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Caricaturas de Maomé causam polêmica e apreensão na França
A polêmica gerada pela difusão das caricaturas de Maomé publicadas pelo semanário satírico Charlie Hebdo se deslocou, na França, para o terreno jurídico e político. Stéphane Charbonier, diretor do semanário, alegou que a liberdade de expressão não pode ser compartilhada caso deixe de existir, ao ceder às tensões provocadas pelos extremistas. Muitos jornalistas, intelectuais e políticos questionam se vale à pena voltar a adotar o caminho da provocação num momento como este, e fazer dessa provocação um direito supremo da liberdade de expressão. O artigo é de Eduardo Febbro.
Eduardo Febbro - Paris
Paris - A querela gerada pela difusão das caricaturas de Maomé publicadas pelo semanário satírico Charlie Hebdo se deslocou, na França, para o terreno jurídico e político. Duas associações muçulmanas recorreram à justiça contra o Charlie Hebdo, ao passo que a extrema direita francesa aproveitou o episódio para meter a colher de ódio em meio a um debate que, com o passar de dois dias, torna-se mais pesado. O semanário satírico francês publicou as caricaturas em meio a uma batalha que se armou no mundo por causa do filme anti-islã produzida nos Estados Unidos.
Na sexta-feira, dia da pregação muçulmana, os imãs das mesquitas suavizaram seus sermões a fim de dissuadir os fiéis de participarem, neste sábado, das manifestações convocadas para protestar contra a difusão de caricaturas consideradas as blasfêmias. No entanto, o Estado francês tomou suas precauções. Além da mobilização geral das forças da ordem em nível nacional, a chancelaria anunciou que manteria todas as embaixadas fechadas no sábado e no domingo, além de escolas e centros culturais franceses, em 20 países onde há forte maioria muçulmana.
É neste contexto de radicalização das opiniões e de debate sobre a liberdade de expressão e o fanatismo religioso que a líder da ultradireita nacional, Marine Le Pen, trouxe sua contribuição com seus princípios antagônicos. Numa entrevista publicada no Le Monde, Marine Le Pen propôs “a proibição de todos os símbolos religiosos, inclusive a quipá judia e o véu islâmico, nos centros de negócios, transportes públicos e nas ruas” do país. A líder da extrema direita, que nada disse sobre os símbolos cristãos, recupera a revolta mundial gerada pelo filme contra o Islã em benefício de suas próprias ideias: Marine Le Pen tem feito da defesa das raízes cristãs da França um dos seus cavalos de batalha.
O presidente francês François Hollande respondeu de forma direta à proposta de Marine Le Pen. Hollande foi ontem para Drancy, uma localidade situada a uns 20 quilômetros de Paris, de onde mais de 60 mil judeus foram deportados para campos de concentração alemães durante a Segunda Guerra Mundial. O chefe de estado inaugurou em Drancy o memorial do Holocausto e conclamou o país à unidade. Quando se referiu às declarações de Le Pen, Hollande disse: “ Tudo o que separa, divide e fratura é errado (...). As únicas regras que conhecemos são as da República e da laicidade “.
Marine Le Pen envenenou um pouco mais o clima já delicado. Dirigentes da comunidade judaica rechaçaram a proposta da dirigente da extrema direita e o ministro francês da Educação, Vincent Peillon, acusou Marine Le Pen de ser “a número 1 dos fanáticos” e de querer tirar proveito da controvérsia com os muçulmanos. De imediato, duas organizações islâmicas da França, UOIF, próxima do pensamento da Irmandade Muçulmana e a Associação dos Muçulmanos da localidade de Meaux, se apressaram em acionar o semanário por “incitação ao ódio racional”.
Os políticos, os intelectuais e até as organizações muçulmanas estão divididas em torno de uma posição mais moderada. Assim, por exemplo, Mohammed Moussaoui, Presidente do Conselho francês do Culto Muçulmano, CFCM, apelou para que os fieis para que não fossem se manifestar neste sábado. No entanto, ele adiantou o que também está preparando uma interpelação contra o Charlie Hebdo, por "vontade deliberada de ofender" os muçulmanos. Com tudo, ímãs e líderes religiosos estão se esforçando para desativar a bomba relógio que o semanário francês lançou de novo na França. Said Abdillah, o imã da mesquita parisiense de Adda’Wa, disse aos fieis reunidos na sexta-feira que "a melhor maneira de responder aos imbecis é seguir o seu caminho para dizer, assim, ao outro : não existirás através de mim".
O Charlie Hebdo mantém contra o vento e contra a maré seu direito de publicar o que lhe der na telha. Stéphane Charbonier, diretor do semanário, alegou que a liberdade de expressão não pode ser compartilhada caso deixe de existir, ao ceder às tensões provocadas pelos extremistas. O semanário conta hoje tanto com detratores como com críticos. O líder das revoltas de maio de 68, Daniel Cohn-Bendit, qualificou os responsáveis pelo semanário de “colhudos”.
O semanário já esteve no passado implicado em vários escândalos semelhantes. Em 2007 e 2008 venceu as disputas judiciais consecutivas, de autoria, entre outros, da OUIF, União da Organizações Islâmicas da França. Estas organizações se opuseram, nos tribunais à publicação de várias caricaturas, mas a Corte de apelações considerou que os desenhos das caricaturas eram conformes à lei porque não estavam dirigidos contra o Islã, mas contra os fanáticos. Muitos jornalistas, intelectuais e políticos questionam se realmente valia à pena voltar a adotar o caminho da provocação num momento como este, e fazer dessa provocação um direito supremo da liberdade de expressão. Os limites da responsabilidade estão fixados quando, para defender a liberdade de expressão em Paris, põe em perigo a vida de milhares de pessoas no exterior.
Tradução : Katarina Peixoto
Carta Maior
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Recebido por e-mail da redecastorphoto em 12/9/2012
Inserido nesta postagem em 14/2/2014:
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Recebido por e-mail da redecastorphoto em 12/9/2012
Inserido nesta postagem em 14/2/2014:
Extraído do Facebook
EU FECHO COM O RIO
Rafael Patto
É fácil falar “eu voto no Freixo”, assim como era fácil falar “eu voto na Marina”, dois anos atrás, na disputa presidencial.
É cômodo adotar posições e afirmá-las quando não as vemos confrontadas pelos meios de comunicação.
A candidatura de Freixo está sendo tão bem tratada pelos órgãos de imprensa cariocas, que aqueles que dizem que vão votar nele não têm sequer o trabalho de justificar essa escolha.
Votam e pronto, estão dispensados de elaborar, para si mesmos que seja, uma razão consciente que fundamente tal opção. Tanto é assim, que falar que vai votar no Freixo passou a ser a saída escolhida por aqueles que querem se esquivar de debates mais aprofundados sobre as eleições. Daí, para que o cidadão não se veja colocado diante da pergunta “mas por que em fulano”, ele diz logo “voto no Freixo”. Para essa escolha, não tem havido questionamento, até porque mesmo aqueles eleitores que vão votar em outros candidatos não têm sabido questionar a escolha dos que declaram que irão votar em Freixo.
Muitas vezes, os eleitores de Eduardo Paes, por exemplo, que aparentemente vencerá em primeiro turno, sabem por que razões votarão em seu candidato, mas eles mesmos não sabem por que não votarão, ou não votariam, em Freixo.
Quem vota em Eduardo Paes conhece as razões pelas quais faz essa escolha, e sabe defender seu voto. Mas não é capaz, muitas vezes, de criticar a opção dos que votarão em Freixo. E isso se deve ao vácuo deixado pelos órgãos de imprensa, que parece terem reservado ao candidato psolista o papel do jovem idealista que se nutre dos sonhos mais nobres e virtuosos da humanidade. Fosse um romance e não uma farsa, seria até quixotesco...
Apesar da aparente dificuldade de sustentar esta posição, eu afirmo: NÃO voto no Freixo.
Sei que dizer isso soa como se eu estivesse negando esses sonhos nobres e virtuosos que fazem com que os bem intencionados que lotam o inferno se sintam prazenteiramente irmanados (a sensação de cumplicidade é um vício incorrigível dos fracos).
Os eleitores de Freixo, na sua maioria jovens e pouco afeitos à vivência política, votam no candidato psolista justamente porque desacreditam e desvalorizam a política. Buscam em Freixo uma identificação psicológica. É esse o resultado da disputa eleitoral quando se reduz o debate político ao enredo maniqueísta e simplista do mal versus bem.
Freixo, evidentemente, é o mocinho, o herói (está até no “Tropa de elite”, que ele não se cansa de evocar). Dessa maneira, votar nele é compartilhar desse sonho lindo e maravilhoso que só existe nas peças publicitárias ou nos filmes que fazem a platéia vibrar. Freixo é aquele típico manequim de comercial de margarina. Não existe na vida real, mas todo mundo queria ser igual porque não tem nenhum defeito aparente (é calmo, carinhoso, sorridente, bem sucedido, bem apessoado, bem casado, bom filho, bom pai, bom marido, bom isso, bem aquilo...) e ainda consegue ser bravo e aguerrido quando sai às ruas, ultrapassando a redoma de placidez do lar. Esse encantamento tolo é que tem movido muita gente.
Se Freixo é esse idealista puro, sujeito virtuoso, honesto, inteligente, preparado, destemido e tudo o mais que houver de positivo, lindo e maravilhoso, é de se entender que aquele que vota nele queira ser também tudo isso um pouco.
Em resumo, é mais fácil votar em alguém que a gente não vê sendo criticado ou mal falado pela imprensa. Dá maior sensação de acerto, é reconfortante e tranqüilizador, embora seja um enorme equívoco utilizar este critério para escolher o candidato em que votar. Mas, se estamos falando de pessoas que querem se aferrar em suas convicções, devemos compreender que elas não sejam muito afeitas a colocar em questão as suas próprias escolhas. Elas evitam as polêmicas porque não sabem conviver com as dúvidas.
Repito: NÃO voto no Freixo. E não voto nele por motivos muito simples. Eu não fecho com um candidato. Eu fecho com a cidade do Rio de Janeiro. Não aceito um candidato que se apresente como sendo (ou pretendendo ser) maior do que a cidade. É muita presunção alguém considerar que é bom o suficiente para sozinho fazer mais e melhor que todo um grupo de pessoas.
Política é o exercício constante da busca do entendimento, da temperança. A postura de Freixo nega esse conceito de política. Mais do que isso, o discurso adotado pelo candidato atribui à política valores negativos, como se acordos, alianças e diálogo fossem comportamentos políticos intrinsecamente maléficos.
Ora, não vejo vantagem alguma em alguém que prefira a intransigência a acordos, o isolamento a alianças, ou a imposição autoritária e unilateral de decisões ao diálogo.
Chega a ser um contra-senso que alguém queira governar uma cidade, a polis, lugar original da política, se não compreende que o fazer político e a cidade são ontogeneticamente indissociáveis.
Tudo o que a política representa (capacidade de convívio com as diferenças, capacidade de resolução pacífica de conflitos e impasses por meio de diálogo e negociação, vocação para as tratativas indispensáveis à busca do entendimento e da concórdia) remonta necessariamente às poleis gregas, que, mais do que berço da civilização ocidental, são o berço da civilidade, isto é, o caráter próprio de ser civilizado, de ser da cidade, enfim, de ser político. E isso não é mero exercício analógico ou divagação etimológica.
O candidato psolista precisa saber que disputar uma eleição não é estrelar um filminho de ação. Freixo precisa se decidir entre ser um político de fato, ou ser simplesmente um “fanfarrão”.
Em todo caso, ainda que Marcelo Freixo seja mesmo aquele jovem idealista que os meios de comunicação e o seu partido vêm pintando, ainda assim, eu NÃO voto nele.
E não voto porque o político (se é que se pode chamar de político aquele que nega a política) nunca deve ser avaliado isoladamente. “Um político é sempre ele e a sua circunstância”.
Se eu fosse avaliar isoladamente o político Eduardo Paes, provavelmente seria difícil para mim votar nele. O passado político de Eduardo Paes (que já foi Deputado Federal pelo PSDB) o coloca do lado oposto daquilo que eu defendo hoje e sempre defendi em toda a minha vida. Mas é a circunstância política atual do candidato Eduardo Paes que me faz dar a ele o meu voto como eleitor da cidade do Rio de Janeiro.
A vocação do PSOL é somente a de atirar bosta no ventilador. Não acho que seja disso que estejamos precisando. Mais do que nunca, o Rio precisa de coesão e harmonia de ações. Eduardo Paes é o candidato que reúne em torno de si os elementos políticos que melhor contribuirão para essa articulação de ações de governo nas diferentes esferas de poder. É por acreditar nisso, isto é, num projeto político, e não simplesmente numa pessoa, num salvador da pátria, num messias, num ser superior, que eu NÃO voto no Freixo.
O Rio de Janeiro é uma cidade maravilhosa e generosa, que há dois anos me acolheu de braços abertos.
Não nasci aqui, mas ESCOLHI viver aqui. Transferi minha vida para cá porque eu quis, e foi aqui que investi meus sonhos e depositei meu futuro. Quero o melhor para essa cidade porque o melhor para ela é o melhor para mim também.
O Rio é muito maior do que a presunção de quem quer que seja. Por isso eu fecho com o Rio.
Sandra Mara Cruz Consciencia politica e critica e' raridade hoje em dia. Parabéns!See Translation
Sunday at 10:57am · 3
Sergio Telles Porque o neolacerdismo não pode ter asas para voar, essa hipnose coletiva precisa ser quebrada! Perfeito o texto. Muito bom!See Translation
10 hours ago · 1
Rafael Patto 1 - O comportamento histérico do psol pode ter até alguma serventia no Legislativo. É bom ter um ou dois parlamentares que se comportem assim como criança mimada, como gostam de se comportar os psolistas. Como são poucos, eles não conseguem inviabilizar o funcionamento da casa e, ao mesmo tempo, sempre fica a possibilidade de que, alguma vez, o chororô que eles aprontam tenha razão de ser. Enfim... não vou negar que o Freixo tenha alguma colaboração valorosa na Assembléia, mas para corresponder àquilo que a cidade espera e precisa do seu chefe do Executivo, o perfil dele, individual, está muito longe, e o pefil do partido é absolutamente incompatível.See Translation
56 minutes ago · 3
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Rafael Patto 2 - Eu penso num projeto político articulado com o governo federal. Acho que votar contra esse projeto significa votar a favor das forças que estão procurando desesperadamente se reinserir num espaço do qual foram defenestradas pela decisão popular. Apoiar Freixo é oxigenar o psdb. Isso é muito ruim orque beneficiaria justamente aqueles que estão descontentes com as conquistas populares que vêm sendo alcançadas desde o início da última década.
Pina
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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons
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PressAA
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