerto, é reconfortante e tranqüilizador, embora seja um enorme equívoco utilizar este critério para escolher o candidato em que votar. Mas, se estamos falando de pessoas que querem se aferrar em suas convicções, devemos compreender que elas não sejam muito afeitas a colocar em questão as suas próprias escolhas. Elas evitam as polêmicas porque não sabem conviver com as dúvidas.
 
Repito: NÃO voto no Freixo. E não voto nele por motivos muito simples. Eu não fecho com um candidato. Eu fecho com a cidade do Rio de Janeiro. Não aceito um candidato que se apresente como sendo (ou pretendendo ser) maior do que a cidade. É muita presunção alguém considerar que é bom o suficiente para sozinho fazer mais e melhor que todo um grupo de pessoas. 

Política é o exercício constante da busca do entendimento, da temperança. A postura de Freixo nega esse conceito de política. Mais do que isso, o discurso adotado pelo candidato atribui à política valores negativos, como se acordos, alianças e diálogo fossem comportamentos políticos intrinsecamente maléficos. 

Ora, não vejo vantagem alguma em alguém que prefira a intransigência a acordos, o isolamento a alianças, ou a imposição autoritária e unilateral de decisões ao diálogo. 

Chega a ser um contra-senso que alguém queira governar uma cidade, a polis, lugar original da política, se não compreende que o fazer político e a cidade são ontogeneticamente indissociáveis. 

Tudo o que a política representa (capacidade de convívio com as diferenças, capacidade de resolução pacífica de conflitos e impasses por meio de diálogo e negociação, vocação para as tratativas indispensáveis à busca do entendimento e da concórdia) remonta necessariamente às poleis gregas, que, mais do que berço da civilização ocidental, são o berço da civilidade, isto é, o caráter próprio de ser civilizado, de ser da cidade, enfim, de ser político. E isso não é mero exercício analógico ou divagação etimológica. 

O candidato psolista precisa saber que disputar uma eleição não é estrelar um filminho de ação. Freixo precisa se decidir entre ser um político de fato, ou ser simplesmente um “fanfarrão”.
 
Em todo caso, ainda que Marcelo Freixo seja mesmo aquele jovem idealista que os meios de comunicação e o seu partido vêm pintando, ainda assim, eu NÃO voto nele.

 E não voto porque o político (se é que se pode chamar de político aquele que nega a política) nunca deve ser avaliado isoladamente. “Um político é sempre ele e a sua circunstância”. 

Se eu fosse avaliar isoladamente o político Eduardo Paes, provavelmente seria difícil para mim votar nele. O passado político de Eduardo Paes (que já foi Deputado Federal pelo PSDB) o coloca do lado oposto daquilo que eu defendo hoje e sempre defendi em toda a minha vida. Mas é a circunstância política atual do candidato Eduardo Paes que me faz dar a ele o meu voto como eleitor da cidade do Rio de Janeiro.

A vocação do PSOL é somente a de atirar bosta no ventilador. Não acho que seja disso que estejamos precisando. Mais do que nunca, o Rio precisa de coesão e harmonia de ações. Eduardo Paes é o candidato que reúne em torno de si os elementos políticos que melhor contribuirão para essa articulação de ações de governo nas diferentes esferas de poder. É por acreditar nisso, isto é, num projeto político, e não simplesmente numa pessoa, num salvador da pátria, num messias, num ser superior, que eu NÃO voto no Freixo.
 
O Rio de Janeiro é uma cidade maravilhosa e generosa, que há dois anos me acolheu de braços abertos. 

Não nasci aqui, mas ESCOLHI viver aqui. Transferi minha vida para cá porque eu quis, e foi aqui que investi meus sonhos e depositei meu futuro. Quero o melhor para essa cidade porque o melhor para ela é o melhor para mim também. 

O Rio é muito maior do que a presunção de quem quer que seja. Por isso eu fecho com o Rio.
 
 
 
                  Sandra Mara Cruz Consciencia politica e critica e' raridade hoje em dia. Parabéns!See Translation

Sunday at 10:57am · 3               
                  Sergio Telles Porque o neolacerdismo não pode ter asas para voar, essa hipnose coletiva precisa ser quebrada! Perfeito o texto. Muito bom!See Translation

10 hours ago · 1                   
                  Norma Thiré Parabéns por tanta lucidez Patto! outra vez...
9 hours ago · 1            
                       
                  Rafael Patto ‎1 - O comportamento histérico do psol pode ter até alguma serventia no Legislativo. É bom ter um ou dois parlamentares que se comportem assim como criança mimada, como gostam de se comportar os psolistas. Como são poucos, eles não conseguem inviabilizar o funcionamento da casa e, ao mesmo tempo, sempre fica a possibilidade de que, alguma vez, o chororô que eles aprontam tenha razão de ser. Enfim... não vou negar que o Freixo tenha alguma colaboração valorosa na Assembléia, mas para corresponder àquilo que a cidade espera e precisa do seu chefe do Executivo, o perfil dele, individual, está muito longe, e o pefil do partido é absolutamente incompatível.See Translation

56 minutes ago · 3
 
Rafael Patto ‎2 - Eu penso num projeto político articulado com o governo federal. Acho que votar contra esse projeto significa votar a favor das forças que estão procurando desesperadamente se reinserir num espaço do qual foram defenestradas pela decisão popular. Apoiar Freixo é oxigenar o psdb. Isso é muito ruim orque beneficiaria justamente aqueles que estão descontentes com as conquistas populares que vêm sendo alcançadas desde o início da última década.
                       
 
Pina

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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PressAA


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